SUBSÍDIO 1 JOÃO LIÇÃO 11

quinta-feira, 10 de setembro de 2009





LIÇÃO 11
14 de setembro de 2009
(dia nacional de missões)
O AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO
INTRODUÇÃO
Durante uma conferência britânica a respeito de religiões comparadas, técnicos de todo o mundo debatiam qual a crença única da fé cristã, se é que existia essa crença. Eles começaram eliminando as possibilidades. Encarnação? Outras religiões tinham diferentes versões de deuses aparecendo em forma humana. Ressurreição? Novamente, outras religiões tinham histórias de retorno dos mortos. O debate prosseguiu durante algum tempo até que C. S. Lewis1 entrou no recinto. "A respeito do que é a confusão?", ele perguntou, e ouviu a resposta dos seus colegas de que estavam discutindo sobre a contribuição única do cristianismo entre as religiões do mundo. Lewis respondeu: "Oh, isso é fácil. É a graça".
Depois de alguma discussão, os conferencistas tiveram de concordar. A noção do amor de Deus vindo a nós livre de retribuição, sem cordas amarradas, parece ir contra cada instinto da humanidade. O caminho de oito passos do budismo, a doutrina hindu do karma, a aliança judaica, o código da lei muçulmana — cada um deles oferece um caminho para alcançar a aprovação. Apenas o cristianismo se atreve a dizer que o amor de Deus é incondicional.
Deus na sua infinita misericórdia nos amou primeiro, sendo nós ainda pecadores. Amou-nos de tal maneira que deu seu filho unigênito para morrer na cruz pelos nossos pecados. Mostrando-nos e dando-nos o exemplo do amor incondicional.
O AMOR DE DEUS
A declaração repetida duas vezes por João: "Deus é amor" (1Jo 4:8,16) é um dos pronunciamentos mais tremendos da Bíblia — e também um dos menos entendidos. Idéias falsas cresceram à sua volta como uma cerca de espinhos, ocultando o significado real, e não é tarefa fácil atravessar esse aglomerado de vegetação mental. Entretanto, quanto maior a dificuldade envolvida maior é a recompensa quando o verdadeiro sentido desses textos são captados pela alma cristã. Quem sobe uma alta montanha não reclama do esforço ao contemplar o cenário que se descortina do topo!
Na verdade, feliz é quem pode repetir com João as palavras da sentença que precede o segundo "Deus é amor", "Assim conhecemos o amor que Deus tem por nós e confiamos nesse amor" (v. 16). Conhecer o amor de Deus é na verdade o céu na terra. O Novo Testamento mostra este conhecimento não como privilégio de uns poucos favorecidos, mas como parte normal da experiência comum do cristão, algo estranho àqueles cuja espiritualidade é pouco sadia ou malformada. Quando Paulo diz: "... Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu" (Rm 5:5), ele não se refere ao amor de Deus, como pensava Agostinho, mas ao conhecimento do amor de Deus por nós. Embora nunca chegasse a conhecer pessoalmente os cristãos de Roma a quem escrevia, Paulo tinha certeza de que a afirmação seria verdadeira para eles como era para si mesmo.
Nosso objetivo neste lição é mostrar a natureza do amor divino derramado pelo Espírito. Com este propósito fixamos nossa atenção na grande afirmativa joanina de que Deus é amor: em outras palavras, o amor que ele mostra às pessoas, o qual os cristãos conhecem e no qual se alegram, é a revelação de seu próprio ser interior
Quando estudamos a sabedoria de Deus, vimos alguma coisa de sua mente; quando pensamos em seu poder, vimos um pouco de sua mão e de seu braço; quando consideramos sua palavra, aprendemos algo sobre sua boca, mas agora, contemplando seu amor, veremos seu coração. Estaremos pisando solo sagrado, precisamos da graça da reverência para que possamos pisar nele sem pecar.
AMOR, ESPÍRITO E LUZ
Dois comentários gerais sobre essa afirmação de João serão úteis agora.
1. "Deus é amor" não é a verdade completa sobre Deus, no que diz respeito à Bíblia. Esta não é uma definição abstrata, isolada; mas um resumo, da perspectiva do cristão, do que a revelação feita nas Escrituras nos fala sobre seu Autor. Esta afirmação pressupõe o resto do testemunho bíblico sobre Deus. O Deus sobre o qual João fala é o Deus que fez O mundo, que o condenou pelo dilúvio, que chamou Abraão e fez dele uma nação, que disciplinou seu povo do Antigo Testamento pela conquista, cativeiro e exílio, que enviou seu Filho para salvar o mundo, que afastou o Israel incrédulo, que pouco antes de João haver escrito havia destruído Jerusalém e que um dia julgará o mundo com justiça. Esse Deus, diz João, é amor.
É errado citar essa afirmação de João, como muitos o fazem, como se ela levantasse dúvidas sobre o testemunho bíblico da severidade da justiça divina. Não é possível argumentar que o Deus amoroso não possa também ser o Deus que condena e castiga o desobediente, pois é precisamente do Deus que age assim que João está falando.
Se quisermos evitar um mal-entendido a respeito da afirmação de João, devemos torná-la associando-a com outras duas grandes declarações que apresentam a mesma forma gramatical encontrada em outros pontos de seus escritos. Interessante que ambas partiram do próprio Cristo. A primeira está no evangelho de João. São as palavras de nosso Senhor à samaritana: "Deus é espírito" (Jo 4:24). A segunda está no começo da primeira epístola. João a apresenta como resumo da "mensagem que dele (Jesus) ouvimos e transmitimos a vocês: Deus é luz" (1Jo 1:5). A afirmação de que Deus é amor deve ser interpretada conforme os ensinamentos destas duas declarações e será útil fazermos agora um breve estudo delas.
Deus é espírito. Quando nosso Senhor disse isso, ele procurava fazer a samaritana abandonar a idéia de que havia apenas um lugar adequado para a adoração, como se Deus estivesse confinado de algum modo a algum lugar. "Espírito" contrasta com "carne". A idéia central de Cristo era que o homem, sendo "carne", só pode estar presente em um lugar de cada vez. Deus, porém, sendo "espírito", não está assim limitado. Deus não é material, não tem corpo, portanto, não fica confinado a um lugar. Por isso (Cristo continua), a verdadeira condição da adoração aceitável não é estar em Jerusalém, Samaria ou em qualquer outro lugar, mas o importante é que seu coração seja receptivo e responda à revelação dele. "Deus é espírito; e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade" (Jo 4:24).
Deus não tem corpo — portanto, como já dissemos, ele está livre das limitações do espaço e da distância, e é onipresente. Deus não tem partes — isto significa que sua personalidade, poderes e qualidades estão perfeitamente integrados, assim nada nele se altera. Ele "não muda como sombras inconstantes" (Tg 1:17). Assim, ele é livre de todas as limitações de tempo e dos processos naturais, e permanece eternamente o mesmo.
Deus não tem paixões — isto não quer dizer que ele seja insensível (impassível) ou que não haja nada nele que corresponda a nossas emoções e afeições. Entretanto, considerando que as paixões humanas, especialmente as dolorosas, como medo, sofrimento, arrependimento e desespero, são de algum modo passivas e involuntárias, e que surgem por meio de circunstâncias fora de nosso controle, as atitudes correspondentes em Deus têm a natureza de escolha voluntária e deliberada, não sendo, portanto, absolutamente comparáveis às paixões humanas.
Assim, o amor de Deus, que é espírito, não é incerto nem inconstante como o amor humano. Não é apenas um desejo impotente de coisas que talvez nunca venham a realizar-se. Ao contrário, trata-se da determinação espontânea de todo o ser divino em uma atitude de benevolência e benefício,escolhida livremente e estabelecida com firmeza. Não há inconstâncias nem vicissitudes no amor do Deus altíssimo, que é Espírito. Seu amor é "tão forte quanto a morte [...] nem muitas águas conseguem apagar o amor" (Ct 8:6,7). Nada poderá separá-lo dos que um dia foram por ele alcançados (Rm 8:35-39).
Deus é luz. Fomos informados de que o Deus que é espírito é também luz. João fez esta declaração atacando certos cristãos professos que haviam perdido o contato com as verdades morais e diziam que nenhuma de suas práticas era pecaminosa. A intensidade das palavras de João está no seguinte preceito: "nele não há treva alguma" (1Jo 1:5). Luz significa santidade e pureza baseadas na lei de Deus; treva significa deturpação moral e injustiça de acordo com a mesma lei (1Jo 2:7-11; 3:10).
O ponto principal das palavras de João é que apenas quem "anda na luz" procura ser igual a Deus em santidade e justiça, evita tudo o que não esteja de acordo com isto, desfruta da companhia do Pai e do Filho. Os que "andam nas trevas", não importa o que digam de si mesmos, são estranhos a esse relacionamento (v. 6).
2. "Deus é amor" é a verdade completa sobre Deus no que diz respeito aos cristãos. Dizer "Deus é luz" implica a expressão da santidade de Deus em tudo o que ele diz e faz. Do mesmo modo, a afirmação "Deus é amor" significa que seu amor é encontrado em tudo o que ele diz e faz.
O conhecimento de que esta verdade se aplica á nós, pessoalmente, é o supremo conforto do cristão. Ao crer, descobrimos na cruz de Cristo a certeza de que somos amados individualmente por Deus: "o Filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" (Gl 2:20). Sabendo disto, podemos aplicar a nós mesmos a promessa de que "Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito" (Rm 8:28). Não apenas algumas coisas, repare bem, mas todas as coisas! Cada pequenina coisa que nos acontece expressa o amor de Deus e ocorre para cumprir o propósito divino para a nossa vida.
Portanto, pelo que nos concerne, Deus é amor — santo e onipotente amor — em todos os momentos e em todas as ocasiões de nossa vida. Mesmo quando não podemos ver a razão e a finalidade da ação de Deus, sabemos haver amor nela e por trás dela, por isso podemos sempre nos alegrar, mesmo quando, humanamente falando, as coisas vão mal. Sabemos que a verdadeira história de nossa vida, quando revelada, provará ter sido um ato de misericórdia do começo ao fim, e com isso nos alegraremos.
DEFINIÇÃO DO AMOR DE DEUS
Até agora simplesmente delimitamos o amor de Deus, mostrando em termos gerais como e quando ele opera, mas isto não é suficiente. Perguntamos: O que ele é em essência? Como devemos defini-lo e analisá-lo? A resposta que a Bíblia apresenta para essas questões ressalta uma concepção do amor de Deus que pode ser formulada do seguinte modo:
O amor de Deus é um exercício de sua bondade para com os pecadores, individualmente, por meio do qual, tendo se identificado com o bem-estar dessas pessoas, entregou seu Filho para ser o Salvador delas, e agora as leva a conhecê-lo e a desfrutá-lo em uma relação de aliança.
Vamos explicar as partes que constituem essa definição.
1. O amor de Deus é um exercício de sua bondade. A bondade de Deus no sentido bíblico significa sua generosidade cósmica. A bondade divina, escreveu Louis Berkhof, é "a perfeição em Deus que o leva a tratar benévola e generosamente todas as suas criaturas. É a afeição que o Criador sente para com as suas criaturas dotadas de sensibilidade consciente" (citando Sl 145:9,15,16; Lc 6:35; At 14:17).2 O amor de Deus é a manifestação suprema e mais gloriosa desta bondade. "O amor", escreveu James Orr,3 "é, de forma geral, o princípio que leva um ser moral a desejar e a se alegrar com outro, e alcança sua forma mais elevada em uma amizade na qual cada um vive na vida do outro e encontra sua alegria em se dar ao outro, recebendo de volta o extravasamento da afeição do outro em si mesmo".4 Assim é o amor de Deus.
2. O amor de Deus é um exercício de sua bondade para com os pecadores. Dessa forma, o amor encerra a natureza da graça e da misericórdia. É emanação divina na forma de bondade, não apenas imerecida, como contrária a qualquer merecimento, pois os objetos do amor de Deus são criaturas racionais transgressoras da lei, cuja natureza é corrupta aos olhos dele e merecedoras apenas de condenação e expulsão final de sua presença.
É admirável que Deus ame os pecadores; entretanto, a realidade é esta. Deus ama criaturas que se tornaram indignas desse amor. Não havia nada nos objetos de seu amor que pudesse merecê-lo; nada no ser humano poderia atrair esse amor ou induzir a ele. O amor entre as pessoas é despertado por alguma coisa encontrada no amado, mas o amor de Deus é livre, espontâneo, sem causa nem inspiração. Deus ama as pessoas porque escolheu amá-las — como compôs Charles Wesley: "Ele nos tem amado, ele nos tem amado, porque queria amar"5 (reprodução de Dt 7:8) —, e nenhum motivo para seu amor pode ser dado, salvo seu bondoso e soberano prazer.
O mundo greco-romano do Novo Testamento jamais sonharia com tal amor; atribuía-se muitas vezes a seus deuses a cobiça de mulheres, mas nunca amor por pecadores. Os autores do Novo Testamento tiveram de usar uma palavra grega quase nova — agape — para expressar o amor de Deus como eles o conheciam.
3. O amor de Deus é um exercício de sua bondade para com os pecadores, individualmente. Não se trata de boa vontade vaga e difusa para com todos em geral e ninguém em particular; ao contrário, por ser função da onisciência todo-poderosa, sua natureza é particularizar tanto os objetos como os efeitos. O propósito do amor divino, formado antes da criação (Ef 1:4), envolveu primeiramente a escolha e a seleção das pessoas às quais ele abençoaria; e em segundo lugar a relação dos benefícios que lhes seriam concedidos e os meios pelos quais seriam obtidos e desfrutados. Tudo isto foi assegurado desde o início.
Paulo escreveu aos cristãos tessalonicenses: "Mas nós devemos sempre dar graças a Deus por vocês, irmãos amados pelo Senhor, porque desde o princípio [antes da criação] Deus os escolheu [selecionou] para serem salvos [o fim determinado], mediante a obra santificadora do Espírito e a fé na verdade [o meio determinado]" (2Ts 2:13). O exercício do amor de Deus, no tempo, em relação aos pecadores, individualmente, é a execução do propósito formado por ele na eternidade, no sentido de abençoar esses mesmos indivíduos pecadores.
4. O amor de Deus pelos pecadores implica sua identificação com o
bem-estar deles
. Tal identificação está envolvida em toda espécie de amor, sendo, na realidade, uma prova para verificar se o amor é genuíno ou não. Se um pai permanece alegre e despreocupado enquanto o filho atravessa dificuldades ou se um marido fica impassível diante do desespero da esposa, duvidamos de que haja realmente amor nesse relacionamento, pois sabemos que quem ama de verdade só fica feliz quando as pessoas queridas também estão felizes. O amor de Deus pelos homens é desse tipo.
Nos capítulos anteriores destacamos que Deus objetiva em todas as coisas a própria glória — para que ele seja revelado, conhecido, admirado e adorado. Esta afirmação é verdadeira, mas incompleta. Precisa ser equilibrada pelo reconhecimento de que Deus ligou voluntariamente sua felicidade última à das pessoas porque dedica seu amor a elas. Não é por acaso que a Bíblia fala freqüentemente de Deus como o Pai amoroso e o Esposo de seu povo. Conclui-se, então, que pela própria natureza desse relacionamento a felicidade de Deus não será completa enquanto seus amados não estiverem finalmente livres de dificuldades: Até que toda a Igreja de Deus redimida Seja salva, para não mais pecar.
Deus estava feliz sem os seres humanos, antes de sua criação. Ele teria continuado assim se simplesmente tivesse destruído o homem depois do pecado, mas como vemos ele dedicou seu amor a qualquer pecador, individualmente, e isso significa que, por sua livre e espontânea vontade, ele não conhecerá a felicidade pura e perfeita novamente até que tenha levado cada um deles para o céu. Na realidade, ele resolveu que daquele momento até a eternidade sua felicidade seria condicionada à nossa.
Assim, Deus salva não apenas para sua glória, mas também para sua satisfação. Isto ajuda a explicar por que há alegria (alegria divina) na presença dos anjos quando um pecador se arrepende (Lc 15:10), e por que haverá "grande alegria" quando Deus nos colocar imaculados em sua santa presença no último dia (Jd 24). Essa idéia ultrapassa nosso entendimento e desafia a fé, mas não há dúvida de que, segundo as Escrituras, assim é o amor de Deus.
5. O amor de Deus pelos pecadores foi expressa pela dádiva de ser seu Filho o Salvador deles. Mede-se o amor calculando quanto ele oferece, e a medida do amor divino é a dádiva de seu único Filho para ser feito homem e morrer pelos pecadores, e assim tornar-se o único mediador que nos pode levar a Deus.
Não nos admiramos de que Paulo tenha se referido ao amor de Deus' como "grande", ultrapassando o conhecimento (Ef 2:4; 3:19). Será que já houve generosidade mais cara? Paulo argumenta que este dom supremo é, por si mesmo, a garantia de todos os outros: "Aquele que não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós, como não nos dará juntamente, e. de graça, todas as coisas?" (Rm 8:32). Os escritores do Novo Testamento apontam constantemente a cruz de Cristo como prova cabal da realidade do ilimitado amor divino.
Assim, João, imediatamente após a expressão "Deus é amor", prossegue: "Foi assim que Deus manifestou seu amor entre nós: enviou o seu Filho Unigênito ao mundo, para pudéssemos viver por meio dele. Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados" (1Jo 4:9,10). Do mesmo modo em seu evangelho: "Porque Deus tanto amou o mundo que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crer [...] tenha a vida eterna" (Jo 3:16). Paulo também escreveu: "Mas Deus demonstra seu amor por nós: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores" (Rm 5:8). E encontra a prova de que "o Filho de Deus [...] me amou" no fato de que ele "se entregou por mim" (Gl 2:20).
6. O amor de Deus pelos pecadores alcança seu objetivo quando "os leva a conhecê-lo e a desfrutá-lo em uma relação de aliança". O relacionamento segundo a aliança é aquele no qual as duas partes estão permanentemente comprometidas uma com a outra em serviço mútuo e dependência (p. ex., o casamento). A promessa da aliança é aquela na qual um contrato de relacionamento é estabelecido (p. ex., os votos do casamento).
A religião bíblica tem a forma de um relacionamento baseado na aliança com Deus. A primeira ocasião em que os termos desse relacionamento foram esclarecidos aconteceu quando Deus se revelou a Abraão como El Shaddai (o Deus todo-poderoso, o Deus todo-suficiente) e formalmente lhe deu a promessa da aliança "para ser o seu Deus e o Deus dos seus descendentes" (Gn 17:1-7). Todos os cristãos, pela fé em Cristo, são herdeiros dessa promessa, como Paulo diz em Gálatas 3:15-29. O que isso significa? Trata-se, na verdade, de um repositório de promessas englobando todas. "Esta é a primeira promessa e a fundamental", declarou o puritano Sibbes,7 "na verdade, é a vida e a alma de todas as promessas".8 Thomas Brooks,9 outro puritano, dá o seguinte esclarecimento:
[Isto] é como se ele dissesse: "Você terá uma participação tão verdadeira em todos os meus atributos, para seu benefício, como eles são meus para minha glória" [...] "Minha graça", disse Deus, "será de vocês para lhes perdoar, meu poder será de vocês para protegê-los, minha sabedoria será para dirigi-los, minha bondade para livrá-los, minha misericórdia para sustentá-los e minha glória será de vocês para coroá-los". Esta é uma promessa completa de que Deus seria nosso Deus; nela estão incluídas todas as coisas. Lutero disse: "Deus meus et omnia" [Deus é meu, e todas as coisas são minhas].
"Este é o verdadeiro amor para com qualquer pessoa", disse Tillotson,11 "fazer o melhor possível em relação a ela". Deus procede assim em relação a quem ama — o melhor possível; e a medida do melhor que Deus pode fazer é a onipotência! Assim, a fé em Cristo nos leva ao relacionamento que abrange bênçãos incalculáveis, tanto para agora como para a eternidade.

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