A ARTE DE ENSINAR APRENDER

quarta-feira, 18 de novembro de 2009





A arte de ensinar a aprender


"A arte de ensinar a aprender consiste em formar fábricas, não armazéns"
(Jaime Balmy, filósofo espanhol).


O aluno aprende quando muda de comportamento

Em tempos passados, aprender significava apenas memorizar. A partir do século 18, Comenius ampliou e atualizou esse conceito. Para o "pai da didática moderna", aprender implica, primeiramente, compreender; depois, memorizar e, por fim, aplicar o conhecimento recebido. Hoje, sabe-se que aprender é um processo lento, gradual e complexo. Não significa somente acumular dados na memória, mas adaptar-se satisfatoriamente às mais diversificadas situações da vida, evidenciando mudança de comportamento. Conforme lecionou Anísio Teixeira, ilustríssimo educador brasileiro, "fixar, compreender e exprimir verbalmente um conhecimento não é tê-lo aprendido. Aprender significa ganhar um modo de agir".

O aluno aprende cooperando com o outro

O professor que incentiva a participação dos alunos em sala de aula promove a "aprendizagem cooperativa", ou seja, a troca de experiências. Professores e alunos ajudam-se mutuamente, como parceiros no processo de ensino-aprendizagem.

Portanto, aprendizagem cooperativa ou colaborativa é um processo pelo qual os membros de um determinado grupo ajudam e confiam uns nos outros a fim de atingir um objetivo combinado. A sala de aula é um excelente lugar para desenvolver as habilidades de criação de um grupo.
O professor deverá enfatizar o ensino e a aplicação de estratégias de cooperação entre os alunos. O ponto de partida é reconhecer que os estudantes aprendem não apenas com o professor, mas também uns com os outros.

Na Escola Dominical, isso pode ser verificado por meio de várias atividades sugeridas pelo professor, tais como trabalhos de grupos, estudos de casos ou discussões. De acordo com o que lecionou o educador americano John Dewey, "aprendemos quando compartilhamos experiências".

O professor deverá criar situações que provoquem e estimulem a cooperação, proporcionando experiências que envolvam interação direta, dependência mútua e responsabilidade individual. Será necessário ainda enfatizar a aprendizagem e o exercício das aptidões indispensáveis à cooperação, como a habilidade de escutar, falar e ajudar-se mutuamente.

Aprendizagem cooperativa desenvolvida na sala de aula

Como membro de um grupo o aluno deve:

a) Desenvolver e compartilhar um objetivo comum;


O ideal é que os próprios alunos escolham ou participem da escolha do tema do trabalho a ser desenvolvido em sala de aula, em casa ou em qualquer outro lugar. Se eles participarem da escolha do tema, é certo que também terão em mente as razões que os levarão à conclusão do trabalho. Os objetivos têm de ser partilhados com todos.

b) Compartilhar sua compreensão de determinado problema, questões, insights e soluções;

Às vezes, de onde menos se espera é que vêm as melhores idéias, pensamentos e soluções. Há alunos que são quietos, sossegados por natureza. Quase não se ouve a voz deles, quase não se percebe sua presença na sala de aula, mas... de repente... mostram-se inteligentes, geniais, especiais! Trata-se do tão falado insight. Aquela ideia maravilhosa, compreensão clara e repentina da natureza íntima de determinado assunto, que nos vêm sem que sequer percebamos. Todas as questões, insights e soluções, independentemente de quem os tenham, terão de ser compartilhados.

c) Responder aos questionamentos e aceitar os insights e soluções dos outros;

Nem sempre estamos preparados para aceitar as opiniões e contribuições dos outros. Imaginamos que somente nós temos boas ideias e pensamentos dignos da consideração do grupo. Isto é, o que o outro pensa ou sabe a respeito do tema que está sendo tratado, na nossa consideração, é insipiente, incompleto ou até mesmo irrelevante.
Esse tipo de comportamento é prejudicial ao relacionamento do grupo e ao resultado final do trabalho, embora seja comum em nossas classes.

d) Permitir aos outros falarem e contribuírem, e considerar suas contribuições;

Tanto o professor quanto o aluno jamais poderão desprezar ou desconsiderar a cooperação de qualquer pessoa que seja, pois todos possuem saberes, informações e experiências para compartilhar.

e) Ser responsável pelos outros e os outros serem responsáveis por ele;

No trabalho de grupo, ao mesmo tempo em que cada um é responsável por si e por aquilo que faz, também o é pelos outros e pelo que os outros fazem. A responsabilidade do resultado do trabalho é de todos.

f) Ser dependente dos outros e os outros serem dependentes dele.

No trabalho de grupo, todos dependem de todos. Não há espaço para individualismo ou estrelismo. O trabalho de grupo é como uma edificação. Todos constroem sobre o que outros já construíram.

A criação de um bom grupo de aprendizagem

Muitos professores começam trabalhos de grupo em suas classes sem conhecerem os processos grupais. Vejamos como os alunos se comportam e se relacionam em grupo e quais atitudes devem ser tomadas em cada situação:

a) O professor pode facilitar a discussão e sugerir alternativas, mas não deve impor soluções aos grupos, especialmente àqueles alunos que apresentam dificuldades de trabalhar em conjunto.

b) Os grupos deverão ter de três a cinco componentes, pois grupos maiores têm dificuldade em manter todos os membros envolvidos o tempo todo.

c) Grupos designados pelo professor normalmente funcionam melhor que os que se formam por si mesmos.

d) Em um grupo de trabalho, há níveis diferentes de habilidades, formação e experiência.

e) Cada participante fortalece o grupo e cada membro do grupo é responsável não apenas por dar força, mas também por ajudar os outros a entender a fonte de suas forças.

f) O membro do grupo que não se sentir confortável com a maioria deverá ser encorajado e fortalecido a fim de dar sua contribuição.

g) A aprendizagem é influenciada positivamente com a diversidade de perspectivas e experiências.

h) Com o trabalho de grupo aumenta-se as possibilidades para a resolução de problemas.

i) Cada componente deve comprometer-se com os objetivos estabelecidos pelo grupo.

j) Avaliações deverão ser feitas para se verificar quem realmente está contribuindo em benefício de todos.

l) O grupo tem o direito de excluir um membro que não coopera e não participa; isto é, depois de tomadas todas as medidas a fim de que a situação se reverta. (O aluno excluído terá de encontrar outro grupo que o aceite).

m) Qualquer aluno tem o direito de sair do grupo, caso perceba que está fazendo a maior parte do trabalho com pouca ou nenhuma ajuda dos outros (Esse aluno facilmente encontrará um outro grupo que acolha suas contribuições).

n) Algumas responsabilidades operacionais são compartilhadas, definidas e concordadas pelos membros de um grupo. Por exemplo:

- Todo o grupo deve comprometer-se em participar, preparar e chegar na hora para as reuniões;


- As discussões devem ser focadas nos temas, evitando críticas pessoais;

- Ter responsabilidade para a divisão de tarefas e realizá-las a contento.

O aluno aprende por meio da interação

Na interação entre professores e alunos, supõe-se que os mestres ajudem inicialmente os estudantes na tarefa de aprender, visto que esse auxílio logo lhes possibilitará pensar com autonomia. Para aprender, o aluno precisa ter alguém ao seu lado que o acompanhe nos diferentes momentos de sua aprendizagem, esclareça suas dúvidas, ajudando-o a alcançar um nível mais elevado de conhecimento.

Por meio da interação estabelecida entre o professor (parceiro mais experiente e sensível) e o aluno, constrói-se novos conhecimentos, habilidades, competências e significações.
Cabe ao professor conhecer seus alunos profundamente, a fim de familiarizar-se com os modos por meio dos quais eles raciocinam. Conhecendo bem o pensamento dos alunos, o mestre estará em condições de organizar a situação de aprendizagem e, sobretudo, interagir com eles, ajudando-os a elaborar hipóteses a respeito do conteúdo em pauta, mediante constante questionamento. Dessa forma, os estudantes poderão, aos poucos e com os próprios esforços, formularem conceitos e noções da matéria de estudo.

Os comportamentos do professor e dos alunos estão, portanto, dispostos em uma rede de interações que envolvem comunicação e complementação de papéis, onde há expectativas recíprocas. Nessas interações, é importante que o professor se coloque no lugar dos alunos para compreendê-los (empatia), ao mesmo tempo em que os alunos podem conhecer as opiniões, os propósitos e as regras que seu mestre estabelece para o grupo.

Na interação, há constantes trocas de influências. O professor, a cada momento, procura entender as motivações e dificuldades dos aprendizes, suas maneiras de sentir e reagir diante de certas situações, fazendo com que as interações em sala de aula continuem de modo produtivo, superando os obstáculos que surgem no processo de construção partilhada de conhecimentos. Assim, comportamentos como perguntar, expor, incentivar, escutar, coordenar, debater, explicar, ilustrar e outros podem ser expressos pelos alunos e pelo professor numa rede de participações onde as pessoas consideram-se reciprocamente, como interlocutores que constroem o conhecimento pelo diálogo.

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