Setor Educação Cristã CPAD-2CORINTIOS LIÇÃO 1

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009



Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas Mestre
Produzidos pelo Setor de Educação Cristã

Subsídios extras para a lição 2ª Coríntios - "Eu de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas"

1º trimestre/2010



Lição 01 - A Defesa do Apostolado de Paulo



Leitura Bíblica em Classe
2 Coríntios 1.12-14; 10.4,5


Provavelmente a Segunda Epístola aos Coríntios foi escrita cerca de um ano depois da Primeira. Seu conteúdo está intimamente relacionado com o da primeira epístola. Aqui comenta-se particularmente a maneira como foi recebida a carta que Paulo escrevera anteriormente; esta foi tal que encheu o seu coração de gratidão a Deus, que o capacitou para desempenhar tão plenamente o seu dever para com eles. Muitos mostraram sinais de arrependimento e correção em sua conduta, mas outros ainda seguiam aos seus falsos mestres; e como o apóstolo postergava a sua visita, por não desejar tratá-los com severidade, o acusaram de leviandade e mudança de conduta, de orgulho, vanglória e severidade, e falavam dele com desprezo. Nesta epístola encontramos o mesmo afeto ardente de Paulo pelos discípulos de Corinto, que foi expresso na epístola anterior; o mesmo zelo pela honra do evangelho e a mesma ousadia para a repreensão cristã.

Paulo escreveu essa epístola a três classes de pessoas em Corinto: (1) Primeiro escreveu para encorajar a maioria da igreja que lhe era fiel, como seu pai espiritual. (2) Escreveu para contestar e desmascarar os falsos apóstolos que continuavam a difamá-lo. (3) Escreveu, também, para repreender a minoria na igreja influenciada por seus oponentes e que não acatavam a sua autoridade e correção. Paulo reafirmou sua integridade e sua autoridade apostólica em relação a eles, esclareceu os seus motivos e os advertiu contra novas rebeliões.

II Coríntios têm três divisões principais. Na primeira, Paulo começa dando graças a Deus pela sua consolação em meio aos sofrimentos em prol do evangelho, elogia os coríntios por disciplinarem um grande transgressor e defende sua integridade ao alterar seus planos de viagem. Em 3.1_6.10, Paulo apresenta o mais extenso ensino do Novo Testamento sobre o verdadeiro caráter do ministério. Ressalta a importância da separação do mundo (6.11_7.1) e expressa sua alegria ao saber, através de Tito, do arrependimento de muitos na igreja de Corinto, que antes se desacatavam a sua autoridade apostólica. Nos capítulos 8 e 9, Paulo exorta os coríntios a demonstrar a mesma generosidade cristã e sincera dos macedônios, ao contribuírem na campanha por ele dirigida, a favor dos crentes pobres de Jerusalém. O estilo da epístola muda nos capítulos 10 a 13. Agora, Paulo defende o seu apostolado, discorrendo sobre a sua chamada, qualificações e sofrimentos como um verdadeiro apóstolo. Com isso, Paulo espera que os coríntios reconheçam os falsos apóstolos entre eles, o que os poupará de futura disciplina quando ele lá chegar.

No primeiro capítulo de II Coríntios versículos 12-14, o apóstolo Paulo declara a sua própria integridade e a de seus companheiros de labor. Mesmo como pecador, ele somente podia regozijar-se e gloriar-se em ser realmente aquilo que professava. A consciência testifica acerca do curso e do teor que fazem parte da vida. Por isso podemos nos julgar, e não por este ou aquele ato isolado. Nossa conversão será bem ordenada, se vivermos e atuarmos sob o princípio da graça no coração. Tendo isto, podemos deixar o nosso caráter nas mãos do Senhor, mas usando os meios apropriados para demonstrá-lo, quando o mérito do evangelho ou nossa utilidade assim o exigir.

Bibliografia:

Bíblia de Estudo Pentecostal, Rio de Janeiro: CPAD

Comentário Bíblico Matthew Henry, p.968. Rio de Janeiro: CPAD

Setor Educação Cristã CPAD - DAVI - LIÇÃO 13

domingo, 27 de dezembro de 2009


Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas Mestre
Produzidos pelo Setor de Educação Cristã

Subsídios extras para a lição

Davi - As Vitórias e derrotas de um homem de Deus

4º trimestre/2009



Lição 13 - Davi o Homem Segundo o Coração de Deus



Texto Bíblico: 1 Samuel 13.13,14; 16.11,12; Salmos 89.20


A nossa cultura ocidental tem por hábito cultuar os seus heróis. Somos uma sociedade carente e dependente de heróis. Os heróis idealizados em nossos inconscientes são seres perfeitos e capazes de se manter imunes ao erro. Todavia, essa nossa forma de pensar sofre um duro contraste quando posta diante da cultura judaico-cristã. A Bíblia está cheia de histórias de grandes líderes, estadistas, guerreiros e príncipes, porém a forma como ela apresenta suas vidas e obras está bem longe daquele modelo que estamos habituados a ver. Isso fica bem claro quando analisamos a vida de Davi.

Davi, mais do que qualquer outro homem no Antigo Testamento, embora tenha desenvolvido as habilidades e qualidades de um herói, não pode ser identificado como tal. Davi possuía muitas virtudes como a própria Escritura deixa claro, mas, por outro lado, estava cercado da mesma forma de muitos erros. Davi acertava, mas também errava. Mas Davi é o único na Bíblia chamado de “o homem segundo o coração de Deus” (At 13.22). É no coração desse homem que jaz o seu grande segredo, Matthew Henry (1996, vol.2, p. 286) destaca: “Deus olha o que está no coração, Ele o conhece. Nós podemos dizer como os homens são vistos, mas Deus pode dizer como eles são. Os homens veem com os olhos (esse é o sentido da palavra original) e ficam contentes com o que aparece diante de si, mas Deus olha o coração e vê os pensamentos e intenções. Ele julga os homens por ele”. Por sua vez, o léxico grego de Kittel (2006, vol. 8.p. 482) sublinha que “como um testemunho de fé (Hb 11.32) Davi cantou louvores a Deus nos Salmos, e como um profeta ele predisse a salvação futura (Mc 12.36; At 1.16;13.35). O próprio Deus falou através de Davi (Hb 4.7). O Espírito Santo falou através de seus lábios (At 1.16; 4.25;13.35). Davi era inspirado pelo Espírito Santo (Mc 16.36).

Davi era um homem espiritual, mas humano. Um guerreiro forte, mas ao mesmo tempo um líder quebrantado (Sl 34.18). Um homem que sabia pensar e ao mesmo tempo chorar (2 Sm 12.22). Davi às vezes se mostra extremamente racional e em outras horas um homem altamente emocional.

Ele não era um anjo, ou um semideus ou ainda um dos heróis antigos, mas um homem que amava a Deus mesmo com todas as suas fragilidades.

Por sermos humano como Davi, devemos aprender com a sua história para não cometermos os mesmos erros dele.

Bibliografia: GONÇALVES, José. et. al. Davi, As vitórias e as Derrotas de um Homem de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.

Revista Bercário 1° Trimestre de 2010





cód. PA-035583



Onde comprar:http://www.cpad.com.br





Berçário Mestre - 1º Semestre/2010

Semestral

Produzida para auxiliar aos professores no momento de educar os pequeninos, levando-os a aprender por intermédio da interação com o meio que a rodeia. Dessa forma as dimensões do cuidado relativo à alimentação, ao sono, à higiene, à saúde, à brincadeira, à música, se tornam educativas e muito interessantes!

Totalmente formulada de acordo com orientação pedagógica e didática, com conteúdos didáticos atualizados e um mascote, que acompanhará o estudo semanal da criançada.


SUMÁRIO DA LIÇÃO:

1- Vamos à Casa de Deus!
2- Na Casa de Deus eu tenho amigos!
3- O pastor é meu amigo!
4- Na igreja eu falo com Papai do céu!
5- Na Casa de Deus eu louvo!
6- Na Casa de Deus eu leio a Bíblia!
7- Na Casa de Deus eu oferto!
8- Na Casa de Deus eu posso louvar!
9- A Casa de Deus tem pastores que me amam!
10- Na Casa de Deus eu ouço belas histórias!
11- Na Casa de Deus eu oro!
12- Vou cuidar da Casa de Deus!
13- Quero agradecer pela Casa de Deus!



Formato: 20 x 20cm / 96 págs
Acabamento: Grampeado
Periodicidade: Semestral


SUBSÍDIOS-DAVI LIÇÃO 13

sábado, 26 de dezembro de 2009













Lição 13

27 de dezembro de 2009


Davi - Um Homem Segundo o Coração de Deus

TEXTO ÁUREO


"E, quando este foi retirado, lhes levantou como rei a Davi, ao qual também deu testemunho e disse: Achei a Davi, filho de Jessé, varão conforme o meu coração, que executará toda a minha vontade"
(At 13.22).


VERDADE PRÁTICA


Fazer a vontade de Deus é o segredo de todo projeto bem-sucedido.


HINOS SUGERIDOS: 305, 535, 580


LEITURA DIÁRIA

  • Segunda Rt 4.22; 1 Sm 17.12; Mt 1.6; Lc 3.31,32 A genealogia de Davi
  • Terça 1 Sm 17.13-15 O filho caçula
  • Quarta 1 Sm 16.12,13 Davi, o ungido de Deus
  • Quinta 1 Sm 17.45 Davi, um homem que confiava em Deus
  • Sexta 2 Sm 8.1-5 Davi, um homem de conquistas
  • Sábado 1 Rs 2.10,11 O fim de um reinado próspero


    LEITURA BÍBLICA EM CLASSE


    1 Samuel 13.13,14; 16.11,12; Salmos 89.20


    INTERAÇÃO


    Professor, com a graça de Deus, chegamos ao final de mais um trimestre. Durante os encontros dominicais, você e seus alunos com certeza foram edificados, exortados e consolados através do exemplo de vida do "homem segundo o coração de Deus". Davi começou bem a sua carreira, teve alguns tropeços, no entanto, buscou a Deus, colocou-se de pé novamente e terminou os seus dias bem, na presença do Pai. Aprendemos com isso que fazer a vontade de Deus é o segredo para se ter uma vida bem-sucedida. A Palavra de Deus diz que "Davi dormiu com seus pais e foi sepultado na Cidade de Davi" (1 Rs 2.10). Que cada um de nós saiba também reconhecer os erros, arrepender-se deles e confessá-los, pois somente assim teremos cumprido nossa missão existencial.




    OBJETIVOS


    Após esta aula, seu aluno deverá estar apto a:

  • Conscientizar-se que fazer a vontade de Deus é o segredo de todo projeto bem-sucedido.
  • Compreender que Davi foi um homem segundo o coração de Deus, mas isso não significa que fosse isento de falhas.
  • Descrever as características de Davi que tanto agradaram ao Senhor.



    ORIENTAÇÃO PEDAGÓGICA


    Para a finalização do trimestre, reproduza o quadro abaixo. Utilize-o ao concluir a lição. Mostre aos seus alunos os principais acontecimentos da vida do "homem segundo o coração de Deus". Conclua perguntando à classe o que aprenderam de mais significativo durante o trimestre e que gostariam de relatar à turma.



    PRINCIPAIS ACONTECIMENTOS DA VIDA DE DAVI
  • Samuel unge Davi como o próximo rei. 1 Samuel 16.1-13
  • Davi torna-se músico de Saul. 1 Samuel 16.19-23
  • Davi enfrenta e derrota Golias. 1 Sm 17.48-58
  • Saul dá início à perseguição a Davi. 1 Sm 18.6-11
  • Davi casa-se com Mical, filha de Saul. 1 Sm 18.27
  • Davi foge para Nobe, e vai ter com o sacerdote Aimeleque. 1 Sm 21.1-10
  • Davi torna-se rei de Judá. 2 Sm 5.1-25
  • Davi é constituído rei de todo Israel. 2 Sm 1-2
  • Davi traz a Arca para Jerusalém. 2 Sm 6.1-23
  • A queda e a restauração de Davi. 2 Sm 11.2,4,5,14-17; Sl 51.1-19
  • Os últimos dias de Davi. 1 Rs 1.1-53; 2.1-10






    COMENTÁRIO



    INTRODUÇÃO

    Palavra Chave:


Servo : Aquele que não tem direitos, ou não dispõe de sua pessoa e bens.


Chegamos ao término de mais um trimestre com a graça de Deus. Se não fosse a graça de Deus na nossa vida, não conseguiríamos alcançar os nossos objetivos e, não teríamos nenhum êxito neste Trimestre. Mas graça a Deus por tudo,nos dando coragem e ânimo nessa jornada de aprender-ensinar.
A vida de Davi é um exemplo pra todos nós. Podemos aprender de Davi lições positivas e também negativas. Mas, as lições positivas falam mais alto que as negativas, não só em quantidade, mas também em qualidade. Na verdade, Davi é um modelo de vida cristã.Temos ao nosso alcanço a graça de Deus e toda a manifestação do Espírito Santo na nossa vida para nos fazer até mesmo melhor do que Davi.
O homem segundo o coração de Deus, antes mesmo de ter o coração de pastor, tinha um coração de ovelha, sabia servir e fazia isto de maneira humilde.
O exemplo de Davi, como um bom rei, foi regra para os demais reis .Se um rei, fosse bom, ele seguiu o caminho de Davi, se não, seguiu o caminho de Jeroboão, filho de Nebate,do reino do norte.



I. UM HOMEM CHMADO POR DEUS.

Como vimos na primeira lição , Davi tinha um chamado especial da parte de Deus.Penso que todos têm potencial para liderança, mas precisam despertar ou desenvolver esse potencial que se encontra inerte.
Mas creio, que não obstante, esse potencial que há dentro de cada ser humano, há também uma vocação de Deus que capacita o homem ou a mulher de Deus para uma tarefa especial, uma obra segundo o propósito de Deus que somente uma intervenção divina soberana para poder realizá-la. E isso a gente ver na vida de Davi.
Davi, não tinha, por assim dizer, quando aparece nas escrituras sagradas, em comparação aos seus irmãos, e as necessidades materiais da época, perfil de um rei. Embora ele possuísse, estava ainda, por se manifestar.
O chamamento de Deus na vida de Davi, não anulou sua responsabilidade como tal.
Davi cooperou com a chamada de Deus atendo-a e fazendo a vontade divina.
Cada um nós, a semelhança de Davi, temos um chamado especial de Deus na nossa vida. Cabe a nós, assim como Davi, atendermos esta vocação.
Uma das muitas diferença de Davi e Saul, se mostra aqui; Davi aprendeu fazer boa escolha, enquanto Saul não.


II. UM HOMEM OBEDIENTE A DEUS.

A vida de Davi é uma vida de obediência humilde não somente a Deus, mas também aos seus superiores humanos, a quem prestava serviços.
Na sua família, ele é o filho menor, o caçula. Ele aparece fazendo serviço de gente grande. Cuidava das ovelhas de seu pai, num campo onde haviam muitos animais ferocíssimos. Ele tinha toda desculpa para dizer: “não vou cuidar dessas ovelhas”. Mas ele não fez isto. Simplesmente, aceitou cuidar das ovelhas e cuidar bem, ao ponto de enfrentar um leão e um urso para proteger as ovelhas de seu pai.
Levavam suprimentos para seus irmãos nas batalhas sem murmurar.
Mesmo depois de ter matado o gigante, Davi ainda se mostra obediente aos seus pais.
Na corte, Davi foi obediente a Joabe, seu chefe militar; foi obediente a Jonatas, e esta obediência lhe trouxe uma amizade sublime com o filho do rei. Com sua obediência ele sentou ao lado do rei Saul, serviu ao rei Saul em tudo.
Geralmente, a nossa obediência aos superiores constituídos, demonstra a nossa obediência ao nosso Deus Supremo. Se não obedecermos aos nossos superiores que vemos, como obedeceremos ao nosso Deus Superior que não vemos?!
Davi foi obediente a Deus em tudo. Ele foi submisso a Deus. Ele aprendeu de seus pais a obediência que devemos a Deus.


III. UM HOMEM SENSÍVEL A DEUS.


Não é muito incomum um homem ter poder. Mas também não é muito raro o poder "possuir" um homem. Os governantes e os reis são julgados não tanto pela autoridade que possuem, mas, sim, pelo modo como essa autoridade os governa. Durante o cur¬so da história, já houve muitos homens em posição de comando e autoridade. Alguns a herdaram ao nascer. Outros foram eleitos. Alguns a tomaram pela força. Mas a maioria simplesmente abriu caminho com unhas e dentes, para chegar ao topo, através de anos e anos de muito trabalho e esforço. Mas tudo isso é esquecido rapidamente. O que realmente fica na lembrança de todos é a maneira como cada um exer¬ceu a autoridade que deteve.
Deus escolheu Saul para reinar sobre Israel; mas Saul preferiu reinar sem a interferência de Deus. Nas mãos dele, a autoridade real tornou-se um instrumen¬to duro, agressivo, arbitrário e cruel. Ele segurava o cetro, mas o cetro também o segurava. Dava ordens simplesmente pelo prazer de dar ordens. Agarrando-se ao poder conferido por seu cargo, inutilizou o maior poder que existe: a presença do Espírito de Deus. É quando reconheceu que sua soberania havia-se esvaziado, frustrado, ele passou a brandir o seu sabre com mais vigor, e procurou matar aquele que ora era o detentor da posição que ele, por sua insensatez, deixara escapar de suas mãos.
Davi, que foi caçado e acossado nos primeiros anos de sua vida adulta, também se viu ocupando uma posição de poder. Vemos em 1 Samuel 24 como Deus colocou ao alcance de suas mãos a vida de seu maior inimigo, Saul.
"Tendo Saul voltado de perseguir os filisteus, foi-lhe dito: Eis que Davi está no deserto de En-Gedi. Tomou então Saul três mil homens, escolhidos dentre todo o Israel, e foi ao encalço de Davi e dos seus homens, nas faldas das penhas das cabras monteses. Chegou a uns currais de ovelhas no caminho, onde havia uma caverna; entrou nela Saul, a aliviar o ventre. Ora Davi e os seus homens estavam assentados no mais inte¬rior da mesma." (1 Sm 24.1-3.)
A oportunidade perfeita. Que excelente momento para Davi se levantar e acabar com o homem que jurara matá-lo. Saul estava desarmado, numa situa¬ção vulnerável, e não suspeitava de nada. Os homens que acompanhavam Davi estavam até fora de si, de tanta alegria. Ali estava a oportunidade que tanto aguardavam. Quase não se continham de vontade de gritar. E um deles chamou Davi de lado e, com voz tensa, em cochichos, disse-lhe:
"Hoje é o dia do qual o Senhor te disse: Eis que te entrego nas mãos o teu inimigo e far-lhe-ás o que bem te parecer.'' (1 Sm 24.4.)
Por que Davi hesitava?
— Vá pegá-lo! Diziam eles entre dentes. Mate-o! Meta a espada nele. Ele está em suas mãos!
Então o jovem pastor foi-se arrastando em meio à escuridão e cortou uma ponta do manto de Saul com sua adaga afiada. Com a mesma facilidade, ele pode¬ria tê-la enterrado no coração dele. Os homens que seguiam a Davi devem ter ficado perplexos com a atitude de seu chefe, no momento em que ele voltava para o fundo da caverna.
"Sucedeu, porém, que, depois sentiu Davi bater-lhe o coração, por ter cortado a orla do manto de Saul." (1 Sm 24.5.)
O simples ato de cortar um pedaço do manto do rei afetou a consciência sensível de Davi. Havia levan¬tado a faca contra o rei de Israel — estendera a mão contra o ungido do Senhor. Fora demais. E Davi reteve seus soldados parados no fundo da caverna, enquanto Saul saía. Ele tivera em suas mãos a opor¬tunidade de se vingar dele. Mas preferiu deixar com Deus esse poder. E o que disse foi o seguinte:
— Se alguém deve matar Saul, esse alguém é Deus, não eu. Não vou utilizar esse instante de supre¬macia sobre ele para satisfazer minha necessidade de vingança. Não vou tocar no ungido do Senhor.
E deixou que ele escapasse. Deus concedera a Davi poder para praticar um ato, mas ele preferiu ser controlado pelo Senhor, do que por esse poder.
Muitos séculos depois, um Filho de Davi iria tomar uma decisão semelhante. Abdicando do poder que estava em suas mãos, esse descendente do Rei Da¬vi permitiu que homens ímpios o prendessem, o sub¬metessem a um arremedo de julgamento, e depois o pregassem a um cruel instrumento de morte, sozinho e nu.
"Pois ele, subsistindo em forma de Deus não jul¬gou como usurpação o ser igual a Deus; antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz.” (Fp 2.6-8.)
"...dizendo: Pai, se queres, passa de mim este cálice; contudo, não se faça a minha vontade, e, sim, a tua." (Lc 22.42.)
Uma pessoa segundo o coração de Deus recusa-se a tirar vantagem de uma situação, mesmo quando tudo leva a crer que foi Deus quem preparou essa situação, para que ela fizesse isso. Ê possível que Deus tenha nos colocado numa posição de autoridade, pela qual, de um momento para outro, nos achamos em condições de nos desforrarmos de alguém que nos prejudicou. Talvez atuemos no mundo dos negócios e tenhamos sido colocados em posição de superioridade em relação a outrem, e pensemos: "Ahhhh! Chegou minha vez! Graças a Deus! Agora tenho a oportunida¬de que aguardava." É uma tentação quase irresistível.
Quando estive na Nicarágua, fiquei conhecendo um jovem que era redator de uma revista, e que recebera a Cristo seis meses antes, durante um estudo bíblico. Após uma entrevista coletiva, saímos juntos e fomos tomar um café. Ali o jovem jornalista me revelou uma luta muito difícil que estava enfrentando naquele momento.
— Durante muitos anos, explicaram, dois jornalistas tentaram destruir-me, divulgando mentiras a meu respeito. Há poucos dias, quando estava examinando um arquivo, encontrei alguns documentos que pode¬riam simplesmente arrasar os dois. Tempos atrás, eu não teria hesitado em publicar um artigo, com cha¬mada de capa e tudo, para denunciar os dois sujeitos.
— E hoje? Indaguei.
— Hoje estou vivendo uma luta intensa. Toda a minha vontade é agredir esses dois mentirosos, é acabar com eles. Mas você sabe, senti, pela inspiração do Espírito Santo, que não devia fazer isso. Mas tal atitude é contrária a tudo que sempre aprendi. Que é que você acha que devo fazer? Devo denunciá-los? Devo revelar tudo e acabar com eles, ou não fazer nada? Sabe, se descobrirem que fiquei a par disso e retive a notícia, posso até perder meu emprego.
— Escute aqui, falei, até agora você obedeceu à voz do Espírito Santo. É melhor fazer o que Deus está mandando.
Embora aquilo que esse redator queria fazer fosse uma coisa certa, a motivação dele era incorreta. Mas ele estava sendo sensível à voz do Espírito Santo, e retendo os fatos, mesmo sabendo que poderia enterrar neles a faca até o cabo.
— Espere em Deus, falei. Ele tem operado em situações iguais desde o início da História. Ele resolve¬rá isso de modo maravilhoso.
Antes do término de minha cruzada, ele me procurou novamente.
— Lembra-se de que me aconselhou a não me desforrar daqueles dois homens? Indagou. Você me disse que provavelmente Deus tinha uma solução bem melhor, e melhor do que eu poderia imaginar. Sabe o que aconteceu? Essa semana recebi um chamado do presidente. Vou ser mandado para o exterior como as¬sessor do embaixador.
Que coisa maravilhosa! Deus resolveu aquela situação, e o jovem foi impedido de tomar uma atitude da qual poderia ter-se arrependido mais tarde. E sua consciência estava limpa diante de Deus. Em Roma¬nos 12.19, lemos o seguinte:
''Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira; porque está escrito: A mim me perten¬ce à vingança; eu retribuirei, diz o Senhor.''
A Bíblia ensina que nunca devemos nos vingar. E alguém pode perguntar:
— Você está querendo dizer nunca mesmo? Não posso tirar nem uma vingançazinha só para mostrar a eles que não sou bobo, que sei muito bem tudo que está acontecendo?
Não; a Bíblia diz nunca. Deus cuidará do caso. Davi sabia que Saul estava acabado. Sabia que ele seria o próximo rei de Israel. Até Jônatas, o filho de Saul, já afirmara:
— Você será o rei. Eu serei o segundo, depois de você.
Davi sabia de tudo, sabia das profecias, das indicações. Sabia que ele seria mesmo o rei. E seria muito normal sua natureza humana dizer-lhe: "Ma¬te-o agora, e assim você assume o reino hoje mesmo! Para que esperar mais?" E ele tinha direito de matar Saul. Guerra é guerra. Saul estava atrás dele para matá-lo. Mas Davi disse:
— Não, não. Não vou dar nem um passo à frente de Deus.
Ele era sensível à orientação de Deus. O poder que havia subido à cabeça de Saul e fizera com que se afastasse de Deus, em Davi teve o efeito de levá-lo a confiar ainda mais no Senhor. O poder e a influência que ele teria iriam superar em muito os do seu ante¬cessor, mas sua força era equilibrada — temperada por uma grande mansidão e pela sua submissão ao comando do Espírito de Deus.
Vamos pensar nisso por uns instantes. Qual é nossa reação quando Deus nos coloca numa posição de poder? Qual é a sua reação? Mas talvez você diga:
— Que poder? Não sou nenhum rei. Não ando por aí com uma espada na cintura.
Não; mas todos nós, vez ou outra, encontra¬mo-nos em posição de superioridade sobre outros, ou como detentor de um cargo na igreja, ou chefe de secção em nosso trabalho, ou como pai ou mãe, ou como marido ou mulher que sabe exatamente em que aspectos nosso cônjuge é mais vulnerável. A maneira como agimos nesse momento em que temos vantagem sobre outros poderá revelar muita coisa sobre nosso caráter e nossa vida espiritual. Davi entregou a Deus aquela sua oportunidade, aquela situação de superio¬ridade, aquela vantagem. Deu as costas àquela chance de vingança, e saiu correndo, por assim dizer, atrás do coração de Deus. Em que direção você está correndo?







CONCLUSÃO

Davi foi o homem segundo o coração de Deus, no entanto, como aprendemos, isso não significa que fosse isento de falhas ou imune ao pecado. Ele teve seus acertos, mas também seus erros. Os aspectos do caráter de Davi revelados nas Escrituras tornaram-no muito mais que um rei. Eles o transformaram em um líder-servo, um homem segundo o coração de Deus, que até hoje ilustra as histórias bíblicas para as crianças, inspira vocações e serve de referencial para nós, adultos.




AUXÍLIO BIBLIOGRÁFICO






Subsídio Histórico


"Os motivos de Davi”

O mais significativo em toda a narrativa do censo e suas consequências é que Davi pôde perceber que a eira de Araúna, o jebuseu, deveria ser o local do templo de Yahweh (1 Cr 21.28-22.1). Obtendo esta percepção, passou a reunir os materiais e a mão-de-obra especializada para dar início às preparações da edificação que seu filho Salomão veria terminada.
O desejo de Davi de edificar um templo para Yahweh começou após Hirão, rei de Tiro, ter-lhe construído um palácio real, e a arca da Aliança ter sido trazida para Jerusalém. Por várias razões, incluindo talvez a rebelião de Absalão, a obra não pôde ser executada naquele período. Agora, cerca de quatro ou cinco anos depois, o momento parecia propício, especialmente porque a eira de Araúna havia sido comprada e designada para esse propósito.
O motivo da intenção de Davi construir um templo é claro: ele vivia em um suntuoso palácio de cedro, enquanto Yahweh habitava em uma simples tenda (2 Sm 7.1,2; 1 Cr 17.1). É importante entender que, no antigo Oriente Médio, a soberania de um monarca não era totalmente reconhecida até que tivesse construído uma apropriada habitação. Se isto era verdade sobre os reis humanos, quanto mais o seria sobre os deuses, que, afinal, eram os verdadeiros reis sob os quais os governadores serviam!
(MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. 7 ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.pp. 290-291).


(BERGSTÉN, Eurico. Teologia Sistemática. RJ: CPAD, 2004, pp.243-245).




VOCABULÁRIO



Sem ocorrências






BIBLIOGRAFIA SUGERIDA


MERRILL, Eugene H. História de Israel no Antigo Testamento. Ed. 7. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.
DEVER, Mark. A Mensagem do Antigo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2008.




SAIBA MAIS


Revista Ensinador Cristão CPAD, nº 40, p.42.





EXERCÍCIOS


RESPONDA

1. Qual a mensagem que resume o 'coração da Bíblia'?
R. A palavra servir.

2. Quem é o nosso maior exemplo de servo?
R. Jesus Cristo..

3. O que está por trás de cada ação de Davi?
R. A fé inabalável em Deus.

4. Ao perceber que Deus feria o povo por causa do censo, qual foi a atitude de Davi?
R. Quebrantou-se mais uma vez diante do Senhor.

5. Se alguém lhe perseguisse, assim como Saul fez com Davi, você estaria disposto a perdoar-lhe?
R. Resposta pessoal.





APLICAÇÃO PESSOAL


Você deseja que Deus faça em sua vida o mesmo que fez com Davi? Se a sua resposta for afirmativa, coloque-se no altar do Espírito Santo; apresente sua vida àquEle que a todos transforma segundo a imagem de Cristo. Davi, o homem segundo o coração de Deus, não era perfeito. Já é do seu conhecimento que este personagem, como servo de Deus, soldado, pai e rei, teve muitas falhas e erros, mas colocou sua vida inteiramente nas mãos de Deus. Ele não usou máscaras ou disfarces. Você tem se colocado por inteiro no altar do Senhor?
Davi conhecia ao Senhor e sabia que Ele era poderoso para livrar e transformar o homem pecador. Davi conhecia ao Senhor de modo pessoal, pois andava em sua presença. Conhecia ao Senhor por experiência própria e não porque ouviu falar dEle. Você conhece ao Senhor pessoalmente? Mantém um relacionamento diário com Ele? O fato de conhecer ao Senhor pessoalmente fez a diferença na vida do filho de Jessé. Para ser um homem ou mulher segundo o coração de Deus, se faz necessário conhecê-Lo e viver inteiramente com Ele, obedecendo-Lhe em tudo. Que o Altíssimo continue a derramar ricas bênçãos sobre sua vida e família. Confie nEle e viva para a glória do Deus Pai, Aquele que também o ungiu para uma grande obra.

Ensinador Cristão - Davi - Lição 13













LIÇÃO 13

DAVI, UM HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS

Neste trimestre, estudamos os pontos altos e baixos da vida de Davi. Deus amou esse homem que da sua descendência veio o Senhor Jesus.

Se fizermos uma retrospectiva da vida de Davi, veremos que ele buscou andar de acordo com a vontade de Deus, e sua vida nos ensina muitas coisas. Sendo filho mais novo, não desprezou sua função de pastor e foi escolhido para o posto mais alto da nação, pois Deus viu que o cuidado que ele tinha com as ovelhas teria com a nação também. Ele se conduziu de forma prudente na corte, um ambiente onde muitas pessoas buscam o poder por meios escusos. Por onde passou obteve sucesso porque dependia de Deus. Foi um músico exemplar, afastando o mal com a sua música. Teve a oportunidade de fazer justiça com as próprias mãos quando estava sendo perseguido sem causa, mas poupou a vida de seu perseguidor, pois reconheceu que não cabia a ele agir em nome de Deus; Deus ungira a Saul, e Ele consertaria as coisas.

Como líder, atraiu homens perturbados, endividados e perseguidos, e os transformou em um exército de homens valentes.
Soube ouvir conselhos prudentes, e os seguiu , atendendo sempre ao bom senso. Soube estar bem quando sozinho e quando acompanhado, e mesmo em aperto, quando seus próprios soldados falavam em matá-lo, buscou ao Senhor e obteve êxito naquela empreitada.

Davi teve seus momentos ruins. Colecionou mulheres ao longo de sua vida. Quando devia estar em guerra, estava no palácio descansando. Não vigiou quando no palácio, fixou seu olhar em uma mulher nua tomando banho, caiu em adultério, fez o que pode para ocultar as provas de seu delito e cometeu o assassinato de um de seus melhores homens de forma covarde.
Não disciplinou seus filhos quando necessário, teve em sua casa um incesto e não se pronunciou contra o estuprador. Dois de seus filhos, Absalão e Adonias, tentaram dar um golpe para obter o reino a força, o que lhes custou no final a vida e deixou Davi abatido. Viu a espada consumindo sua casa, e o que fez em oculto com Bate-Seba Deus permitiu que fosse feito com suas mulheres, e diante do povo. Por ser um homem de guerra, não pode construir o templo para o Senhor. Mas por ser um homem segundo o coração de Deus, teve um coração quebrantado quando ouviu a repreensão divina.

Precisamos entender que o fato de Davi amar a Deus não o impediu de pecar, mas o trouxe de volta para o altar quando necessário. Garantiu o perdão divino para a sua vida e o prosseguimento da promessa de Deus, apesar de tudo o que aconteceu.
Assim é a pessoa segundo o coração de Deus: sujeito a falhas, mas sempre quebrantada diante do Senhor.


*Extraído de Ensinador Cristão, Ano 10 – N° 40, CPAD - por Alexandre Coelho.

A DISCIPLINA DA ORAÇÃO

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

A DISCIPLINA DA ORAÇÃO

“Eu sou o fundamento de tua súplica; primeiro, é minha vontade que recebas o que suplicas; depois, faço-te desejá-lo; e então faço-te suplicá-lo e tu o suplicas. Como, pois, não haverias de receber o que suplicas?” - Juliana de Norwich

A oração arremessa-nos à fronteira da vida espiritual. É pesquisa original em território inexplorado. A meditação introduz-nos na vida interior; o jejum é um recurso concomitante, mas a Disciplina da oração é o que nos leva à obra mais profunda e mais elevada do espírito humano.

A oração verdadeira cria e transforma a vida. “A oração - a oração secreta, fervorosa, de fé - jaz à raiz de toda piedade pessoal”, escreve William Carey.

Orar é mudar. A oração é a avenida central que Deus usa para transformar-nos.

Se não estivermos dispostos a mudar, abandonaremos a oração como característica perceptível de nossas vidas. Quanto mais nos aproximamos do pulsar do coração de Deus, tanto mais vemos nossa necessidade e tanto mais desejamos assemelhar-nos a Cristo. William Blake diz que nossa tarefa na vida é aprender a produzir os “raios de amor” de Deus. Com que freqüência criamos mantos de evasão - abrigos à prova de raios - a fim de evitarmos o Amante Eterno. Mas quando oramos, lenta e graciosamente Deus revela nossos esconderijos e nos livra deles. “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres” (Tiago 4.3). Pedir “corretamente” envolve paixões transformadas, renovação total. Na oração, na verdadeira oração, começamos a pensar os pensamentos de Deus à sua maneira: desejamos as coisas que ele deseja, amamos as coisas que ele ama. Progressivamente, aprendemos a ver as coisas da perspectiva divina.

Todos quantos têm andado com Deus consideraram a oração como principal negócio de suas vidas. As palavras de Marcos, “Tendo-se levantado alta madrugada, saiu, foi para um lugar deserto, e ali orava”, soam como um comentário sobre o estilo de vida de Jesus (Marcos 1.35). Davi deseja que Deus quebre as cadeias de auto-indulgência do sono: “de madrugada te buscarei” (Salmo 63.1, Edição Revista e Corrigida). Quando os apóstolos foram tentados a investir suas energias em outros mistérios importantes e necessários, eles decidiram entregar-se continuamente à oração e ao ministério da Palavra (Atos 6.4).
Martinho Lutero declarou: “Tenho tanto o que fazer que não posso prosseguir sem passar três horas diariamente em oração.” Ele sustentava como axioma espiritual que “Aquele que orou bem, estudou bem.” João Wesley disse: “Deus nada faz senão em resposta à oração”, e apoiava sua convicção devotando duas horas diariamente a esse exercício sagrado. O característico mais notável da vida de David Brainerd foi sua vida de oração. Seu diário está cheio de relatos de oração, jejum e meditação. “Gosto de estar sozinho em meu chalé, onde posso passar bastante tempo em oração.” “Hoje separo este dia para jejum secreto e oração a Deus.” “Quando volto ao lar e entrego-me à meditação, à oração, e ao jejum...”

Para esses exploradores nas fronteiras da fé, a oração não era um pequeno hábito preso à periferia de suas vidas - ela era a vida deles. Foi o trabalho mais sério de seus anos mais produtivos. William Penn testificou de George Fox que, “Acima de tudo ele avantajou-se em oração... A mais espantosa, viva e venerável estrutura que já senti ou contemplei, devo dizer, era a dele em oração.” Adoniram Judson buscava retirar-se dos afazeres e das pessoas sete vezes por dia a fim de engajar-se no sagrado mister da oração. Ele começava à meia-noite e de novo ao alvorecer; depois às nove, às doze, às quinze, às dezoito e às vinte e uma horas ele daria tempo à oração secreta. John Hyde, da Índia, fez da oração um característico tão dominante de sua vida que foi apelidado de “Hyde que Ora”. Para esses, e para todos os que enfrentaram com bravura as profundezas da vida interior, respirar era orar.

Tais exemplos, contudo, em vez de estimular a muitos de nós, desanimam-nos.

Esses “gigantes da fé” acham-se tão distantes de qualquer coisa que tenhamos que experimentar que chegamos a desesperar-nos. Mas em vez de flagelar-nos por nossa falha óbvia, deveríamos lembrar-nos de que Deus sempre nos encontra onde estamos e lentamente nos conduz a coisas mais profundas. Os corredores ocasionais não entram subitamente numa maratona olímpica. Eles se preparam e treinam durante muito tempo, e o mesmo deveríamos nós fazer. Se observarmos tal progressão, podemos esperar orar com maior autoridade e êxito espiritual daqui a um ano.

É fácil sermos derrotados logo de início por nos haverem ensinado que tudo no universo já foi determinado, e assim as coisas não podem ser mudadas. Podemos melancolicamente sentir-nos desse modo, mas não é isso o que a Bíblia ensina.
Os suplicantes que encontramos na Bíblia agiam como se suas orações pudessem fazer e fizessem uma diferença objetiva. O apóstolo Paulo alegremente anunciou que “somos cooperadores de Deus” (1 Coríntios 3.9); isto é, estamos trabalhando com Deus para determinar o resultado dos acontecimentos. O estoicismo, e não a Bíblia, é que exige um universo fechado. Muitos, com sua ênfase sobre aquiescência e resignação ao modo de ser das coisas como “a vontade de Deus”, aproximam-se mais de Epícteto que de Cristo. Moisés foi ousado na oração porque acreditava poder mudar as coisas, e mudar até mesmo a mente de Deus. De fato, a Bíblia de tal modo acentua a abertura de nosso universo que, num antropomorfismo duro para os ouvintes modernos, ela fala que Deus constantemente muda de idéia de acordo com seu amor imutável (Êxodo 32.14; Jonas 3.10).

Isto vem como um verdadeiro livramento a muitos nós, mas também coloca diante de nós uma tremenda responsabilidade. Estamos cooperando com Deus para determinar o futuro! Certas coisas acontecerão na história se orarmos corretamente. Devemos mudar o mundo pela oração. Que motivação maior necessitamos para aprender este sublime exercício humano?

A oração é um assunto tão vasto e tão complexo que de imediato reconhecemos a impossibilidade de mesmo levemente tocar em todos os seus aspectos num único capítulo. Tem-se escrito uma miríade de livros verdadeiramente bons sobre a oração, sendo um dos melhores o clássico de Andrew Murra, “With Christ in the School of Prayer” (Com Cristo na Escola da Oração). Faríamos bem em ler muito e experimentar profundamente se desejamos conhecer os caminhos da oração. Uma vez que a restrição freqüentemente aumenta a clareza, este capítulo limitar-se-á a ensinar-nos como orar a favor de outras pessoas, com êxito espiritual. Homens e mulheres de nossos tempos sentem tão grande necessidade da ajuda que possamos proporcionar-lhes, que nossas melhores energias deveriam ser devotadas a esse mister.

Aprendendo a Orar

A verdadeira oração é algo que aprendemos. Os discípulos pediram a Jesus:

“Senhor, ensina-nos a orar” (Lucas 11.1). Eles haviam orado a vida toda, não obstante, algo acerca da qualidade e quantidade da oração de Jesus levou-os a ver quão pouco sabiam a respeito da oração. Se a oração deles havia de produzir alguma diferença no cenário humano, era preciso que eles aprendessem algumas coisas.

Uma das experiências libertadoras em minha vida aconteceu quando entendi que a oração implicava um processo de aprendizado. Senti-me livre para indagar, para experimentar, até mesmo para falhar, pois eu sabia que estava aprendendo.

Durante anos eu havia orado por tudo e com grande intensidade, mas com pouco êxito. Então eu vi a possibilidade de estar eu fazendo algumas coisas erradas, podendo entretanto aprender de modo diferente. Peguei os Evangelhos e recortei todas as referências à oração e colei-as em folhas de papel. Ao ler o ensino do Novo Testamento sobre a oração, de uma sentada, fiquei chocado. Ou as escusas e racionalizações para explicar a oração não respondida estavam erradas, ou estavam erradas as palavras de Jesus. Resolvi aprender a orar, de modo que minha experiência fosse conforme com as palavras de Jesus em vez de tentar fazer suas palavras conformes com a minha empobrecida experiência.

Talvez a mais surpreendente característica de Jesus ao orar seja que, ao fazê-lo em favor de outros, nunca terminava dizendo “se for da tua vontade”.

Nem o fizeram os apóstolos e profetas quando oraram a favor de outros.

Obviamente acreditavam conhecer a vontade de Deus antes que fizessem a oração da fé. Estavam tão imersos no ambiente do Espírito Santo que, ao encontrarem uma situação específica, sabiam o que se deveria fazer. A oração era tão positiva que freqüentemente tomava a forma de uma ordem direta, autoritária:

“Anda”, “Fica bom”, “Levanta-te”. Notei que, ao orar por outros, evidentemente não havia lugar para orações indecisas, tentativas, meio esperançosas, que terminam com “se for da tua vontade”.

A seguir procurei indivíduos que pareciam experimentar maior poder e eficácia do que eu, na oração, e lhes pedi que me ensinassem tudo o que sabiam. Além disso, busquei a sabedoria e experiência dos mestres de oração do passado, lendo todos os bons livros que eu pudesse encontrar sobre o assunto. Comecei estudando os homens de oração do Antigo Testamento com novo interesse.

Ao mesmo tempo, comecei a orar em favor de outros com a expectação de que ocorreria uma mudança. Sou tão grato por não haver esperado até que eu fosse perfeito ou tivesse tudo direitinho antes de orar por outros; doutra forma, eu nunca teria começado. P. T. Forsythe disse: “A oração é para a religião o que a pesquisa original é para a ciência.” Percebi que eu estava me engajando em “pesquisa original” na escola do Espírito. Não se pode descrever a emoção que eu sentia. Cada fracasso aparente levava a um novo processo de aprendizado. Cristo era meu Mestre, de sorte que aos poucos sua palavra começou a confirmar-se em minha experiência. “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedirei o que quiserdes, e vos será feito” (João 15.7).

O entendimento de que a obra da oração demanda um processo de aprendizado livra-nos de arrogantemente descartá-la como falsa ou irreal. Se ligarmos nosso aparelho de televisão e ele não funcionar, não declaramos que não existem ondas de televisão no ar. Supomos que algo está errado, algo que podemos encontrar e corrigir. Verificamos a tomada de força, a chave, até descobrirmos o que está bloqueando o fluxo desta misteriosa energia que transmite imagens através do ar. Certificamo-nos de que o problema foi localizado e o defeito consertado vendo se o aparelho funciona ou não. É assim com a oração. Podemos determinar se estamos orando da forma certa se os pedidos se realizam. Se não, procuramos o “defeito”; talvez estejamos orando de forma errada, talvez algo dentro de nós precise de mudança, talvez haja novos princípios de oração a ser aprendidos, talvez precisemos de paciência e persistência. Ouvimos, fazemos os ajustes necessários e tentamos de novo. Podemos ter a segurança de que nossas orações estão sendo respondidas com a mesma certeza que temos de que o aparelho de televisão está funcionando.

Um dos mais decisivos aspectos do aprendizado da oração pelos outros é entrar em contato com Deus de sorte que sua vida e seu poder sejam canalizados para outros por nosso intermédio. Muitas vezes supomos que estamos em contato quando não estamos. Por exemplo, dezenas de programas de rádio e televisão passaram pela sua sala enquanto você lia estas palavras, mas você deixou de captá-los porque não estava sintonizado com o canal. É muito freqüente que as pessoas orem e orem com toda a fé que há no mundo, e nada acontece. Naturalmente, não estavam em sintonia com o canal. Começamos a orar pelos outros primeiramente concentrando-nos e ouvindo o trovão calmo do Senhor dos exércitos. Afinar-nos com os sopros divinos é obra espiritual; sem isto, porém, nossa oração é vã repetição (Mateus 6.7). Ouvir ao Senhor é a primeira coisa, a segunda coisa e a terceira coisa necessária à oração bem-sucedida. Soren Kierkegaard certa vez observou: “Alguém orava pensando, a princípio, que a oração era falar; mas foi-se calando mais e mais até que, afinal, percebeu que a oração é ouvir.”

A meditação é o prelúdio necessário à intercessão. A obra de intercessão, às vezes denominada oração da fé, pressupõe que a prece de orientação está perpetuamente ascendendo ao Pai. Devemos ouvir, conhecer a vontade de Deus e a ela obedecer antes que a peçamos para a vida de outros. A oração de orientação constantemente precede e cerca a oração da fé.

Portanto, o ponto inicial para aprender a orar pelos outros é dar ouvidos à orientação. Em questões de problemas físicos, sempre tendemos a orar primeiro pelas situações mais difíceis: câncer terminal ou esclerose múltipla. Mas quando ouvimos, aprendemos a importância de começar por coisas menores como resfriados ou dores de ouvido. O êxito nos pequenos cantos da vida dá-nos autoridade nas questões maiores. Na quietude, aprenderemos não somente quem é Deus mas como seu poder opera.

Às vezes temos medo de não ter fé suficiente para orar por este filho ou por aquele casamento. Nossos temores deveriam ser sepultados, pois a Bíblia nos diz que os grandes milagres são possíveis pela fé do tamanho de um pequenino grão de mostarda. De modo geral, a coragem para orar a favor de uma pessoa é sinal de fé suficiente. Com freqüência o que nos falta não é fé, mas compaixão.

Parece que a verdadeira empatia entre o suplicante e o beneficiário de nossa súplica estabelece a diferença. A Bíblia diz que Jesus “compadeceu-se” das pessoas. Compaixão foi um aspecto evidente de toda cura registrada no Novo Testamento. Não oramos pelas pessoas como “coisas” mas como “pessoas” a quem amamos. Se tivermos compaixão e interesse dados por Deus, ao orarmos pelos outros nossa fé crescerá e se fortalecerá. Com efeito, se verdadeiramente amarmos as pessoas, desejaremos a elas muito mais do que podemos dar-lhes, e isso nos levará a orar.

O senso interior de compaixão é um dos mais nítidos indícios da parte do Senhor de que este é um projeto de oração para você. Nas horas de meditação pode vir ao coração um impulso, uma compulsão para interceder, uma certeza de acerto, um fluxo do Espírito. Este “sim” interior é a autorização divina para que você ore pela pessoa ou situação. Se a idéia vier acompanhada de um senso de abatimento, é provável então que você deve deixar o assunto de lado. Deus guiará outrem a orar pelo problema.

Os picos menos elevados da Oração

Nunca deveríamos complicar demais a oração. Somos propensos a isso uma vez que entendemos que a oração é algo que devemos aprender. Também é fácil ceder a esta tentação porque quanto mais complicada fazemos a oração, tanto mais as pessoas dependem de nós para aprender como fazê-lo. Jesus, porém nos ensinou a dirigir-nos como crianças a um pai. Franqueza, honestidade e confiança marcam a comunicação do filho com o pai. Há certa intimidade entre pai e filho com espaço tanto para a seriedade como para a gargalhada. Meister Eckhart observou que “A alma produzirá a pessoa se Deus rir para ela e ela, em retribuição, rir para ele”.

Jesus ensinou-nos a orar pelo pão de cada dia; uma criança pede a refeição matinal na plena confiança de que esta será provida. Ela não precisa esconder algumas fatias do pão de hoje com receio de que amanhã não haverá nenhuma fatia disponível; no que a ela concerne, há um inesgotável abastecimento de pão. Uma criança não acha difícil ou complicado conversar com seu pai, nem ela se sente constrangida em trazer à atenção dele a mais simples necessidade.

As crianças ensinam-nos o valor da imaginação. Como acontece com a meditação, a imaginação é um instrumento poderoso na obra da oração. Podemos ser reticentes em orar com a imaginação, achando que ela está ligeiramente abaixo de nós. As crianças não têm tal reticência. Em Saint Joan (Santa Joana), de George Bernard Shaw, Joana d`Arc insistia em que ela ouvia vozes que vinham de Deus. Os cépticos disseram-lhe que ela ouvia vozes vindas de sua imaginação.

Inalterada, Joana respondeu: “Sim, é desse modo que Deus fala comigo.”

A imaginação abre a porta da fé. Se pudermos “ver” com os olhos de nossa mente um casamento refeito que antes estava em frangalhos ou uma pessoa que estava enferma e agora está bem, é curta a distância para crer que assim será. As crianças entendem instantaneamente estas coisas e reagem bem a orar com a imaginação. Certa vez fui chamado a um lar para orar a favor de uma menininha de colo que estava gravemente enferma. Seu irmão, de quatro anos de idade, encontrava-se no quarto e eu lhe disse que precisava de seu auxílio para orar por sua irmãzinha. Ele ficou muito contente e eu também, pois eu sabia que as crianças muitas vezes oram com eficácia fora do comum. Ele subiu na cadeira que estava ao meu lado. “Vamos fazer um joguinho de faz-de-conta”, disse-lhe eu.

“Sabendo que Jesus está sempre conosco, vamos imaginar que ele está sentado na cadeira em nossa frente. Ele está esperando pacientemente que concentremos nossa atenção nele. Quando o virmos, começaremos a pensar mais a respeito do seu amor do que na enfermidade da Julinha. Ele sorri, levanta-se, e vem para nós. Então nós dois colocamos as mãos sobre a Julinha e quando o fizermos, Jesus colocará as suas mãos sobre as nossas. Vigiaremos e imaginaremos que a luz que vem de Jesus está jorrando diretamente sobre sua irmãzinha e curando-a.

Façamos de conta que a luz de Cristo luta com os germes maus até que todos eles se vão embora. Certo?” Com seriedade o garotinho assentiu.

Juntos oramos nesta forma infantil e depois demos graças ao Senhor porque aquilo que “vimos” era como ia ser. Pois bem, não sei se isto criou na criança uma sugestão pós-hipnótica ou se foi um “faça-se” divino: o que eu sei é que na manhã seguinte Julinha estava perfeitamente bem.

Os alunos com problemas reagem prontamente à oração. Um amigo meu, que ensinava crianças com problemas emocionais, resolveu começar a orar por elas.

Naturalmente, ele não contou às crianças o que fazia. Quando uma das crianças se arrastava para debaixo de sua mesa e assumia uma posição fetal, o professor pegava a criança nos braços e orava silenciosamente para que a luz e a vida de Cristo curassem a mágoa e o ódio que o menino sentia contra si mesmo. Para não constranger a criança, meu amigo orava mentalmente enquanto se desincumbia de seus deveres de mestre. Passados alguns minutos a criança se descontraía e voltava para sua carteira. Às vezes meu amigo perguntava à criança se ela se lembrava de como se sentia ao vencer uma corrida. Se o menino dissesse que sim, ele o estimulava a retratar-se cruzando a linha de chegada com todos os seus amigos a cumprimentá-lo e a amá-lo. Desse modo a criança podia cooperar no projeto de oração bem como reforçar sua própria aceitação.

No fim do ano letivo, todas as crianças, exceto duas, puderam retornar a uma classe regular. Coincidência? Pode ser, mas como certa vez observou o arcebispo William Temple, as coincidências ocorriam muito mais freqüentemente quando ele orava.

Deus deseja que os casamentos sejam saudáveis, íntegros e permanentes. Talvez você conheça casamentos que estão em grande dificuldade e precisam de sua ajuda. Talvez o marido esteja tendo um caso amoroso com outra mulher.

Experimente orar a favor deste casamento uma vez por dia, durante trinta dias.
Visualize o marido encontrando- se com a outra mulher e sentindo-se aterrado e chocado até por ter tido a idéia de envolver-se com ela. Imagine a própria idéia de um caso ilícito tornar-se desagradável para ele. Visualize-o entrando pela porta e, vendo a esposa, sentir-se esmagado por um senso de amor por ela.

Retrate-os dando um passeio juntos e apaixonados como o eram anos antes.

“Veja”-os cada vez mais capazes de abrir-se um com o outro, e conversar, e demonstrar carinho. Em sua imaginação, levante uma grande parede entre o marido e a outra mulher. Construa um lar, empregando para isso o amor e a consideração pelo marido e pela esposa. Encha-o da paz de Cristo.

Seu pastor e os cultos de adoração precisam ser banhados em oração. Paulo orava por seu povo; ele pedia ao povo que orasse por ele. C. H. Spurgeon atribuía seu êxito às orações de sua igreja. Frank Laubach dizia a seus auditórios: “Sou muito sensível e sei quando estais orando por mim. Se um de vós me desampara, eu o percebo. Quando orais por mim, sinto um estranho poder. Quando cada pessoa em uma congregação ora intensamente enquanto o pastor prega, acontece um milagre.” Sature os cultos de adoração com suas orações. Visualize o Senhor no alto e sublime, enchendo o santuário com a sua presença.

Pode-se orar por desvios sexuais com verdadeira certeza de que pode ocorrer uma real e duradoura mudança. O sexo é como um rio - é bom e uma bênção maravilhosa quando mantido dentro de seu próprio leito. Um rio que transborda é uma coisa perigosa, e também o são os impulsos sexuais pervertidos. Quais são as margens para o sexo criadas por Deus? Um homem e uma mulher num casamento para a vida toda. É uma alegria, quando se ora a favor de indivíduos com problemas sexuais, visualizar um rio que transbordou de suas margens, e convidar o Senhor para trazê-lo de volta ao seu leito natural.

Seus próprios filhos podem e devem ser transformados mediante suas orações. Ore por eles durante o dia com a participação deles; ore por ele à noite enquanto dormem. Um bom método é entrar no quarto e colocar levemente as mãos sobre a criança adormecida. Imagine a luz de Cristo fluindo através de suas mãos e curando cada trauma emocional e cada mágoa que seu filho sofreu nesse dia.

Encha-o da paz e da alegria do Senhor. No sono a criança é muito receptiva à oração, visto que a mente consciente, que tende a levantar barreiras à suave influência de Deus, está descontraída.

Como sacerdote de Cristo, você pode executar um serviço maravilhoso pegando os filhos nos braços e abençoando-os. Na Bíblia, os pais traziam os filhos a Jesus não para que ele brincasse com eles ou mesmo lhes ensinasse, mas para que ele pudesse colocar as mãos sobre eles e abençoá-los (Marcos 10.13-16). Ele deu-lhe capacidade de fazer a mesma coisa. Bem-aventurada a criança abençoada por adultos que sabem abençoar!

“Orações relâmpago” são uma excelente idéia que Frank Laubach desenvolveu em seus muitos livros sobre a oração. Ele se propunha aprender a viver de modo que “ver alguém será orar! Ouvir alguém, como crianças conversando, um menino chorando, pode ser orar!” Orações de forte e direto lampejo dirigido às pessoas é uma grande emoção e pode trazer resultados interessantes. Tenho tentado isto, interiormente pedindo que a alegria do Senhor e uma consciência mais profunda de sua presença surjam dentro de cada pessoa com quem me encontro. Às vezes as pessoas parecem não reagir, mas outras vezes respondem e sorriem como se eu me dirigisse a elas. Em um ônibus ou num avião podemos imaginar Jesus andando pelos corredores, tocando as pessoas nos ombros e dizendo: “Eu te amo. Meu maior deleite seria perdoar-te e dar-te todas as boas coisas. Tu tens belas qualidades ainda em botão e eu gostaria de desabrochá-las desde que digas 'sim'. Eu gostaria de governar tua vida se tu mo permitires.” Frank Laubach sugere que se milhares de nós fizéssemos “orações relâmpago” pelas pessoas que encontramos e falássemos dos resultados, poderíamos aprender muita coisa acerca de como orar pelos outros. Poderíamos mudar toda a atmosfera de uma nação se milhares de nós constantemente atirássemos um manto de oração em torno de todos os que vivem em nosso círculo de ação. “Unidades de oração combinada, como gotas de água, formam um oceano que desafia a resistência.”

Jamais devemos esperar até que sintamos disposição de orar antes de orarmos pelos outros. A oração é como qualquer outro mister; talvez não nos sintamos com disposição de trabalhar, mas uma vez que nos damos ao trabalho por um tempinho, começamos a gostar dele. Pode ser que não sintamos disposição para estudar piano, mas uma vez que tocamos o instrumento por algum tempo, sentimos vontade de tocá-lo. Da mesma forma, nossos músculos de oração precisam ser flexionados um pouco, e uma vez iniciada a corrente sangüínea da intercessão, descobriremos que estamos dispostos a orar.

Não temos de preocupar-nos com o fato de que esta atividade tomará muito de nosso tempo, porque “Ela não toma tempo algum, mas ocupa todo o nosso tempo”.

Não se trata de orar e depois trabalhar, mas oração simultânea com o trabalho.
Precedemos, envolvemos e acompanhamos todo o nosso trabalho com oração. Oração e ação tornam-se inseparáveis. Thomas Kelly conhecia esse modo de viver:

“Há um modo de ordenar nossa vida mental em mais de um nível de cada vez. Em um nível podemos estar pensando, discutindo, examinando, calculando, atendendo às exigências dos afazeres externos. Mas no íntimo, atrás dos bastidores, num nível mais profundo, podemos também estar em oração e adoração, em cântico e culto, e numa suave receptividade aos sopros divinos.”

Temos tanto que aprender, uma longa distância a percorrer. Certamente o anelo de nossos corações se resume no que disse o arcebispo Tait: “Desejo uma vida de oração mais excelente, mais profunda, mais verdadeira.”



*Extraído do livro:

Celebração da Disciplina
O Caminho do Crescimento Espiritual
Richard J. Foster

Editora Vida

Setor Educação Cristã CPAD- DAVI LIÇÃO 12





Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas Mestre
Produzidos pelo Setor de Educação Cristã

Subsídios extras para a lição


Davi - As Vitórias e derrotas de um homem de Deus

4º trimestre/2009



Lição 12 - Davi e o seu Sucessor



Texto Bíblico: 1 Crônicas 28.4-8

Um dos momentos-chave para o entendimento da Aliança Davídica é o do biênio em que ocorreu a “corregência” de Salomão no reinado davídico (1 Cr 23.1). Antes mesmo de esse filho de Davi nascer, Deus falou por intermédio do profeta Natã — que momentos antes havia incentivado Davi a dar consecução a um projeto de construir o Templo (1 Sm 7.1-3), mas precisou voltar com o anúncio de um oráculo totalmente distinto de sua opinião pessoal[i]: “Quando teus dias forem completos, e vieres a dormir com teus pais, então, farei levantar depois de ti a tua semente, que procederá de ti, e estabelecerei o seu reino. Este edificará uma casa ao meu nome, e confirmarei o trono do seu reino para sempre. Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; e, se vier a transgredir, castigá-lo-ei com vara de homens e com açoites de filhos de homens. Mas a minha benignidade se não apartará dele, como a tirei de Saul, a quem tirei de diante de ti” (2 Sm 7.12-15).

Se a mensagem veio a Davi em forma de consolação por Deus o haver tolhido de consolidar o seu projeto, ela acabou sendo considerada uma verdadeira revolução em termos de Aliança do Eterno com a humanidade, pois, como poderá ser visto adiante, novamente o homem se depara com a possibilidade real de que o futuro será melhor que hoje.

Até pouco antes de assumir a corregência de Israel, Salomão não sabia nada acerca de tal assunto até que Davi o revelou em 1 Crônicas 22.9,10: “Eis que o filho que te nascer será homem de repouso; porque repouso lhe hei de dar de todos os seus inimigos em redor; portanto, Salomão [que é paz] será o seu nome, e paz e descanso darei a Israel nos seus dias. Este edificará casa ao meu nome; ele me será por filho, e eu a ele por pai; e confirmarei o trono de seu reino sobre Israel para sempre”. É oportuno notar que a mensagem original não continha o anúncio explícito de que seria Salomão, mas é preciso entender que Davi agora já tinha diante de si o “quadro geral” da revelação de Deus, algo muito diferente do que ouvira há aproximadamente vinte anos. Portanto, não se trata de acréscimo ou adição ao oráculo divino, mas interpretação lógica de Davi acerca do que Deus havia falado por intermédio de Natã em duas ocasiões (2 Sm 7.12-15 e 12.24,25), bastando apenas vê-las juntas.

Analisando a questão do ponto de vista político — pois se antes Israel “exigiu” de Deus um rei, por essa época a dinastia já não era mais vista com bons olhos por muitos israelitas[ii] —, Eugene Merril afirma que para “garantir que Israel obedeceria e aceitaria seu filho, Davi fez dele um co-regente em seu reino (1 Cr 23.1). Juntos, designaram os sacerdotes e levitas que serviriam no templo como cantores, porteiros e tesoureiros”.[iii] Em nota, o mesmo autor acrescenta que é importante ver 1 Reis 1.32-40 para uma descrição da unção de Salomão. A narrativa de 1 Reis 1 indica que a conspiração de Adonias para impedir a ascensão de Salomão ao trono (vv. 5-10) chegou ao clímax exatamente antes da cerimônia de coroação. Isso foi cerca de dois anos depois que Salomão tinha sido nomeado co-regente (1 Cr 23.1). Existem vários fatores que corroboram nossa teoria dos acontecimentos, que incluem um período de co-regência e uma clara ligação entre 1 Crônicas 29.22b com 1 Reis 1.32-40: (1) quando Salomão foi ungido, foi reconhecido como rei “pela segunda vez” (1 Cr 29.22b); (2) A unção de Salomão é mencionada apenas em 1 Crônicas 29.22b e 1 Reis 1.39, uma referência que surge exatamente depois da rebelião de Adonias; (3) ambos os relatos da coroação mencionam Zadoque.

Embora não estivesse ligado a qualquer uma das cerimônias de unção, o próprio sacerdote Zadoque é ungido na ocasião quando Salomão foi ungido (1 Cr 29.22b). De fato, 1 Reis descreve que Zadoque se torna o chefe dos sacerdotes segundo o mandato de Salomão, depois da morte de Davi (2.35).[iv]

Acerca de alegações que visam negar a existência de um intervalo de tempo entre 1 Crônicas 29.22b, é imprescindível lembrar-se, como já foi abordado no capítulo 4, que a intenção de tais textos não é oferecer uma cronologia dos fatos, antes a questão teológica é o que pesa muito mais, e que jamais podemos ver os textos escriturísticos assim como as prosas modernas e lineares que conhecemos atualmente. A importância desse saber é que dele depende a correta interpretação e exegese bíblicas.




NOTAS
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[i] Isso atesta e comprova mais uma vez a verdade escrita em 1 Pedro 1.19-21, de que muitas vezes a própria opinião do profeta ou hagiógrafo era até mesmo contrária à mensagem que Deus colocava em sua boca ou pena.

[ii] Ibid., p. 304. Eugene Merril afirma que a “impressão comunicada pelo cronista é que a transferência de poder de Davi para Salomão ocorreu tranquilamente e sem qualquer oposição. Mas este não foi o caso, como o escritor de 1 Reis esclarece. O cronista normalmente estava interessado em resultados básicos, não nas circunstâncias ou ações pelos quais se concretizavam. Isso é verdadeiro especialmente em relação à área política, pois o cronista preocupava-se primariamente com as questões do templo e do culto” (p. 296).

[iii] Ibid., p. 261.

[iv] Ibid., p. 261, 262.

CARVALHO, César Moisés. Davi. As vitórias e as derrotas de um homem de Deus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, pp.212-14.



Setor Educação Cristã CPAD- DAVI LIÇÃO 11

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009





Conteúdo Adicional para as aulas de Lições Bíblicas Mestre
Produzidos pelo Setor de Educação Cristã

Subsídios extras para a lição


Davi - As Vitórias e derrotas de um homem de Deus

4º trimestre/2009



Lição 11 - Davi e a Restauração do culto a Jeová





Texto Bíblico: 1 Crônicas 16.7-14

O nome de Davi está associado à adoração, ao louvor, ao culto, ao canto, à poesia, à liturgia e à oração. A respeito dos instrumentos musicais no culto israelita, o Salmo 150 ilustra muito adequadamente o espetáculo filarmônico que era a adoração em Israel. São citados trombetas, harpa, adufe, instrumentos de corda, flautas, címbalos e o próprio fôlego (Sl 33.2). Depois de o Senhor confirmar o trono de todo Israel a Davi (2 Sm 5.1-5,12), o rei faz da cidade de Jerusalém a capital do reino (2 Sm 5.6-12). Uma de suas iniciativas foi trazer a arca do Senhor, que ainda estava em Quiriate-Jearim, para Jerusalém (1 Sm 6; 1 Cr 15). Davi pretendia transformar Jerusalém no centro político e religioso de Israel; para isto celebra uma festa, transportando a arca em um carro novo. Neste assunto o rei mostrou-se displicente em relação ao transporte das coisas santas (Nm 33), uma vez que a forma correta de transportar a arca era sobre os ombros dos sacerdotes (Js 3.6) em vez de pô-la num carro novo. Quando se iniciou o transporte da arca, Davi e todo o Israel "alegraram-se perante o Senhor, com toda sorte de instrumentos". Todavia, a procissão termina em tragédia pela imprudência dos responsáveis pela peregrinação da arca sagrada. Tempos depois, o rei inicia uma grande reforma religiosa (1 Cr 16). Depois de fixar a arca em Jerusalém, Davi, com cerca de trinta e sete anos, intenta construir um grande templo na capital; o Senhor, porém, proíbe-o de fazê-lo (2 Sm 7; 1 Cr 17). Essa tarefa será do sucessor de Davi, Salomão, a quem o rei aconselha (1 Cr 17; 1 Cr 22.6-19). Todavia, isso não impede que o músico de Javé, quase aos setenta anos, faça os preparativos para a construção do grande templo (1 Cr 22), designe os turnos e funções dos levitas (1 Cr 23), os vinte e quatro turnos dos sacerdotes (1 Cr 24), as funções dos cantores e (1 Cr 26), dos guardas do tesouro (1 Cr 26.20-28), dos oficiais e os juízes (1 Cr 26.29-32), o número do povo e as turmas de serviços para cada mês (1 Cr 27). Estavam, portanto, fundamentadas as bases da construção do Templo e de sua gestão e, por conseguinte, restaurada a adoração em Israel. Na adoração a Deus, o adorador deve reconhecê-Lo como "digno de louvor" (Sl 48.1), "Altíssimo" (Sl 47.2), "Senhor" (Sl 31.21,23), "Pastor" (Sl 23.1), "Todo-Poderoso" (Gn 35.11; Êx 6.3), "misericordioso" (Sl 103.8; 116.6) entre outros indizíveis atributos morais e naturais de Deus. Adorar ao Senhor é mandamento incondicional (Sl 149.1). O Senhor deve ser adorado de manhã até a noite (Sl 113.3), hebraísmo que significa enquanto vivermos (Sl 146.2), ou em todo tempo (Sl 34.1). Na grande procissão em honra ao Senhor, o salmista Davi ordenara a todos que adorassem ao Senhor "na beleza da sua santidade" (1 Cr 16.29; 2 Cr 20.21; Sl 29.2; 96.9). Cantemos ao Senhor, Criador Absoluto de todas as coisas visíveis e invisíveis! O modo de Davi exaltar a Deus e suas obras poderosas em favor de Israel consistia, em grande parte, em louvores e ações de graças. Segundo o novo concerto, todos os crentes são sacerdotes de Deus (1 Pe 2.5,9) e, como tais, devem desempenhar o ministério espiritual de louvores e ações de graças a Deus, "portanto, ofereçamos sempre, por Ele [Cristo] a Deus sacrifício de louvor, isto é, o fruto dos lábios que confessam o seu nome" (Hb 13.15). O louvor e a adoração do crente devem ser com palavras e também com atos e são aceitáveis diante de Deus, somente à medida que o crente for dedicado à sua Palavra, e não conformado com o mundo (Rm 12.1,2).

Bibliografia:

BENTHO, Esdras. et. al. Davi, As vitórias e as Derrotas de um Homem de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2009.
http://http//www.cpad.com.br

A DISCIPLINA DA MEDITAÇÃO

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A DISCIPLINA DA MEDITAÇÃO

“A verdadeira contemplação não é um truque psicológico mas uma graça teológica.”
- Thomas Merton

Na sociedade contemporânea nosso Adversário se especializa em três coisas: ruído, pressa e multidões. Se ele puder manter-nos ocupados com “grandeza” e “quantidade”, descansará satisfeito. O psiquiatra C. G. Jung observou certa vez: “A pressa não é do diabo; ela é o diabo.”
Se esperamos ultrapassar as superficialidades de nossa cultura - incluindo a cultura religiosa - devemos estar dispostos a descer aos silêncios recriadores, ao mundo interior da contemplação. Em seus escritos, todos os mestres da meditação esforçam-se por despertar-nos para o fato de que o universo é muito maior do que imaginamos, que há vastas e inexploradas regiões interiores tão reais quanto o mundo físico que tão bem conhecemos. Falam das palpitantes possibilidades de nova vida e liberdade. Chamam-nos para a aventura, para sermos pioneiros nesta fronteira do Espírito. Embora possa soar estranho aos ouvidos modernos, não deveríamos envergonhar-nos de nos matricularmos como aprendizes na escola da oração contemplativa.

Concepções Errôneas Compreensíveis

Freqüentemente se indaga se é possível falar da meditação como sendo cristã.
Não é ela antes propriedade exclusiva das religiões orientais? Sempre que falo a um grupo sobre a meditação como Disciplina Cristã clássica, há o inevitável franzir de sobrolhos. “Eu pensava que os adeptos da Meditação Transcendental fossem o grupo que lidava com a meditação.” “Não venha dizer-me que nos vai dar um mantra para recitar!”

Que a meditação seja palavra tão estranha aos ouvidos do Cristianismo moderno é um lamentável comentário sobre o seu estado espiritual. A meditação sempre permaneceu como uma parte clássica e central da devoção cristã, uma preparação decisiva para a obra de oração, e adjunto dessa obra. Sem dúvida, parte do surto de interesse pela meditação Oriental se deve ao fato de as igrejas terem abandonado o campo. Quão deprimente é, para um estudante universitário que busca conhecer o ensino cristão sobre a meditação, descobrir que há tão poucos mestres vivos da oração contemplativa e que quase todos os escritos sérios sobre o assunto têm sete séculos ou mais de idade. Não é de admirar que tal estudante se volte para o zen, para a ioga ou para a meditação transcendental.

Certamente que a meditação não era coisa estranha aos autores das Escrituras.

“Saíra Isaque a meditar no campo, ao cair da tarde” (Gênesis 24.63).
“No meu leito, quando de ti me recordo, e em ti medito, durante a vigília da noite” (Salmo 63.6).

Essas eram pessoas chegadas ao coração de Deus. Deus lhes falava, não porque elas tivessem capacidades especiais, mas porque estavam dispostas a ouvir. Os Salmos, praticamente, cantam das meditações do povo de Deus sobre a lei do Senhor: “Os meus olhos antecipam as vigílias noturnas, para que eu medite nas tuas palavras” (Salmo 119.148). O salmo introdutório do Saltério inteiro chama o povo todo a imitar o homem “bem-aventurado”, cujo “prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita de dia e de noite” (Salmo 1.2).

Os escritores cristãos através dos séculos têm falado de um modo de ouvir a Deus, de comunicar-se com o Criador do céu e da terra, de experimentar o Amado Eterno do mundo. Pensadores tão excelentes como Agostinho, Francisco de Assis, François Fénelon, Madame Guyon, Bernardo de Clairvaux, Francisco de Sales, Juliana de Norwich, Irmão Lawrence, George Fox, John Woolman, Evelyn Underhill, Thomas Merton, Frank Laubach, Thomas Kelly e muitos outros falam deste caminho mais excelente.

A Bíblia diz que João, ao receber sua visão apocalíptica (Apocalipse 1.10), encontrava-se “em espírito, no dia do Senhor”. Dar-se-ia o caso de João ser treinado numa forma de ouvir e ver, da qual nos temos esquecido? R. D. Laing escreve: “Vivemos em um mundo secular. ... Há uma profecia no livro de Amós, de um época futura e que haverá fome na terra, 'não de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor'. Esse tempo chegou. É a época presente.”

Tenhamos a coragem de unir-nos à tradição bíblica e uma vez mais aprender a antiga (não obstante contemporânea) arte da meditação. Que nos juntemos ao salmista e declaremos: “Eu, porém, meditarei nos teus preceitos” (Salmos 119.78).

Há, também, os que acham que a idéia cristã da meditação é sinônima do conceito de meditação centrada na religião Oriental. Em realidade, trata-se de mundos separados. A meditação Oriental é uma tentativa para esvaziar a mente; a meditação cristã é uma tentativa para esvaziar a mente a fim de enchê-la. As duas idéias são radicalmente diferentes.

Todas as formas orientais de meditação acentuam a necessidade de afastamento do mundo. Há ênfase sobre perder a personalidade e a individualidade e fundir-se com a Mente Cósmica. Há um anseio por libertar-se dos fardos e sofrimentos desta vida e ver-se colhido na felicidade que não requer esforço, suspensa, do Nirvana. A identidade pessoal perde-se numa fusão de consciência cósmica. A separação, o desligamento, é a meta final da religião Oriental. É um escape da roda miserável da existência. Não há Deus ao qual ligar-se ou de quem ouvir.

Zen e Ioga são formas populares deste método. A meditação transcendental tem as mesmas raízes budistas, mas em sua forma Ocidental é algo aberrante. Em sua forma popular, a MT é meditação para os materialistas. Não há necessidade da mínima crença no reino espiritual para praticá-la. É meramente um método de controlar as ondas cerebrais a fim de melhorar o bem-estar fisiológico e emocional. As formas mais avançadas de MT envolvem, de fato, a natureza espiritual, e então ela assume exatamente as mesmas características de todas as demais religiões orientais.

A meditação cristã vai muito além da noção de separação. Há necessidade de separação - “sabat de contemplação”, como diz Pedro de Celles, do século XII.

Mas devemos prosseguir buscando a união. O afastamento da confusão toda que nos cerca é para que tenhamos uma união mais rica com Deus e com os demais seres humanos. A meditação cristã leva-nos à inteireza interior necessária para que nos entreguemos livremente a Deus, e também leva-nos à percepção espiritual necessária para atacar os males sociais. Neste sentido, é a mais prática de todas as Disciplinas.

Há o perigo de pensar somente em termos de afastamento, conforme indicou Jesus ao contar a história do homem que se esvaziara do mal mas não se enchera do bem. “Quando o espírito imundo sai do homem... Então vai, e leva consigo outros sete espíritos, piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado daquele homem se torna pior que o primeiro” (Lucas 11.24-26).

Alguns se afastam da meditação, receosos de que ela seja por demais difícil e complicada. Seria melhor deixar ao profissional que tem mais tempo explorar as regiões interiores? Absolutamente, não. Os especialistas reconhecidos neste campo nunca relatam que estão numa viagem somente para os poucos privilegiados, os gigantes espirituais. Eles ririam de tal idéia. Eles achariam ser o que estavam fazendo uma atividade humana natural - tão natural, e tão importante, quanto respirar. Dir-nos-iam que não temos necessidade de nenhum dom especial nem de poderes psíquicos. Tudo o que teríamos de fazer seria disciplinar e treinar as faculdades latentes que há dentro de nós. Qualquer pessoa capaz de abrir o poder da imaginação pode aprender a meditar. Se formos capazes de dar ouvidos a nossos sonhos, já estaremos dando os primeiros passos. Thomas Merton, que devia conhecer o assunto, escreveu: “A meditação é realmente simples; não há muita necessidade de elaborar técnicas que nos ensinem como proceder a respeito.”

Assim, pois, para que não nos extraviemos, devemos entender que não estamos nos engajando nalguma obra petulante, leviana. Não estamos solicitando o concurso de algum camareiro cósmico. O negócio é sério e até mesmo perigoso. Ele deveria demandar de nós o melhor que temos de pensamento e de energias. Ninguém deveria empreender a meditação meramente por derivativo ou porque outros a estejam praticando. Os que nela entram com tibieza, certamente vão falhar. P. T. Rorhbach escreveu: “A melhor preparação geral para a meditação bem-sucedida é uma convicção pessoal de sua importância e uma firme determinação de perseverar na prática.” Como qualquer trabalho sério, ela é mais difícil nas fases de aprendizado; uma vez que nos tornamos peritos - artífices - ela passa a fazer parte de nossos padrões de hábitos estabelecidos. “Esperar em Deus não é ociosidade”, disse Bernardo de Clairvaux, “mas trabalho maior que qualquer outro trabalho para quem não estiver habilitado.”

Há, também, os que consideram o caminho da contemplação como carente de sentido prático e totalmente fora de contato com o século vinte. Há o receio de que ela produza o tipo de pessoa que Dostoievski imortalizou em seu livro Os Irmãos Karamazov, o ascético Padre Ferapont: um homem rígido, farisaico, que por ingente esforço liberta-se do mundo, e então invoca maldições sobre este. Na melhor das hipóteses, tal meditação conduziria a outra mundanalidade insalubre que nos mantém imunes ao sofrimento da raça humana.

Tais avaliações deixam muito a desejar. Em realidade, a meditação é a única coisa que pode suficientemente reorientar nossas vidas de sorte que passamos lidar exitosamente com a vida humana. Thomas Merton escreveu: “A meditação não terá nenhum objetivo e nenhuma realidade a menos que esteja firmemente arraigada na vida.” Historicamente, nenhum grupo acentuou a necessidade de entrar nos silêncios para ouvir, mais do que os quacres; o resultado tem sido um impacto social vital que excede de muito o número dos quacres. Os próprios contemplativos eram homens e mulheres de ação. Meister Eckhart escreveu: “Ainda que a pessoa se encontrasse em arrebatamento como S. Paulo e soubesse de alguém necessitado de alimento, melhor faria alimentando essa pessoa do que permanecendo em êxtase.”

Com freqüência a meditação produzirá discernimentos profundamente práticos, quase mundanos. Advirá instrução sobre como relacionar-se com a esposa ou com o marido, sobre como lidar com este problema delicado ou com aquela situação de negócio. Mais de uma vez tenho recebido orientação sobre qual atitude tomar quando prelecionando numa sala de aula de faculdade. É maravilhoso quando uma meditação especial leva ao êxtase, mas é muito mais comum receber orientação no trato com problemas humanos comuns. Morton Kelsey disse:

“O que fazemos com nossas vidas exteriormente, o bom cuidado que dispensamos aos outros, é tanto parte da meditação quanto aquilo que fazemos na quietude e volta para o interior. Em realidade, a meditação cristã que não produz diferença na qualidade de vida exterior do indivíduo está em curto-circuito.

Pode brilhar por um momento, mas a não ser que ela resulte no encontro de relacionamentos mais ricos e mais amoráveis com outros seres humanos ou na mudança das condições do mundo que causam sofrimento, as possibilidades são de que a atividade de oração do indivíduo falhará.”

Talvez a mais comum de todas as concepções errôneas é considerar a meditação como uma forma religiosa de manipulação psicológica. Ela pode ter valor em fazer baixar nossa pressão sangüínea ou em aliviar a tensão. Ela pode até proporcionar-nos introspecções significativas ajudando-nos a entrar em contato com nossa mente subconsciente. Mas a idéia de contato e comunhão reais com uma esfera espiritual de existência parece anticientífica e fantasiosamente irracional. Se você acha que vivemos em um universo puramente físico, considerará a meditação como um bom meio de obter um consistente padrão de onda cerebral alfa. (A meditação transcendental tenta projetar exatamente esta imagem, o que a torna altamente apelativa para homens e mulheres seculares modernos.) Se, porém, você acredita que vivemos em um universo criado pelo Deus pessoal e infinito que tem prazer em nossa comunhão com ele, você verá a meditação como comunicação entre o Amante e o amado. Conforme disse Alberto, o Grande: “A contemplação dos santos é inspirada pelo amor do contemplado: isto é, Deus.”

Esses dois conceitos são completamente opostos. Um confina-nos a uma experiência totalmente humana; o outro lança-nos a um encontro divino-humano.

Um fala da exploração do subconsciente; o outro, de “descansar naquele a quem temos encontrado, que nos ama, que está perto de nós, que vem a nós e nos atrai para si.” Ambos parecem religiosos e até usam jargão religioso, mas o primeiro não pode, em última instância, encontrar lugar para a realidade espiritual.

Como, pois, chegamos a crer em um mundo do espírito? Mediante fé cega? De maneira nenhuma. A realidade interior do mundo espiritual está ao alcance de todos quantos estão dispostos a buscá-la. Com freqüência tenho descoberto que aqueles que tão gratuitamente difamam o mundo espiritual nunca tomaram dez minutos para investigar se tal mundo realmente existe ou não. Como qualquer outro trabalho científico, formulamos uma hipótese e a experimentamos para ver se é verdadeira ou não. Se nosso primeiro experimento falha, não nos desesperamos nem rotulamos de fraudulento todo o negócio. Reexaminamos nosso procedimento, talvez ajustemos nossa hipótese, e experimentamos de novo.

Deveríamos, pelo menos, ter a honestidade de perseverar nesta obra no mesmo grau que perseveraríamos em qualquer campo da ciência. O fato de que tantos se mostram indispostos a fazê-lo revela, não sua inteligência, mas seu preconceito.

Desejando a Voz Viva de Deus

Há ocasiões em que tudo dentro de nós diz “sim” a estas linhas de Frederick W. Faber:

“Sentar apenas e pensar em Deus,
Oh, que alegria é!
Pensar o pensamento, respirar o Nome;
Maior felicidade não tem a terra.”

Mas os que meditam sabem que a mais freqüente reação é a inércia espiritual, frieza e falta de desejo. Os seres humanos parece ter uma tendência perpétua de que alguém fale com Deus por eles. Contentamo-nos em receber a mensagem de segunda mão. No Sinai, o povo clamou a Moisés: “Fala-nos tu, e te ouviremos; porém não fale Deus conosco, para que não morramos” (Êxodo 20.19). Um dos erros fatais de Israel foi sua insistência em ter um rei humano em vez de descansar no governo teocrático de Deus. Podemos perceber uma nota de tristeza na palavra do Senhor: “Mas [rejeitaram] a mim, para eu não reinar sobre eles” (1 Samuel 8.7). A história da religião é a história de um esforço quase desesperado de ter um rei, um mediador, um sacerdote, um intermediário. Deste modo não precisamos, nós mesmos, de ir a Deus. Tal método poupa-nos a necessidade de mudar, pois estar na presença de Deus é mudar. Esta forma é muito conveniente porque ela nos dá a vantagem da respeitabilidade religiosa sem exigir transformação moral. Não temos necessidade de observar muito de perto o cenário de nosso país para perceber que ele está fascinado pela religião do mediador.

É por isto que a meditação nos é tão ameaçadora. Ousadamente ela nos convida a entrar na presença viva de Deus por nós mesmos. Ela diz que Deus está falando no presente contínuo e deseja dirigir-se a nós. Jesus e os escritores do Novo Testamento deixam claro que isto não é apenas para os profissionais da religião - os sacerdotes - mas para todos. Todos quantos reconhecem a Jesus Cristo como Senhor são o sacerdócio universal de Deus e como tal podem entrar no Santo dos Santos e conversar com o Deus vivo.

Parece tão difícil levar as pessoas a crer que elas podem ouvir a voz de Deus.

Membros da igreja do Salvador, em Washington, D. C., vêm fazendo experiências neste campo por algum tempo. Concluem eles: “Pensamos que somos gente do século vinte e do século vinte e um; não obstante, temos insinuações de que é possível receber instruções tão claras quanto aquela dada a Ananias. ... 'Dispõe-te e vai à rua que se chama Direita'.” Por que não? Se Deus está vivo e ativo nos negócios humanos, por que não pode sua voz ser ouvida e obedecida hoje? Ela pode ser e é ouvida por todos quantos o conhecem como presente Mestre e Profeta.
Como recebemos o desejo de ouvir sua voz? “Este desejo de voltar-se para Deus é um dom da graça. Quem imagina que pode simplesmente começar a meditar sem orar pelo desejo e pela graça de assim fazê-lo, logo desistirá. Mas o desejo de meditar, e a graça de começar a meditar, deveriam ser tomados como uma promessa implícita de mais graças.” Buscar e receber esse “dom da graça” é a única coisa que nos manterá caminhando em direção da jornada interior.

Preparando-se para Meditar

É impossível aprender, através de um livro, a arte de meditar. Aprendemos a meditar, meditando. Contudo, sugestões simples no tempo certo podem produzir uma imensa diferença. As sugestões práticas e os exercícios de meditação nas páginas seguintes são dados na esperança de que possam ajudar na prática real da meditação. Não são leis nem tencionam limitar o leitor; são, antes, umas poucas das muitas janelas que dão para o mundo interior.

Quando se atingiu certa proficiência na vida interior, é possível praticar a meditação quase em toda parte e em qualquer circunstância. O Irmão Lawrence no século dezessete e Thomas Kelly no século vinte dão eloqüente testemunho desse fato. Tendo dito isso, porém, devemos ver a importância tanto para os principiantes como para os proficientes de reservar um parte de cada dia para a meditação formal. Se milhares incontáveis podem tomar vinte minutos duas vezes por dia para recitar um mantra, não deveríamos ter menor dedicação de estabelecer momentos para meditação.

Uma vez convencidos de que necessitamos separar momentos específicos para a contemplação, devemos prevenir-nos contra a noção de que praticar certos atos religiosos em determinadas horas significa que estamos finalmente meditando.

Esta é uma obra para a vida toda. É um trabalho de vinte e quatro horas por dia. A oração contemplativa é um modo de vida. “Orai sem cessar”, exortou Paulo (1 Tessalonicenses 5.17). Com um toque de humor Pedro de Celles observou que “aquele que ronca na noite do vício não pode conhecer a luz da contemplação”.

É preciso, pois, que cheguemos a ver o quanto é central o todo de nosso dia em preparar-nos para momentos específicos de meditação. Se estivermos constantemente entusiasmados com atividade frenética, não poderemos estar atentos nos instantes de silêncio interior. Uma mente perseguida e fragmentada por assuntos externos dificilmente está preparada para a meditação. Os Pais da igreja freqüentemente falavam do Otium Sanctum: “ócio santo”. Isso quer dizer um senso de equilíbrio na vida, uma capacidade de estar em paz durante as atividades do dia, uma capacidade de descansar e separar tempo para desfrutar da beleza, uma capacidade de regular nosso próprio passo. Com nossa tendência para definir as pessoas em termos do que elas produzem, faríamos bem em cultivar o “ócio santo” com determinação no que tange às agendas de nossas entrevistas.

E quanto a um lugar para meditação? Isto será discutido em detalhe ao tratarmos da Disciplina da solitude; por ora, bastam umas poucas palavras. Procure um lugar calmo e livre de interrupção. Sem telefone por perto. Se possível, um lugar entre árvores e plantas. É melhor ter um lugar certo em vez de andar à cata de um local diferente cada dia.

Que dizer da postura? Em certo sentido a postura não faz diferença alguma; você pode orar em qualquer parte, em qualquer momento, e em qualquer posição. Noutro sentido, porém, a postura é de máxima importância. O corpo, a mente e o espírito são inseparáveis. A tensão do espírito é telegrafada em linguagem corporal. Tenho realmente visto pessoas passarem todo um culto de adoração mascando chiclete, sem a mais leve consciência da profunda tensão em que se encontram. Não somente a postura exterior reflete o estado interior, como também pode ajudar a nutrir a atitude interior de oração. Se interiormente estamos fragmentados com distrações e ansiedade, uma postura de paz e descontração, conscientemente escolhida, terá a tendência de acalmar nosso turbilhão interior.

Não há “leis” que prescrevam uma postura correta. A Bíblia contém de tudo, desde jazer prostrado no chão até estar em pé, com as mãos e a cabeça erguidas para os céus. A posição de lótus das religiões orientais é simplesmente outro exemplo - não uma lei - de postura. O melhor método seria encontrar uma posição com o máximo de conforto e com o mínimo de distração. O excelente místico do século catorze, Ricardo Rolle, preferia estar sentado, “... porque eu sabia que eu... permaneceria mais tempo... do que andando, ou em pé, ou ajoelhado.

Porque sentado estou muitíssimo à vontade, e meu coração muitíssimo elevado”.

Concordo perfeitamente, e acho melhor sentar-me numa cadeira, com as costas corretamente posicionadas na cadeira e ambos os pés apoiados no chão. Sentar-se com o corpo curvado indica desatenção e o cruzar das pernas restringe a circulação do sangue. Coloque as mãos sobre os joelhos, com as palmas voltadas para cima, num gesto de receptividade. Às vezes é bom fechar os olhos a fim de afastar as distrações e concentrar a atenção no Cristo vivo. Outras vezes é útil ponderar sobre um quadro do Senhor ou olhar lá fora as lindas árvores e plantas com a mesma finalidade. Sem levar em conta como se faz, o objetivo é concentrar a atenção do corpo, as emoções, a mente e o espírito na “glória de Deus na face de Cristo” (2 Coríntios 4.6).

Como Meditar – Primeiros Passos

Entra-se com muito maior facilidade no mundo interior da meditação pela porta da imaginação. Deixamos hoje de avaliar seu profundo poder. A imaginação é mais forte do que o pensamento conceitual e mais forte do que a vontade. No Ocidente, nossa tendência para endeusar os méritos do racionalismo - e ele tem mérito, sim - tem-nos levado a ignorar o valor da imaginação.

Alguns raros indivíduos talvez possam exercer a contemplação num vazio sem imagens, mas a maior parte de nós sentimos necessidade de estar mais profundamente arraigados nos sentidos. Jesus ensinou assim, fazendo constante apelo para a imaginação e para os sentidos. No seu livro Introdução à Vida Devota, Francisco de Sales escreveu:

“Por meio da imaginação confinamos nossa mente ao mistério sobre o qual meditamos, para que ela não vagueie de um lado para o outro, assim como engaiolamos um pássaro ou prendemos um falcão com sua própria correia de sorte que ele possa descansar na mão. Talvez alguém lhe diga que é melhor usar o simples pensamento de fé e conceber o assunto de uma maneira inteiramente mental e espiritual na representação dos mistérios, ou então imaginar que as coisas ocorrem em sua própria alma. Este método é sutil demais para principiantes.”

Devemos, simplesmente, convencer-nos da importância de pensar e experimentar por meio de imagens mentais. Quando crianças, isto nos vinha tão espontaneamente, mas agora, durante anos temos sido treinados a deixar de lado a imaginação, e até mesmo a temê-la. Em sua autobiografia, C. G. Jung descreve quão difícil lhe foi humilhar-se e uma vez mais jogar os jogos de imaginação de uma criança, e fala do valor dessa experiência. Assim como as crianças precisam aprender a pensar com lógica, os adultos necessitam redescobrir a realidade mágica da imaginação.

Inácio de Loyola em sua obra Exercícios Espirituais constantemente incentivava seus leitores a visualizar as histórias do Evangelho. Todo exercício de contemplação que ele deu destinava-se a abrir a imaginação. Ele chegou a incluir uma meditação intitulada “aplicação dos sentidos”, que é uma tentativa de ajudar-nos a utilizar os cinco sentidos quando retratamos os acontecimentos do Evangelho. Seu pequeno volume de exercícios de meditação, com ênfase sobre a imaginação, causou tremendo impacto para o bem no século dezesseis.

É bom começar o aprendizado da meditação com os sonhos, uma vez que isto envolve pouco mais do que prestar atenção a algo que já estamos fazendo.

Durante quinze séculos os cristãos, em esmagadora maioria, consideraram os sonhos como um meio natural pelo qual o mundo do espírito irrompia em nossas vidas. Kelsey, autor de Dreams: The Dark Speech of the Spirit (Sonhos: A Linguagem Obscura do Espírito), observa: “... todos os grandes Pais da igreja primitiva, de Justino Mártir a Ireneu, de Clemente e Tertuliano a Orígenes e Cipriano, criam que os sonhos eram um meio de revelação.”

Com o racionalismo da Renascença veio certo cepticismo a respeito dos sonhos.
Então, nos dias formativos do desenvolvimento da psicologia, Freud acentuou principalmente o aspecto negativo dos sonhos, visto que ele trabalhou quase inteiramente com doenças mentais. Daí que os homens e as mulheres modernos revelaram tendência para ignorar totalmente os sonhos, ou recear que o interesse por eles redundaria em neurose. Não há necessidade de ser assim; e, de fato, se atentarmos bem, os sonhos podem ajudar-nos a encontrar mais maturidade e saúde.

Se estivermos convencidos de que os sonhos podem ser uma chave que abre a porta do mundo interior, podemos fazer três coisas práticas. Em primeiro lugar, podemos orar especificamente, pedindo a Deus que nos informe através de nossos sonhos. Devemos dizer-lhe de nossa disposição de permitir que ele nos fale deste modo. Ao mesmo tempo, é prudente orar pedindo proteção, uma vez que o abrir-nos à influência espiritual pode ser perigoso assim como proveitoso.

Simplesmente pedimos a Deus que nos cerque com a luz de sua proteção à medida que ele assiste nosso espírito.

Em segundo lugar, deveríamos começar a registrar nossos sonhos. As pessoas não se lembram dos seus sonhos porque não lhes prestam atenção. Manter um diário de nossos sonhos é uma forma de levá-los a sério. É, naturalmente, tolice considerar todo sonho como profundamente significativo ou como alguma revelação de Deus. Maior tolice ainda é considerar os sonhos como apenas caóticos e irracionais. No registro dos sonhos começam a surgir certos padrões e discernimentos. Em pouco tempo é-nos fácil distinguir entre sonhos significativos e os que resultam de ter visto o último espetáculo da noite anterior.

Isto conduz à terceira consideração - como interpretar os sonhos. O melhor meio de descobrir o significado dos sonhos é pedir. “Nada tendes, porque não pedis” (Tiago 4.2). Podemos confiar em que Deus trará discernimento se e quando for necessário. Às vezes convém consultar os especialistas nessas questões.

Benedict Pererius, que viveu no século dezesseis, sugere que o melhor intérprete dos sonhos é a “... pessoa muito experimentada no mundo e nos negócios da humanidade, com um amplo interesse em tudo quanto é humana, e aberta à voz de Deus”.

Como Meditar – Exercícios Específicos

Há uma progressão na vida espiritual. Não é prudente apetrechar-se para galgar o monte Everest antes de ter tido alguma experiência em picos mais baixos. Por isso eu recomendaria começar com um período diário de cinco a dez minutos. Este tempo destina-se a aprender a “concentrar-se”, “acalmar-se”, ou o que os contemplativos da Idade Média chamavam de “lembrar-se”. É tempo para ficar quieto, para entrar no silêncio recriador, para permitir que a fragmentação de nossa mente venha a concentrar-se.

A seguir damos dois breves exercícios que o ajudarão a “concentrar-se”. O primeiro é “palmas para baixo, palmas para cima”. Comece colocando as palmas das mãos voltadas para baixo, como indicação simbólica de seu desejo de transferir para Deus quaisquer preocupações que você possa ter. Interiormente você pode orar: “Senhor, eu te dou minha ira contra o João. Liberto o medo que tenho de ir ao dentista esta manhã. Rendo-te minha ansiedade por não ter dinheiro suficiente com que pagar as contas deste mês. Liberto minha frustração por não encontrar alguém que tome conta de meus filhos esta noite.” Seja o que for que pese em sua mente ou que o preocupe, simplesmente diga-o, com as “palmas para baixo”. Libere esse problema. Você pode até sentir certo senso de libertação nas mãos. Após alguns momentos de submissão, vire as palmas das mãos para cima, como símbolo do desejo de receber algo do Senhor. Você pode orar silenciosamente, dizendo: “Senhor, gostaria de receber teu divino amor para o João, tua paz com referência à cadeira do dentista, tua paciência, tua alegria.” Qualquer que seja sua necessidade, diga-a, com as palmas das mãos “para cima”. Tendo-se concentrado, passe os momentos restantes em completo silêncio. Não peça nada. Permita que o Senhor comungue com seu espírito, que o ame. Se as impressões ou direções vierem, ótimo; se não, ótimo.

Outra meditação com vistas a concentrar-se começa com a respiração. Tendo-se assentado confortavelmente, torne-se, com vagar, cônscio de sua respiração.

Isto o ajudará a entrar em contato com seu corpo e indicará o nível de tensão interior. Inspire profundamente, e com vagar vá inclinando a cabeça para trás até onde possível. Depois expire, permitindo que a cabeça venha lentamente para a frente até que o queixo quase se apóie no peito. Faça isto durante alguns momentos, orando interiormente algo assim: “Senhor, exalo o medo que tenho do exame de Geometria, inalo tua paz. Exalo minha apatia espiritual, inalo tua luz e vida.” Então, como antes, fique em silêncio exterior e interiormente. Esteja atento ao Cristo vivo no interior. Se a sua atenção se desvia para a carta que deve ser ditada, ou para as janelas que precisam ser limpas, “exale” o problema nos braços do Mestre e aspire seu divino sopro de paz. Então ouça de novo.

Encerre cada meditação com uma autêntica expressão de ações de graças.

Depois que você adquirir certa proficiência em concentrar-se, acrescente uma meditação de cinco a dez minutos sobre algum aspecto da criação. Escolha algo na ordem criada: árvores, plantas, pássaros, folhas, nuvens, e diariamente pondere sobre isso, com cuidado e em espírito de oração. Deus, que criou os céus e a terra, usa a criação para mostrar-nos algo de sua glória e dar-nos algo de sua vida. “O mais simples e mais antigo meio... pelo qual Deus se manifesta é... através da terra e na própria terra. Ele ainda nos fala por meio da terra e do mar, das aves do céu e das pequenas criaturas que vivem na terra, desde que façamos silêncio para ouvir.” Não deveríamos negligenciar este recurso da graça de Deus, pois, como nos adverte Evelyn Underhill:
“Evitar a natureza, recusar sua amizade e tentar saltar o rio da vida na esperança de encontrar Deus do outro lado, é o erro comum de uma mística pervertida. ... Assim, você deve começar com aquela primeira forma de contemplação que os antigos místicos às vezes chamavam de 'descoberta de Deus em suas criaturas'.”

Tendo praticado durante algumas semanas os dois tipos de meditação dados acima, você desejará adicionar a meditação das Escrituras. Como a calota de uma roda, a meditação das Escrituras torna-se o ponto central de referência pelo qual todas as demais meditações são mantidas em devida perspectiva. A meditatio Scripturarum é considerada por todos os mestres como o fundamento normal da vida interior. Ao passo que o estudo das Escrituras se concentra na exegese, a meditação das Escrituras concentra-se em internar e personalizar a passagem. A Palavra escrita torna-se uma palavra viva endereçada a você.

Tome um simples acontecimento, como a ressurreição, ou uma parábola, ou uns poucos versículos, ou mesmo uma simples palavra e deixe que isso crie raízes em você. Busque viver a experiência, lembrando-se do incentivo de Inácio de Loyola de aplicar todos os sentidos à nossa tarefa. Sinta o cheiro do mar. Ouça o marulhar da água ao longo da praia. Veja a multidão. Sinta o sol sobre a cabeça e a fome no estômago. Prove o sal do ar. Toque a orla do manto de Cristo. Francisco de Sales instruiu-nos a:
“... representar na imaginação todo o mistério sobre o qual você deseja meditar como se ele realmente se desse em sua presença. Por exemplo, se você deseja meditar sobre nosso Senhor na Cruz, imagine-se no monte Calvário, contemplando e ouvindo tudo quanto foi feito ou dito no dia da Paixão.”

Ao entrar na história, não como um observador passivo, mas como um participante ativo, lembre-se de que uma vez que Jesus vive no Agora Eterno e não é limitado pelo tempo, o acontecimento do passado é uma experiência viva no tempo presente para ele. Daí, você pode realmente encontrar o Cristo vivo no acontecimento, ser alcançado por sua voz e ser tocado por seu poder curador. Isto pode ser mais do que um exercício da imaginação; pode ser um autêntico confronto. Jesus Cristo realmente virá a você.

Esta não é a hora para estudos técnicos de palavras, ou de análise, ou mesmo de reunião de material para repartir com outras palavras. Ponha de lado todas as tendências à arrogância e com coração humilde receba a Palavra que lhe é dirigida. Com freqüência acho que o ajoelhar é especialmente apropriado para este momento especial. Dietrich Bonhoeffer disse: “... assim como você não analisa as palavras de alguém a quem você ama, mas aceita-as conforme lhe são ditas, aceite a Palavra da Escritura e pondere-a em seu coração, como o fez Maria. Isso é tudo. Isso é meditação.” Quando Bonhoeffer fundou o seminário em Finkenwalde, os seminaristas e professores aceitaram e praticaram meia hora de meditação silenciosa, em conjunto, sobre as Escrituras.

É importante resistir à tentação de examinar superficialmente muitas passagens.

A pressa reflete o nosso estado interior e é este estado que precisa ser transformado. Bonhoeffer recomendava passar uma semana inteira num único texto!

Além disso, você desejará viver o dia todo com o texto bíblico escolhido.

Uma quarta forma de meditação tem como objetivo levar o leitor a uma profunda comunhão interior com o Pai, na qual você olha para ele e ele olha para você.

Na imaginação, veja a si mesmo caminhando por uma bonita estrada na floresta.

Não se apresse, permitindo que o som de folhas farfalhantes e riachos frescos da floresta supere o barulho ensurdecedor de nossa moderna megalópole. Após observar a si mesmo por uns instantes, tome a perspectiva de alguém que está andando, em vez de alguém que está sendo observado. Tente sentir a brisa no rosto como se ela soprasse suavemente, levando toda a sua ansiedade. Pare ao longo do caminho para meditar na beleza das flores e dos pássaros. Quando puder experimentar o cenário com todos os sentidos, o caminho terminará, repentinamente, numa bela colina gramada. Ande pelo luxuriante e grande prado cercado por pinheiros majestosos. Após explorar o prado por algum tempo, deite-se de costas, olhando para cima, para o céu azul e para as brancas nuvens. Desfrute a paisagem e os odores. Dê graças ao Senhor pela beleza.

Pouco tempo depois há um anelo de entrar nas regiões superiores além das nuvens. Na imaginação, deixe que seu corpo espiritual, brilhante de luz, saia do corpo físico. Olhe para trás a fim de ver-se deitado na grama; acalme o corpo dizendo-lhe que você retornará em breve. Imagine o seu eu espiritual, vivo e vibrante, subindo pelas nuvens e entrando na atmosfera. Observe o seu corpo físico, a colina, e a floresta distante à medida que você deixa a terra.

Entre mais e mais no espaço exterior até que nada haja, exceto a cálida presença do Criador eterno. Descanse em sua presença. Ouça silenciosamente, prevendo o imprevisto. Observe cuidadosamente qualquer instrução dada. Com tempo e experiência você poderá distinguir prontamente entre o mero pensamento humano que pode aflorar à mente consciente e o Verdadeiro Espírito que interiormente se move sobre o coração. Não se surpreenda se a instrução for terrivelmente prática e não conter nada do que você pensava ser “espiritual”.

Não fique desapontado se não houver palavras; como bons amigos, vocês estão silenciosamente desfrutando a companhia um do outro. Chegada a hora de sair, audivelmente agradeça ao Senhor sua bondade e retorne ao prado. Ande alegremente de volta ao longo do caminho até chegar ao lar, pleno de nova vida e energia.

Há uma quinta forma de meditação, a qual, em certos sentidos, é bem o oposto da que acabamos de apresentar. Trata-se de meditar sobre os acontecimentos de nosso tempo e buscar perceber seu significado. Temos uma obrigação espiritual de penetrar o significado interior dos acontecimentos e das pressões políticas, não para adquirir poder, mas para obter perspectiva profética. Thomas Merton disse que a pessoa
“... que tem meditado sobre a Paixão de Cristo mas não tem meditado sobre os campos de extermínio de Dachau e Auschwitz ainda não entrou plenamente na experiência do Cristianismo em nosso tempo. ... Na verdade, o contemplativo deve, acima de tudo, meditar e meditar sobre essas terríveis realidades tão sintomáticas, tão importantes, tão proféticas.”

Esta forma de meditação é mais bem realizada, tendo-se a Bíblia em uma das mãos e o jornal do dia na outra! Não se deixe, porém, controlar pelos absurdos lugares-comuns políticos nem pela propaganda que nos é oferecida hoje. Na verdade, os jornais são geralmente muitíssimo superficiais e parciais para que sejam de alguma ajuda. Seria bom que levássemos os eventos de nosso tempo à presença de Deus e pedíssemos visão profética para discernir o rumo que esses acontecimentos tomam. Deveríamos, também, pedir orientação para qualquer coisa que pessoalmente devêssemos estar fazendo a fim de sermos sal e luz de nosso mundo decadente e tenebroso.

Não se desanime se no princípio suas meditações não tiverem significado. Você está aprendendo uma arte para a qual não recebeu preparo algum. Nem a nossa cultura nos incentiva a desenvolver essas habilidades. Você estará indo contra a maré, mas tenha ânimo; sua tarefa é de valor imenso.

Há muitos outros aspectos da Disciplina da Meditação que poderiam ter sido proveitosamente considerados. Contudo a meditação não é um ato simples, nem pode ser completada da forma como se completa a construção de uma cadeira. É um modo de vida. Você estará constantemente aprendendo e crescendo à medida que penetra as profundezas interiores.

(Dois tópicos intimamente relacionados com a meditação serão estudados sob a Disciplina da solitude: o uso criativo do silêncio, e o conceito desenvolvido por S. João da Cruz, que ele graficamente chama de “a escura noite da alma”.



*Extraído do livro:

Celebração da Disciplina
O Caminho do Crescimento Espiritual
Richard J. Foster

Editora Vida