O ESPÍRITO NAS DEMONSTRAÇÕES SOBRENATURAIS

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Stanley M. Horton - O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo.

         O ESPÍRITO NAS DEMONSTRAÇÕES SOBRENATURAIS

                    CAPÍTULO 10

O ministério do Espírito Santo na Igreja Primitiva foi realizado numa atmosfera de grande expectativa. Não somente esperavam, diariamente, a bênção e a manifestação dos dons espirituais, mas não se esqueciam, tampouco, que o Pentecoste era uma festa em que se ofereciam as primícias. O Pentecoste não fazia parte da colheita final. Sendo assim, antegozavam a futura volta de Cristo. De dentro da sua própria experiência pentecostal surgiu a senha: Maranata, "Nosso Senhor, vem!" Nem sequer o passar do tempo ofuscou a esperança deles. Paulo, perto de sua partida, percebeu que não viveria até contemplar o dia glorioso em que os mortos em Cristo ressuscitariam. Mas nem por isso diminui-se a sua certeza de que Jesus viria (2 Timóteo 1.12; 2.10,13; 4.7,8).

Essa esperança de ver Jesus novamente, tornou os cristãos primitivos mais conscientes do que nunca da necessidade de continuar a sua obra no poder do Espírito Santo. Nessa dispensação, o Espírito Santo é o Único que nos pode ministrar a vida, o poder e a Pessoa de Jesus. Quer Ele seja chamado o Espírito de Deus, de Cristo, da paz, da verdade, do poder, da graça ou da glória, é sempre o mesmo Espírito Santo que torna Jesus real e realiza a sua obra.

Mesmo assim, Ele se distingue de Jesus como outro Consolador ou Ajudador, e como Aquele que testifica de Cristo mediante os seus ensinos (João 14.16,26; 16.13,14) e os seus atos poderosos (Atos 2.43; Romanos 15.18,19). Ele também se distingue do Pai, e é enviado tanto pelo Pai como pelo Filho (Gálatas 4.6; João 14.26; 15.26; 16.7). Ele tem sua divindade demonstrada por tudo quanto faz, especialmente pelo fato de conhecer os mistérios de Deus (1 Coríntios 2.10,11), e roga por nós de acordo com a vontade de Deus (Romanos 8.27).

Ele também ajuda no atendimento das orações por meio da di­reção, tanto dos indivíduos como da Igreja,'segundo a vontade de Deus. Ele dirigiu Filipe a um eunuco etíope, e Pedro à casa de Cornélio, e deu à igreja em Antioquia ordens para enviar Paulo e Barnabé como missionários. Todo cristão deve tudo ao Espírito Santo que rompeu todas as barreiras e ajudou, pelo menos alguns, a ven­cer seus preconceitos embutidos e a avançar para alcançar o mundo.

Uma Vida Totalmente Dedicada a Deus

Esse desejo de servir a Deus realmente brotou da dedicação ao próprio Criador. Em todo o aspecto da vida cristã, o Espírito nos aponta a Jesus e derrama o amor de Deus em nossos corações.(1) Devemos viver no Espírito e por Ele, se verdadeiramente estamos em Cristo. Logo, nenhum aspecto da nossa vida se passa sem o seu toque. O que Ele fez em favor dos crentes do século I, ao viverem, trabalharem, esperarem e sofrerem por Cristo, deseja realizar em nosso favor. Quem sabe, pode haver uns aventais de trabalho e suadouros que Ele deseja usar para ministrar a cura hoje! Mas Ele quer nos tornar um só no Espírito e em Cristo, à medida que nos unirmos em comunhão com Ele.

O Espírito Santo está, na realidade, presente para nos guiar, quer recebamos manifestações especiais dos seus dons e revelações, quer não. Algumas pessoas pensam que não estão no Espírito, a não ser que recebam uma nova revelação, ou nova orientação, todos os dias. Mas quando Paulo foi proibido pelo Espírito de pregar na Ásia, ou seja, em Éfeso, não recebeu outra orientação. Sua fidelidade levou-o a viajar muitos dias, através da Mísia, até a fronteira da Bitínia. Foi então que recebeu outra orientação do Espírito Santo (Atos 16.6,7).

Boa parte da vida dos cristãos primitivos era dedicada a realizar fielmente a obra do Senhor e a cumprir os deveres cotidianos. Mesmo assim, essa existência não era monótona. Os dons do Espírito e a presença de Cristo eram diariamente a porção deles tanto na obra como na adoração. Era, também, uma vida de crescimento na graça e no fruto do Espírito Santo.

O crescimento na graça e o desenvolvimento do fruto do Espírito nos foi possibilitado, mediante Cristo que nos santificou pelo seu sangue (Hebreus 13.12). Essa obra nos foi concedida pelo Espírito Santo, que nos santificou através da nossa separação do mal e da nossa dedicação a Deus, quando Ele nos deu nova vida e nos colocou no corpo de Cristo (1 Coríntios 6.11), que é apenas um dos aspectos da nossa santificação. Paulo pede para que Deus nos santifique em tudo (completamente) (1 Tessalonicenses 5.23). Há, também, um aspecto contínuo de santificação em que devemos cooperar. Devemos nos apresentar a Deus (Romanos 12.1,2), e, pelo Espírito, buscar aquela santidade (dedicação, consagração em relacionamentos certos com Deus e os homens) sem a qual ninguém verá o Senhor (Hebreus 12.14). Essa é uma santidade como a dele, que o Espírito Santo nos ajuda a obter (1 Pedro 1.15,16).

Isto importa em reconhecer e pôr em prática nossa identificação com Cristo em sua morte e ressurreição. Diariamente, devemos nos considerar "como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6.11). Diariamente, devemos entregar a Deus todas as faculdades do nosso ser, como "instrumentos de justiça" (Romanos 6.13; 1 Pedro 1.5). Pelo Espírito, pois, mortificamos os impulsos da velha vida e ganhamos vitórias, ao vivermos para Jesus (Romanos 8.1,2,14; Gálatas 2.20; Filipenses 2.12,13).

Por um lado, somos transformados de um grau de glória para outro, ao contemplarmos a Jesus, e ao servirmos a Ele (2 Coríntios 3.18). Por outro lado, a mesma dedicação a Deus pode nos causar sofrimentos, em prol de Cristo e do Evangelho. Paulo não somente se considerava crucificado com Cristo, e vivendo uma nova vida em Cristo e por Ele (Gálatas 2.20), mas também estava disposto a "cumprir [quanto a sua parte] na sua carne o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja" (Colossenses 1.24). Isto é: ele ainda não morrera por amor à Igreja, mas até que isso acontecesse, estava disposto a sofrer, a fim de estabelecer o Corpo e trazer cada vez mais salvos para dentro dele.

A totalidade da santificação é a obra do Espírito Santo que mais recebe atenção no Novo Testamento. Toma precedência sobre o testemunhar, o evangelismo, a contribuição e toda outra forma de serviço cristão. Deus quer que sejamos alguém, e não apenas que façamos alguma coisa. Isso porque somente à medida que nos tornamos semelhantes a Jesus, é que o que fazemos pode ser eficaz e dar glória a Ele. Nossa adoração também, ao ser guiada e incentivada pelo Espírito, em todos os aspectos, nos encoraja exatamente nisso.

O Dom do Espírito

Devemos, no entanto, evitar a idéia de que, em nossa vida cristã, nosso objetivo principal seja o nosso aperfeiçoamento. A verdade é que conseguimos mais crescimento, enquanto servimos. O santo (dedicado, consagrado) não é o que passa todo o seu tempo no estudo, na oração e nas devoções, por mais importante que isso seja. Os vasos no tabernáculo não podiam ser usados para outros fins, mas não foi a separação do uso comum que os tornou santos. Não eram santos até serem usados no serviço de Deus. Logo, o santo é aquele que não somente é separado do mal, mas também separado para Deus, santificado e ungido para o uso do Mestre. Isto era simbolizado, no Antigo Testamento, pelo fato de que o sangue era aplicado primeiro, e depois, o óleo sobre o sangue. A purificação, portanto, era seguida por uma unção simbólica que representava a obra do Espírito na preparação para o serviço. De modo que nós também somos ungidos, assim como o foram os profetas, os reis, e os sacerdotes da antigüidade (2 Coríntios 1.21; 1 João 2.20).(2)

Os meios e o poder para o serviço provêm através dos dons espirituais. Mas é necessário fazer distinção entre os dons e o dom do Espírito. O batismo com o Espírito Santo era necessário antes de os primeiros discípulos saírem de Jerusalém ou até mesmo cumprirem a Grande Comissão. Precisavam de poder, e o próprio nome do Espírito Santo tem ligação com força.(3) Ele se manifesta como o Dom e o Poder. Ele mesmo é as primícias da grande colheita, e veio para iniciar a tarefa que trará alguns de cada raça, língua, povo e nação para estar junto do trono (Apocalipse 5.9). O mesmo batismo foi experimentado por outros, em pelo menos quatro ocasiões, registradas em Atos, conforme já vimos, bem como por alguns, posteriormente, de conformidade com Tito 3.5.

No dia de Pentecoste o recebimento do dom do Espírito foi marcado pela evidência física (ou exterior, posto que não era totalmente física) do falar em outras línguas (idiomas diferentes), conforme o Espírito concedia que falassem. Baseado no fato em que as línguas são a evidência oferecida, e especialmente no motivo em que as línguas foram a evidência convincente na casa de Cornélio ("Porque os ouviam falar línguas", Atos 10.46), há um argumento a favor da consideração das línguas como evidência física (ou exterior) do batismo com o Espírito Santo.(4)

Conforme muitos reconhecem, é difícil comprovar, pelo livro de Atos, que o falar em outras línguas não é a evidência do batismo com o Espírito Santo.(5) A maioria dos que desconsideram as línguas como a evidência do batismo apela para as Epístolas, procurando provas teológicas para seu ponto de vista.(6) Mas as Epístolas não estão tão divorciadas assim das experiências de Paulo e das pessoas para quem as escrevia. Considerá-las totalmente teológicas, para contrastar com o livro de Atos, não se encaixa com os fatos. Mesmo quando as Epístolas oferecem verdades proposicionais, tais como a justificação pela fé, relaciona-se com a experiência anterior de Abraão (Romanos 4). Conforme já vimos, boa parte do que Paulo diz a respeito do Espírito Santo nas suas

Epístolas forma um paralelo com as experiências no livro de Atos.

O argumento contra as línguas como evidência baseia-se na pergunta: "Falam todos diversas línguas?" (1 Coríntios 12.30). Já vimos que esse é um argumento muito fraco, mormente porque o verbo está no presente contínuo: "Todos continuam falando em línguas?" que significa: todos têm um ministério perante a igreja de falar em línguas?

O valor das línguas como um sinal, na edificação pessoal, nos ensina a corresponder ao Espírito Santo, de modo singelo e com a fé de uma criança. O próprio fato de que não sabemos o que dizemos nos ajuda a corresponder ao Espírito, sem imiscuir nossas próprias idéias e vontades, porque falamos conforme o Espírito nos concede que pronunciemos. Usualmente, não há algum registro em nosso cérebro, quanto ao que devemos dizer. Pelo contrário, nossas mentes estão cheias de louvor, e simplesmente (mas de modo ativo) entregamos nossos órgãos vocais, nossa boca e língua, ao Espírito Santo e falamos o que Ele concede.(7) (Alguns dizem que o Senhor lhes deu poucas palavras, antes de serem pronunciadas por eles. Quando obedeciam e falavam o que lhes vinha à mente, o Espírito Santo lhes concedia a capacidade e a liberdade de falar em línguas).

No livro de Atos, também, as línguas se manifestavam quando o dom do Espírito era recebido. Pode haver, ou não, um intervalo de tempo entre o crer para a salvação e o receber o Dom. A pessoa deve exercer a sua fé e receber o Dom tão logo se torne crente. Mas nenhum intervalo é indicado em Atos entre o receber o dom do Espírito e o receber a evidência do falar em línguas. Donald Gee fala da experiência de seu batismo com o Espírito Santo "pela fé" e, posteriormente, depois de duas semanas, da nova plenitude em sua alma, ao "começar a pronunciar palavras em uma nova língua".(8) Muitos outros têm testificado de uma experiência semelhante. Na minha própria experiência, o Espírito Santo tornou Jesus tão real que não tive consciência de estar falando em línguas. (Embora outras pessoas dissessem que eu falava). Na noite seguinte, simplesmente disse ao Senhor que se havia liberdade no dom de línguas, eu queria possuí-la. Imediatamente, as línguas se derramaram em abundância. Talvez seja essa uma questão de "o vento sopra onde quer". Temos a certeza, no entanto, que quando falamos em línguas recebemos o Dom, a respeito do qual a Bíblia fala. Sendo assim, ela é nossa bússola, e devemos julgar pela mesma a nossa experiência.

Isso não quer dizer que as línguas devam ser procuradas. Nossa atenção deve fixar-se no poderoso Batizador, no próprio Senhor Jesus Cristo. A fé que faz cumprir a sua promessa é a chave para sermos batizados com o Espírito Santo. Posto que o Batismo é para o serviço, a consagração e dedicação a Deus, sempre são a atitude certa (Romanos 6.13; 12.1). Mas não podemos programar a maneira de Ele chegar até nós. Toda ocasião mencionada no livro de Atos era diferente uma da outra. Às vezes, Ele veio a despeito do que fazemos, o mesmo caso de "o vento sopra onde quer" (João 3.8). Ele pode vir mansamente, com o mínimo sussurro. Pode vir como o som de um vento impetuoso. Estejamos dispostos a deixá-lo vir conforme Ele deseja.

Deve ser reconhecido, também, que falar em línguas é apenas a evidência do batismo com o Espírito Santo. Outras evidências se seguirão, à medida em que o Espírito transborda para todos os aspectos da vida (João 7.37,39; Atos 4.8). Podemos esperar, também, que haja profunda reverência a Deus (Atos 2.43; Hebreus 12.28); uma dedicação e consagração mais intensa ao Senhor e à sua Palavra (Atos 2.42); um amor sempre maior e mais ativo a Cristo, à Bíblia, e aos perdidos (Marcos 16.20).

De fato, sempre deve ser levado em consideração que o batismo com o Espírito Santo não é uma experiência final. Assim como o próprio Pentecoste era apenas o início da colheita, e trouxe os homens para a comunhão da adoração, do ensino e do serviço, também o batismo com o Espírito Santo é apenas a porta de entrada para um relacionamento crescente com o Espírito e com os outros

crentes. Leva a uma vida de serviço em que os dons do Espírito fornecem poder e sabedoria para a propagação do Evangelho e o crescimento da Igreja. Esse fato é evidenciado pela divulgação rápida do Evangelho em muitas áreas do mundo atual. Novas plenitudes e diretrizes para o serviço devem ser esperadas, à medida em que surgem novas necessidades, e à medida que Deus, na sua vontade soberana, leva a efeito o seu plano.

Dons Generosos do Espírito Santo

O ministério do Espírito Santo e dos seus atos era a porção da Igreja Primitiva em farta generosidade (conforme o grego indica em Gálatas 3.5; Filipenses 1.19).(10) A abundância dos dons e a maneira de se encaixarem nas necessidades do Corpo demonstram que a atuação de Deus é: "Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor" (Zacarias 4.6).(")

Não há, porém, alguma ordem especial pela qual a Bíblia relaciona os dons. Romanos 12.6-8 começa com a profecia. 1 Coríntios 12.8-10 inicia com a. palavra da sabedoria. As outras três relações começam com apóstolos. Alguns classificam os dons de acordo com a natureza deles, tais como: dons de revelação, de poder e de expressão vocal. Outros distinguem entre dons itinerantes, tais como apóstolos, mestres e evangelistas; e dons locais, tais como pastores, governos e socorros. Ou dividem-nos segundo a sua função: proclamação, ensino, serviço e administração.(12) Todas essas divisões são legítimas, mas não há maneira de evitar a coincidência que aparece em qualquer sistema de classificação.

Alguns distinguem entre dons públicos e particulares, ou entre funcionais e oficiais. Mas, usualmente, desconhecem que cada cristão tem seu próprio dom ou ofício à sua disposição.(13)

Outros distinguem entre dons extraordinários que são carismáticos, totalmente sobrenaturais, e que supõem (erroneamente) estarem além do controle do indivíduo (tais como a profecia, os milagres,

as curas e as línguas) e os chamados de comuns, não-carismáticos, que envolvem as capacidades humanas (tais como mestres, o ministério, o governar, o administrar, os socorros, a contribuição e o demonstrar misericórdia). Alguns vão mais longe nessa distin­ção, e sugerem que os apóstolos e profetas eram convenientes para estabelecer ou lançar os alicerces da Igreja (Efésios 2.20), não são necessários hoje.(14) Mas Efésios 4.7-11 deixa claro que os após­tolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres eram todos neces­sários no reestabelecimento da Igreja. Paulo não fazia distin­ção entre eles. Parece claro, também, que cada um desses minis­térios envolve dons sobrenaturais. (Alguns acham que os pro­fetas em Efésios 2.20 pertenciam ao Antigo Testamento. Mas Efésios 3.5 e 4.11 indicam distintivamente os profetas do Novo Testamento).

A Bíblia não distingue, tampouco, entre os dons que são "mais sobrenaturais" e "menos sobrenaturais". Todos fazem parte da obra do Espírito Santo através da Igreja. A declaração de Harold Horton de que todos os dons são "cem por cento milagrosos" com "nenhum elemento do que é natural"(15) é levada a extremos por alguns. Ele mesmo diz, posteriormente, que a expressão do dom "pode variar de acordo com o ofício, ou até mesmo com a personalidade da pessoa através de quem é dado".(16)

Surge, aqui, um problema quando alguns dizem que dons tais como a profecia ou a palavra da sabedoria são totalmente sobrenaturais e devem ser manifestados de um modo independente e sobrenatural que indica essa natureza milagrosa deles. Não acham que esses dons têm algo a ver com o ensino ou a pregação. Paulo contrasta o que a sabedoria humana ensina com o que o Espírito doutrina, e indica que é o Espírito quem concede a sabedoria e o conhecimento para o pregador ou ensinador. O comentário de Donald Gee é apropriado: "Se nosso conceito do que é sobrenatural nos impede de ver os dons espirituais nos ministérios da pregação e do ensino, então fica claro que é necessário corrigir nosso modo de entender o significado de sobrenatural. Talvez, no caso de alguns, trata-se de confundir o espetacular com o sobre natural". (17) Na realidade, os dons estão relacionados entre si, e cada um deles envolve uma variedade de manifestações, ou modos de expressão.

Três Grupos de Dons

Para maior conveniência, os dons são classificados em três grupos.

Primeiro: dons para o estabelecimento da igreja e para levá-la a uma maturidade em que todos os membros poderão receber seus próprios dons e contribuir para a edificação do corpo local (Efésios 4.11-16). Trata-se dos apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres que são escolhidos pelo Senhor, levados cativos por Ele, e dados como dons à Igreja. Em cada ministério, está envolvido algo mais do que uma manifestação ocasional do dom do Espírito. Assim como os primeiros apóstolos, esses são homens maduros e treinados, que não foram enviados até obterem experiência com o grande Mestre (Jesus, e depois o Espírito Santo que também é Mestre, o Espírito da Verdade). O ministério deles não era limitado a uma só igreja local. Mais cedo ou mais tarde, mudavam-se, porque tinham sido dados à Igreja.

Segundo: dons de edificação da igreja, através dos membros locais. Essas são manifestações dos dons espirituais que são dados à medida que são necessários e conforme o Espírito Santo deseja. Podem ser exercidos por qualquer membro da congregação. Mesmo assim, em alguns casos, nas congregações, um ministério pode desenvolver-se no contexto de algum dom, de modo que, nesse sentido, alguns possam ser chamados profetas, intérpretes ou operadores de milagres (1 Coríntios 12.29; 14.28). Mas isso não significa que "possuem" o dom no sentido de residir neles. São dons do Espírito, sendo que cada um é entregue conforme Ele deseja. É importante, também, que todos esses dons sejam ministrados no contexto da igreja. Há neles uma espontaneidade.(18) Não devem, porém, ser exercidos segundo os próprios sentimentos da pessoa, mas segundo a orientação da Palavra (1 Coríntios 14), e os ditames da cortesia e do amor. Esses dons não tornam, tampouco, a pessoa independente da ajuda dos outros. Todas as Epístolas de Paulo demonstram o quanto ele dependia do apoio e das orações dos membros das igrejas.

Terceiro: dons para o serviço e para alcançar os de fora. Estes incluem a administração, o governo, o ministério, a contribuição, os socorros, a misericórdia e a exortação. Outros também entram nesse grupo, por coincidirem parcialmente com os que já foram mencionados. A profecia, a fé, os milagres e as curas certamente contribuem para o alcance missionário.

Apóstolos, Embaixadores de Cristo

Jesus é o supremo Sumo Sacerdote e Apóstolo (Hebreus 3.1; João 5.36; 20.21). A palavra apóstolo era usada, no entanto, para qualquer mensageiro nomeado e comissionado a algum propósito. Epafrodito foi um mensageiro (apóstolo) nomeado pela igreja em Filipos e enviado a Paulo (Filipenses 2.25). Os companheiros de Paulo eram os mensageiros (apóstolos) enviados pelas igrejas e por elas comissionados (2 Coríntios 8.23).

Os doze, apenas, eram apóstolos específicos. Depois de uma noite em oração, Jesus os escolheu do meio de um grupo de discípulos e os chamou apóstolos (Lucas 6.13). Pedro reconheceu que os doze tinham um ministério e supervisão especiais (Atos 1.20,25,26), provavelmente tendo em mente a promessa de que eles futuramente julgariam (governariam) as 12 tribos de Israel (Mateus 19.28). Sendo assim, nenhum apóstolo foi escolhido, depois de Matias, para estar entre os doze. Nem foram nomeados substitutos, quando estes foram martirizados. Na Nova Jerusalém há apenas 12 alicerces, com os nomes dos 12 apóstolos inscritos neles (Apocalipse 21.14). Os doze, portanto, eram um grupo limitado, e realizavam uma função especial na pregação, no ensino e no estabelecimento da Igreja, além de testificar da ressurreição de Cristo, com poder. Ninguém mais pode ser um apóstolo no sentido em que eles foram.

Havia outros apóstolos, no entanto. Jesus também enviou 70 deles. Trata-se de um grupo totalmente diverso dos doze (Lucas 10.1). Mas Jesus, ao enviá-los, usou exatamente a mesma palavra que empregara para os doze (em Lucas 9.2), apostello, de onde se deriva apóstolo. Ele deu aos 70 a mesma comissão, e voltaram com os mesmos resultados.

Paulo e Barnabé também são chamados apóstolos (Atos 14.4,14). Paulo considera Andrônico e Júnias apóstolos de destaque que o antecederam (Romanos 16.7). Mas também se refere a todos os de­mais como apóstolos que atuaram antes dele (Gálatas 1.17). Ao fa­lar das aparições de Cristo, menciona que Jesus foi visto por Cefas, pelos doze, por 500, por Tiago, o irmão do Senhor, por todos os apóstolos, "e por derradeiro de todos" apareceu também a ele, "co­mo a um abortivo" (1 Coríntios 15.5-8). Parece, portanto, que o restante dos que são chamados "apóstolos", no Novo Testamento, também pertencia a um grupo limitado, do qual Paulo era o último.

Isso é confirmado pelas qualificações estabelecidas para a escolha do substituto de Judas (Atos 1.21,22). O apóstolo preci­sava ser uma testemunha em primeira mão, tanto da Ressurrei­ção como dos seus ensinos ou ditos. Foi por isso que Paulo achava, constantemente, necessário defender o seu apostolado. Diz aos coríntios: "Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso?" (1 Coríntios 9.1). Depois, afirma que eles são o selo, os resultados, a confirmação, do seu apostolado. Ele também escreveu aos Gálatas que recebeu a mensagem do Evan­gelho, não dos homens, não dos demais apóstolos, mas de Jesus (Gálatas 1.1,11,12,16,17). Sendo assim, foi uma testemunha em primeira mão, tanto da Ressurreição de Jesus, como dos seus ensinos.

Paulo também cumpriu as funções de um apóstolo. Depois do Pentecoste, os apóstolos realizaram muitos sinais e maravilhas (Atos 2.43; 5.12), e com grande poder testemunharam da Ressurreição de Jesus (Atos 4.33; 5.32). Ensinavam o povo (2.42), e afirmavam que o ministério da Palavra era sua principal responsabilidade (Atos 6.4; 8.25). Paulo sempre relaciona seu apostolado com a proclamação da ressurreição de Cristo, a pregação e o ensino, e os sinais de um apóstolo "com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas" (2 Coríntios 12.12; 1 Coríntios 15.9; 1 Timóteo 1.1; 2.7; 2 Timóteo 1.1,11).

Mas, a despeito dessas limitações quanto ao cargo de após­tolo, há uma continuação do ministério apostólico indica­da pelo Espírito Santo (Atos 5.32). Vemos, também, que Deus colocou na Igreja apóstolos, profetas, doutores (professores), milagres, socorros, governos, variedades de línguas (1 Coríntios 12.28). A mesma expressão é usada para esses dons que também é utilizada para as várias partes do corpo humano em 1 Corín­tios 12.18. Noutras palavras, assim como os olhos, os ouvidos, as mãos e os pés são necessários para o funcionamento do corpo, também esses dons do ministério, pela própria natureza da Igreja, são necessários para seu perfeito funciona-mento.O9)

O ministério apostólico, pois, é uma obra do edificar igrejas, exercido com os milagres que são a obra do Espírito Santo. Os apóstolos estabeleceram igrejas, dirigidas pelos presbíteros (bispos ou superintendentes, oficiais administrativos eleitos pelos crentes) e diáconos (ajudadores, também eleitos pelas congregações). Semelhante ministério continua no decurso da História da Igreja, e ainda é necessário nos dias de hoje. Falsos apóstolos surgem (Apocalipse 2.2), mas precisam ser testados pelos seus ensinos (Gálatas 1.8) e por sua vida. Os verdadeiros apóstolos edificavam a Igreja. Nenhum deles suscitou um grupo para lhe seguir.

Profetas, os que Falam em Nome de Deus

Jesus era o grande Profeta, o que havia de vir, segundo o Antigo Testamento (Atos 3.22; Mateus 21.11; João 6.14; 7.40; Deuteronômio 18.15).

O profeta, no Antigo Testamento, era um porta-voz de Deus, cheio do Espírito Santo, orientado para o que devia fazer e dizer. (Comparar Miquéias 3.8; Amos 3.8; Êxodo 7.1; 4.15,16).

A palavra, no Novo Testamento, também se refere a quem fala em nome de Deus, ao proclamar a revelação recebida diretamente do Senhor. Juntamente com os apóstolos, revelavam verdades que eram mistérios no Antigo Testamento, mas que agora são reveladas pelo Espírito Santo (Efésios 3.5), e, assim, ajudaram a estabelecer os alicerces da Igreja (Efésios 2.20). Isso subentende que foram usados para transmitir verdades que seriam incluídas no Novo Testamento.

Mas, assim como nos tempos do Antigo Testamento, havia muitos profetas que desafiavam o povo e o orientavam na adoração, mas não escreviam livros, também aconteceu no Novo Testamento. Muitos trouxeram iluminação e aplicação das verdades recebidas. Um bom exemplo é o de Silas e de Judas que levaram à Antioquia a decisão do Concilio de Jerusalém: "Depois Judas e Silas que também eram profetas, exortaram [encorajavam e desafiavam] e confirmaram [fortaleceram] os irmãos com muitas palavras" (Atos 15.32). Isso se encaixa muito bem na natureza da profecia conforme a vimos em 1 Coríntios 14.3.

Alguns profetas também eram usados para predizer o futuro, como Agaboemduas ocasiões (Atos 11.28; 21.11). Ele saiu de sua casa na Judéia para levar as mensagens de Deus. Em conseqüência da primeira, foi levantada uma oferta para ajudar a igreja em Jerusalém durante uma fome prevista e acontecida. Na segunda, a igreja foi avisada a respeito da prisão do apóstolo Paulo. Em nenhuma delas estava envolvida alguma nova doutrina. Nem foram dadas instruções quanto ao que a igreja devia fazer. Isto era assunto dos membros, mediante o Espírito Santo. Nunca houve algo semelhante à adivinhação, no ministério desses profetas.

Os que são usados regularmente pelo Espírito no exercício do dom de profecia na congregação, também são chamados profetas (1 Coríntios 14.29,32,37). A Bíblia adverte contra os falsos profetas que alegam ser usados pelo Espírito Santo, mas devem ser submetidos aprova (1 João4.1).

Evangelistas, Proclamadores de Boas Novas

O evangelista é o pregador do Evangelho, o proclamador das boas novas. Jesus foi ungido para pregar o Evangelho, e era conhecido pela sua mensagem de boas novas aos pobres (Lucas 4.18; 7.22).

A palavra evangelista é usada somente em duas passagens do Novo Testamento. Filipe ficou conhecido como evangelista (Atos 21.8). Depois, Paulo conclamou Timóteo a fazer a obra de um evangelista (2 Timóteo 4.5). Mas o verbo correspondente, com seu substantivo, é usado muitas vezes no sentido de trazer boas novas, de declarar o cumprimento das promessas (Atos 13.32), de pregar o Evangelho da graça de Deus, o Evangelho da paz, ou de simplesmente pregar a Cristo. O Evangelho são as boas novas a respeito de Jesus Cristo, que veio, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (João 3.17).

Ao usar Filipe como exemplo, vemos que o ministério de evangelista o levava a pessoas que não conheciam o Senhor, conforme aconteceu em Samaria, onde os milagres trouxeram alegria e o povo creu em sua pregação e foi salvo (Atos 8.6-8,12). Depois, foi levado pelo Espírito Santo ao eunuco etiope, a quem pregou (evangelizou, trouxe as boas novas) a respeito de Jesus (Atos 8.35). Portanto, tanto o evangelismo em massa como o pessoal são obra do evangelista.

Observa-se aqui uma distinção entre o evangelista e o profeta que freqüentemente não é notada. O primeiro não ia às igrejas, mas

aos pecadores. O segundo, no entanto, dirigia-se às congregações. No caso de Judas e Silas, sua obra era despertar, animar e fortalecer os crentes. Portanto, os profetas eram usados no reavivamento. É claro que havia combinações entre esses ministérios. Muitas vezes, o evangelismo é muito mais fácil, quando a igreja local é despertada, reavivada e fortalecida. Paulo informa que alguns são profetas e outros, evangelistas.

A Bíblia também nos adverte a respeito dos evangelistas. Há os que pregam outro evangelho e devem ser desconsiderados, pois são réus da condenação eterna (Gálatas 1.8,9).

Bons Alimentos dos Pastores-Mestres

Embora alguns entendam que pastores e mestres são ministérios distintos em Efésios 4.11, estão unidos entre si. A repetição das palavras uns e outros indica que apenas quatro ministérios são contemplados, e que os pastores também são mestres.

Pastor, aqui, não é usado no sentido moderno da palavra. (Nossos pastores ficam mais perto do ancião-presbítero-bispo do Novo Testamento, o oficial administrador da igreja local, "apto para ensinar": 1 Timóteo 3.2).

A palavra pastor, em todas as passagens do Novo Testamento, alude-se ao apascentador de ovelhas. A mesma palavra grega se refere a Jesus como o grande Pastor das ovelhas (Hebreus 13.20), nosso Bom Pastor (João 10.2,11,14,16; 1 Pedro 2.25). O pastor oriental levava seu rebanho para a comida e a água (Salmos 23.2). A própria palavra pastor em Hebraico significa alimentador. A principal preocupação do pastor, segundo o uso do termo aqui, não é, portanto, dirigir os negócios da igreja, mas ensinar os membros. O bom alimento, naturalmente, é a Palavra de Deus. E a tarefa do pastor-mestre é explicá-la e torná-la mais fácil para o povo compreender, assimilar e aplicar. Vivemos em um mundo em evolução, quando novos problemas, novas perguntas e novas circunstâncias precisam da ajuda de um mestre para indicar os princípios da Palavra de Deus e demonstrar como se relacionam com nossa vida diária. Esta é a obra do mestre que tem o dom do Espírito Santo e é dedicado a Cristo.(20)

Jesus é, também, o Grande Mestre. O Espírito Santo se destaca como o Ensinador, tanto quanto Ele é o Espírito de Poder e de Profecia, ou talvez ainda mais (João 14.17,26). É verdade que o Espírito Santo nos ensina diretamente (2 Coríntios 3.3; João 6.45; 1 João 2.20,27; Jeremias 31.34). Não precisamos da autoridade humana para obter a certeza da nossa salvação, nem necessitamos de alguém para nos ensinar sobre o Senhor, de uma maneira mais eficiente e pessoal. O Espírito Santo e a Palavra bastam para isso.(21)- Mas mestres com o dom do Espírito, dados por Cristo à Igreja, podem ressaltar verdades negligenciadas, e ajudar a treinar e a inspirar outros para também se tornarem mestres. Deus quer que todos se tornem mestres, para que ensinem a Palavra aos outros. Mas, primeiramente, precisamos de mestres que nos alimentem com o leite e a carne da Palavra (Hebreus 5.12-14).

Apoio é um exemplo de mestre que "regava" o que Paulo plantara em Corinto, e que ajudava as pessoas a crescer espiritualmente, mediante seu ensino que trazia refrigério (Atos 18.27; 1 Coríntios 3.6). O seu ensino deve ter vindo com "os rios de água viva", com o poderoso transbordar do Espírito Santo (João 7.38).(22) Lembre-se, também, que Apoio tinha um espírito apto para aprender (Atos 18.26).

Infelizmente, há os que "aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade" (2 Timóteo 3.7), líderes cegos dos cegos (Mateus 15.14), falsos mestres que negam o Senhor que os comprou (2 Pedro 2.1). A estes, Deus não poupará. Os cristãos, que amam e honram a Jesus, podem desfrutar da união no Espírito e na fé, mesmo se discordarem entre si em alguns aspectos, ou até mesmo nos seus métodos de interpretar a Bíblia. Amamos os pecadores, mesmo os que negam o Senhor, quando os atraímos de volta para Deus. Mas isso é diferente da comunhão no Espírito que desfrutamos com os crentes, comunhão esta que cresce à medida que mantemos um espírito apto para aprender.

Dons para Trazer Edificação à Igreja Local

Conforme foi indicado, os dons relacionados em 1 Coríntios 12.8-10 devem ser exercidos um por vez, em várias ocasiões e por diversas pessoas, conforme o Espírito Santo deseja. Deve ser notado, ainda, que cada um desses dons é dirigido às necessidades da Igreja, mais do que aos anseios do que é usado pelo Espírito para ministrar o dom.

Uma Palavra de Sabedoria

Trata-se de uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria dada para satisfazer a necessidade de alguma ocasião ou de algum problema específico. Não depende da capacidade humana nem da sabedoria natural, pois é uma revelação do conselho divino.(22) Mediante esse dom, a percepção sobrenatural, tanto da necessidade como da Palavra de Deus, traz a aplicação prática daquela Palavra à necessidade ou ao problema do momento.

Porque é uma palavra de sabedoria, fica claro que é concedida apenas o suficiente para aquela necessidade. Esse dom não nos enaltece para um novo nível de sabedoria, nem nos torna impossibilitados de cometer enganos. Simplesmente nos permite usufruir dos depósitos ilimitados de Deus (Romanos 11.33). As vezes, este dom transmite uma palavra de sabedoria para orientar algreja, assim como em Atos 6.2-4; 15.13-21. É possível, também, que cumpra a promessa dada por Jesus, que daria "boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem" (Lucas 21.15). A prova de que Jesus falava em um dom sobrenatural (a palavra de sabedoria) é comprovada, quando proibiu a premeditação do que diriam nas sinagogas ou diante dos tribunais (Lucas 21.13,14). Isso certamente foi cumprido pelos apóstolos e por Estêvão (Atos 4.8-14,19-21,6.9,10).

Uma Palavra de Conhecimento

A sabedoria relaciona-se com o conhecimento. Logo, o dom (proclamação, declaração) de conhecimento tem estreito relacionamento com o dom da palavra de sabedoria. Perscrutando as Escrituras, vemos que muita coisa é dita a respeito da "iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios 4.6), e do perfume celestial do conhecimento que Deus nos dá de Cristo (2 Coríntios 2.14).

A oração de Paulo pelos Efésios é: "Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação..." (Efésios 1.17-23). Pelos colossenses, Paulo também ora: "que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Colossenses 1.9,10). Tiago conclama à demonstração do conhecimento através de boas obras em bom trato (modo de vida louvável) (Tiago 3.13).

Há grande ênfase no conhecimento da verdade, ou seja: a verdade revelada no Evangelho (1 Timóteo 2.4; Hebreus 10.26). O conhecimento também inclui as exigências segundo o Evangelho e a sua aplicação (1 Pedro 3.7; 2 Pedro 1.5,8). Paulo diz que os judeus tinham um zelo por Deus, mas não segundo o conhecimento (Romanos 10.2). Os que possuem o conhecimento das exigências de Deus não tropeçam por causa dos escrúpulos dos que são fracos na fé, nem levam os outros a tropeçar (1 Coríntios 8.1,8,10, comparar Romanos 14.1-18).

O conhecimento, portanto, tem a ver com o conhecimento de Deus, de Cristo, do Evangelho e da aplicação do Evangelho ao viver cristão. Paulo diz, ainda: "Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina" (1 Coríntios 2.12,13).

Tudo isso se encaixa com a promessa de Cristo de que o Espírito da Verdade testificaria dele, ensinaria todas as coisas, e guiaria em toda a verdade (João 15.26; 14.26; 16.13). Há só uma conclusão possível. Uma palavra de conhecimento vem como uma declaração da verdade do Evangelho ou como a aplicação dela. É um dom que traz a iluminação sobrenatural do Evangelho, especialmente no ministério do ensino e da pregação.(24) Deus concedeu, sem dúvida, conhecimento de fatos, através de visões e de várias outras maneiras, mas não há absolutamente alguma indicação na Bíblia de que o dom da palavra do conhecimento visa trazer revelações sobre onde achar objetos perdidos ou qual o pecado ou enfermidade de uma pessoa. Pelo contrário, oferece profundo conhecimento das Escrituras.

Um exemplo disso pode ser visto na casa de Cornélio. Os discípulos, que estavam com Pedro, ficaram atônitos, quando ouviram os gentios falar em línguas conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Pedro, porém, viu que se tratava do selo da aprovação divina sobre a fé dos gentios, e proferia uma palavra de conhecimento naquela ocasião, e depois, no Concilio de Jerusalém (Atos 10.47,48; 15.7-11).

A Fé

A fé, como um dom, é obviamente diferente da salvífica e da fidelidade que é o fruto do Espírito. Alguns entendem que se trata da fé que move montanhas, ou do tipo da que foi demonstrada pelos heróis da fé em Hebreus 11.(25) Mas assim como uma palavra de sabedoria é dada à Igreja para satisfazer a necessidade de um item específico de sabedoria, também este dom pode ser a transmissão de fé ao Corpo. O Espírito Santo pode usar um cântico, uma oração, um testemunho, ou a pregação como um canal para comunicar a fé ou erguer o nível da fé na Igreja. Essa comunicação da fé fez de Paulo um ministro capaz do Novo Testamento (novo concerto) (2

Coríntios 3.4-6). Capacitou-o a ajudar outros a receber o Espírito mediante a pregação da fé (Gálatas 3.2,5). Certamente, também, foi manifestada na oração uníssona que produziu um novo derramamento do Espírito em Jerusalém (Atos 4.31). Possivelmente, também tem sido expressada na forma de poder para levar a efeito outros tipos de ministério.

Dons de Curas

No grego, as palavras dons e curas estão no plural. Alguns en­tendem que isso significa que há uma variedade de formas desse dom.(26) Entre os que pensam assim, há quem entenda que certas pessoas têm um dom de curar um tipo de doença ou enfermidade, ao passo que outros curam outro tipo. Filipe, por exemplo, foi es­pecialmente usado para curar os paralíticos e os coxos (Atos 8.7). Outros, ainda, entendem que Deus dá a uma pessoa um dom na forma de um suprimento de curas numa ocasião específica, ao passo que outro suprimento é dado em outra ocasião, talvez a outra pessoa, mais provavelmente no ministério do evangelista.(27) A cura do coxo na porta Formosa é considerada um exemplo disso (Atos 3.6,7).

Ainda outros entendem que toda cura é um dom especial(28), isto é, o dom é para o enfermo que tem a necessidade. Logo, segundo esse ponto de vista, o Espírito Santo não torna os homens curadores. Pelo contrário, Ele providencia um novo ministério de cura para cada necessidade, à medida que ela surge na Igreja. Por exemplo, a virtude (poder) que fluiu para dentro do corpo da mulher com o fluxo de sangue trouxe para ela um gracioso dom de cura (Mateus 9.20-22). Atos 3.6 diz, literalmente: "O que tenho, isso te dou". Isso está no singular e indica um dom específico dado a Pedro para este dar ao coxo. Não parece significar que tinha um reservatório de dons de curas dentro de si mesmo, mas um novo dom para cada enfermo a quem ministrava.

Não há evidência de que os apóstolos conseguiam curar sempre

quando se sentiam dispostos, mediante algum poder residente de cura. Nem consideravam a cura o seu ministério principal. Lemos a respeito de milagres extraordinários pelas mãos de Paulo em Éfeso (Atos 9.11). Isso dá a entender que, em conexão com o estabelecimento das sete igrejas na Ásia, através do ministério de Paulo em Éfeso, foram realizados milagres incomuns que não aconteciam em todos os lugares. Sendo assim, Paulo não possuía em si mesmo nenhum dom automático que o tornasse um curador. Em Éfeso, Deus usou lenços (suadouros) e aventais (de serviço) tirados de Paulo, enquanto fazia tendas. Os milagres realizavam-se, à medida que esses objetos se tornaram instrumentos para os enfermos expressarem a sua fé. Não é fácil para um doente mostrar a sua fé, e Jesus freqüentemente fazia algo para encorajar a expressão ativa da fé. Em certa ocasião, até mesmo a sombra de Pedro foi um desses meios (Atos 5.15,16). Mas as maneiras empregadas sempre variavam entre si, e nunca lhes era permitido tornar-se em formas ou cerimônia. Deviam depositar sua fé no Senhor, e não nos meios usados para ajudá-los.

Isso nada tem a ver diretamente com os dons de curas. A ênfase em 1 Coríntios 12.9 recai na expressão desse dom, através dos vários membros individuais do Corpo. Não precisamos procurar um evangelista. (A obra dele visa primeiramente os pecadores). Talvez, nem sempre seja possível chamar os presbiteros (Tiago 5.14,15). Mas os dons de curas estão disponíveis a todos os membros da Igreja para ministrarem aos enfermos.

Operações de Maravilhas

Aqui, os dois substantivos em grego estão no plural e, de novo, a idéia é que muitas variedades de milagres ou atos de poder estão disponíveis. Maravilhas é o plural dapalavra virtude [ou poder] em Atos 1.8, e significa atos de grande poder sobrenatural que vão além de qualquer coisa realizada pelo homem. São intervenções divinas que se distinguem das curas.

Palma afirma que operações é usada quase exclusivamente para a atividade de Deus (Mateus 14.2; Marcos 6.14; Gálatas 3.5; Filipenses 3.21) ou de Satanás (2 Tessalonicenses 2.7,9; Efésios 2.2). Sugere, portanto, que esse dom é especialmente operativo em conexão com o conflito entre Deus e Satanás. Esses atos de poder, que levam Satanás à derrota, podem incluir o castigo da cegueira imposto a Elimas (Atos 13.9-11) e a expulsão de demônios.(29)

Alguns entendem que esse dom envolve a ressuscitação dos mortos ou os milagres na natureza inanimada, tais como acalmar a tempestade e andar sobre as águas.(30) Mas Donald Gee informa que faltam milagres sobre a natureza inanimada, tanto em Atos como nas Epístolas. Paulo sofreu quatro naufrágios. A descrição daquele em Malta demonstra que a providência divina conduziu todos à terra firme, mas a nado, e não mediante um milagre (2 Coríntios 11.25-27; Atos 27.43; 28.5). Há, apenas, dois registros de ressurreição de mortos (Atos 9.40; 20.10). Nos outros casos, foi-lhes indicado o consolo da ressurreição e da volta de nosso Senhor (1 Tessalonicenses 4.13-18).(31)

Tanto os dons de curas como os de operações de milagres demonstram-nos, e ao mundo em nosso derredor, que Jesus realmente é o Vitorioso. Na Cruz, o preço foi pago e a condenação de Satanás foi confirmada. Mas os resultados finais de tudo isso só serão vistos quando formos transformados e recebermos nosso corpo imortal e incorruptível, e Satanás for lançado no lago do fogo e o último inimigo, a morte, destruída (1 Coríntios 15.51-54; 15.26; Apocalipse 20.10-14). Entrementes, há dons espirituais a nossa disposição, para nos conceder um antegozo disso em curas e milagres, não conforme as exigências que fazemos, mas conforme o Espírito Santo deseja (1 Coríntios 12.11).

A Profecia

A natureza desse dom já foi estudada em conexão com 1 Coríntios 14 e com o profeta. Tudo quanto precisa ser enfatizado

aqui é que o dom estava à disposição de qualquer membro da congregação, e não apenas dos que tinham o ministério profético. De fato, por causa da edificação que a Igreja recebe através desse dom, todos são encorajados a buscá-lo. A profecia relaciona-se, também, com a iluminação dos mistérios do Evangelho. Além disso, pode haver uma variedade de expressões do dom.(32) Mas, na maioria dos casos, parece ser dirigido ao corpo dos crentes reunidos. O sermão de Pedro, conforme já foi indicado, foi um cumprimento da promessa de Joel a respeito do dom de profecia. Mas Pedro classificou as línguas, também, como parte daquele cumprimento e, conforme indica 1 Coríntios 14, elas precisam de interpre­tação, para edificarem. Tendo em vista, porém, a natureza do sermão de Pedro, é possível que durante a pregação em outras ocasiões em Atos, o dom de profecia tenha estado em operação. O pregador precisa mesmo preparar-se, mas ainda poderá haver ocasiões em que o Espírito Santo lhe dará alguma coisa a mais do que aquilo que tem nas suas anotações. Se a experiência dos profetas do Antigo Testamento serve como orientação, vemos que Deus freqüentemente lidava com eles, enquanto estavam a sós com Ele, e depois os enviava para pro­fetizar, para falar em nome dele. Através da profecia, o Espírito Santo toca nos pontos sensíveis, revela o que está oculto, e produz a convicção e a adoração, bem como o encorajamento e o estímulo à ação.C3)

Os Discernimentos de Espíritos

Mais uma vez, os plurais indicam uma variedade de formas em que este dom pode manifestar-se. Envolve um "distinguir entre" espíritos. Posto que é mencionado imediatamente depois do dom de profecia, sugere-se que está envolvido no julgar mencionado em 1 Coríntios 14.29.(34) O fato é que a pa­lavra discernimento significa formar um juízo e se relaciona com a palavra usada para julgar profecias. Envolve uma percepção que é dada de modo sobrenatural, para diferenciar entre os espíritos, bons e maus, genuínos ou falsos, a fim de chegarmos a uma conclusão.

João diz que não devemos crer em todos espíritos, mas prová-los (1 João 4.1). Às vezes, um dom do Espírito é necessário para fazer isso. A Bíblia, na realidade, fala em três espíritos: o de Deus, o do homem e o do Diabo (com os maus espíritos ou demônios com ele associados). Na operação deste dom na congregação, parece que o espírito do homem talvez cause mais problemas. Mesmo com as melhores intenções, é possível que algumas pessoas tenham a impressão de que seus próprios sentimentos são a voz do Espírito Santo. Ou, por causa do zelo excessivo ou da ignorância espiritual de como a pessoa se rende ao Espírito Santo, seu espírito possa intrometer-se.(35)

Como os demais dons, este não ergue o indivíduo a um nível mais alto de capacidade. Nem oferece a alguém o poder de olhar as pessoas e dizer de que espírito são. É um dom apropriado para uma ocasião específica. Alguns exemplos podem ser achados, possivelmente, em Atos 5.3; 8.20-23; 13.10; 16.16-18.

Línguas, Tipos ou Famílias de Idiomas

A natureza desse dom também já foi descrita em conexão com

1 Coríntios 14. Faz parte da rica variedade de dons que operam através da multidão dos crentes, mediante o mesmo Espírito Santo. O Novo Testamento indica que era comum e considerado desejável.(36)

Os paralelos entre Atos e 1 Coríntios 14 indicam que o dom, aqui, tem a mesma forma revelada pela evidência em Atos; mas o propósito em 1 Coríntios 12 é como um dom manifestado na igreja e que necessita de interpretação para trazer edificação.

É freqüentemente chamado "linguagem extática inarticulada" por pessoas que não tiveram a experiência; mas não é assim que Paulo considera o dom. Por ele falamos com Deus. Envolve comunicação. Por ele falamos mistérios, que para Paulo sempre significa verdades espirituais (1 Coríntios 14.2). A palavra grega significa idiomas, e não meras sílabas sem sentido. (37)

Se as línguas estranhas parecerem sílabas sem sentido, era assim que o idioma dos assírios soava para os hebreus (Isaías 28.11.13). Para os que não conhecem o hebraico, esse idioma também soaria como sílabas sem sentido. Nosso Pai, em hebraico, é pronunciado "a-vei-nu". "Não temerei o mal" é "lo ei-ra ra". Posto que as línguas são freqüentemente um meio de adoração e louvor, pode-se observar exclamações e repetições em muitas passagens bíblicas. Salmo 150.2: "Louvai-0 pelos seus atos poderosos", é pronunciado: "ha-le-lu-hu bi-g'vu-ro-tav". Depois, "ha-le-lu-hu" é repetido muitas vezes nos versículos que se seguem.

Não importa como as línguas soam, e nem se são idiomas de homens ou de anjos; elas significam idiomas tanto em Atos como em Coríntios. Quando falamos em línguas estranhas, o nosso espírito ora, pois ele é o meio pelo qual o dom opera e, assim, entrega a Deus nosso espírito e nossa vontade, e não apenas nossa língua e nossos órgãos vocais para a operação do dom (1 Coríntios 14.14).(38) O resultado é a linguagem, conforme o Espírito determina que falemos.

A Interpretação das Línguas

A interpretação é usualmente considerada a transmissão do si­gnificado ou do conteúdo essencial da expressão vocal em línguas(39) O significado básico da palavra é tradução. O verbo correspondente é usado para tradução em João 1.42; 9.7; e Hebreus 7.2. Mas pode significar ou tradução ou interpretação. (40) Mas mesmo quando significa tradução, não se trata necessariamente de palavra por palavra. A tarefa do tradutor é dar às palavras bom sentido e boa gramática. Por exemplo: Salmos 23.1 consiste em apenas quatro palavras em hebraico, mas em português usamos nove.

O dom, é lógico, não subentende nenhum conhecimento do idioma por parte do intérprete. É recebido diretamente do Espírito Santo, e vem à medida que prestamos atenção ao Senhor mais do que às línguas estranhas. Além disso, o dom pode chegar de várias maneiras, "ou por visão, ou por solicitude espiritual, ou por sugestão, exatamente conforme o Senhor determinar".(41) Um passo de fé pode ser exigido, também, porque o Espírito Santo freqüentemente oferece apenas poucas palavras para a interpretação. Em seguida, depois de terem sido pronunciadas pela fé, o restante vem conforme o Espírito capacita a falar.(42)

Administração (Governos)

O plural parece indicar uma variedade de expressões do dom para cumprir as necessidades de uma posição de liderança ou de administração (1 Coríntios 12.28). Outros usos dessa palavra fora do Novo Testamento subentendem transmitir conselhos sábios. Um substantivo estreitamente correlato significa o timoneiro ou piloto do navio (Atos 27.11). Parece que subentende dirigir os negócios de uma congregação, bem como liderar espiritualmente.

Provavelmente, esse era o dom do Espírito especialmente para o principal administrador, chamado o ancião ou presbítero, em comparação com os chefes das sinagogas, e chamado bispo ou superintendente na língua grega. Tratava-se de um oficial eleito que devia ser escolhido, não por politicagem nem pela influência de poder, mas mediante a sabedoria do Espírito dada à Igreja. Então, ele era equipado com os dons do Espírito e dependeria deles, e não apenas da sua capacidade de líder.

O plural também pode indicar que o dom estava à disposição de outros cargos que envolviam liderança ou administração.

Socorros, Atos Úteis

O plural indica, de novo, uma variedade de atos úteis que podem ser inspirados por esse dom. O verbo correspondente significa tomar o partido de alguém, vir socorrer alguém. É usado para o socorro aos fracos (Atos 20.35), e para dedicar-nos à bondade (1 Timóteo 6.2).

A palavra era usada, às vezes, nos antigos tempos como um termo técnico bancário: "contador-mor".(43) Esse conceito se encaixava no trabalho para o qual os sete foram escolhidos em Atos 6.2,3. Ali, a palavra mesas significa bancas de dinheiro, e se refere a um fundo de caixa que Paulo reforçou duas vezes com as ofertas que trouxe. Ele sempre cuidava para que as finanças fossem manipuladas com cuidado, e de conformidade com as instruções das igrejas. Não há algo de "anti-espiritual" nas questões do dinheiro na obra da igreja. Isto indica, também, que os diáconos, que eram "cheios do Espírito Santo e de sabedoria" (Atos 6.3), exerciam essa responsabilidade, e o Espírito fornecia-lhes os dons que necessitavam para o seu trabalho. Eles também ministravam a ajuda da igreja aos pobres, aos fracos e aos doentes. Logo, o significado comum de ações úteis também se aplica ao cargo deles, conforme o vemos na Igreja Primitiva.

Ministério, Serviço, Diaconato

Romanos 12.7 usa a palavra ministério ou serviço, provavelmente referindo-se ao ministério diaconal. A mesma palavra grega é usada tanto para o ministério da Palavra como para o dos sete diáconos em Atos 6.2,4. Freqüentemente era usada para o preparo de uma refeição, e também para os vários tipos de serviço espiritual, tal como o ministério da reconciliação (2 Coríntios 5.18). Outro uso comum era o de auxílio, ou o de distribuição de auxílio aos pobres. Isso também se encaixa no exercício do diácono. Logo, o significado, aqui, do dom do ministério é mais provavelmente o dom do Espírito que capacita o diácono a cumprir sua tarefa com poder e sabedoria. Naturalmente, não é limitado aos diáconos.

Exortação

Embora 1 Coríntios 14.3 inclua esse dom dentro do de profecia,

Romanos 12.8 relaciona-o como um dom distintivo. Abrange as idéias de conclamar, desafiar ou fazer um apelo. É possível, também, que o verbo tenha a idéia de conciliar, encorajar amizade, levar a efeito a unidade do Espírito.

A exortação específica de perseverar até o fim e de conservar diante de nós a esperança da vinda de Cristo é outro aspecto importante desse dom. Nossa esperança é um elemento vital em nossa vida cristã, e embora o estudo das Escrituras seja importante para mantê-la (Romanos 15.4), o dom do Espírito pode encorajar-nos à luz dessa esperança, e pode fazê-la viver.

Contribuir, Repartir

Trata-se de dar uma parte daquilo que possuímos, compartilhar com outros, especialmente conceder aos necessitados (Efésios 4.28). Conforme indica Efésios, não se trata primeiramente de um dom do Espírito para ajudar os ricos a distribuir as suas riquezas. Os pobres são conclamados a trabalhar com as mãos, a fim de poderem compartilhar com os necessitados. Era esse o dom ou ministério do Espírito em que todos participaram imediatamente após o Pentecoste (Atos 2.44,45; 4.34,37). Devia ser feito com singeleza, sinceridade e generosidade. Barnabé foi um dos melhores exemplos, ao passo que Ananias e Safira demonstraram o contrário.

Presidir, Dirigir, Cuidar, Dar Ajuda

Embora "presidir" seja usado a respeito do exercer a supervisão sobre alguma coisa, também é utilizado no sentido de exercer solicitude, de cuidar das pessoas, de prestar ajuda. Mais uma vez, liderar não significa dominar os outros, nem de ser tirano, mas servir.C4) Não se pensa, aqui, em governar no sentido de dirigir a obra do Espírito ou de destruir a espontaneidade da adoração. Esse dom, pelo contrário, ajuda nossos líderes a cuidar das nossas almas e leva a igreja a ser solícita na mútua ajuda, sob a liderança que Deus nos deu.

Exercer Misericórdia

Esse último dom na lista de Paulo (Romanos 12.8) tem a ver com o ministério da prática de atos de misericórdia, da ajuda ao próximo de modo gracioso e compassivo. Envolve o cuidado pessoal dos necessitados, dos enfermos, dos famintos, dos nus (daqueles que têm insuficiência de roupas) e dos encarcerados. É um dos dons mais importantes, conforme Jesus declarou (Mateus 25.31-46).

Podemos também incluir o ministério exercido por Dorcas (Atos 9.36-39). Mas, percorrendo as Escrituras, vemos o cego clamando a Jesus, pedindo um ato de misericórdia para que ele enxergasse (Marcos 10.47,51). O rico, no Hades, pediu que Lázaro fosse enviado, numa missão de misericórdia, para levar uma gota de água e refrigerar a sua língua (Lucas 16.24). O samaritano evidenciou atos de misericórdia ao homem que caiu entre salteadores (Lucas 10.37). Mas a mesma palavra é freqüentemente usada a respeito da misericórdia de Deus ao dar salvação, bênçãos e ministério (Romanos 11.30; 1 Pedro 2.10; 2 Coríntios 4.1). O Senhor, portanto, é rico em misericórdia (Efésios 2.4). Esse dom, portanto, pode ministrar a misericórdia e ajuda de Deus aos necessitados, quer a necessidade deles seja física, financeira, mental ou espiritual.

Esse dom deve ser transmitido com alegria, bom ânimo e graça. Cumprir esses atos de misericórdia por mero senso de dever, ou na esperança de obter uma recompensa, ou como uma expressão de bondade humana, não bastará. De fato, a eficácia de um ato de misericórdia freqüentemente depende mais da maneira de ser feito do que exatamente o quê ou quanto é feito. É necessário o dom do Espírito para ter um ministério desse tipo. Mesmo assim, esse dom, juntamente com o de repartir, é acessível a todos nós e, de fato, é útil para todos nós. Bom seria se todo cristão lesse Mateus 25.31-46. Não importa o modo de interpretação dessa passagem: os princípios estão sempre ali. Embora a nossa salvação não dependa de obras, se ela for real, entrará em ação. O Espírito, que glorifica a Jesus, nos ajudará a fazer todas essas coisas.

Todos os Dons são Necessários

No decorrer da História eclesiástica tem havido dependência em demasia dos recursos humanos. Enquanto houver meios financeiros, equipamentos, mão de obra, materiais e perícias técnicas à disposição, os empreendimentos são promovidos com todas as expectativas do sucesso. Mas, freqüentemente fracassam, a despeito de tudo. Por outro lado, alguns têm começado com quase nada, mas com muita confiança em Deus e uma dependência dos dons e da ajuda do Espírito Santo, e o impossível tem sido realizado.

E algo maravilhoso aprender a usar os recursos humanos disponíveis, mas na dependência total do Espírito Santo. Os dons do Espírito são o meio primário de Deus edificar a Igreja tanto espiritual como numericamente. Nada mais consegue fazer isso.

Imagine um Rolls Royce, um Cadillac, ou um outro automóvel de luxo, com toda a parte externa, os estofamentos, as almofadas, a pintura, e talvez algumas jóias ou ouro como enfeite. Suponha, porém, que ao invés de ter motor, possuísse pedais para os ocupantes fazê-lo andar pelas próprias forças deles. E ridículo? Mas assim também é, aos olhos de Deus, a igreja que tem tanto potencial humano, belos prédios e equipamentos, organização e planejamento perfeitos, mas sem os dons do Espírito!

Assim como é para nós o dom do Espírito, o batismo com o Espírito Santo, também todos os dons nos são designados. Porque não reivindicá-los, exercê-los, depender deles? São os meios que Deus providenciou, a fim de que avancemos de acordo com o que nos foi dado por Cristo Jesus nosso Senhor. O Espírito Santo, que gosta de honrar e revelar a Jesus, ministrará o seu poder a nós e por nosso intermédio. Ele não nos decepcionará. Todos os dons, pois, glorificarão a Jesus e nos prepararão para sua vinda. Então, já não serão necessários. Mas até então, eles o são.

 

 

 

Extraído do Livro: Stanley M. Horton - O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo. cap.10, pp 145-162, CPAD.

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