terça-feira, 26 de julho de 2011
Multiplicação Dos Pães Para os Cinco Mil
I. Descrição
Esta seção, que é um dos milagres sobre a natureza feitos por Jesus, é o único milagre relatado em todos os quatro evangelhos. (Ver Mc 6:30-44; Lc 9:10-17; Mt 14:13-21; Jo 6:1-14). Sem dúvida chegou até nós proveniente de várias fontes, conforme se demonstra no manuseio diferente do incidente nos quatro evangelhos. Alguns estudiosos supõem, entretanto, que o que temos é apenas o manuseio diverso de uma única tradição. Isso é menos provável, entretanto. A menção dos «pães de centeio» (Jo 6:9) faz-nos lembrar do milagre de Elias, em II Reis 4:42-44. (Ver também I Rs 17:9-16). Porém, a despeito das similaridades, não há motivo para supor-se que temos aqui meramente uma narrativa inventada, mediante a qual o evangelista queria ensinar que Jesus é, espiritualmente falando, o pão da vida. Não tenhamos dúvidas de que Jesus possuía o poder de realizar o que lhe é atribuído aqui, rejeitando todas as interpretações — céticas e racionalistas — que buscam roubar-lhe — sua glória — e o seu altíssimo desenvolvimento espiritual, obtido mediante a comunhão com o Espírito Santo. Isso também está franqueado a nós, pelo que temos grande lição para as nossas próprias vidas. Assim, se quedamos admirados ante o que ele dizia e fazia, resta-nos lembrar que o intuito do evangelho é que tudo quanto havia em Cristo também se acha em nós (ver Jo 12:14; Cl 2:10; II Co 3:18; Ef 3:19 e II Pe 1:4). Esse é o aspecto da vida de Jesus que mais facilmente esquecemos. Sua vida, e não apenas sua morte, se reveste de imensa importância. Ele é o Caminho; mas é também o Pioneiro do caminho, o qual mostra aos homens como eles podem e devem retornar ao Pai. Nesse retorno há comunhão de natureza dentro da família divina, conforme se aprende em Hb 2:10 ss. Essas são doutrinas elevadíssimas, que excedem infinitamente à mensagem do mero perdão de pecados e de transferência de cidadania para os céus. O evangelho consiste muito mais do que se realiza em nós, e não do lugar onde habitaremos.
Comer e beber são metáforas familiares que apontam para a satisfação de nossas necessidades espirituais. (Ver Jesus como o pão da vida, em Jo 6:48).
O milagre envolveu a multiplicação de matéria física, um ato de criação. Existem pessoas que, a despeito de aceitarem diversos outros milagres de Jesus, especialmente curas, negam este prodígio, achando que só pode ter tido origem psicológica ou psíquica. É evidente que, nessa ocasião, Jesus se utilizou de seus poderes divinos, ou, pelo menos, sobrenaturais, em vez de expressar a sua personalidade humana, que no caso dele era extraordinariamente desenvolvida por causa de busca e experiência espirituais. Jesus usualmente usou esses poderes, disponíveis a qualquer indivíduo que use os meios fornecidos por Deus para desenvolver-se espiritualmente. É verdade que nos utilizamos do poder do Espírito Santo, porém devemos lembrar que esse poder é dado ao homem não somente como instrumento para ser usado em separado da personalidade humana, porquanto o poder do Espírito Santo é outorgado ao homem para que faça parte de sua própria personalidade.
O plano do evangelho é transformar o ser humano até que ele se torne um ente superior, mais poderoso e mais inteligente do que os anjos; portanto, o poder do Espírito Santo vem fazer parte da expressão humana. Ver em Rm 8:29 sobre essa transformação do ser humano segundo a imagem de Cristo. Mas aqui, neste texto, achamos um tipo de milagre que certamente está além da capacidade da personalidade humana, pois se trata de um milagre que ilustra os poderes divinos de Jesus. Lembremo-nos que ele operou outros milagres sobre a natureza, como quando a água foi transformada em vinho (João 2), quando andou à superfície do mar (vss. 22,23 deste capítulo), ou quando fez cessar a tempestade (Mt 8:23-27), etc. Jesus, portanto, mostrou que era capaz de operar milagres de criação.
II. Interpretações
1. Interpretação natural. Como as pessoas que tinham levado alimentos repartiram-nos com os que nada tinham levado, quando Jesus distribuiu os dois peixinhos e cinco pães, e então todos fizeram o mesmo com o que cada um possuía, fica eliminado o elemento miraculoso. Essa é a interpretação exegética, pela qual não houve milagre, mas apenas exemplo moral.
2. Interpretação mitológica. Não há base histórica para essa narrativa. Mateus lançou mão de exemplos do V.T., como Êx 16; I Rs 17:8-16 e II Rs 4:1,42, onde há histórias de fornecimento de alimentos por meios milagrosos.
3. Há a interpretação simbólica, que diz que diversas referências feitas a Jesus como o pão da vida, ou a instituição da Ceia, etc, formaram a mentalidade da igreja sobre a necessidade de inventar (ou de admitir a existência de) um milagre dessa natureza. Essa interpretação nega que o milagre tenha qualquer base na realidade histórica.
4. Há a interpretação parabólica, que diz que a intenção do autor foi apresentar um tipo de parábola, e não a de narrar um acontecimento verídico. Todas essas quatro interpretações representam esforços da imaginação. O texto não dá nenhuma indicação de tais possibilidades. É óbvio que a intenção dos quatro autores dos evangelhos foi mostrar que ocorreu um milagre notável na vida de Jesus.
5. A interpretação verdadeira é a que aceita a narrativa como um milagre notável e autêntico, feito por Jesus. Os intérpretes oferecem diversas ideias sobre á natureza do milagre e sobre o modo de agir de Jesus, como: a. Milagre abstrato, feito pelo poder divino, sem qualquer tentativa para explicar seja o que for, acerca das influências morais ou mentais que provocaram o milagre ou seu registro nos evangelhos. Essa ocorrência, pois, simplesmente demonstrou o poder divino de Jesus, que ultrapassa qualquer possibilidade de explicação, b. O milagre foi realizado a fim de ilustrar o poder miraculoso de Jesus e para ensinar lições espirituais e morais. Alguns intérpretes estendem essa ideia à eucaristia. O ato de Cristo serviu de exemplo ou símbolo da provisão de Deus para todas as necessidades do homem, em Cristo. Alguns expositores chegam a pensar que esse milagre foi símbolo do «milagre» da eucaristia, no qual o sangue e o corpo de Cristo são miraculosamente multiplicados, naquilo que se chama de doutrina da «transubstanciação». Aqueles que defendem essa interpretação também tentam explicar como o ato se verificou: a. pelo uso de matéria física já presente nos peixes e no pão, porém multiplicada. Assim Jesus não fez alguma coisa do nada, mas tão somente usou o seu poder para aumentar a quantidade de matéria já existente. Talvez seja possível essa explicação do milagre, mas dificilmente se pode afirmar outro tanto no que tange ao milagre da transformação da água em vinho; b. outros acham que o milagre deve ter incluído criação e não apenas multiplicação de matéria, o que o tornaria um milagre notabilíssimo, porque representou, em miniatura, uma nova criação. Por essa razão, sendo um milagre tão notável, é que os quatro evangelistas o teriam registrado. Todas essas explicações envolvem questões que dificilmente podem ser explicadas, porquanto nada se sabe sobre o poder de Deus quanto à criação da matéria. Pelo menos, podemos confirmar que o texto ensina um milagre verdadeiro, e que com grande probabilidade os autores dos evangelhos tiveram a intenção de ilustrar o notável poder de Jesus; outrossim, quiseram ensinar que Jesus era o pão da vida (conforme ele mesmo explica no sexto capítulo de João). A doutrina da transubstanciação, ensinada à base deste texto, não passa de um exagero de interpretação. Ver Mt 14:16,17.
A despeito do fato de que este texto relata um importante milagre de Jesus, também devemos notar que fica ilustrado, ao mesmo tempo, o intenso ministério de Jesus no tocante ao ensino. Durante todo esse tempo, a principal atividade de Jesus foi a do ensino. Ver Mt 15:32.
Bibliografia R. N. Champlin
FONTE:EBD AREIA BRANCA
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