O CASAMENTO CRISTÃO

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O CASAMENTO CRISTÃO

 

INTRODUÇÃO

 

O casamento cristão não é um compromisso irresponsável; não é um voto impensado; não é um contrato alheio ao casal. O casamento cristão é o meio lícito de constituir família, sendo a família projeto de Deus, o matrimônio é um voto sagrado entre duas pessoas do sexo oposto, o qual expressa as seguintes verdades:

1. Um propósito sério. (Ec 5.5; Mt 19.6) Pessoas sérias cumprem suas promessas e votos. A falta de seriedade pode ser uma questão de caráter. Para enriquecer o casamento, é necessário compromisso perseverante e fé determinada - algo que talvez alguns casais jamais puderam observar nos lares de suas respectivas infâncias.

2.Votos que obrigam. (Mt 5.37) Ninguém é obrigado a votar, porém, depois que o fizeram, são obrigados a cumprir esses votos.

A Bíblia desde Gênesis ao Apocalipse mostra a importância da família para a sociedade, para igreja e para todo mundo. Quando a Bíblia enfatiza o valor da família, também o faz ao casamento. Dando ao casamento um valor sacro-santo e indissolúvel, isto é, até que a morte os separe.

O que foi prometido deve ser cumprido até que a morte os separe. Segundo o que foi projetado por Deus, casamento não é um relacionamento descartável, é um compromisso que deve durar a vida inteira

O CASAMENTO CRISTÃO

No plano de Deus a união do casamento é indissolúvel. Jesus ensinou: ". . .o que Deus ajuntou não o separe o homem". Mateus 19:6. Lemos também: "A mulher está ligada enquanto vive o marido; contudo, se falecer o marido, fica livre para casar com quem quiser, mas somente no Senhor." I Coríntios 7:39.

Essa posição não é aceita por alguns especialistas do assunto. Para eles, o casamento é compromisso sério, mas não tão sério ao ponto de haver circunstância adversa que anula esse compromisso. Eles usam parte isolada da Bíblia para confirmar essa posição. Em Mateus 19.6a “Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério...”. Desse trecho bíblico, eles entendem que Jesus estava mostrando uma permissão para o divórcio, isto é, só em caso de infidelidade conjugal é permitido o divórcio na Bíblia.

Jesus não era casamenteiro, mas era especialista no assunto de casamento.Como especialista no assunto ele indicava que o divórcio ou separação do casal era dureza de atitude das pessoas (Mc 10.5). Esse tipo de dureza de atitude é uma válvula de escape para fugir à responsabilidade do casamento. Também se constitui uma transgressão a vontade perfeita de Deus. É forma desrespeitosa e teimosa que se manifesta não somente contra o casamento santo, mas especialmente a Deus.

A posição de Jesus com respeito ao divórcio é que este ocorria não pela vontade de Deus, mas por causa da dureza do coração dos homens.A posição errônea dos homens sobre o valor do casamento se justifica ao agirem de forma a defender o divórcio veementemente.

“Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mc 10.9). Este dito representa a posição de Jesus acerca do casamento cristão. Ocorre tanto em Marcos como em Mateus como a posição final de Jesus sobre o assunto.

O casamento é uma obra de Deus o homem não tem o direito destruí-la. Nessas passagens é fácil perceber a ação de Deus em ajuntar, e a responsabilidade do homem não separar, quer esteja no casamento quer fora.

A pergunta dirigida a Jesus foi feita objetivando uma resposta que apoiasse àqueles que defendiam uma posição mais liberal do divórcio o que Jesus não fez.

Havia duas posições em relação ao divórcio nos dias de Jesus: A posição do rabino Shammai e sua escola que ensinava que o único motivo para o divórcio era a infidelidade.O rabino Hillel e seus discípulos afirmavam que qualquer motivo que o marido tivesse daria base para o divórcio.

A posição de Jesus foi totalmente diferente dessas duas escolas rabínicas. Jesus mostrou que o casamento é um projeto de Deus, portanto não é pensamento humano que o estabelece, mas sim Deus na sua palavra. E mostra essa verdade desde o Antigo Testamento dizendo: “Mas no princípio não era assim”. Os princípios que estabelece o casamento e todas as suas nuances são maiores e anteriores aos pensadores rabínicos.

Jesus mostra a importância do casamento naquilo que Deus planejou, não naquilo que Moisés permitiu. Certamente a escola de Hillel que era mais praticada por ser mais liberal em relação ao divórcio ficou assustada com essa posição.A escola de Shammai representa aqueles que lutam para preservar o casamento, mas sem entendimento e sem direção de Deus. Jesus mostrou que o casamento cristão é muito mais sério do que aquilo que pensava Shammai. Jesus baseado na palavra de Deus e nos ensinos de Moisés mostra que o casamento não é aquilo que o rabino Hillel ensinava, nem o divórcio é a vontade de Deus para seu povo.

CONCLUSÃO

A Lei que aprovava a prática do divórcio no Antigo Testamento, não era aprovação de divina, mas uma regulamentação que restringia o seu uso. Na verdade, Deuteronômio 24.1-4 diz: “Se você divorciar sua esposa não voltará mais para você”.

Então, podemos concluir que o divórcio não encontra guarida na vontade de Deus.Jesus proíbe a separação do casal, mas o que ele está fazendo é proibindo o divórcio. “Portanto, o que Deus ajuntou não separe o homem”. (Mc. 10.9).

 

 

 

Damião silva.

CRESCENDO NA GRAÇA E NO CONHECIMENTO

sábado, 25 de setembro de 2010

 


“Ministério e Missão da Igreja"


Como um corpo, um organismo vivo, a Igreja deveria crescer para a maturidade, ‘à medida da estatura completa de Cristo’ (Ef 4.13; cf. vv.14-16). Como ajudar para esse desenvolvimento, Cristo deu alguns dons à sua Igreja, sob a forma de homens que realizariam várias tarefas. Alguns eram apóstolos, e outros eram profetas, evangelistas e pastores-doutores, para equipar os santos para a obra do ministério (Ef 4.11,12). Como os membros da Igreja eram batizados no Espírito Santo, cada um tinha um dom espiritual, ou mais, para edificar os outros na comunidade de crentes (1 Co 12.4-13; Rm 12.3-8; Veja Dons Espirituais). Cada um deveria servir de acordo com sua chamada e com sua habilidade (1 Pe 4.10,11).

A Igreja também deveria crescer no sentido de expansão. Cada crente deveria ser uma testemunha de Cristo por meio do poder do Espírito Santo (At 1.8), levando o evangelho a todas as criaturas, e fazendo discípulos em todas as nações (Mc 16.15; Mt 28.19; veja Comissão, A Grande).

Embora todos os crentes tivessem uma posição igual perante Cristo, o Cabeça, a Igreja organizou-se com a finalidade de assegurar seu funcionamento prático e ordenado aqui na terra. De certo modo, os apóstolos e os profetas eram sua fundação (Ef 2.20), os representantes autorizados por Jesus Cristo para completar a revelação de sua Palavra para seu povo. Nesse sentido básico do apostolado, não poderia haver sucessão dos apóstolos depois daqueles que haviam testemunhado o ministério e a ressurreição do Senhor Jesus (At 1.21,22; veja Apóstolo). Os apóstolos instituíram os diáconos (At 6.1-6) e os anciãos (ou presbíteros; At 14.23; 20.17-38; Fp 1.1; 1 Tm 3.1-7; Tt 1.5-9; 1 Pe 5.1-4; Tg 5.14) para presidir as igrejas locais e dar-lhes a orientação necessária.

Qualquer que fosse a função na qual cada crente servisse, é importante observar que ele era escolhido e então guiado e capacitado pelo Espírito. De uma forma não especificada, o Espírito Santo revelou que Barnabé e Paulo deveriam ser enviados como missionários (At 13.1-3). Da mesma forma, os anciãos de Éfeso foram estabelecidos como líderes da comunidade pelo Espírito (At 20.28). Uma declaração profética acompanhou os dons espirituais conferidos a Timóteo em sua consagração (1 Tm 4.14). Paulo e Silas foram conduzidos a Troâde pelo Espírito (At 16.6-8).

Dessa forma, o principal ministério da Igreja consistia em servir ao seu Senhor (At 13.2a), adorá-lo como sacerdotes por meio do Espírito que habita dentro de cada um (Fp 3.3) e fazer sua vontade na terra, realizando sua obra por meio do poder do seu Espírito (Jo 14.12,16,17). A presença do sobrenatural tem caracterizado a Igreja em todos os momentos.” (Dicionário Wycliffe. CPAD. p-952).

A IGREJA DE CRISTO

 

Texto Bíblico: Mateus 16.18; 1 Pedro 2.4-10

A IGREJA DE CRISTO

A palavra “igreja” traduz o vocábulo grego ekklesia, que se deriva de ek, “para fora”, e de kaleo, “chamar”. Entretanto, na Bíblia, é usada para indicar qualquer assembleia. O uso, e não a derivação, lhe determina o sentido. O uso bíblico mostra que se havia perdido o sentido de “chamados”. “Assembleia” é a melhor tradução. Ekklesia era comumente usada no Oriente Próximo e Médio antigos para descrever uma assembleia de cidadãos - uma reunião oficial ou um ajuntamento precipitado, como o de uma turba (At 19.32,39,41). Na versão grega da Septuaginta (Antigo Testamento), a palavra grega foi usada para indicar a assembleia ou congregação de Israel, particularmente quando o povo estava reunido perante o Senhor, nas ocasiões religiosas (por exemplo, Dt 9.10; 18.16; 23.1,3). Nos tempos do Novo Testamento, entretanto, os judeus preferiam o termo “sinagoga” para designar tanto o edifício quanto a congregação que nele se reunia. Por conseguinte, para distinguirem-se dos judeus e se declararem o verdadeiro povo de Deus, tanto Jesus quanto os primitivos cristãos usavam o termo ekklesia.
A Igreja é, portanto, a família espiritual de Deus, uma comunidade criada pelo Espírito Santo, baseada na obra expiatória de Cristo.

 


Texto extraído da obra: Doutrinas Bíblicas, Os Fundamentos da Fé. Rio de Janairo, CPAD.

O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA BÍBLIA-LIÇÃO 13

 

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Lição 13 - A Missão Profética da Igreja

Prezado professor, chegamos ao final de mais um trimestre...

Leitura Bíblica: Atos 8.4-8, 12-17
Introdução
I. A perseguição
II. Os samaritanos
III. O Evangelho em Samaria
Conclusão


Prezado professor, chegamos ao final de mais um trimestre. Nesse período, é importante fazer uma autoavaliação dos métodos adotados, da receptividade dos alunos, do ambiente, em sala de aula, cuja lição é ministrada, etc.
O prezado professor tem a compreensão da dimensão de seu ministério? Por isso, aproveite esse período para a realização dessa autoanálise. 
A lição de hoje tem o objetivo, ímpar, de elaborar a reflexão da missão profética da Igreja. Considerando o contexto vivencial da igreja em Jerusalém e a conscientização do significativo papel que o seu aluno tem na missão profética da Igreja, é importante você reunir materiais que elucidam o contexto histórico e cultural do primeiro século, nos primórdios, da Igreja Primitiva.


A IGREJA EM JERUSALÉM E SUA DIMENSÃO PROFÉTICA

Considerando o contexto de Atos 2.42-47, é possível descrever a sua vida comunitária, considerando, os seguintes fatores:

•    A Igreja Primitiva vivia em comunidade. Isso quer dizer que os membros da comunidade de Jerusalém viviam juntos, moravam próximos e trabalhavam em regiões próximas. Por estarem localizados numa região pouco desenvolvida, o número de habitantes era baixo e a convivência destes era natural (At 1.12-14)  ;

•    A Igreja Primitiva perseverava na doutrina, na comunhão, no partir do pão e nas orações. A vida comunitária da igreja, exigia uma prática vivencial de Amor. Sobretudo, essa prática se confirmaria na unidade estabelecida nesse grupo reunido em Jerusalém. Por isso, a igreja fazia a manutenção dos ensinos de Jesus, através dos apóstolos  . Esta perseverança doutrinária, de acordo com a relação vertical e horizontal (Amar a Deus e Amar o próximo) do relacionamento humano, iniciava na comunidade: a voluntariedade em comer o pão em comunhão (Ágape, a festa do amor) e a execução da ceia do Senhor  . Nesse ambiente de ensino e comunhão, as almas se prostravam em oração antes, e depois, do revestimento de poder. Essa prostração denota a urgência, e a necessidade, do aprofundamento de a intimidade com Deus, a fim de refleti-la no contexto comunitário (At 2.42);

•    Os membros da Igreja Primitiva vendiam o que tinham para suprir os necessitados. Essa era a forma de assistir o necessitado que estava inserido à nova comunidade. Por voluntariedade, vendiam suas propriedades e depositavam aos pés dos apóstolos, e estes, repartiam com os que tinham necessidades (At 2.45). Alguns (estudiosos ou não), para justificar a indisposição da partilha hoje, afirmam que os cristãos primitivos só faziam a partilha de seus bens, porque criam que Jesus voltaria a qualquer momento (não haveria nada mais egoísta e individualista do que esta intenção). E como consequencia desta “loucura”, os cristãos primitivos ficaram pobres (desconsiderando, totalmente, a perseguição histórica antes, e durante, os anos 70 d.C. que solapou os judeus e cristãos). Absolutamente não! Os cristãos primitivos sabiam muito bem a dimensão prática da doutrina dos apóstolos (os mandamentos de Jesus) e sua voluntariedade, em partilhar os seus bens, era o reflexo da ação espiritual que tomara conta da comunidade. Os bens eram recolhidos, não para o enriquecimento dos apóstolos, mas tão somente, para suprir a necessidade do próximo desprovido.

O contexto social da Igreja Primitiva denota a relevância dessa comunidade para a sociedade que a cercava. O temor ao Senhor, perseverança unânime de todos, o partir do pão em sua refeição, alegre e singela, denotava a dimensão da manutenção doutrinária e comunitária da igreja.
A proclamação salvífica e cristocêntrica da Igreja exige o arrependimento de todos os homens. Porém, o modelo dessa contrição era proposto na vivência prática desta comunidade do primeiro século  .
Em Atos 2.46,47 é descrito a consequência natural da verdadeira Proclamação de Cristo, onde o proclamar é acompanhado do fazer:

E, perseverando unânimes todos os no templo e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e caindo na graça do todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar.

O resultado de salvação era inquestionável. A consequencia de “todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar”, estava claramente ligada à vida comunitária daquela igreja. Quando, esta, se levantava para Proclamar salvação, estava investida de legitimidade para propor àquela sociedade as “Boas Novas” de salvação.
Cada ação, feita pela igreja primitiva, denunciava profeticamente a incoerência que reinara sobre aquela sociedade. Se ela demonstrava comunhão, denunciava a separação; se demonstrava amor, denunciava o ódio; se demonstrava voluntariedade, denunciava o interesse mesquinho (vide Ananias e Safira cf. At 5.1-11); se supria a necessidade do necessitado, denunciava a omissão daqueles que tinham obrigação de fazê-lo.
A partir da comunidade primitiva, em Jerusalém, aprendemos que a Igreja de Cristo tem uma dimensão profética. Esta não tem a função de amalgamar-se com o poder temporal. Mas, tem a função de exercer um papel neutro em relação a este “poder”: elogiando-o quando é justo, mas denunciando quando ele exerce a injustiça.
A verdadeira Proclamação salvífica de Cristo tem sua dimensão celestial, quando diz que o homem tem que se arrepender para o perdão e remoção dos pecados, mas também tem sua dimensão terrena, quando diz que a este homem imerso no pecado, Cristo dá a verdadeira dignidade: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8.36). Em 1 Coríntios 11.23ss, temos a prova de que a Igreja pode perder a dimensão profética! Boa Aula!

 

 

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Lição 13 - Vivendo em Santificação

Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em chegar...

Texto Bíblico: 2 Coríntios 6.16-18; 7.1


IDEIAS ERRÔNEAS ACERCA DA SANTIFICAÇÃO


Muitos cristãos descobrem o fato de que seu maior impedimento em chegar à santidade é a “carne”, a qual frustra sua marcha para perfeição. Como se conseguirá libertação da carne? Três opiniões erradas têm sido expostas:

A)    “A Erradicação” de pecado inato é uma dessas ideias. Assim escreve Lewis Sperry Chafer: “Se a erradicação da natureza pecaminosa se consumasse, não haveria a morte física, pois essa é o resultado dessa natureza (Rm 5.12-21)”. Pois que houvessem experimentado essa “extirpação”, necessariamente gerariam filhos sem a natureza pecaminosa. Mas, mesmo que fosse realidade essa “extirpação”, ainda haveria o conflito com o mundo, a carne (aparte da natureza pecaminosa) e o Diabo; pois a “extirpação” desses males é obviamente antibíblica e não está incluída na própria teoria.

B)    O Legalismo, a observância de regras e regulamentos. Paulo ensina que a lei não pode santificar (Romanos cap. 6), assim como também não pode justificar (Romanos 3). Essa verdade é exposta, e desenvolvida, na carta aos Gálatas. Paulo não está de nenhuma maneira depreciando a lei. Ele está defendendo-a contra conceitos errôneos quanto a seu propósito. Se um homem será salvo do pecado terá que ser por um poder a parte de si mesmo. Vamos empregar a ilustração de um termômetro. O tubo e o fluído vermelho representam o indivíduo. O registro dos graus representará a lei. Imaginem o termômetro dizendo: “Hoje não estou exatamente à marca; devo chegar a 30 graus”. Será que o termômetro poderia elevar-se à temperatura exigida? Não, deveria depender duma condição fora de si mesmo. Da mesma maneira o homem que percebe que não está á altura do ideal divino não pode elevar-se em um esforço de alcançá-lo. Sobre ele deve operar uma força a parte dele mesmo; e essa força é o poder do Espírito Santo.

C)    Ascetismo representa a tentativa de subjugar a carne e alcançar a santidade por meio de privações e sofrimentos – o método que seguem os católicos romanos e os hindus ascéticos. Esse método parece estar baseado na antiga crença pagã de que toda matéria, incluindo o corpo, é má. O corpo, por conseguinte, é uma trava ao espírito, e quanto mais for castigado e subjugado, mais depressa se libertará o espírito. Isso é contrário às Escrituras, que ensinam que Deus criou tudo muito bom. É a alma e não o corpo que peca; portanto, são os impulsos pecaminosos aos que devem ser subjugados, e não a carne material. Ascetismo é uma tentativa de matar o “eu”, mas o “eu” não pode vencer o “eu”. Essa é a obra do Espírito.

 

 

 

 

Texto extraído da obra: Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. São Paulo, Editora Vida.

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Lição 13 - Deus não tem Netos. Decida-se!

A Bíblia associa o desejo de Deus em nos salvar ao seu amor eterno. No...

Texto Bíblico: Ezequiel 18.1-20

O AMOR DE DEUS

A Bíblia associa o desejo de Deus em nos salvar ao seu amor eterno. No Antigo Testamento, o enfoque primário recai sobre o amor segundo a aliança, como se vê em Deuteronômio 7:

O SENHOR não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos, mas porque o SENHOR vos amava; e, para guardar o juramento que jurara a vossos pais... vos resgatou da casa da servidão... Será, pois, que, se, ouvindo estes juízos, os guardardes e fizerdes, o SENHOR, teu Deus, te guardará o concerto e a beneficência que jurou a teus pais; e amar-te-á, e abençoar-te-á (vv. 7,8,12,13).

Num capítulo a respeito da redenção segundo a aliança, diz o Senhor: “Com amor eterno te amei; também como amável benignidade te atraí” (Jr 31.3). A despeito da apostasia e idolatria de Israel, Deus amava com amor eterno.
Em o Novo Testamento, em 1 Jo 3.16, o apóstolo afirma que “Deus é amor” e por isso, “ele deu seu filho unigênito” para salvar a humanidade. Deus tem demonstrado seu amor imerecido para conosco “em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.8). O Novo Testamento dá amplo testemunho do fato de que o amor de Deus impeliu-o a salvar a humanidade perdida. Por isso quatro atributos de Deus – a paciência, a misericórdia, a graça e o amor – demonstram a sua bondade ao prover a nossa redenção.

 

 

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Lição 13 - Boa Medida!

O amor é sofredor (e paciente) para com as pessoas que nos provocam ou...

Texto Bíblico: 1 Samuel 30.11,13,15-17

O amor é sofredor (e paciente) para com as pessoas que nos provocam ou nos ferem. Não permite que surjam sentimento, mesmo quando os males assolam. Ele caminha a segunda milha, oferece a outra face, suporta o insulto, é paciente com os que discordam, ou escarnecem, ou zombam (Mt 5.39,41). Reflete a paciência de Deus para com os pecadores: não pode ser irritadiço para com aqueles por quem Cristo morreu.
O amor não pára com uma mera paciência que tolera aqueles que amontoam abuso sobre abuso. É ativamente gentil, vence o mal com o bem (Lc 6.27; Rm 12.21), procura o que pode fazer pelos outros, põe-se a serviço de outros, encoraja os outros a falar e ministrar (1 Co 14.30,31).
O amor não é invejoso, nunca tem ciúmes, nunca expressa má vontade, malícia ou mau humor. Ele não trata com leviandade, nunca é fanfarrão, mas é verdadeiramente humilde.
O amor não se ensoberbece, não é orgulhoso, inchado ou convencido, nem é ávido por honra.
O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. Sempre defende, sempre confia, sempre tem esperança, sempre persevera, suporta a pressão com fé e esperança ousadas. Vê onde é preciso ajuda e se coloca sob a carga sem que lhe seja pedido ou implorado. Fornece coragem sincera aos outros.
Professor se estas características (presente nos que amam e servem a Deus) parecem difíceis de ter, lembremo-nos de que podemos buscar a Deus para que Ele derrame o seu amor em nosso coração pelo Espírito Santo (Rm 5.5). Aproveite e ore com os seus alunos, pedindo a Deus que os ensinem o verdadeiro amor.
Explique aos alunos que é muito fácil amar os amigos, as pessoas que nos fazem bem, mas amar aquele que nos persegue é algo quase que impossível. Os verdadeiros servos de Deus conseguem, amar aqueles que os perseguem que os destratam. Pois sabem que é uma ordenança de Cristo: “E o segundo mais importante é parecido com o primeiro: ‘Ame os outros como você ama a você mesmo’” (Mateus 22.39).


 

 

Texto adaptado do livro: Comentário Bíblico de 1 e 2 Coríntios, CPAD.

O Direito do Atual Israel à Terra | Artigos | Beth-Shalom

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O Direito do Atual Israel à Terra | Artigos | Beth-Shalom

O MINISTÉRIO PROFÉTICO NA BÍBLIA-LIÇÃO 12

sábado, 18 de setembro de 2010

 

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Lição 12 - O Dom Ministerial e Dom de Profecia

No mundo antigo, palavras articuladas em êxtase eram vistas como sinal...

Leitura Bíblica:1 Coríntios 12.4-10; 14.1-5
Introdução
I. Os dons espirituais
II. A importância do Amor
III. O dom de Profecia
Conclusão


DONS ESPIRITUAIS: INSTRUÇÃO, EDIFICAÇÃO E CONSOLAÇÃO


Prezado (a) Professor (a), nessa lição é importante você considerar o contexto histórico e religioso da cidade de Corinto. A religião na Grécia antiga era bastante diversificada. Qualquer articulação de linguagem, como impostação de voz, apontando para um suposto “êxtase” era tida como manifestação sobrenatural dos deuses. Sobre este contexto religioso o teólogo americano, Lawrence O. Richards, escreve:

No mundo antigo, palavras articuladas em êxtase eram vistas como sinal de possessão pelos deuses. A epilepsia era uma “doença divina” e o resmungar de sacerdotisas drogadas, em determinados oráculos, como o de Delfos, era considerado transmissão de mensagens dos deuses. Paulo se refere a isso ao observar que, quanto aos pagãos e ignorantes, “deixáveis conduzir-vos aos ídolos, mudos, segundo éreis guiados”.
O problema era que essa atitude em relação ao dom persistiu nos convertidos ao cristianismo. Em decorrência, dons espirituais como os de língua eram considerados por muitos em Corinto como evidência do contato íntimo com Deus. Os portadores desse dom eram mais espirituais. Até mesmo quando seus dons contradiziam as verdades fundamentais do cristianismo, alguns estavam suficientemente espantados para acreditarem neles. É contra esse contexto cultural que Paulo desenvolveu ensinamentos sobre a verdadeira espiritualidade, dons espirituais e o exercício adequado dos dons de línguas.[1]

O texto de 1 Coríntios 12.1-3 denota uma escandalosa influência das religiões pagãs na liturgia de culto da igreja grega. O livre exercício dos dons espirituais em detrimento do “Fundamento dos apóstolos”[2] deixava claro que aquela igreja estava fadada a cair em um exibicionismo egoísta, ilógico e tolo.   
Pode uma igreja cristã desenvolver práticas por influências de outras manifestações religiosas? Quando uma comunidade perde o foco do “Fundamento”, da “Comunhão”, da “Oração” e do “Serviço”, tudo contribui, como consequencia natural, Para o distanciamento dos princípios mais básicos e simples do evangelho.
Não há coincidência em o capítulo 13 de 1 Coríntios está inserido entre os capítulos 12 e 14 da mesma epístola. O apóstolo Paulo tem o objetivo de alertar a igreja de Corinto para o fato de a prática espiritual, desprovida do verdadeiro amor, ser caracterizada de pagã e egoísta. O uso dos dons espirituais, com os destaques das línguas e profecias, não tem outro objetivo que a Edificação, Exortação e Consolação do outro. Aquele irmão e/ou irmã, que em sua coletividade formam o “corpo místico de Cristo”, é a razão e o fim para qualquer manifestação do dom espiritual (Ef 4.11-14 cf. 1 Co 14.3).   
O corpo é uma das figuras mais importantes na conceituação de Igreja. “... A necessidade de aproximação, relacionamentos interpessoais e fraternais são condições necessárias para o funcionamento dos dons espirituais”[3]. Como o corpo precisa do pleno funcionamento dos órgãos para a vitalidade de sua vida, a igreja precisa daquelas caracteríscas, descritas acima, no exercício de seus dons espirituais, para de fato, ser o “Corpo de Cristo”.
O uso das Línguas (com intérprete) e da Profecia participa de um contexto onde a instrução, o encorajamento e a consolação, são os objetivos centrais na construção de uma vida cristã sadia.
Prezado professor (a), explique ao aluno que onde há desordem, a importância do amor se distancia. Onde há desordem, o desejo egoísta fica patente. Onde, a importância do amor é rechaçada, o uso dos dons não cumpre o seu dever coletivo. A utilização dos dons, na igreja, deve ser exercida no contexto do Amor, visando sempre, a construção de uma vida cristã autêntica através da instrução e encorajamento, a fim de consolarmos uns aos outros.


 

Referências:
[1] RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse Capítulo por Capítulo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 768.
[2] Atos 2.42.
[3] RICHARDS, Lawrence O. Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse Capítulo por Capítulo. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p. 768.

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Lição 12 - O Fim Vem

A segunda besta, o falso profeta, opera muitos sinais e milagres...

Texto bíblico: 1 Tessalonicensses 5.2-6; Mateus 24.21,22


A segunda besta, o falso profeta, opera muitos sinais e milagres (“sinais” no versículo 13 é a tradução da mesma palavra grega (semeia) usada no Evangelho de João para descrever os milagres de Jesus). Na presença dos povos, o falso profeta faz até com que fogo, aparentemente vindo do céu, caia na terra. Trata-se de uma imitação clara do milagre realizado por Elias ao desafiar os israelitas a decidirem entre o Senhor e Baal. Apesar dos sacerdotes de Baal não puderem realizar o prodígio (1 Rs 18.22-34), o Falso Profeta, através do poder de Satanás, o fará. Todos ficarão impressionados. Até mesmo nessa era tão científica, há pessoas ingênuas dispostas a seguir os falsos profetas; são enganadas pelos milagres que não têm por objetivo glorificar a Deus. Os pretensos milagres do Falso Profeta têm por objetivo enganar a humanidade (1 Ts 2.9-12). Mas Israel é advertido em Deuteronômio 13.1-3 a precaver-se contra os falsos profetas que, apesar dos sinais e milagres que operam, leva o povo a desvirar-se da Palavra de Deus. Os tais devem ser considerados impostores. Pois os verdadeiros profetas falam por Deus, e encorajam a servi-lo e a adorar CRISTO.


Texto extraído da obra: A Vitória Final: Uma investigação exegética do Apocalipse. 1. ed., Rio de Janeiro: CAPAD, P. 1995.

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Lição 12 - Um projeto de Deus para mim

Jesus dedicou-se a ensinar sobre o Reino dos Céus. E a mesma dedicação Ele...

Texto Bíblico: Atos 2.38,39, 42-44, 47


A paz do Senhor, querido professor!


Jesus dedicou-se a ensinar sobre o Reino dos Céus. E a mesma dedicação Ele espera de nós. Jesus deu uma missão para seus discípulos: “Vão e anunciem isto: “o Reino dos Céus está perto”. Curem os leprosos e outros doentes, ressuscitem os mortos e expulsem os demônios. Vocês receberam sem pagar; portanto deem sem cobrar” (Mateus 10. 7-9).
Essa missão também foi dada a nós e não podemos relaxar na anunciação das Boas Novas de Salvação. A Igreja Primitiva teve seu crescimento acelerado, porque os discípulos não relaxaram na propagação das Boas Novas.
Os adolescentes costumam ter dificuldades na hora de evangelizar e muitas vezes se perguntam: Como posso trazer outros a Jesus? Explique da seguinte forma: Ter amigos é ótimo. Há tantas coisas a compartilhar – livros, músicas, esportes, queixas sobre pais (Apesar de que na maioria das vezes eles estão corretos), e até roupas. Quanto de sua fé você compartilha com seus amigos? Eles sabem o quanto você se importa com Deus? Quando Jesus chamou seus primeiros seguidores, não colocou um anúncio no jornal local, nem contratou uma agencia de empregos. Ele simplesmente pediu às pessoas que ficassem com Ele. Então elas contaram a outras, e a curiosidade cresceu. André encontrou Jesus, e imediatamente contou tudo sobre Ele a seu irmão, Simão Pedro. Depois que Filipe tornou-se um seguidor de Jesus, insistiu com seu amigo Natanael para “vir e ver” o Senhor. Eis aqui três métodos que os primeiros crentes usaram para contar de Jesus aos seus amigos e familiares.


Passo 1 – Ache outros

Os primeiros discípulos não se retiraram para uma caverna depois de conhecerem ao Senhor. Eles deixaram o entusiasmo de sua descoberta movê-los a achar outras pessoas a quem contar de Jesus. Peça para Deus lhe mostrar quem está pronto para ouvir de Jesus; então se aproxime e faça a amizade.


Passo 2 – Conte aos outros

André não esperou por um momento perfeito, ou por um script do céu, para falar de Jesus ao irmão. Ele apenas contou-lhe. Se você se importa com seus amigos e parentes, as palavras virão. Seja você mesmo.
Passo 3 – Mostre aos outros
Filipe encorajou Natanael a conhecer Jesus por si mesmo. Você pode fazer igual. Apresente um amigo a outro Amigo (Bíblia de Aplicação Pessoal para Adolescentes – página 1299, CPAD).


Professor, explique esses métodos aos seus alunos e ajude-os a colocá-los em prática. Você pode organizar um evangelismo após a Escola Dominical, visitas a lares, hospitais e orfanatos. Será uma ótima oportunidade de colocarem em prática os três passos básicos para levar uma vida a Cristo.

 

 

                                         

 

ADOLESCENTES-LIÇÃO 12

 

 

rev.adolescentes 3 tri 2010 Conteúdo adicional para as aulas de Adolescentes

Subsídios para as lições do 3º Trimestre de 2010
Vivendo em Família

Lição 12 - Você é importante para sua família

Há famílias que não conhecem a pobreza, pois são tão unidas que...

Texto Bíblico: Lucas 15.11-32

O VALOR DA FAMÍLIA E SUA RENOVAÇÃO ESPIRITUAL


Há famílias que não conhecem a pobreza, pois são tão unidas que prontamente compartilham de qualquer necessidade ou problema financeiro. Do ponto de vista espiritual, a condição deve ser a mesma, mas precisa haver no seio da família os elementos que, embora pobres, tenham condições de enriquecer a muitos (2 Co 6.10).

Tudo no mundo é suscetível de desgastar-se e envelhecer, e a vida espiritual também está sujeita a sofrer esse desgaste. Mas o plano de Deus é que “o nosso homem interior, contudo, se renove de dia em dia” (2 Co 4.16). consideremos pelo menos quatro meios possíveis de renovação espiritual:
Arrependimento e Contrição: Se queremos evitar retrocesso em nossa vida espiritual, temos que reconhecer o nosso erro, arrependermos-nos e nos humilharmos diante de Deus.
Gratidão demonstrada para com Deus no reconhecimento dos benefícios recebidos: Salmos 103.1-5.

Esperança Paciente no Senhor: Isaías 40.29-31.
Poder renovador do Espírito Santo: Renovação das forças físicas (Is 40.31); Renovação do Espírito (Ef 4.23); Renovação da mente (Rm 12.2).

 

 

 


Texto extraído da obra: ...E fez Deus a Família: O Padrão Divino Para um Lar Feliz. Rio de Janeiro: CPAD.

OS DONS ESPIRITUAIS

Os dons espirituais

O Brasil e o mundo têm vivenciado, nos últimos setenta anos, uma efervescência de dons espirituais, em razão da redescoberta do poder do Espírito Santo. Evidentemente, muitas coisas nos meios pentecostais e neopentecostais são expressões de excessos e de imaturidade, todavia, conquanto precisem de alguns ajustes bíblicos, os movimentos pentecostal e neopentecostal refletem uma ação efetiva, nova e revolucionária do Espírito Santo na vida da igreja atual.

Assuntos tais como milagres, línguas estranhas, profecias, considerados anacrônicos, obsoletos ou verdadeiros apêndices por algumas denominações tradicionais foram redescobertos e liberados das algemas dos dogmas e das sistemáticas denominacionais. O Espírito Santo deixou de ser teoria para ser Alguém real — Deus presente e adorado pela igreja, causando extremo impacto aos denominacionalistas históricos.

Faz-se necessário dizer que esses movimentos divinos vêm sempre como contraponto a uma situação de morbidez, frieza e indiferença na área da devoção, da missão e dos objetivos, razão por que a proposta essencial dos grandes avivamentos da história foi consertar erros de percurso tomados pela Igreja. Assim foi entre o catolicismo e o protestantismo; depois, entre o protestantismo e movimento evangélico; depois, entre o movimento evangélico e o pentecostal. Todas essas mudanças fazem parte do mover de Deus na história, mudando o status quo da Igreja, principalmente quando este já não atende aos apelos do Reino de Deus.

Acerca dos dons espirituais temos cinco considerações a fazer:

1. Não se pode restringir nem absolutizar o número de dons. O Novo Testamento não traz uma lista exaustiva e específica de dons, isso porque cada lista acrescenta algo à outra. Enquanto Romanos 12.6-8, por exemplo, apresenta uma lista característica de dons, 1Coríntios 7.7 exibe outra; já os capítulos 12 e 14 de 1

Coríntios apresentam outros dons, que não encontramos nas duas primeiras listas. Efésios 4.11-13 apresenta uma quarta lista, e, finalmente, 1 Pedro 4.10,11 compõe uma quinta. Ou seja, as listas são diversas — umas com mais, outras com menos dons; umas nas quais faltam dons, outras em que eles são acrescentados. Logo, não devemos dogmatizar a respeito do assunto, afirmando que os dons existentes são aqueles acerca dos quais o Novo Testamento fala. Primeiro, porque o Novo Testamento não nos oferece uma lista exaustiva de dons. Segundo, porque cada escritor deixou de citar uma série, que outros mencionam, o que significa que na mente deles não havia a sistematização que encontramos em alguns livros atuais.

2. Os dons são mais numerosos do que aqueles que o Novo Testamento apresenta. A indicar pelo estudo do Novo Testamento, concluímos que os dons podem ser mais numerosos do que aqueles que comumente aceitamos. De qualquer maneira, porém, todos os dons têm que, fundamentalmente, fazer sentido com o espírito geral da Escrituras. Ou seja, Deus é soberano para prover novas formas de manifestar a sua graça através da vida humana.

3. Dons espirituais são diferentes de talentos naturais e de habilidades adquiridas. Talentos e habilidades podem ser também usados na obra de Deus. No entanto quem os usa apenas de forma natural ficará muito aquém das suas reais possibilidades como homem ou mulher de Deus. Estará também desprezando algo que, afinal de contas, foi providenciado por Deus "a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7). E não devemos nos contentar com menos do que aquilo que Deus tem para nós.

4. Dons espirituais não são para transformar pessoas em seres superespirituais nem para tomar alguém melhor ou superior a outros crentes. O batismo no Corpo de Cristo, que é diferente do batismo com o Espírito, coloca-nos em situação de igualdade com os demais membros do Corpo, criando entre nós uma união essencial.

5. Todos os dons são importantes, até os menos aclamados pela teologia sistemática. Temos um problema sério aqui, porque muitos pentecostais tendem a classificar alguns dons como mais importantes que outros. Mas a verdade é que todos obedecem a uma ordem de utilidade comunitária. Apresentamos, a seguir, alguns desses dons não tão proclamados nos meios pentecostais.

a) O dom de serviço (no grego, diakonia, Rm 12.6-8) — Desse vocábulo deriva a palavra "diácono". Geralmente o termo significa o cuidado das necessidades físicas (At 6.1,2). A pessoa que serve a outrem guiada pelo dom do Espírito, faz, por vezes, o mesmo que outros fariam simplesmente por motivos humanitários. Mas há, sem dúvida, duas diferenças notáveis: o dom espiritual resulta numa maior efetividade, graças ao poder sobrenatural, e o motivo será certamente o que Pedro indicou: "[...] para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo [...]".

b) O dom do ensino (no grego, didakson, Rm 12.6) — Esse dom tem por finalidade instruir e consolidar os outros na verdade do Evangelho. Os dons descritos na lista da Primeira Carta aos Coríntios como "palavra da sabedoria" e a "palavra da ciência [ou do conhecimento]" estão estreitamente relacionados com o dom de ensinar. O ensino não se limita às palavras, é também produzido através do exemplo e da influência sutil do caráter daquele que ministra o ensino.

c) O dom de exortar (Rm 12.6-8) — O termo grego para "exortar" éparakleto, que significa "ajudador" — literalmente, "ir em socorro de alguém" em qualquer necessidade. É uma espécie de "estimulador da fé". Encorajamento ou conforto é a aplicação desse dom, "pondo um coração novo" naqueles que tenham sofrido derrotas ou perdas ou que estejam sob provações.

d) O dom de contribuir — Significa mais do que dar no sentido filantrópico. Significa dar com o coração cheio do amor de Deus. Isso significa que esse dom vai além da mordomia cristã.

e) O dom de presidir (ou governo, Rm 12.8). Literalmente, significa "tomar o comando ou diretivas de qualquer grupo". Duas palavras são utilizadas no Novo Testamento com respeito a esse dom: proístemi (Rm 12.8) e kybérnesis (1 Co 12.28). A primeira significa "estar à frente, comandar", e a segunda, "administrar", conceitos que se entrelaçam. A palavra adjetivamente relacionada ao dom de presidir é "diligentemente", isto é, com sinceridade, zelo, e de forma metódica. O governo exige visão, paciência, consistência quanto a objetivos e força de von¬tade para continuar quando outros desistem. Quem governa deve governar em cima de cada situação, ser interessado, não afrouxar nos padrões de controle, estar sempre à frente, tocando as coisas com garra. É também quem planeja e induz os outros a se empenharem na realização dos planos. É uma espécie de organizador de programas.

f) O dom da compaixão (Rm 12.8) — O portador desse dom sente alegria, tem empatia, se compadece da dor do próximo, é misericordioso para com os irmãos, ajuda quem não tem condições de ajudar-se a si mesmo. O dom da compaixão move as ações sociais mais sublimes.

g) O dom do socorro (1 Co 12.28) — Os que possuem tal dom geralmente investem a sua vida na perspectiva de serviço aos cristãos em dificuldades. São aquelas pessoas que receberam do Espírito Santo a sensibilidade para detectar problemas sérios, pressentir onde estão os verdadeiros carentes, experimentando prazer em permanecer junto deles.

A segunda lista paulina de dons espirituais encontra-se em 1 Coríntios 12.7-11. Algumas diferenças apreciáveis são evidentes quando a comparamos com a lista da Carta aos Romanos. O único dom comum às duas listas é o da profecia, o qual Paulo considera, em 1 Coríntios 14, superior aos demais. Sugeriu-se que os dons mencionados na Carta aos Romanos são parte da vida cotidiana da comunidade cristã, sendo que a esse grupo de dons pertenceriam os mais extraordinários, os mais transitórios e os menos universais. O fato de as listas serem tão diferentes mostra-nos que os dons espirituais abarcam um número de capacidades para muito além do que aquilo que geralmente pensamos. É possível que a diferença existente entre as duas listas sugira a situação de cada uma das igrejas a que Paulo escreveu. A igreja em Roma parece ter sido uma comunidade bem mais estável e espiritual. Não estava envolvida em lutas internas nem sob o ataque de doutrinas heréticas. A igreja em Corinto, ao contrário, era a que dava mais problemas na época. Estava dividida em facções (1 Co 1.10—3.23), revoltada contra a autoridade de Paulo (4.1-21), maculada pela imoralidade (5.1-13) e por litígios (6.1-8). As suas ceias haviam-se convertido em glutonarias e bebedices (11.8-34). Doutrinas heréticas eram toleradas até o ponto de uma negação geral da ressurreição (15.1-8). Nota-se uma melhoria no intervalo entre a primeira e a segunda epístola, mas ainda estava muito longe de ser uma igreja estável (2 Co 13.1-10).

 

 

 

 

 

 

 

*Extraído do livro: Manual de Doutrina das Assembléia de Deus no Brasil.pp.29-31,.6°ed.2006.CPAD.

COMENTÁRIO BÍBLICO EFÉSIOS. CAP.4.7-16

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

5. ELEMENTOS DA UNIDADE DO ESPÍRITO NA IGREJA —4.7-10

Os vários dons ministeriais existem para fortalecer a unidade do "corpo de Cristo". Eles são elementos vitais ao desenvolvi­mento sadio da Igreja através dos membros que compõem o corpo de Cristo. Esses elementos reforçam a unidade da Igreja. Cada membro é útil e importante no corpo. Um membro doente ou atrofiado no corpo perturba a unidade dos outros membros. Quando temos fome, não é suficiente o trabalho da boca; precisa-se do auxílio espontâneo das mãos e da mente para que a fome Seja saciada. Espiritualmente, o verso 7 mostra a importância e a necessidade de que cada crente trabalhe para e pela unidade do Espírito.

5.1. A graça é dada individualmente para a unidade da igreja — v. 7

"Mas a graça foi concedida a cada um de nós". As várias manifestações da graça de Deus alcançam particularmente "a cada um". Cada crente recebe de Deus a graça espiritual para manter o ritmo normal que o corpo vivo (a Igreja) necessita, através dos elementos que ajudam a unidade da Igreja. A "cada um" Deus tem dado uma função para compor a unidade do corpo com os demais membros e para a edificação do corpo de Cristo.

5.2. A capacitação espiritual para a unidade da igreja — v. 7

"Mas a graça foi concedida a cada um". Esta graça representa a capacitação espiritual dada por Deus a cada crente no sentido de contribuir para a unidade da Igreja. Não se trata de um único dom, mas de vários, a fim de que todos trabalhem obedecendo à cabe­ça. Os olhos só podem ver, porém jamais poderão apalpar ou tocar coisa alguma, o que é trabalho das mãos. As mãos, por sua vez, jamais farão o trabalho dos pés, e assim cada membro do corpo é importante naquilo que lhe foi destinado fazer. Na Igreja, nem todos podem ser pastores, ou profetas, ou ensinadores. Mas Deus deu a cada um, em particular, uma função específica no corpo de Cristo, a qual deve ser exercida para não prejudicar a unidade espiritual da Igreja.

5.3. A capacitação espiritual segundo a medida do dom de Cristo — v. 7

"Segundo a medida do dom de Cristo". Isso significa que "cada um" recebe a "graça" segundo a sua capacitação para trabalhar com aquele dom. Essa capacitação é, antes de tudo, trabalho do Espírito Santo. Se "cada crente" procurasse fazer o melhor na sua própria função, não haveria tantas facções, nem invejas, nem ciúmes no seio da igreja. Esses males prejudicam a unidade da Igreja.

5.4. A razão da unidade do Espírito na igreja — vv. 8-10

"Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens" (v. 8). Inicialmente, esse versículo proclama a vitória de Cristo no Calvário, dando-lhe o direito de ser Senhor pleno e capaz de dar dons àqueles que o recebem por Salvador e Senhor.

5.4.1. O cumprimento das Escrituras v. 8

"Pelo que diz" são palavras que identificam o cumprimento de uma profecia citada pelo apóstolo das gentes (SI 68.18,119; 2 Co 6.16). O Salmo 68 fala do triunfo de Deus, representado pela volta da arca da aliança ao seu santuário original após a derrota dos inimigos de Israel. Do mesmo modo, Jesus triunfou na bata­lha contra o reino do mal e, em virtude dessa vitória, recebeu dons para dar aos seus aliados. Por isso, esse salmo se aplica à vitória de Cristo no Calvário. Cristo, conquistando o seu lugar no Céu, deu dons à Igreja.

5.4.2. O tríplice triunfo de Cristo sobre o pecado, a morte e o inferno v. 8

"Subindo ao alto" fala de sua subida e volta ao seio do Pai. A palavra "alto" indica a sua morada original — o Céu.

"... levou cativo o cativeiro". Alguns autores, apreciando essa parte do texto, dizem que o termo "cativeiro" é um hebraísmo que significa "os cativeiros", e esses cativeiros são os inimigos de Cristo, vencidos por sua ressurreição e sua ascensão ao Pai. Outros interpretam "cativeiros" como os homens vencidos pelo poder de Cristo e que agora o servem voluntariamente. Ainda alguns outros interpretam "o cativeiro cativo" como sendo os "poderes do mal" que antes escravizavam, mas que agora se tornaram escravos do Senhor Jesus pelo seu triunfo redentor.

Entretanto, sem desmerecer os demais exegetas, entendo os versos 8 a 10 da seguinte maneira: esses versículos formam um todo. No verso 8, Cristo, "subindo ao alto" com os lauréis de sua vitória, é capacitado, pelo seu triunfo, a dar dons à Igreja. Mas no versículo 9, diz que Ele (Cristo) "antes havia descido às partes mais baixas da terra", indicando o seu triunfo na terra, debaixo da terra e em cima, no Céu. Três domínios e conquistas totais, ou seja: o mundo dos homens (a Terra); o mundo dos espíritos dos homens mortos (Hades ou Seol) debaixo da terra, que não é sepultura, e o mundo da habitação de Deus (o Céu).

Voltando ao verso 8, o texto diz: "subindo ao alto" (depois de ter descido) "levou cativo o cativeiro". Que cativeiro é esse, realmente? Entendo que esse cativeiro representa os poderes que estavam sob o domínio de Satanás, como seja: o pecado, a morte e o inferno. O pecado está sob o domínio de Cristo porque Ele o quitou, livrando o homem da condenação (Rm 3.23; 6.23). Pela aceitação da obra da cruz, o pecado não tem mais domínio sobre o crente fiel (Rm 6.14). Jesus se fez pecado por nós (Hb 9.15) e cravou o pecado na cruz. A morte perdeu o domínio da sepultura porque Cristo ressuscitou pode­rosamente dentre os mortos. A ação da morte no crente está contida: ela só pode alcançar seu corpo material, nunca sua alma e espírito. O inferno perdeu seu domínio sobre o crente. O inferno é a habitação de espíritos e almas das pessoas que morrem. Antes da vitória no Calvário, o inferno recebia bons e maus, justos e injustos, mas separados por um abismo. Os justos ficavam no paraíso (descanso), e os ímpios, num lugar de tormento. Mas Jesus, pela sua vitória na cruz, trasladou o paraíso para o Alto (a presença de Deus), e hoje o inferno só recebe os ímpios, porque não há mais um paraíso "nas partes mais baixas da terra". A João, na ilha de Patmos, Jesus confirmou sua vitória, procla­mando: "Eu sou o primeiro e o último; e o que vivo e fui morto; mas eis aqui estou vivo para todo o sempre. Amém. E tenho as chaves da morte e do inferno" (Ap 1.17,18).

Ter domínio sobre a morte e o inferno significa que a morte tem poderes limitados e pode apenas tocar no corpo do crente, pois sua alma e espírito são conduzidos à presença de Deus. O poder da morte eterna não atingirá o crente, mas apenas o ímpio. O inferno jamais terá poder sobre o crente em Cristo, porque quando o crente morre fisica­mente, seu corpo desce à sepultura, mas sua alma e seu espírito sobem à presença de Deus. A morte do crente, depois da obra expiatória de Cristo, representa a vitória sobre o pecado, sobre a morte eterna (que é um estado consciente) e sobre o inferno. Na realidade, a morte física, para o crente, representa a sua conquista maior, isto é, o clímax da redenção! Pela vitória de Cristo, Ele recebeu o poder de conceder dons à sua Igreja, como veremos a seguir.

6. OS DONS ESPECÍFICOS PARA A UNIDADE DA IGREJA — 4.11

A palavra "dom" significa dádiva, e quando se trata de "dons de Cristo" refere-se às dádivas concedidas à Igreja, as quais a enriquecem e fortalecem a sua unidade através dos crentes. Esse direito divino de conceder "dons" representa os lauréis da vitória de Cristo e o direito pleno de Ele conceder dons à sua Igreja.

6.1. A distinção dos dons ministeriais — v. 11

"E Ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores". Na mente de Deus não há uma hierarquia ministerial seguindo uma ordem de valor, pois não teria sentido então a unidade do corpo. 0 destaque de uma função não representa uma posição mais importante que outra. Paulo fez questão de ensinar isso à igreja de Corinto com essas palavras: "Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo?" (1 Co 12.14,15). Os versos 17 e 18 aclaram ainda mais o texto de Coríntios: "Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas agora Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis".

A lição prática da "unidade do Espírito" quanto aos ministéri­os distribuídos, é que "cada um" deve assumir seu trabalho na Igreja, porque assim Deus o quer. Assim sendo, cada qual poderá dar o melhor de si para a unidade da obra do Senhor.

Esses dons são enumerados pelo apóstolo Paulo sem a preocu­pação de ordem ou grau. São dons concedidos àqueles que são nomeados ou ordenados para o ministério do seu corpo, a Igreja, no mesmo nível de valor e propósito.

6.1.1. Apóstolos

"E ele mesmo deu uns para apóstolos". Uma função no corpo de Cristo que não ficou restrita apenas aos discípulos de Jesus. Há uma forte corrente de interpretação que restringe esse ministério aos dias apostólicos, isto é, aos introdutores da Igreja Primitiva. Essa teoria assegura que "apóstolos" foram somente aqueles envi­ados imediatos de Jesus, isto é, os discípulos que estiveram com Ele fisicamente, presenciaram sua morte e foram testemunhas oculares de sua ressurreição (1 Co 15.4-8). Entretanto, o mesmo Jesus que enviou aqueles seus primeiros discípulos e enviou outros nos dias primitivos da Igreja, continua ainda hoje enviando, de forma especial, homens com uma missão delegada onde quer que se faça algum trabalho particular em favor de seu reino na face da Terra.

No grego, "apóstolo" significa mensageiro; enviado; delega­do. O Novo Testamento apresenta outros apóstolos além dos 12 discípulos de Jesus. No lugar de Judas Iscariotes entrou Matias (At 1.25,26). Depois, Paulo é reconhecido como apóstolo, e tam­bém Barnabé (At 14.14).

Há também uma corrente que ensina a sucessão apostólica e outra que rejeita a idéia da sucessão. A idéia da não-sucessão pode ser vista de dois modos. O primeiro afirma que, não haven­do sucessão dos apóstolos, não pode haver mais apóstolos, senão aqueles que foram reconhecidos na Igreja Primitiva. O segundo modo não admite a sucessão apostólica, mas crê na ação soberana e contínua de Cristo para chamar e enviar homens com uma missão especial, para realizar um trabalho que outro não fez.

A igreja católica romana defende a idéia da sucessão e coloca os papas como sucessores do apóstolo Pedro. Entretanto, não há no Novo Testamento sucessão apostólica no sentido de tomar o lugar de outrem. O que os primeiros apóstolos realizaram foi importante para a formação da Igreja no princípio, porém o mais importante não é a sucessão deles, e sim a continuidade do seu trabalho. Por isso, creio que Deus chama homens para o apostolado hoje. Paulo não foi sucessor de nenhum dos apóstolos que estive­ram com Jesus, nem tampouco Barnabé. O único nome citado no Novo Testamento que sucedeu a algum apóstolo foi Matias, que entrou no lugar de Judas Iscariotes (At 1.15-26).

Há um conceito errado quanto à função apostólica hoje. Chamam a alguns de apóstolos por causa de seu tempo de serviço na causa de Cristo ou por destaque em liderança pastoral. Entretanto, o ministério de apóstolo é tão importante quanto os demais ministérios expostos na mesma lista de Efésios 4.11. Pergunto, então: por que devemos ter evangelistas, pastores, mestres e profetas e não apóstolos, se esse ministério foi incluído no mesmo texto? É claro que não podemos generalizar a importância; ao contrário, queremos dar o devido valor a esse importante e necessário ministério na igreja atual. Entretanto, entendo que Deus comissiona certos homens para realizarem traba­lhos específicos, à semelhança de um David Wilkerson, D. L. Moody, Smith Wigglesworth, Jorge Müller, Gunnar Vingren, Daniel Berg, Hudson Taylor, Carlos Finney, Richard Wurmbrand etc.

6.1.2. Profetas

"... e outros para profetas". O ministério profético tinha um destaque notável na Igreja Primitiva. Cabia-lhe a função especial, através do Espírito Santo, de edificar, exortar e consolar (1 Co 14.3). Não significa apenas pregar ou ensinar a Palavra de Deus, mas a missão de receber diretamente do Espírito Santo, pelo dom da profe­cia, a habilidade de transmitir a Palavra do Senhor. O próprio signifi­cado da palavra "profeta" quer dizer "aquele que fala por outro". No sentido popular, a idéia que se tem do profeta é a daquele que revela °u prediz o futuro. Nos dias primitivos da igreja, vemos esse minis­tério bastante ativo, em que a vontade e a mente do Senhor eram expostos através dos profetas. Em Atos 13.1,2, lemos sobre alguns Profetas da igreja de Antioquia, na qual se destacaram alguns nomes como Barnabé, Simeão, Lúcio Cireneu, Manaem e Saulo. Atos 15.32 diz que "Judas e Silas eram também profetas e consolaram os irmãos com muitos conselhos e os fortaleceram". Ainda em Atos 11.27,28, fala-se de alguns profetas de Jerusalém que foram a Antioquia, destacando-se Ágabo, que profetizou sobre uma fome que haveria de vir a todo o mundo e foi cumprida no tempo de Cláudio César. Em Atos 21.8,9, as filhas do evangelista Filipe eram profetisas.

O ministério de profeta no Antigo Testamento era um ofício da parte de Deus. No Novo Testamento tem-se a impressão de ser, também, um ofício. Mas na lista dos "dons espirituais" (1 Co 12.10), a profecia aparece como "dom do Espírito". Como resolver o problema, então? E ofício ou dom? Ou é ofício e dom ao mesmo tempo? Alguns intérpretes fazem diferença entre dom e oficio, porém, em relação ao ministério profético no Novo Testamento, a profecia engloba tanto o dom como o ofício. Paulo, em 1 Coríntios 14.30, dá a entender que o profeta exerce sua função quando o Espírito Santo lhe inspira repenti­namente uma mensagem advinda duma súbita revelação e, obediente ao impulso do Espírito, transmite a mensagem de Deus.

Entendemos, então, que o ministério dos profetas na igreja é colocado entre outros ministérios porque é útil para a edificação da igreja. O profeta difere do apóstolo pelo fato de que o apóstolo exerce uma missão especial delegada pelo Senhor. O profeta difere do mestre porque o mestre, inspirado pelo Espírito, discorre sobre um ensinamento lógico e sistemático nas Escrituras; normalmente o mestre segue um raciocínio preestabelecido e apela mais à razão. O profeta difere do evangelista, pois este tem como função falar aos pecadores acerca das verdades divinas, procurando alcançar-lhes o coração. O evangelista apela mais para os sentimentos, para o coração, do que para a mente, pois busca decisões rápidas.

Estaria ultrapassado o ministério do profeta do Novo Testamento na atualidade? Seria mais um título do Novo Testamento dado ao pregador? Não! Existe o ministério de profeta no Novo Testamento, e a pregação pode receber o impulso profético na transmissão das verdades divinas. Devemos entender que o "profeta" na igreja é indispensável, e não significa simplesmente o dom de predizer o futuro, nem o de guiar a igreja em negócios particulares. Essencial­mente, o profeta não é um pregador, mas entendemos que um prega­dor pode exercer, na pregação, o ministério profético. Uma pregação devidamente ordenada com pensamentos lógicos e inspirados pode não ser uma mensagem profética, mas à medida que aqueles pensa­mentos vão sendo expostos, novas verdades espirituais são inspira­das ao pregador e se tornam, automaticamente, uma mensagem profética. Na verdade, o profeta é aquele que interpreta o sentimento do Espírito Santo para o povo. E um ministério que tem função poderosa, à parte a pregação. Quando o Espírito dá sobrenaturalmen­te uma mensagem ao profeta, e este a transmite com suas palavras essa profecia, ou mensagem divina, interpreta o desejo de Deus para a igreja. O ofício de profeta existe não para acrescentar outra verdade que não tenha base nas Escrituras, mas para edificar, exortar e consolar com base nas verdades já reveladas na Bíblia.

6.1.3. Evangelistas

"... e outros para evangelistas".

Este é outro ministério, cuja função é a de levar as Boas Novas de Cristo, o Salvador. Seu trabalho não é num lugar fixo, mas itinerante. É o que sai em busca dos perdidos e os traz à casa do Pai celestial.

É um ministério de suma importância dado à igreja, ou, mais especificamente, a homens escolhidos para fazerem esse traba­lho. Lamentavelmente, existe em alguns lugares uma idéia errada dessa missão. E um ministério tão importante quanto os demais, sem nada diminuir ou aumentar aquele que o exerce. E uma posição específica no corpo de Cristo, não obedece a uma ordem hierárquica, nem tampouco é uma posição inferior à de pastor. E uma função pouco reconhecida como ministério específico, se­melhante ao de Filipe, Timóteo e outros (At 21.8; 2 Tm 4.11).

É uma ordenação ministerial bem caracterizada e distinta dos demais ministérios, conforme Efésios 4.11.

O evangelista é aquela pessoa habilitada pelo Espírito para falar da salvação em Cristo. Os demais ministérios, como pastores e mestres, deixarão de ser sem o ministério do evangelista. E o evangelista quem leva os pecadores ao conhecimento de Jesus Cristo como Salvador, para, posteriormente, os pastores e mestres desenvolverem seus ministérios.

As marcas de um verdadeiro evangelista aparecem no poder sobrenatural da Palavra de Deus e nos sinais e maravilhas opera­dos por sua fé, levando as pessoas a Cristo.

O evangelista tem um ministério distinto entre os demais, mas não isolado, porque o evangelista é enviado pela igreja. E um ministério difícil e custoso, porque é ele quem vai na "frente da batalha" contra os poderes do mal. No entanto, são os demais ministérios que mantêm a conquista das almas.

6.1.4. Pastores

"... e outros para pastores". O ministério pastoral inclui outros títulos que representam a mesma função de pastor, tais como ancião, presbítero e bispo. Todos esses nomes têm o mesmo significado em relação ao ministério pastoral.

É o ministério mais desejado na atualidade, e isto se dá mais pela função atual de um pastor na igreja, que é o de exercer liderança sobre um povo em local fixo. Entretanto, o real signifi­cado de pastor, no grego, é "guardador de ovelhas". O exemplo mais claro desse significado está na identificação que Jesus fez acerca de si mesmo como "o bom Pastor que dá a sua vida pelas ovelhas" (Jo 1.11). Em outros textos do Novo Testamento, como Hebreus 13.20 e 1 Pedro 2.25; 5.4, os escritores identificam Cristo como o exemplo do verdadeiro pastor.

No princípio do Evangelho, com a formação de várias igrejas, houve a necessidade de homens piedosos e respeitados nas congrega­ções para as dirigirem. As primeiras igrejas eram entregues aos "anciãos" locais (At 11.30; 14.25; 20.17; 28). Por serem homens idosos e de larga experiência na vida, eram colocados na direção das igrejas. A palavra "ancião" referia-se mais à idade e posição deles, mas o título mais oficial era bispos ou presbíteros. Esse título indicava a idéia de uma posição de liderança na igreja local. Em outras palavras, eram pastores locais, cujo trabalho era o de alimentar o rebanho, protegê-lo dos falsos ensinos, conservar a sã doutrina, orientar os crentes na vida diária, conduzir as reuniões com "ordem e decência" (At 20.28; 1 Co 14.40; Tt 1.9,1 l;Tg 5.14; 1 Pe5.2; 2Pe2.11).

6.1.5. Mestres (doutores, ensinadores)

Até certo ponto, o pastor tem um ministério acompanhado do ensino. Ele pode exercer as duas funções. Entretanto, a função de "mestre" é específica no ministério cristão, que é ensinar a Palavra de Deus de forma lógica. Pelo fato de ser um ministério dado por Jesus, o Espírito Santo atua de maneira poderosa no sentido de aclarar as verdades divinas ensinadas aos crentes. O mestre podia ser ministro itinerante pelas igrejas. Seu trabalho era junto às almas ganhas pelos evangelistas e apóstolos. O Novo Testamento destaca Apoio como exímio ensinador; ele andava pelas igrejas ministran­do a Palavra de Deus (At 18.27; 1 Co 16.12; Tt 3.13).

É um ministério de extremo valor, mas pouco reconhecido, ou, então, prejudicado pelo sistema de governo de nossas igrejas, que, por não reconhecerem a importância de tal ministério, obrigam o "mestre" a pastorear. E como obrigar um lavrador a fazer o trabalho do alfaiate.

Igrejas sem mestres são igrejas fracas espiritualmente. Por isso, deve-se reconhecer a importância e a necessidade do minis­tério do ensino. E através do ensino sadio e racional, inspirado pelo Espírito Santo, que a igreja se justifica contra as falsas doutrinas e se fortifica contra os ataques espirituais de Satanás.

Quando os evangelistas realizam cruzadas, os ensinadores devem ser acionados para fortalecer a fé dos novos convertidos. Uma igreja não vive só de pregações; precisa também de ensino constante e firme.

6.2. O propósito dos dons ministeriais — vv. 12-16

Os dons ministeriais foram dados à igreja com objetivos espe­cíficos. Ainda que sejam manifestos em indivíduos, eles existem através de funções na igreja.

6.2.1. Há um tríplice propósito no uso dos dons ministeriais — v. 12

O aperfeiçoamento dos santos

A obra do ministério

A edificação do corpo de Cristo

Considerando cada um desses objetivos, podemos compreen­der a razão deles.

O termo "santo" designa todos os crentes vivos. Cada crente, em particular, necessita ser "separado do mundo", ou "não contaminado com as coisas do mundo", pois ser santo implica na busca da santidade. E uma condição e um processo em evolução, isto é, somos "santos" porque participamos da santi­dade do corpo de Cristo. Indica uma posição em Cristo e fora dEle; se não tivéssemos essa santidade em Cristo, jamais sería­mos aceitos perante o Pai doutra forma (Hb 12.14).

a. O aperfeiçoamento dos santos

A palavra "aperfeiçoamento" deve ser entendida no contexto da frase e em todo o texto de Paulo. Várias interpretações têm sido dadas à expressão "aperfeiçoamento dos santos". Pelo menos cinco idéias são sugeridas para a interpretação do texto que diz "... queren­do o aperfeiçoamento dos santos". A primeira sugere que a expressão significa a complementação do número de santos no corpo de Cristo; a segunda afirma que a palavra "aperfeiçoar" significa a renovação e a restrição do número dos santos; a terceira idéia é de que o sentido da palavra seria "limpeza que reduz e ordena a unidade perfeita no corpo de Cristo"; a quarta vê na palavra "aperfeiçoar" um estado de dinamismo, que reporta ao trabalho; a quinta e última preocupa-se com o sentido literal da palavra, isto é, "completar o que estava incompleto" ou "acabar com perfeição".

Portanto, "os santos" não são os crentes que já morreram, mas aqueles que procuram viver de acordo com os ensinos da Palavra de Deus. É o Espírito Santo quem aperfeiçoa os crentes, os santos no corpo de Cristo.

O verbo "aperfeiçoar" indica um processo relativo aos crentes fiéis. Deus não precisa ser santo pois Eleja o é, mas nós precisamos sê-lo.

b. A obra do ministério

O significado da frase está relacionado com o verso 11, pois entendemos que o "aperfeiçoamento dos santos" está implícito na obra dos que foram constituídos ministros.

Os dons são dados para "aperfeiçoar os santos". Indica a importância dos ministérios dentro da igreja. Esses ministérios são completos e satisfazem plenamente, à medida que eles funci­onam objetivando a unidade dos crentes em Cristo.

Esses ministérios são espirituais, pois são dados pelo Senhor. Nada têm a ver com funções eclesiásticas profissionais. São mi­nistérios dados por Deus, e os que os receberem devem desenvolvê-los na igreja. Esses ministérios são funções naturais. Eles não visam "posições" nem "senhorios", mas existem da mesma forma que outras atividades espirituais na igreja, ou seja, para o aperfei­çoamento do corpo de Cristo.

O bom desempenho da obra ministerial tem o propósito de preparar ou habilitar crentes para o serviço de Cristo. O trabalho do ministério restringe-se aqui, no contexto do verso 12, ao serviço em favor da igreja através dos "dons ministeriais".

c. A edificação do corpo de Cristo

A palavra "edificar" surge aqui como uma metáfora, pois indica uma edificação contínua e espiritual (At 9.31; 20.32; 1 Co 8.1; 14.3,4,17; 2 Co 10.8,23; 1 Tm 1.4).

É uma edificação de ordem espiritual feita sob a orientação do Espírito Santo. A Igreja é um edifício em construção, assim como o corpo místico de Cristo. Tanto a construção de um edifício quanto o desenvolvimento de um corpo vivo indicam trabalho, o que na igreja é feito pelo ministério.

Os dons foram dados à Igreja para que ela, através dos seus membros ativos, use esses dons espirituais e ministeriais na edificação e no desenvolvimento de si mesma, pois ela é o corpo de Cristo, sendo Cristo a cabeça. As figuras "edifício" e "templo" têm uma finalidade específica, que é falar do crescimento e da unidade da igreja.

6.2.2. A culminação do propósito dos dons ministeriais — vv. 13-16

6.2.2.1. O versículo 13 — "até que todos cheguemos" — indica um caminhar objetivo, vendo o alvo a ser alcançado. A palavra "até" indica um processo em realização, ou seja, alguma coisa que já começou e não pode parar. Os processos de edificação e aperfeiçoamento do versículo 12, através dos dons ministeriais, visam à culminação desse processo, que é a "unidade da fé" e o pleno conhecimento do Filho de Deus. O "conhecimento pleno do Filho de Deus" é a participação ilimitada na plenitude de Cristo, isto é, participar em tudo quanto Ele é e possui.

6.2.2.2. A palavra "todos" inclui todos os remidos em todos os tempos. "Todos" tem um sentido universal e coletivo. Não se trata aqui de indivíduos, mas de uma unidade de crentes remidos por Cristo.

6.2.2.3. "Até que todos cheguemos" aponta um alvo e aciona a gloriosa esperança de se alcançar esse alvo. Através da edificação e do desenvolvimento mútuo, o clímax espiritual desejado é possí­vel. O aperfeiçoamento total é coletivo, não uma questão individu­al. Cada crente, individualmente, deve procurar o seu aperfeiçoa­mento espiritual, mas nenhuma pessoa, por si só, alcançará esse "aperfeiçoamento". O meu aperfeiçoamento espiritual no corpo de Cristo se dará à medida que "todos" são aperfeiçoados coletiva­mente. A igreja é um todo, e os crentes participam desse "todo".

6.2.2.4. Que entendemos por "unidade da fé" (v. 13)? Observe que a unidade do Espírito fala de uma posição presente, mas a "unidade da fé" indica um futuro. Não se trata aqui da fé como um corpo de doutrinas, porém como "fé salvadora". Fé que con­duza o crente fiel ao seu destino eterno. Essa "unidade da fé" diz respeito ao "todo" da Igreja. É uma fé coletiva que leva a Igreja ao seu clímax. E uma fé coletiva porque só a fé pode produzir a unidade desejada durante o arrebatamento da Igreja, quando o "corpo", através de seus membros em toda a Terra, estará unido em tudo quanto é e possui.

6.2.2.5. "... e ao conhecimento do Filho de Deus" (v. 13). A palavra "conhecimento" aparece antecipada por outra no original grego, que é a palavra "pleno". Portanto, o "pleno conhecimento" abrange três esferas da vida do crente, isto é, alcança as áreas intelectual, experimental e espiritual. Na esfera intelectual, obtemos esse conhecimento através do estudo e da meditação. Na experimental, esse conhecimento diz respeito à comunhão com o Filho de Deus: só Ele pode conceder ao homem essa experiência. Na espiritual, esse conhecimento tem a ação do Espírito Santo no trabalho de iluminar o nosso entendimento (Ef 1.18,19).

Conhecer o Filho de Deus implica uma relação autêntica, pessoal, espiritual e real com aquEle a quem o centurião, ao pé da cruz, reconhecendo, disse: "Verdadeiramente este é o Filho de Deus". Não se trata de uma idéia ou coisa imaginária, mas de um fato baseado numa experiência com o Filho de Deus, que é pessoa (Rm 1.4; Gl 2.20; 1 Ts 1.10).

6.2.2.6. "Para que não sejamos mais meninos inconstantes" (v. 14). No original grego, a palavra "meninos" aparece como nepioi, que significa infantes ou criancinhas que ainda não falam. Dá a idéia de crentes-meninos, isto é, imaturos e inseguros. A expressão "meninos inconstantes" contrasta com esta outra — "varão perfeito" (v. 13).

Que tipos são esses "meninos inconstantes"? São aqueles crentes facilmente agitados por circunstâncias, sujeitos a mudanças provocadas por "ventos" de doutrinas falsas. São aqueles que naufragam nas dúvidas espirituais e se deixam levar pelo desânimo, que lhes causa o abandono da fé recebida. Paulo usa expressões náuticas para ilustrar aqueles que se "agitam" e são "levados" por heresias e crenças absur­das. São os que facilmente vacilam na fé quando surge qualquer "vento" de doutrina. A continuação do versículo mostra a causa que leva esses "meninos inconstantes" na fé a vacilarem. Os que trazem esses "ventos" são homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. A expressão "engano dos homens" tem um sentido mais claro para entendermos o ensino de Paulo. A palavra "engano" pode ser trocada por "estratagema", que significa originalmente "jogo de dados". En­tende-se, então, a mesma palavra "estratagema" por truque. Assim como os jogadores usam de truques (engano) no jogo de dados, assim, também, homens perniciosos a serviço de Satanás usam de formas maliciosas para enganar os mais fracos na fé, com ensinos errados que ferem frontalmente a Palavra de Deus. Para que o crente cresça na fé, até a perfeita varonilidade de Cristo, é preciso conhecer a Cristo através do ensino correto da Palavra de Deus.

6.2.2.7. "Antes, seguindo a verdade em caridade" (v. 15). Numa versão em espanhol, a frase aparece assim: "sendo verda­deiros em amor", o que dá um significado mais claro e mais profundo. De fato, o amor é a base da verdade a ser seguida (1 Co 13). No grego, o vocábulo aletheuo dá a idéia de seguir ou dizer a verdade, mas significa um sentido mais estrito da expressão "ser verdadeiro". Parece-me que entre "seguir a verdade" e "ser verda­deiro", a última expressão é mais envolvente e responsiva. "Dei­xar o erro" é abandonar o erro para "ser verdadeiro".

Há um conceito falso de justiça no que diz respeito a "ser verdadeiro". Existem os que se esforçam para ser verdadeiros sem amor, o que torna impossível o exercício da verdade, pois ela é nivelada pelo amor. A atmosfera da verdade é sentida pelo exercí­cio do amor, que impele a vida veraz do crente. Num mundo de mentiras, a verdade surge como espada de dois gumes, cortante e imparcial. Visto que o amor é o princípio normativo da vida do crente, a verdade torna-se uma estrada aberta a ser seguida. O amor é a contraposição ao erro e à mentira. Por isso, sem amor é difícil seguir a verdade. A verdade combate o erro baseada no amor.

A continuação do verso 15 diz: "cresçamos em tudo naquele que é a cabeça". A maturidade espiritual resulta de um cresci­mento que é notado pelas atitudes adultas e firmes, indicando que o "estado de infância" já passou. A expressão "cresçamos em tudo" diz respeito ao desenvolvimento da fé (crença) nas atitudes, não mais infantis, mas atitudes maduras, com os pés firmes no chão, ao invés de levianas. E um desenvolvimento "em tudo", isto é, nas relações sociais, com Deus e com nós mesmos. É um crescimento espiritual em que a cabeça, que é Cristo, comanda a vida do crente. Visto que é a cabeça que comanda o corpo, à medida que o crente vai crescendo, seu crescimento é assumido pela cabeça, Cristo. Russell N. Champlin, na obra O Novo Testamento interpretado, diz: "O desenvolvi­mento espiritual, em todas as suas dimensões, tem por fim atingir dois grandes alvos — o ético e o metafísico. E o caminho da "verdade" e do "amor" é o caminho mediante o qual atingi­mos esses alvos.

6.2.2.8. O ajustamento do corpo v. 16"... do qual todo o corpo, bem ajustado, e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor". Um crescimento dese­quilibrado prejudica o funcionamento normal do corpo. Por isso "todo o corpo", isto é, o corpo inteiro, cresce e se desen­volve por meios naturais e normais, a fim de que "cada parte" funcione em perfeita cooperação com as demais. É maravilho­sa a perfeição da unidade dos membros do corpo. Nenhuma parte ou membro funciona independentemente. Ainda que te­nha sua distinção e função no corpo, trabalha em cooperação para a unidade; unidade essa comandada pela cabeça. O corpo inteiro depende do Senhor do corpo. O crescimento e movi­mento do corpo está na obediência à cabeça. A provisão desse corpo depende do Senhor dele. A finalidade do crescimento do corpo de Cristo (a Igreja) significa o crescimento de cada parte do corpo numa justa cooperação. Nenhum membro do corpo se individualiza nem se isola dos demais membros, nem busca um crescimento próprio, mas busca o crescimento de todo o corpo. O corpo é um, por isso o crescimento espiritual do crente deve visar o crescimento de todos os demais irmãos em Cristo. Trata-se de um crescimento "em amor", visto que o amor procura a edificação de todo o corpo. Não se trata de um crescimento numérico, mas espiritual. O amor é "o vínculo da perfeição" (Cl 3.14). O amor propicia a cooperação mútua e abomina o egoísmo. Essa cooperação envolve o mesmo ideal — obediência à cabeça, Cristo. Esse amor é mais que um amor com sentido filosófico: é um amor real e busca a unidade do Espírito (Ef 4.3).

 

 

 

 

 

 

*Extraído do livro: Comentário Bíblico Efésios.Elienai Cabral.CPAD.pp.47-56,3°ed.1999.Rio de Janeiro, RJ.

O ESPÍRITO NAS DEMONSTRAÇÕES SOBRENATURAIS

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Stanley M. Horton - O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo.

         O ESPÍRITO NAS DEMONSTRAÇÕES SOBRENATURAIS

                    CAPÍTULO 10

O ministério do Espírito Santo na Igreja Primitiva foi realizado numa atmosfera de grande expectativa. Não somente esperavam, diariamente, a bênção e a manifestação dos dons espirituais, mas não se esqueciam, tampouco, que o Pentecoste era uma festa em que se ofereciam as primícias. O Pentecoste não fazia parte da colheita final. Sendo assim, antegozavam a futura volta de Cristo. De dentro da sua própria experiência pentecostal surgiu a senha: Maranata, "Nosso Senhor, vem!" Nem sequer o passar do tempo ofuscou a esperança deles. Paulo, perto de sua partida, percebeu que não viveria até contemplar o dia glorioso em que os mortos em Cristo ressuscitariam. Mas nem por isso diminui-se a sua certeza de que Jesus viria (2 Timóteo 1.12; 2.10,13; 4.7,8).

Essa esperança de ver Jesus novamente, tornou os cristãos primitivos mais conscientes do que nunca da necessidade de continuar a sua obra no poder do Espírito Santo. Nessa dispensação, o Espírito Santo é o Único que nos pode ministrar a vida, o poder e a Pessoa de Jesus. Quer Ele seja chamado o Espírito de Deus, de Cristo, da paz, da verdade, do poder, da graça ou da glória, é sempre o mesmo Espírito Santo que torna Jesus real e realiza a sua obra.

Mesmo assim, Ele se distingue de Jesus como outro Consolador ou Ajudador, e como Aquele que testifica de Cristo mediante os seus ensinos (João 14.16,26; 16.13,14) e os seus atos poderosos (Atos 2.43; Romanos 15.18,19). Ele também se distingue do Pai, e é enviado tanto pelo Pai como pelo Filho (Gálatas 4.6; João 14.26; 15.26; 16.7). Ele tem sua divindade demonstrada por tudo quanto faz, especialmente pelo fato de conhecer os mistérios de Deus (1 Coríntios 2.10,11), e roga por nós de acordo com a vontade de Deus (Romanos 8.27).

Ele também ajuda no atendimento das orações por meio da di­reção, tanto dos indivíduos como da Igreja,'segundo a vontade de Deus. Ele dirigiu Filipe a um eunuco etíope, e Pedro à casa de Cornélio, e deu à igreja em Antioquia ordens para enviar Paulo e Barnabé como missionários. Todo cristão deve tudo ao Espírito Santo que rompeu todas as barreiras e ajudou, pelo menos alguns, a ven­cer seus preconceitos embutidos e a avançar para alcançar o mundo.

Uma Vida Totalmente Dedicada a Deus

Esse desejo de servir a Deus realmente brotou da dedicação ao próprio Criador. Em todo o aspecto da vida cristã, o Espírito nos aponta a Jesus e derrama o amor de Deus em nossos corações.(1) Devemos viver no Espírito e por Ele, se verdadeiramente estamos em Cristo. Logo, nenhum aspecto da nossa vida se passa sem o seu toque. O que Ele fez em favor dos crentes do século I, ao viverem, trabalharem, esperarem e sofrerem por Cristo, deseja realizar em nosso favor. Quem sabe, pode haver uns aventais de trabalho e suadouros que Ele deseja usar para ministrar a cura hoje! Mas Ele quer nos tornar um só no Espírito e em Cristo, à medida que nos unirmos em comunhão com Ele.

O Espírito Santo está, na realidade, presente para nos guiar, quer recebamos manifestações especiais dos seus dons e revelações, quer não. Algumas pessoas pensam que não estão no Espírito, a não ser que recebam uma nova revelação, ou nova orientação, todos os dias. Mas quando Paulo foi proibido pelo Espírito de pregar na Ásia, ou seja, em Éfeso, não recebeu outra orientação. Sua fidelidade levou-o a viajar muitos dias, através da Mísia, até a fronteira da Bitínia. Foi então que recebeu outra orientação do Espírito Santo (Atos 16.6,7).

Boa parte da vida dos cristãos primitivos era dedicada a realizar fielmente a obra do Senhor e a cumprir os deveres cotidianos. Mesmo assim, essa existência não era monótona. Os dons do Espírito e a presença de Cristo eram diariamente a porção deles tanto na obra como na adoração. Era, também, uma vida de crescimento na graça e no fruto do Espírito Santo.

O crescimento na graça e o desenvolvimento do fruto do Espírito nos foi possibilitado, mediante Cristo que nos santificou pelo seu sangue (Hebreus 13.12). Essa obra nos foi concedida pelo Espírito Santo, que nos santificou através da nossa separação do mal e da nossa dedicação a Deus, quando Ele nos deu nova vida e nos colocou no corpo de Cristo (1 Coríntios 6.11), que é apenas um dos aspectos da nossa santificação. Paulo pede para que Deus nos santifique em tudo (completamente) (1 Tessalonicenses 5.23). Há, também, um aspecto contínuo de santificação em que devemos cooperar. Devemos nos apresentar a Deus (Romanos 12.1,2), e, pelo Espírito, buscar aquela santidade (dedicação, consagração em relacionamentos certos com Deus e os homens) sem a qual ninguém verá o Senhor (Hebreus 12.14). Essa é uma santidade como a dele, que o Espírito Santo nos ajuda a obter (1 Pedro 1.15,16).

Isto importa em reconhecer e pôr em prática nossa identificação com Cristo em sua morte e ressurreição. Diariamente, devemos nos considerar "como mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus nosso Senhor" (Romanos 6.11). Diariamente, devemos entregar a Deus todas as faculdades do nosso ser, como "instrumentos de justiça" (Romanos 6.13; 1 Pedro 1.5). Pelo Espírito, pois, mortificamos os impulsos da velha vida e ganhamos vitórias, ao vivermos para Jesus (Romanos 8.1,2,14; Gálatas 2.20; Filipenses 2.12,13).

Por um lado, somos transformados de um grau de glória para outro, ao contemplarmos a Jesus, e ao servirmos a Ele (2 Coríntios 3.18). Por outro lado, a mesma dedicação a Deus pode nos causar sofrimentos, em prol de Cristo e do Evangelho. Paulo não somente se considerava crucificado com Cristo, e vivendo uma nova vida em Cristo e por Ele (Gálatas 2.20), mas também estava disposto a "cumprir [quanto a sua parte] na sua carne o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja" (Colossenses 1.24). Isto é: ele ainda não morrera por amor à Igreja, mas até que isso acontecesse, estava disposto a sofrer, a fim de estabelecer o Corpo e trazer cada vez mais salvos para dentro dele.

A totalidade da santificação é a obra do Espírito Santo que mais recebe atenção no Novo Testamento. Toma precedência sobre o testemunhar, o evangelismo, a contribuição e toda outra forma de serviço cristão. Deus quer que sejamos alguém, e não apenas que façamos alguma coisa. Isso porque somente à medida que nos tornamos semelhantes a Jesus, é que o que fazemos pode ser eficaz e dar glória a Ele. Nossa adoração também, ao ser guiada e incentivada pelo Espírito, em todos os aspectos, nos encoraja exatamente nisso.

O Dom do Espírito

Devemos, no entanto, evitar a idéia de que, em nossa vida cristã, nosso objetivo principal seja o nosso aperfeiçoamento. A verdade é que conseguimos mais crescimento, enquanto servimos. O santo (dedicado, consagrado) não é o que passa todo o seu tempo no estudo, na oração e nas devoções, por mais importante que isso seja. Os vasos no tabernáculo não podiam ser usados para outros fins, mas não foi a separação do uso comum que os tornou santos. Não eram santos até serem usados no serviço de Deus. Logo, o santo é aquele que não somente é separado do mal, mas também separado para Deus, santificado e ungido para o uso do Mestre. Isto era simbolizado, no Antigo Testamento, pelo fato de que o sangue era aplicado primeiro, e depois, o óleo sobre o sangue. A purificação, portanto, era seguida por uma unção simbólica que representava a obra do Espírito na preparação para o serviço. De modo que nós também somos ungidos, assim como o foram os profetas, os reis, e os sacerdotes da antigüidade (2 Coríntios 1.21; 1 João 2.20).(2)

Os meios e o poder para o serviço provêm através dos dons espirituais. Mas é necessário fazer distinção entre os dons e o dom do Espírito. O batismo com o Espírito Santo era necessário antes de os primeiros discípulos saírem de Jerusalém ou até mesmo cumprirem a Grande Comissão. Precisavam de poder, e o próprio nome do Espírito Santo tem ligação com força.(3) Ele se manifesta como o Dom e o Poder. Ele mesmo é as primícias da grande colheita, e veio para iniciar a tarefa que trará alguns de cada raça, língua, povo e nação para estar junto do trono (Apocalipse 5.9). O mesmo batismo foi experimentado por outros, em pelo menos quatro ocasiões, registradas em Atos, conforme já vimos, bem como por alguns, posteriormente, de conformidade com Tito 3.5.

No dia de Pentecoste o recebimento do dom do Espírito foi marcado pela evidência física (ou exterior, posto que não era totalmente física) do falar em outras línguas (idiomas diferentes), conforme o Espírito concedia que falassem. Baseado no fato em que as línguas são a evidência oferecida, e especialmente no motivo em que as línguas foram a evidência convincente na casa de Cornélio ("Porque os ouviam falar línguas", Atos 10.46), há um argumento a favor da consideração das línguas como evidência física (ou exterior) do batismo com o Espírito Santo.(4)

Conforme muitos reconhecem, é difícil comprovar, pelo livro de Atos, que o falar em outras línguas não é a evidência do batismo com o Espírito Santo.(5) A maioria dos que desconsideram as línguas como a evidência do batismo apela para as Epístolas, procurando provas teológicas para seu ponto de vista.(6) Mas as Epístolas não estão tão divorciadas assim das experiências de Paulo e das pessoas para quem as escrevia. Considerá-las totalmente teológicas, para contrastar com o livro de Atos, não se encaixa com os fatos. Mesmo quando as Epístolas oferecem verdades proposicionais, tais como a justificação pela fé, relaciona-se com a experiência anterior de Abraão (Romanos 4). Conforme já vimos, boa parte do que Paulo diz a respeito do Espírito Santo nas suas

Epístolas forma um paralelo com as experiências no livro de Atos.

O argumento contra as línguas como evidência baseia-se na pergunta: "Falam todos diversas línguas?" (1 Coríntios 12.30). Já vimos que esse é um argumento muito fraco, mormente porque o verbo está no presente contínuo: "Todos continuam falando em línguas?" que significa: todos têm um ministério perante a igreja de falar em línguas?

O valor das línguas como um sinal, na edificação pessoal, nos ensina a corresponder ao Espírito Santo, de modo singelo e com a fé de uma criança. O próprio fato de que não sabemos o que dizemos nos ajuda a corresponder ao Espírito, sem imiscuir nossas próprias idéias e vontades, porque falamos conforme o Espírito nos concede que pronunciemos. Usualmente, não há algum registro em nosso cérebro, quanto ao que devemos dizer. Pelo contrário, nossas mentes estão cheias de louvor, e simplesmente (mas de modo ativo) entregamos nossos órgãos vocais, nossa boca e língua, ao Espírito Santo e falamos o que Ele concede.(7) (Alguns dizem que o Senhor lhes deu poucas palavras, antes de serem pronunciadas por eles. Quando obedeciam e falavam o que lhes vinha à mente, o Espírito Santo lhes concedia a capacidade e a liberdade de falar em línguas).

No livro de Atos, também, as línguas se manifestavam quando o dom do Espírito era recebido. Pode haver, ou não, um intervalo de tempo entre o crer para a salvação e o receber o Dom. A pessoa deve exercer a sua fé e receber o Dom tão logo se torne crente. Mas nenhum intervalo é indicado em Atos entre o receber o dom do Espírito e o receber a evidência do falar em línguas. Donald Gee fala da experiência de seu batismo com o Espírito Santo "pela fé" e, posteriormente, depois de duas semanas, da nova plenitude em sua alma, ao "começar a pronunciar palavras em uma nova língua".(8) Muitos outros têm testificado de uma experiência semelhante. Na minha própria experiência, o Espírito Santo tornou Jesus tão real que não tive consciência de estar falando em línguas. (Embora outras pessoas dissessem que eu falava). Na noite seguinte, simplesmente disse ao Senhor que se havia liberdade no dom de línguas, eu queria possuí-la. Imediatamente, as línguas se derramaram em abundância. Talvez seja essa uma questão de "o vento sopra onde quer". Temos a certeza, no entanto, que quando falamos em línguas recebemos o Dom, a respeito do qual a Bíblia fala. Sendo assim, ela é nossa bússola, e devemos julgar pela mesma a nossa experiência.

Isso não quer dizer que as línguas devam ser procuradas. Nossa atenção deve fixar-se no poderoso Batizador, no próprio Senhor Jesus Cristo. A fé que faz cumprir a sua promessa é a chave para sermos batizados com o Espírito Santo. Posto que o Batismo é para o serviço, a consagração e dedicação a Deus, sempre são a atitude certa (Romanos 6.13; 12.1). Mas não podemos programar a maneira de Ele chegar até nós. Toda ocasião mencionada no livro de Atos era diferente uma da outra. Às vezes, Ele veio a despeito do que fazemos, o mesmo caso de "o vento sopra onde quer" (João 3.8). Ele pode vir mansamente, com o mínimo sussurro. Pode vir como o som de um vento impetuoso. Estejamos dispostos a deixá-lo vir conforme Ele deseja.

Deve ser reconhecido, também, que falar em línguas é apenas a evidência do batismo com o Espírito Santo. Outras evidências se seguirão, à medida em que o Espírito transborda para todos os aspectos da vida (João 7.37,39; Atos 4.8). Podemos esperar, também, que haja profunda reverência a Deus (Atos 2.43; Hebreus 12.28); uma dedicação e consagração mais intensa ao Senhor e à sua Palavra (Atos 2.42); um amor sempre maior e mais ativo a Cristo, à Bíblia, e aos perdidos (Marcos 16.20).

De fato, sempre deve ser levado em consideração que o batismo com o Espírito Santo não é uma experiência final. Assim como o próprio Pentecoste era apenas o início da colheita, e trouxe os homens para a comunhão da adoração, do ensino e do serviço, também o batismo com o Espírito Santo é apenas a porta de entrada para um relacionamento crescente com o Espírito e com os outros

crentes. Leva a uma vida de serviço em que os dons do Espírito fornecem poder e sabedoria para a propagação do Evangelho e o crescimento da Igreja. Esse fato é evidenciado pela divulgação rápida do Evangelho em muitas áreas do mundo atual. Novas plenitudes e diretrizes para o serviço devem ser esperadas, à medida em que surgem novas necessidades, e à medida que Deus, na sua vontade soberana, leva a efeito o seu plano.

Dons Generosos do Espírito Santo

O ministério do Espírito Santo e dos seus atos era a porção da Igreja Primitiva em farta generosidade (conforme o grego indica em Gálatas 3.5; Filipenses 1.19).(10) A abundância dos dons e a maneira de se encaixarem nas necessidades do Corpo demonstram que a atuação de Deus é: "Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor" (Zacarias 4.6).(")

Não há, porém, alguma ordem especial pela qual a Bíblia relaciona os dons. Romanos 12.6-8 começa com a profecia. 1 Coríntios 12.8-10 inicia com a. palavra da sabedoria. As outras três relações começam com apóstolos. Alguns classificam os dons de acordo com a natureza deles, tais como: dons de revelação, de poder e de expressão vocal. Outros distinguem entre dons itinerantes, tais como apóstolos, mestres e evangelistas; e dons locais, tais como pastores, governos e socorros. Ou dividem-nos segundo a sua função: proclamação, ensino, serviço e administração.(12) Todas essas divisões são legítimas, mas não há maneira de evitar a coincidência que aparece em qualquer sistema de classificação.

Alguns distinguem entre dons públicos e particulares, ou entre funcionais e oficiais. Mas, usualmente, desconhecem que cada cristão tem seu próprio dom ou ofício à sua disposição.(13)

Outros distinguem entre dons extraordinários que são carismáticos, totalmente sobrenaturais, e que supõem (erroneamente) estarem além do controle do indivíduo (tais como a profecia, os milagres,

as curas e as línguas) e os chamados de comuns, não-carismáticos, que envolvem as capacidades humanas (tais como mestres, o ministério, o governar, o administrar, os socorros, a contribuição e o demonstrar misericórdia). Alguns vão mais longe nessa distin­ção, e sugerem que os apóstolos e profetas eram convenientes para estabelecer ou lançar os alicerces da Igreja (Efésios 2.20), não são necessários hoje.(14) Mas Efésios 4.7-11 deixa claro que os após­tolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres eram todos neces­sários no reestabelecimento da Igreja. Paulo não fazia distin­ção entre eles. Parece claro, também, que cada um desses minis­térios envolve dons sobrenaturais. (Alguns acham que os pro­fetas em Efésios 2.20 pertenciam ao Antigo Testamento. Mas Efésios 3.5 e 4.11 indicam distintivamente os profetas do Novo Testamento).

A Bíblia não distingue, tampouco, entre os dons que são "mais sobrenaturais" e "menos sobrenaturais". Todos fazem parte da obra do Espírito Santo através da Igreja. A declaração de Harold Horton de que todos os dons são "cem por cento milagrosos" com "nenhum elemento do que é natural"(15) é levada a extremos por alguns. Ele mesmo diz, posteriormente, que a expressão do dom "pode variar de acordo com o ofício, ou até mesmo com a personalidade da pessoa através de quem é dado".(16)

Surge, aqui, um problema quando alguns dizem que dons tais como a profecia ou a palavra da sabedoria são totalmente sobrenaturais e devem ser manifestados de um modo independente e sobrenatural que indica essa natureza milagrosa deles. Não acham que esses dons têm algo a ver com o ensino ou a pregação. Paulo contrasta o que a sabedoria humana ensina com o que o Espírito doutrina, e indica que é o Espírito quem concede a sabedoria e o conhecimento para o pregador ou ensinador. O comentário de Donald Gee é apropriado: "Se nosso conceito do que é sobrenatural nos impede de ver os dons espirituais nos ministérios da pregação e do ensino, então fica claro que é necessário corrigir nosso modo de entender o significado de sobrenatural. Talvez, no caso de alguns, trata-se de confundir o espetacular com o sobre natural". (17) Na realidade, os dons estão relacionados entre si, e cada um deles envolve uma variedade de manifestações, ou modos de expressão.

Três Grupos de Dons

Para maior conveniência, os dons são classificados em três grupos.

Primeiro: dons para o estabelecimento da igreja e para levá-la a uma maturidade em que todos os membros poderão receber seus próprios dons e contribuir para a edificação do corpo local (Efésios 4.11-16). Trata-se dos apóstolos, profetas, evangelistas e pastores-mestres que são escolhidos pelo Senhor, levados cativos por Ele, e dados como dons à Igreja. Em cada ministério, está envolvido algo mais do que uma manifestação ocasional do dom do Espírito. Assim como os primeiros apóstolos, esses são homens maduros e treinados, que não foram enviados até obterem experiência com o grande Mestre (Jesus, e depois o Espírito Santo que também é Mestre, o Espírito da Verdade). O ministério deles não era limitado a uma só igreja local. Mais cedo ou mais tarde, mudavam-se, porque tinham sido dados à Igreja.

Segundo: dons de edificação da igreja, através dos membros locais. Essas são manifestações dos dons espirituais que são dados à medida que são necessários e conforme o Espírito Santo deseja. Podem ser exercidos por qualquer membro da congregação. Mesmo assim, em alguns casos, nas congregações, um ministério pode desenvolver-se no contexto de algum dom, de modo que, nesse sentido, alguns possam ser chamados profetas, intérpretes ou operadores de milagres (1 Coríntios 12.29; 14.28). Mas isso não significa que "possuem" o dom no sentido de residir neles. São dons do Espírito, sendo que cada um é entregue conforme Ele deseja. É importante, também, que todos esses dons sejam ministrados no contexto da igreja. Há neles uma espontaneidade.(18) Não devem, porém, ser exercidos segundo os próprios sentimentos da pessoa, mas segundo a orientação da Palavra (1 Coríntios 14), e os ditames da cortesia e do amor. Esses dons não tornam, tampouco, a pessoa independente da ajuda dos outros. Todas as Epístolas de Paulo demonstram o quanto ele dependia do apoio e das orações dos membros das igrejas.

Terceiro: dons para o serviço e para alcançar os de fora. Estes incluem a administração, o governo, o ministério, a contribuição, os socorros, a misericórdia e a exortação. Outros também entram nesse grupo, por coincidirem parcialmente com os que já foram mencionados. A profecia, a fé, os milagres e as curas certamente contribuem para o alcance missionário.

Apóstolos, Embaixadores de Cristo

Jesus é o supremo Sumo Sacerdote e Apóstolo (Hebreus 3.1; João 5.36; 20.21). A palavra apóstolo era usada, no entanto, para qualquer mensageiro nomeado e comissionado a algum propósito. Epafrodito foi um mensageiro (apóstolo) nomeado pela igreja em Filipos e enviado a Paulo (Filipenses 2.25). Os companheiros de Paulo eram os mensageiros (apóstolos) enviados pelas igrejas e por elas comissionados (2 Coríntios 8.23).

Os doze, apenas, eram apóstolos específicos. Depois de uma noite em oração, Jesus os escolheu do meio de um grupo de discípulos e os chamou apóstolos (Lucas 6.13). Pedro reconheceu que os doze tinham um ministério e supervisão especiais (Atos 1.20,25,26), provavelmente tendo em mente a promessa de que eles futuramente julgariam (governariam) as 12 tribos de Israel (Mateus 19.28). Sendo assim, nenhum apóstolo foi escolhido, depois de Matias, para estar entre os doze. Nem foram nomeados substitutos, quando estes foram martirizados. Na Nova Jerusalém há apenas 12 alicerces, com os nomes dos 12 apóstolos inscritos neles (Apocalipse 21.14). Os doze, portanto, eram um grupo limitado, e realizavam uma função especial na pregação, no ensino e no estabelecimento da Igreja, além de testificar da ressurreição de Cristo, com poder. Ninguém mais pode ser um apóstolo no sentido em que eles foram.

Havia outros apóstolos, no entanto. Jesus também enviou 70 deles. Trata-se de um grupo totalmente diverso dos doze (Lucas 10.1). Mas Jesus, ao enviá-los, usou exatamente a mesma palavra que empregara para os doze (em Lucas 9.2), apostello, de onde se deriva apóstolo. Ele deu aos 70 a mesma comissão, e voltaram com os mesmos resultados.

Paulo e Barnabé também são chamados apóstolos (Atos 14.4,14). Paulo considera Andrônico e Júnias apóstolos de destaque que o antecederam (Romanos 16.7). Mas também se refere a todos os de­mais como apóstolos que atuaram antes dele (Gálatas 1.17). Ao fa­lar das aparições de Cristo, menciona que Jesus foi visto por Cefas, pelos doze, por 500, por Tiago, o irmão do Senhor, por todos os apóstolos, "e por derradeiro de todos" apareceu também a ele, "co­mo a um abortivo" (1 Coríntios 15.5-8). Parece, portanto, que o restante dos que são chamados "apóstolos", no Novo Testamento, também pertencia a um grupo limitado, do qual Paulo era o último.

Isso é confirmado pelas qualificações estabelecidas para a escolha do substituto de Judas (Atos 1.21,22). O apóstolo preci­sava ser uma testemunha em primeira mão, tanto da Ressurrei­ção como dos seus ensinos ou ditos. Foi por isso que Paulo achava, constantemente, necessário defender o seu apostolado. Diz aos coríntios: "Não sou eu apóstolo? Não sou livre? Não vi eu a Jesus Cristo Senhor nosso?" (1 Coríntios 9.1). Depois, afirma que eles são o selo, os resultados, a confirmação, do seu apostolado. Ele também escreveu aos Gálatas que recebeu a mensagem do Evan­gelho, não dos homens, não dos demais apóstolos, mas de Jesus (Gálatas 1.1,11,12,16,17). Sendo assim, foi uma testemunha em primeira mão, tanto da Ressurreição de Jesus, como dos seus ensinos.

Paulo também cumpriu as funções de um apóstolo. Depois do Pentecoste, os apóstolos realizaram muitos sinais e maravilhas (Atos 2.43; 5.12), e com grande poder testemunharam da Ressurreição de Jesus (Atos 4.33; 5.32). Ensinavam o povo (2.42), e afirmavam que o ministério da Palavra era sua principal responsabilidade (Atos 6.4; 8.25). Paulo sempre relaciona seu apostolado com a proclamação da ressurreição de Cristo, a pregação e o ensino, e os sinais de um apóstolo "com toda a paciência, por sinais, prodígios e maravilhas" (2 Coríntios 12.12; 1 Coríntios 15.9; 1 Timóteo 1.1; 2.7; 2 Timóteo 1.1,11).

Mas, a despeito dessas limitações quanto ao cargo de após­tolo, há uma continuação do ministério apostólico indica­da pelo Espírito Santo (Atos 5.32). Vemos, também, que Deus colocou na Igreja apóstolos, profetas, doutores (professores), milagres, socorros, governos, variedades de línguas (1 Coríntios 12.28). A mesma expressão é usada para esses dons que também é utilizada para as várias partes do corpo humano em 1 Corín­tios 12.18. Noutras palavras, assim como os olhos, os ouvidos, as mãos e os pés são necessários para o funcionamento do corpo, também esses dons do ministério, pela própria natureza da Igreja, são necessários para seu perfeito funciona-mento.O9)

O ministério apostólico, pois, é uma obra do edificar igrejas, exercido com os milagres que são a obra do Espírito Santo. Os apóstolos estabeleceram igrejas, dirigidas pelos presbíteros (bispos ou superintendentes, oficiais administrativos eleitos pelos crentes) e diáconos (ajudadores, também eleitos pelas congregações). Semelhante ministério continua no decurso da História da Igreja, e ainda é necessário nos dias de hoje. Falsos apóstolos surgem (Apocalipse 2.2), mas precisam ser testados pelos seus ensinos (Gálatas 1.8) e por sua vida. Os verdadeiros apóstolos edificavam a Igreja. Nenhum deles suscitou um grupo para lhe seguir.

Profetas, os que Falam em Nome de Deus

Jesus era o grande Profeta, o que havia de vir, segundo o Antigo Testamento (Atos 3.22; Mateus 21.11; João 6.14; 7.40; Deuteronômio 18.15).

O profeta, no Antigo Testamento, era um porta-voz de Deus, cheio do Espírito Santo, orientado para o que devia fazer e dizer. (Comparar Miquéias 3.8; Amos 3.8; Êxodo 7.1; 4.15,16).

A palavra, no Novo Testamento, também se refere a quem fala em nome de Deus, ao proclamar a revelação recebida diretamente do Senhor. Juntamente com os apóstolos, revelavam verdades que eram mistérios no Antigo Testamento, mas que agora são reveladas pelo Espírito Santo (Efésios 3.5), e, assim, ajudaram a estabelecer os alicerces da Igreja (Efésios 2.20). Isso subentende que foram usados para transmitir verdades que seriam incluídas no Novo Testamento.

Mas, assim como nos tempos do Antigo Testamento, havia muitos profetas que desafiavam o povo e o orientavam na adoração, mas não escreviam livros, também aconteceu no Novo Testamento. Muitos trouxeram iluminação e aplicação das verdades recebidas. Um bom exemplo é o de Silas e de Judas que levaram à Antioquia a decisão do Concilio de Jerusalém: "Depois Judas e Silas que também eram profetas, exortaram [encorajavam e desafiavam] e confirmaram [fortaleceram] os irmãos com muitas palavras" (Atos 15.32). Isso se encaixa muito bem na natureza da profecia conforme a vimos em 1 Coríntios 14.3.

Alguns profetas também eram usados para predizer o futuro, como Agaboemduas ocasiões (Atos 11.28; 21.11). Ele saiu de sua casa na Judéia para levar as mensagens de Deus. Em conseqüência da primeira, foi levantada uma oferta para ajudar a igreja em Jerusalém durante uma fome prevista e acontecida. Na segunda, a igreja foi avisada a respeito da prisão do apóstolo Paulo. Em nenhuma delas estava envolvida alguma nova doutrina. Nem foram dadas instruções quanto ao que a igreja devia fazer. Isto era assunto dos membros, mediante o Espírito Santo. Nunca houve algo semelhante à adivinhação, no ministério desses profetas.

Os que são usados regularmente pelo Espírito no exercício do dom de profecia na congregação, também são chamados profetas (1 Coríntios 14.29,32,37). A Bíblia adverte contra os falsos profetas que alegam ser usados pelo Espírito Santo, mas devem ser submetidos aprova (1 João4.1).

Evangelistas, Proclamadores de Boas Novas

O evangelista é o pregador do Evangelho, o proclamador das boas novas. Jesus foi ungido para pregar o Evangelho, e era conhecido pela sua mensagem de boas novas aos pobres (Lucas 4.18; 7.22).

A palavra evangelista é usada somente em duas passagens do Novo Testamento. Filipe ficou conhecido como evangelista (Atos 21.8). Depois, Paulo conclamou Timóteo a fazer a obra de um evangelista (2 Timóteo 4.5). Mas o verbo correspondente, com seu substantivo, é usado muitas vezes no sentido de trazer boas novas, de declarar o cumprimento das promessas (Atos 13.32), de pregar o Evangelho da graça de Deus, o Evangelho da paz, ou de simplesmente pregar a Cristo. O Evangelho são as boas novas a respeito de Jesus Cristo, que veio, não para condenar o mundo, mas para salvá-lo (João 3.17).

Ao usar Filipe como exemplo, vemos que o ministério de evangelista o levava a pessoas que não conheciam o Senhor, conforme aconteceu em Samaria, onde os milagres trouxeram alegria e o povo creu em sua pregação e foi salvo (Atos 8.6-8,12). Depois, foi levado pelo Espírito Santo ao eunuco etiope, a quem pregou (evangelizou, trouxe as boas novas) a respeito de Jesus (Atos 8.35). Portanto, tanto o evangelismo em massa como o pessoal são obra do evangelista.

Observa-se aqui uma distinção entre o evangelista e o profeta que freqüentemente não é notada. O primeiro não ia às igrejas, mas

aos pecadores. O segundo, no entanto, dirigia-se às congregações. No caso de Judas e Silas, sua obra era despertar, animar e fortalecer os crentes. Portanto, os profetas eram usados no reavivamento. É claro que havia combinações entre esses ministérios. Muitas vezes, o evangelismo é muito mais fácil, quando a igreja local é despertada, reavivada e fortalecida. Paulo informa que alguns são profetas e outros, evangelistas.

A Bíblia também nos adverte a respeito dos evangelistas. Há os que pregam outro evangelho e devem ser desconsiderados, pois são réus da condenação eterna (Gálatas 1.8,9).

Bons Alimentos dos Pastores-Mestres

Embora alguns entendam que pastores e mestres são ministérios distintos em Efésios 4.11, estão unidos entre si. A repetição das palavras uns e outros indica que apenas quatro ministérios são contemplados, e que os pastores também são mestres.

Pastor, aqui, não é usado no sentido moderno da palavra. (Nossos pastores ficam mais perto do ancião-presbítero-bispo do Novo Testamento, o oficial administrador da igreja local, "apto para ensinar": 1 Timóteo 3.2).

A palavra pastor, em todas as passagens do Novo Testamento, alude-se ao apascentador de ovelhas. A mesma palavra grega se refere a Jesus como o grande Pastor das ovelhas (Hebreus 13.20), nosso Bom Pastor (João 10.2,11,14,16; 1 Pedro 2.25). O pastor oriental levava seu rebanho para a comida e a água (Salmos 23.2). A própria palavra pastor em Hebraico significa alimentador. A principal preocupação do pastor, segundo o uso do termo aqui, não é, portanto, dirigir os negócios da igreja, mas ensinar os membros. O bom alimento, naturalmente, é a Palavra de Deus. E a tarefa do pastor-mestre é explicá-la e torná-la mais fácil para o povo compreender, assimilar e aplicar. Vivemos em um mundo em evolução, quando novos problemas, novas perguntas e novas circunstâncias precisam da ajuda de um mestre para indicar os princípios da Palavra de Deus e demonstrar como se relacionam com nossa vida diária. Esta é a obra do mestre que tem o dom do Espírito Santo e é dedicado a Cristo.(20)

Jesus é, também, o Grande Mestre. O Espírito Santo se destaca como o Ensinador, tanto quanto Ele é o Espírito de Poder e de Profecia, ou talvez ainda mais (João 14.17,26). É verdade que o Espírito Santo nos ensina diretamente (2 Coríntios 3.3; João 6.45; 1 João 2.20,27; Jeremias 31.34). Não precisamos da autoridade humana para obter a certeza da nossa salvação, nem necessitamos de alguém para nos ensinar sobre o Senhor, de uma maneira mais eficiente e pessoal. O Espírito Santo e a Palavra bastam para isso.(21)- Mas mestres com o dom do Espírito, dados por Cristo à Igreja, podem ressaltar verdades negligenciadas, e ajudar a treinar e a inspirar outros para também se tornarem mestres. Deus quer que todos se tornem mestres, para que ensinem a Palavra aos outros. Mas, primeiramente, precisamos de mestres que nos alimentem com o leite e a carne da Palavra (Hebreus 5.12-14).

Apoio é um exemplo de mestre que "regava" o que Paulo plantara em Corinto, e que ajudava as pessoas a crescer espiritualmente, mediante seu ensino que trazia refrigério (Atos 18.27; 1 Coríntios 3.6). O seu ensino deve ter vindo com "os rios de água viva", com o poderoso transbordar do Espírito Santo (João 7.38).(22) Lembre-se, também, que Apoio tinha um espírito apto para aprender (Atos 18.26).

Infelizmente, há os que "aprendem sempre, e nunca podem chegar ao conhecimento da verdade" (2 Timóteo 3.7), líderes cegos dos cegos (Mateus 15.14), falsos mestres que negam o Senhor que os comprou (2 Pedro 2.1). A estes, Deus não poupará. Os cristãos, que amam e honram a Jesus, podem desfrutar da união no Espírito e na fé, mesmo se discordarem entre si em alguns aspectos, ou até mesmo nos seus métodos de interpretar a Bíblia. Amamos os pecadores, mesmo os que negam o Senhor, quando os atraímos de volta para Deus. Mas isso é diferente da comunhão no Espírito que desfrutamos com os crentes, comunhão esta que cresce à medida que mantemos um espírito apto para aprender.

Dons para Trazer Edificação à Igreja Local

Conforme foi indicado, os dons relacionados em 1 Coríntios 12.8-10 devem ser exercidos um por vez, em várias ocasiões e por diversas pessoas, conforme o Espírito Santo deseja. Deve ser notado, ainda, que cada um desses dons é dirigido às necessidades da Igreja, mais do que aos anseios do que é usado pelo Espírito para ministrar o dom.

Uma Palavra de Sabedoria

Trata-se de uma palavra (uma proclamação, uma declaração) de sabedoria dada para satisfazer a necessidade de alguma ocasião ou de algum problema específico. Não depende da capacidade humana nem da sabedoria natural, pois é uma revelação do conselho divino.(22) Mediante esse dom, a percepção sobrenatural, tanto da necessidade como da Palavra de Deus, traz a aplicação prática daquela Palavra à necessidade ou ao problema do momento.

Porque é uma palavra de sabedoria, fica claro que é concedida apenas o suficiente para aquela necessidade. Esse dom não nos enaltece para um novo nível de sabedoria, nem nos torna impossibilitados de cometer enganos. Simplesmente nos permite usufruir dos depósitos ilimitados de Deus (Romanos 11.33). As vezes, este dom transmite uma palavra de sabedoria para orientar algreja, assim como em Atos 6.2-4; 15.13-21. É possível, também, que cumpra a promessa dada por Jesus, que daria "boca e sabedoria a que não poderão resistir nem contradizer todos quantos se vos opuserem" (Lucas 21.15). A prova de que Jesus falava em um dom sobrenatural (a palavra de sabedoria) é comprovada, quando proibiu a premeditação do que diriam nas sinagogas ou diante dos tribunais (Lucas 21.13,14). Isso certamente foi cumprido pelos apóstolos e por Estêvão (Atos 4.8-14,19-21,6.9,10).

Uma Palavra de Conhecimento

A sabedoria relaciona-se com o conhecimento. Logo, o dom (proclamação, declaração) de conhecimento tem estreito relacionamento com o dom da palavra de sabedoria. Perscrutando as Escrituras, vemos que muita coisa é dita a respeito da "iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo" (2 Coríntios 4.6), e do perfume celestial do conhecimento que Deus nos dá de Cristo (2 Coríntios 2.14).

A oração de Paulo pelos Efésios é: "Para que o Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos dê em seu conhecimento o espírito de sabedoria e de revelação..." (Efésios 1.17-23). Pelos colossenses, Paulo também ora: "que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual; para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus" (Colossenses 1.9,10). Tiago conclama à demonstração do conhecimento através de boas obras em bom trato (modo de vida louvável) (Tiago 3.13).

Há grande ênfase no conhecimento da verdade, ou seja: a verdade revelada no Evangelho (1 Timóteo 2.4; Hebreus 10.26). O conhecimento também inclui as exigências segundo o Evangelho e a sua aplicação (1 Pedro 3.7; 2 Pedro 1.5,8). Paulo diz que os judeus tinham um zelo por Deus, mas não segundo o conhecimento (Romanos 10.2). Os que possuem o conhecimento das exigências de Deus não tropeçam por causa dos escrúpulos dos que são fracos na fé, nem levam os outros a tropeçar (1 Coríntios 8.1,8,10, comparar Romanos 14.1-18).

O conhecimento, portanto, tem a ver com o conhecimento de Deus, de Cristo, do Evangelho e da aplicação do Evangelho ao viver cristão. Paulo diz, ainda: "Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus. As quais também falamos, não com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo ensina" (1 Coríntios 2.12,13).

Tudo isso se encaixa com a promessa de Cristo de que o Espírito da Verdade testificaria dele, ensinaria todas as coisas, e guiaria em toda a verdade (João 15.26; 14.26; 16.13). Há só uma conclusão possível. Uma palavra de conhecimento vem como uma declaração da verdade do Evangelho ou como a aplicação dela. É um dom que traz a iluminação sobrenatural do Evangelho, especialmente no ministério do ensino e da pregação.(24) Deus concedeu, sem dúvida, conhecimento de fatos, através de visões e de várias outras maneiras, mas não há absolutamente alguma indicação na Bíblia de que o dom da palavra do conhecimento visa trazer revelações sobre onde achar objetos perdidos ou qual o pecado ou enfermidade de uma pessoa. Pelo contrário, oferece profundo conhecimento das Escrituras.

Um exemplo disso pode ser visto na casa de Cornélio. Os discípulos, que estavam com Pedro, ficaram atônitos, quando ouviram os gentios falar em línguas conforme o Espírito lhes concedia que falassem. Pedro, porém, viu que se tratava do selo da aprovação divina sobre a fé dos gentios, e proferia uma palavra de conhecimento naquela ocasião, e depois, no Concilio de Jerusalém (Atos 10.47,48; 15.7-11).

A Fé

A fé, como um dom, é obviamente diferente da salvífica e da fidelidade que é o fruto do Espírito. Alguns entendem que se trata da fé que move montanhas, ou do tipo da que foi demonstrada pelos heróis da fé em Hebreus 11.(25) Mas assim como uma palavra de sabedoria é dada à Igreja para satisfazer a necessidade de um item específico de sabedoria, também este dom pode ser a transmissão de fé ao Corpo. O Espírito Santo pode usar um cântico, uma oração, um testemunho, ou a pregação como um canal para comunicar a fé ou erguer o nível da fé na Igreja. Essa comunicação da fé fez de Paulo um ministro capaz do Novo Testamento (novo concerto) (2

Coríntios 3.4-6). Capacitou-o a ajudar outros a receber o Espírito mediante a pregação da fé (Gálatas 3.2,5). Certamente, também, foi manifestada na oração uníssona que produziu um novo derramamento do Espírito em Jerusalém (Atos 4.31). Possivelmente, também tem sido expressada na forma de poder para levar a efeito outros tipos de ministério.

Dons de Curas

No grego, as palavras dons e curas estão no plural. Alguns en­tendem que isso significa que há uma variedade de formas desse dom.(26) Entre os que pensam assim, há quem entenda que certas pessoas têm um dom de curar um tipo de doença ou enfermidade, ao passo que outros curam outro tipo. Filipe, por exemplo, foi es­pecialmente usado para curar os paralíticos e os coxos (Atos 8.7). Outros, ainda, entendem que Deus dá a uma pessoa um dom na forma de um suprimento de curas numa ocasião específica, ao passo que outro suprimento é dado em outra ocasião, talvez a outra pessoa, mais provavelmente no ministério do evangelista.(27) A cura do coxo na porta Formosa é considerada um exemplo disso (Atos 3.6,7).

Ainda outros entendem que toda cura é um dom especial(28), isto é, o dom é para o enfermo que tem a necessidade. Logo, segundo esse ponto de vista, o Espírito Santo não torna os homens curadores. Pelo contrário, Ele providencia um novo ministério de cura para cada necessidade, à medida que ela surge na Igreja. Por exemplo, a virtude (poder) que fluiu para dentro do corpo da mulher com o fluxo de sangue trouxe para ela um gracioso dom de cura (Mateus 9.20-22). Atos 3.6 diz, literalmente: "O que tenho, isso te dou". Isso está no singular e indica um dom específico dado a Pedro para este dar ao coxo. Não parece significar que tinha um reservatório de dons de curas dentro de si mesmo, mas um novo dom para cada enfermo a quem ministrava.

Não há evidência de que os apóstolos conseguiam curar sempre

quando se sentiam dispostos, mediante algum poder residente de cura. Nem consideravam a cura o seu ministério principal. Lemos a respeito de milagres extraordinários pelas mãos de Paulo em Éfeso (Atos 9.11). Isso dá a entender que, em conexão com o estabelecimento das sete igrejas na Ásia, através do ministério de Paulo em Éfeso, foram realizados milagres incomuns que não aconteciam em todos os lugares. Sendo assim, Paulo não possuía em si mesmo nenhum dom automático que o tornasse um curador. Em Éfeso, Deus usou lenços (suadouros) e aventais (de serviço) tirados de Paulo, enquanto fazia tendas. Os milagres realizavam-se, à medida que esses objetos se tornaram instrumentos para os enfermos expressarem a sua fé. Não é fácil para um doente mostrar a sua fé, e Jesus freqüentemente fazia algo para encorajar a expressão ativa da fé. Em certa ocasião, até mesmo a sombra de Pedro foi um desses meios (Atos 5.15,16). Mas as maneiras empregadas sempre variavam entre si, e nunca lhes era permitido tornar-se em formas ou cerimônia. Deviam depositar sua fé no Senhor, e não nos meios usados para ajudá-los.

Isso nada tem a ver diretamente com os dons de curas. A ênfase em 1 Coríntios 12.9 recai na expressão desse dom, através dos vários membros individuais do Corpo. Não precisamos procurar um evangelista. (A obra dele visa primeiramente os pecadores). Talvez, nem sempre seja possível chamar os presbiteros (Tiago 5.14,15). Mas os dons de curas estão disponíveis a todos os membros da Igreja para ministrarem aos enfermos.

Operações de Maravilhas

Aqui, os dois substantivos em grego estão no plural e, de novo, a idéia é que muitas variedades de milagres ou atos de poder estão disponíveis. Maravilhas é o plural dapalavra virtude [ou poder] em Atos 1.8, e significa atos de grande poder sobrenatural que vão além de qualquer coisa realizada pelo homem. São intervenções divinas que se distinguem das curas.

Palma afirma que operações é usada quase exclusivamente para a atividade de Deus (Mateus 14.2; Marcos 6.14; Gálatas 3.5; Filipenses 3.21) ou de Satanás (2 Tessalonicenses 2.7,9; Efésios 2.2). Sugere, portanto, que esse dom é especialmente operativo em conexão com o conflito entre Deus e Satanás. Esses atos de poder, que levam Satanás à derrota, podem incluir o castigo da cegueira imposto a Elimas (Atos 13.9-11) e a expulsão de demônios.(29)

Alguns entendem que esse dom envolve a ressuscitação dos mortos ou os milagres na natureza inanimada, tais como acalmar a tempestade e andar sobre as águas.(30) Mas Donald Gee informa que faltam milagres sobre a natureza inanimada, tanto em Atos como nas Epístolas. Paulo sofreu quatro naufrágios. A descrição daquele em Malta demonstra que a providência divina conduziu todos à terra firme, mas a nado, e não mediante um milagre (2 Coríntios 11.25-27; Atos 27.43; 28.5). Há, apenas, dois registros de ressurreição de mortos (Atos 9.40; 20.10). Nos outros casos, foi-lhes indicado o consolo da ressurreição e da volta de nosso Senhor (1 Tessalonicenses 4.13-18).(31)

Tanto os dons de curas como os de operações de milagres demonstram-nos, e ao mundo em nosso derredor, que Jesus realmente é o Vitorioso. Na Cruz, o preço foi pago e a condenação de Satanás foi confirmada. Mas os resultados finais de tudo isso só serão vistos quando formos transformados e recebermos nosso corpo imortal e incorruptível, e Satanás for lançado no lago do fogo e o último inimigo, a morte, destruída (1 Coríntios 15.51-54; 15.26; Apocalipse 20.10-14). Entrementes, há dons espirituais a nossa disposição, para nos conceder um antegozo disso em curas e milagres, não conforme as exigências que fazemos, mas conforme o Espírito Santo deseja (1 Coríntios 12.11).

A Profecia

A natureza desse dom já foi estudada em conexão com 1 Coríntios 14 e com o profeta. Tudo quanto precisa ser enfatizado

aqui é que o dom estava à disposição de qualquer membro da congregação, e não apenas dos que tinham o ministério profético. De fato, por causa da edificação que a Igreja recebe através desse dom, todos são encorajados a buscá-lo. A profecia relaciona-se, também, com a iluminação dos mistérios do Evangelho. Além disso, pode haver uma variedade de expressões do dom.(32) Mas, na maioria dos casos, parece ser dirigido ao corpo dos crentes reunidos. O sermão de Pedro, conforme já foi indicado, foi um cumprimento da promessa de Joel a respeito do dom de profecia. Mas Pedro classificou as línguas, também, como parte daquele cumprimento e, conforme indica 1 Coríntios 14, elas precisam de interpre­tação, para edificarem. Tendo em vista, porém, a natureza do sermão de Pedro, é possível que durante a pregação em outras ocasiões em Atos, o dom de profecia tenha estado em operação. O pregador precisa mesmo preparar-se, mas ainda poderá haver ocasiões em que o Espírito Santo lhe dará alguma coisa a mais do que aquilo que tem nas suas anotações. Se a experiência dos profetas do Antigo Testamento serve como orientação, vemos que Deus freqüentemente lidava com eles, enquanto estavam a sós com Ele, e depois os enviava para pro­fetizar, para falar em nome dele. Através da profecia, o Espírito Santo toca nos pontos sensíveis, revela o que está oculto, e produz a convicção e a adoração, bem como o encorajamento e o estímulo à ação.C3)

Os Discernimentos de Espíritos

Mais uma vez, os plurais indicam uma variedade de formas em que este dom pode manifestar-se. Envolve um "distinguir entre" espíritos. Posto que é mencionado imediatamente depois do dom de profecia, sugere-se que está envolvido no julgar mencionado em 1 Coríntios 14.29.(34) O fato é que a pa­lavra discernimento significa formar um juízo e se relaciona com a palavra usada para julgar profecias. Envolve uma percepção que é dada de modo sobrenatural, para diferenciar entre os espíritos, bons e maus, genuínos ou falsos, a fim de chegarmos a uma conclusão.

João diz que não devemos crer em todos espíritos, mas prová-los (1 João 4.1). Às vezes, um dom do Espírito é necessário para fazer isso. A Bíblia, na realidade, fala em três espíritos: o de Deus, o do homem e o do Diabo (com os maus espíritos ou demônios com ele associados). Na operação deste dom na congregação, parece que o espírito do homem talvez cause mais problemas. Mesmo com as melhores intenções, é possível que algumas pessoas tenham a impressão de que seus próprios sentimentos são a voz do Espírito Santo. Ou, por causa do zelo excessivo ou da ignorância espiritual de como a pessoa se rende ao Espírito Santo, seu espírito possa intrometer-se.(35)

Como os demais dons, este não ergue o indivíduo a um nível mais alto de capacidade. Nem oferece a alguém o poder de olhar as pessoas e dizer de que espírito são. É um dom apropriado para uma ocasião específica. Alguns exemplos podem ser achados, possivelmente, em Atos 5.3; 8.20-23; 13.10; 16.16-18.

Línguas, Tipos ou Famílias de Idiomas

A natureza desse dom também já foi descrita em conexão com

1 Coríntios 14. Faz parte da rica variedade de dons que operam através da multidão dos crentes, mediante o mesmo Espírito Santo. O Novo Testamento indica que era comum e considerado desejável.(36)

Os paralelos entre Atos e 1 Coríntios 14 indicam que o dom, aqui, tem a mesma forma revelada pela evidência em Atos; mas o propósito em 1 Coríntios 12 é como um dom manifestado na igreja e que necessita de interpretação para trazer edificação.

É freqüentemente chamado "linguagem extática inarticulada" por pessoas que não tiveram a experiência; mas não é assim que Paulo considera o dom. Por ele falamos com Deus. Envolve comunicação. Por ele falamos mistérios, que para Paulo sempre significa verdades espirituais (1 Coríntios 14.2). A palavra grega significa idiomas, e não meras sílabas sem sentido. (37)

Se as línguas estranhas parecerem sílabas sem sentido, era assim que o idioma dos assírios soava para os hebreus (Isaías 28.11.13). Para os que não conhecem o hebraico, esse idioma também soaria como sílabas sem sentido. Nosso Pai, em hebraico, é pronunciado "a-vei-nu". "Não temerei o mal" é "lo ei-ra ra". Posto que as línguas são freqüentemente um meio de adoração e louvor, pode-se observar exclamações e repetições em muitas passagens bíblicas. Salmo 150.2: "Louvai-0 pelos seus atos poderosos", é pronunciado: "ha-le-lu-hu bi-g'vu-ro-tav". Depois, "ha-le-lu-hu" é repetido muitas vezes nos versículos que se seguem.

Não importa como as línguas soam, e nem se são idiomas de homens ou de anjos; elas significam idiomas tanto em Atos como em Coríntios. Quando falamos em línguas estranhas, o nosso espírito ora, pois ele é o meio pelo qual o dom opera e, assim, entrega a Deus nosso espírito e nossa vontade, e não apenas nossa língua e nossos órgãos vocais para a operação do dom (1 Coríntios 14.14).(38) O resultado é a linguagem, conforme o Espírito determina que falemos.

A Interpretação das Línguas

A interpretação é usualmente considerada a transmissão do si­gnificado ou do conteúdo essencial da expressão vocal em línguas(39) O significado básico da palavra é tradução. O verbo correspondente é usado para tradução em João 1.42; 9.7; e Hebreus 7.2. Mas pode significar ou tradução ou interpretação. (40) Mas mesmo quando significa tradução, não se trata necessariamente de palavra por palavra. A tarefa do tradutor é dar às palavras bom sentido e boa gramática. Por exemplo: Salmos 23.1 consiste em apenas quatro palavras em hebraico, mas em português usamos nove.

O dom, é lógico, não subentende nenhum conhecimento do idioma por parte do intérprete. É recebido diretamente do Espírito Santo, e vem à medida que prestamos atenção ao Senhor mais do que às línguas estranhas. Além disso, o dom pode chegar de várias maneiras, "ou por visão, ou por solicitude espiritual, ou por sugestão, exatamente conforme o Senhor determinar".(41) Um passo de fé pode ser exigido, também, porque o Espírito Santo freqüentemente oferece apenas poucas palavras para a interpretação. Em seguida, depois de terem sido pronunciadas pela fé, o restante vem conforme o Espírito capacita a falar.(42)

Administração (Governos)

O plural parece indicar uma variedade de expressões do dom para cumprir as necessidades de uma posição de liderança ou de administração (1 Coríntios 12.28). Outros usos dessa palavra fora do Novo Testamento subentendem transmitir conselhos sábios. Um substantivo estreitamente correlato significa o timoneiro ou piloto do navio (Atos 27.11). Parece que subentende dirigir os negócios de uma congregação, bem como liderar espiritualmente.

Provavelmente, esse era o dom do Espírito especialmente para o principal administrador, chamado o ancião ou presbítero, em comparação com os chefes das sinagogas, e chamado bispo ou superintendente na língua grega. Tratava-se de um oficial eleito que devia ser escolhido, não por politicagem nem pela influência de poder, mas mediante a sabedoria do Espírito dada à Igreja. Então, ele era equipado com os dons do Espírito e dependeria deles, e não apenas da sua capacidade de líder.

O plural também pode indicar que o dom estava à disposição de outros cargos que envolviam liderança ou administração.

Socorros, Atos Úteis

O plural indica, de novo, uma variedade de atos úteis que podem ser inspirados por esse dom. O verbo correspondente significa tomar o partido de alguém, vir socorrer alguém. É usado para o socorro aos fracos (Atos 20.35), e para dedicar-nos à bondade (1 Timóteo 6.2).

A palavra era usada, às vezes, nos antigos tempos como um termo técnico bancário: "contador-mor".(43) Esse conceito se encaixava no trabalho para o qual os sete foram escolhidos em Atos 6.2,3. Ali, a palavra mesas significa bancas de dinheiro, e se refere a um fundo de caixa que Paulo reforçou duas vezes com as ofertas que trouxe. Ele sempre cuidava para que as finanças fossem manipuladas com cuidado, e de conformidade com as instruções das igrejas. Não há algo de "anti-espiritual" nas questões do dinheiro na obra da igreja. Isto indica, também, que os diáconos, que eram "cheios do Espírito Santo e de sabedoria" (Atos 6.3), exerciam essa responsabilidade, e o Espírito fornecia-lhes os dons que necessitavam para o seu trabalho. Eles também ministravam a ajuda da igreja aos pobres, aos fracos e aos doentes. Logo, o significado comum de ações úteis também se aplica ao cargo deles, conforme o vemos na Igreja Primitiva.

Ministério, Serviço, Diaconato

Romanos 12.7 usa a palavra ministério ou serviço, provavelmente referindo-se ao ministério diaconal. A mesma palavra grega é usada tanto para o ministério da Palavra como para o dos sete diáconos em Atos 6.2,4. Freqüentemente era usada para o preparo de uma refeição, e também para os vários tipos de serviço espiritual, tal como o ministério da reconciliação (2 Coríntios 5.18). Outro uso comum era o de auxílio, ou o de distribuição de auxílio aos pobres. Isso também se encaixa no exercício do diácono. Logo, o significado, aqui, do dom do ministério é mais provavelmente o dom do Espírito que capacita o diácono a cumprir sua tarefa com poder e sabedoria. Naturalmente, não é limitado aos diáconos.

Exortação

Embora 1 Coríntios 14.3 inclua esse dom dentro do de profecia,

Romanos 12.8 relaciona-o como um dom distintivo. Abrange as idéias de conclamar, desafiar ou fazer um apelo. É possível, também, que o verbo tenha a idéia de conciliar, encorajar amizade, levar a efeito a unidade do Espírito.

A exortação específica de perseverar até o fim e de conservar diante de nós a esperança da vinda de Cristo é outro aspecto importante desse dom. Nossa esperança é um elemento vital em nossa vida cristã, e embora o estudo das Escrituras seja importante para mantê-la (Romanos 15.4), o dom do Espírito pode encorajar-nos à luz dessa esperança, e pode fazê-la viver.

Contribuir, Repartir

Trata-se de dar uma parte daquilo que possuímos, compartilhar com outros, especialmente conceder aos necessitados (Efésios 4.28). Conforme indica Efésios, não se trata primeiramente de um dom do Espírito para ajudar os ricos a distribuir as suas riquezas. Os pobres são conclamados a trabalhar com as mãos, a fim de poderem compartilhar com os necessitados. Era esse o dom ou ministério do Espírito em que todos participaram imediatamente após o Pentecoste (Atos 2.44,45; 4.34,37). Devia ser feito com singeleza, sinceridade e generosidade. Barnabé foi um dos melhores exemplos, ao passo que Ananias e Safira demonstraram o contrário.

Presidir, Dirigir, Cuidar, Dar Ajuda

Embora "presidir" seja usado a respeito do exercer a supervisão sobre alguma coisa, também é utilizado no sentido de exercer solicitude, de cuidar das pessoas, de prestar ajuda. Mais uma vez, liderar não significa dominar os outros, nem de ser tirano, mas servir.C4) Não se pensa, aqui, em governar no sentido de dirigir a obra do Espírito ou de destruir a espontaneidade da adoração. Esse dom, pelo contrário, ajuda nossos líderes a cuidar das nossas almas e leva a igreja a ser solícita na mútua ajuda, sob a liderança que Deus nos deu.

Exercer Misericórdia

Esse último dom na lista de Paulo (Romanos 12.8) tem a ver com o ministério da prática de atos de misericórdia, da ajuda ao próximo de modo gracioso e compassivo. Envolve o cuidado pessoal dos necessitados, dos enfermos, dos famintos, dos nus (daqueles que têm insuficiência de roupas) e dos encarcerados. É um dos dons mais importantes, conforme Jesus declarou (Mateus 25.31-46).

Podemos também incluir o ministério exercido por Dorcas (Atos 9.36-39). Mas, percorrendo as Escrituras, vemos o cego clamando a Jesus, pedindo um ato de misericórdia para que ele enxergasse (Marcos 10.47,51). O rico, no Hades, pediu que Lázaro fosse enviado, numa missão de misericórdia, para levar uma gota de água e refrigerar a sua língua (Lucas 16.24). O samaritano evidenciou atos de misericórdia ao homem que caiu entre salteadores (Lucas 10.37). Mas a mesma palavra é freqüentemente usada a respeito da misericórdia de Deus ao dar salvação, bênçãos e ministério (Romanos 11.30; 1 Pedro 2.10; 2 Coríntios 4.1). O Senhor, portanto, é rico em misericórdia (Efésios 2.4). Esse dom, portanto, pode ministrar a misericórdia e ajuda de Deus aos necessitados, quer a necessidade deles seja física, financeira, mental ou espiritual.

Esse dom deve ser transmitido com alegria, bom ânimo e graça. Cumprir esses atos de misericórdia por mero senso de dever, ou na esperança de obter uma recompensa, ou como uma expressão de bondade humana, não bastará. De fato, a eficácia de um ato de misericórdia freqüentemente depende mais da maneira de ser feito do que exatamente o quê ou quanto é feito. É necessário o dom do Espírito para ter um ministério desse tipo. Mesmo assim, esse dom, juntamente com o de repartir, é acessível a todos nós e, de fato, é útil para todos nós. Bom seria se todo cristão lesse Mateus 25.31-46. Não importa o modo de interpretação dessa passagem: os princípios estão sempre ali. Embora a nossa salvação não dependa de obras, se ela for real, entrará em ação. O Espírito, que glorifica a Jesus, nos ajudará a fazer todas essas coisas.

Todos os Dons são Necessários

No decorrer da História eclesiástica tem havido dependência em demasia dos recursos humanos. Enquanto houver meios financeiros, equipamentos, mão de obra, materiais e perícias técnicas à disposição, os empreendimentos são promovidos com todas as expectativas do sucesso. Mas, freqüentemente fracassam, a despeito de tudo. Por outro lado, alguns têm começado com quase nada, mas com muita confiança em Deus e uma dependência dos dons e da ajuda do Espírito Santo, e o impossível tem sido realizado.

E algo maravilhoso aprender a usar os recursos humanos disponíveis, mas na dependência total do Espírito Santo. Os dons do Espírito são o meio primário de Deus edificar a Igreja tanto espiritual como numericamente. Nada mais consegue fazer isso.

Imagine um Rolls Royce, um Cadillac, ou um outro automóvel de luxo, com toda a parte externa, os estofamentos, as almofadas, a pintura, e talvez algumas jóias ou ouro como enfeite. Suponha, porém, que ao invés de ter motor, possuísse pedais para os ocupantes fazê-lo andar pelas próprias forças deles. E ridículo? Mas assim também é, aos olhos de Deus, a igreja que tem tanto potencial humano, belos prédios e equipamentos, organização e planejamento perfeitos, mas sem os dons do Espírito!

Assim como é para nós o dom do Espírito, o batismo com o Espírito Santo, também todos os dons nos são designados. Porque não reivindicá-los, exercê-los, depender deles? São os meios que Deus providenciou, a fim de que avancemos de acordo com o que nos foi dado por Cristo Jesus nosso Senhor. O Espírito Santo, que gosta de honrar e revelar a Jesus, ministrará o seu poder a nós e por nosso intermédio. Ele não nos decepcionará. Todos os dons, pois, glorificarão a Jesus e nos prepararão para sua vinda. Então, já não serão necessários. Mas até então, eles o são.

 

 

 

Extraído do Livro: Stanley M. Horton - O que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo. cap.10, pp 145-162, CPAD.