segunda-feira, 28 de junho de 2010
Uma abordagem bíblica sobre o ministério profético
Deus revelou-se a si mesmo nas Escrituras Sagradas como ser pessoal e imanente, dentre os vários atributos comunicáveis e incomunicáveis.Neles, Ele age, galardoa e castiga; sente, ama e odeia; pensa e raciocína; adverte, julga e se comunica com suas criaturas inteligentes. Ele não deixou o ser humano à deriva no mar da vida e sua voz soa na Terra desde a criação de Adão até os dias atuais.
Ninguém no universo tem mais interesse no bem-estar dos seres humanos do que o próprio Criador. O deísmo defende a ideia de que Deus existe, mas está muito longe de nós e não se envolve com os assuntos humanos. É a doutrina disseminada pelos filósofos epicureus, sendo como um relojoeiro que dá corda a um relógio e esquece-se dele, mas o apóstolo Paulo pregou no areópago uma mensagem teísta: Deus "não está longe de cada um de nós"(At 17.27), está interessado no ser humano (Hb 11.6).
O pecado afastou toda a raça humana do seu Criador, mas Ele nunca a abandonou e propiciou meios para continuar a comunicação interrompida com a Queda no Éden. Quando Adão e Eva pecaram, procuraram se esconder de sua presença: "E ouviram a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim pela variação do dia; e escondeu-se Adão e sua mulher da presença do Senhor Deus, entre as árvores do jardim", Gn 3.8. Partiu do próprio Deus a iniciativa de se comunicar com Adão e EVa, mesmo depois de terem pecado e nunca deixou de manter contato com seus descendentes, os seres humanos: "muitas vezes e de muitas maneiras", Hb 1.1.
A manifestação divina
A forma da comunicação divina varia de acordo com cada dispensação, mas Ele nunca deixou de se manifestar a Seus servos ao longo da história do Seu povo. O Salmo 19 afirma que Ele fala de maneira silenciosa, pelas coisas que são criadas, pela Palavra e pelo testemunho pessoal dos crentes. Deus ordenou a Moisés que construísse o Tabernáculo no deserto de Sinai porque queria habitar no meio dos filhos de Israel: " E me farão um santuário, e habitarei no meio deles", Êx 25.8. Ele nunca esteve só; desde a eternidade passada, as três pessoas da Santíssima Trindade se relacionavam e se comunicavam entre si.
Os agentes usados pelo Criador, no Antigo Testamento,na comunicação de Sua Palavra ao povo, em Israel, são geralmente chamados na antropologia moderna de "mediadores". São eles os sacerdotes e os profetas: de Deus para o ser humano e do ser humano para Deus; esse contato era feito, às vezes, numa direção de mão única pelo próprio Deus intermediado pelo "anjo do Senhor", que é o próprio Deus de Israel. Ele mesmo tornou-se homem sendo em si mesmo a plenitude da revelação divina. Os apóstolos concluíram os oráculos proféticos de modo que o Cânon bíblico encerrou e nada mais nos falta. A ´Bíblia é completa.
"Ninguém no Universo tem mais interesse no bem estar dos seres humanos do que o próprio Criador"
Profecia no Antigo Testamento
O ministério profético no Antigo Testamento é de origem divina (Os 12.10). Por meio dele Deus se comunicava com o povo revelando a Sua vontade. Nem todos os profetas escreveram tudo que transmitiu ao povo de Israe, mas a mensagem que foi escrita por eles serviu não somente para o seu povo em sua geração, mas a todos os povos em todas as épocas.
Moisés e Arão fundaram o ministério dos profetas em Israel quando a congregação de setenta anciãos recebeu o Espírito Santo e profetizou no deserto de Sinai (Nm 11.24-29) e Samuel deu novo impulso à corporação. Nem todos expositores acreditam que houve uma corporação profética organizada no Antigo Testamento, mas isso é forçar demais o texto bíblico. Basta uma leitura, ainda que superficial, no relato do ministério de Samuel para revelar a existência de uma instituição profética em seus dias.
O capítuo 9 de 1 Samuel revela o ministério profético em sua forma ainda rudimentar. O Texto Sagrado mostra que a função do vidente era intermediar entre Deus e o povo, sendo que os oráculos podiam fvir sem que alguém solicitasse ou por meio de consulta pessoal. Samuel exercia as funções de sacerdote, juiz e profeta numa época em que Israel mais precisava dos seus préstimos e cuja palavra era sempre um oráculo. Essa narrativa mostra o sistema profético em desenvolvimento, revelando ainda sua função: consultar a Deus pelo povo ou quando era solicitado or alguém, abençoar o povo e interceder por ele ( 1 Sm 9.13;12.23), receber revelação divina.
Depois de Samuel, Deus levantou muitos videntes e profetas. Esses homens desenvolveram diversas atividades e funções, alguns era de origem sacerdotal como Jeremias e Ezequiel (Jr 1.1;Ez 1.3), outros atuaram na política e na administração pública como o próprio samuel e Daniel, no exílio (At 13.20;Dn 6.2-3), Amós era campônes (Am 7.14). A ocupação principal de muitos deles, como Elias, Eliseu, Jeremias,Ezequiel, entre outros, era o ministério profético.
Alguns profetas foram conselheiros de reis, vivendo na corte como Daniel e Isaías, cooperando com eles nos assuntos espirituais e políticos. Outros tiveram de enfrentar reis, como Jeremias, e autoridades incrédula buscando o bem-estar do povo.
Sua mensagem incomodava o povo e as autoridades, pois falava em nome de Javé. A mensagem não era dos eu intelecto, o Espírito Santo deu discernimento ao profeta para interpretar os acontecimentos passados e os contemporâneos. Esses homens tinham intimidade com Javé, o Deus de Israel.
Os profetas de Israel eram profundos conhecedores de seu povo e nação. Ele s conheciam assuntos de bastidores da casa real, das políticas interna e externa, e o pecado na nação, de seus príncipes e até dos sacerdotes.
Encontramos Isaías dando orientação sobre política internacional a Acaz (7.3-7). O mesmo aparece em Jeremias (37.5-9) e. muitas vezes, na política interna, ele anunciou o fim de Joacaz, a quem chama de Salum (22.11-12) e Zedequias (v3). Daniel ocupa alto cargo na política da Babilônia (6.2-3).
Oséias reprova a aliança insensata do Reino do norte com o Egito (7.11) e denuncia os abusos e a luxúria nas festas da coroação dos reis (7.5). Isso sem contar os profetas pré-clássicos como Samuel, Natã,Gade,Elias,Eliseu dentre tantos outros.
O Senhor Jesus Cristo começou o Seu ministério pelas regiões da Galiléia e da Judéias (At 10.37). A inauguração da Igreja aconteceu em Jerusalém, no dia de Pentecostes, com a descida do Espírito Santo e o batismo de quase três mil pessoas (At 2.41), mas ela já existia no propósito divino desde antes da fundação do mundo (Ef 1.4). Assim se iniciou a longa jornada da Igreja e temos em Atos o registro das primeiras décadas de sua história.
A Igreja de Jerusalém é a mãe que deu origem às demais espalhadas por todo o mundo. As igrejas do primeiro século eram pentecostais e seus membros cheios do Espírito Santo. Por
" O pecado afastou toda a raça humana do seu Criador, mas Ele nunca a abandonou, propiciou a comunicação"
essa razão atuavam com dinamismo e pregavam o Evangelhio de Jesus com ousadia por toda parte. Parece haver no livro de Atos indícios que assinalam o novo estágio do Evangelho em cada cultura. Primeiro, os judeus: "De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra" (2.41); segundo, os samaritanos: "Ouvindo que Samaria recebera a Palavra de Deus" (v14); terceiro, os gentios e os confins da terra: "Os gentios tinham recebido a palavra de Deus" (11.1).
A figura do profeta permanece no Novo Testamento, mas de natureza diferente da corporação profética de Israel, com exceção de João Batista.
Alguns são ainda assim chamados textualmente no Novo Testamento como Judas e Silas (At 15.32), sobre os que nada ou quase nada sabemos, apenas o fato de ter Silas acompanhado o apóstolo Paulo a partir da Segunda Viagem Missionária. O Texto Sagrado declara que havia entre os líderes da igreja de Antioquia "profetas e doutores" (At 13.1). Não se refere a alguém com o dom de profecia nos termos de 1 Coríntios 14.29,32, pois o assunto é sobre os dons ministériais (1 Co 12.28), concedido a alguns crentes chamados para ensinar e explicar a Igreja as profecias do Antigo Testamento.
Quando Deus fala
Os doze apóstolos, incluindo Paulo, representam para a Igreja, tanto naquela geração como nas vindouras, o mesmo que os profetas hebreus para Israel e para as nações (Ef 2.20). Com eles o Cânon se encerra. O fato de ser a Bíblia a revelação completa de Deus não significa que ele silenciou, mas o fim da inspiração sui generis das Escrituras e da autoridade exclusiva conferida aos profetas e apóstolos (Hb 1.1), pois Ele fala ainda hoje, por meio de sua própria Palavra e pelo seu Espírito Santo usando até os mesmos recursos dos profetas do Antigo Testamento, sonhos e visões (Nm 12.6;At 2.17), sendo que essa profecia é conferida à Igreja para a sua edificação e não para se fundamentar nela doutrina. Nesse contexto, Ele prometeu continuar se comunicando com Seus filhos e Suas filhas, promessa desde o Antigo Testamento (Jl 2.28-32) que começou a se cumprir no Dia de Pentecostes (At 2.16-21) e permanece até os dias atuais, e terminará quando "chegar o grande e glorioso Dia do Senhor" (At 2.20).
Tanto em Israel, nos tempos do Antigo Testamento, como na Igreja, sempre existiram os maus intérpretes dos oráculos divinos: os falsos profetas e os falsos apóstolos. As incertezas da vida e a insegurança sobre o futuro, tanto os grandes projetos como as pequenas coisas do dia-a-dia e os demais problemas humanos, acompanham os seres humanos desde o limar da História. Como encontrar solução para tudo isso? Outro ponto importante é saber a verdade absoluta. Como saber a vontade de Deus e qual deve ser atitude das pessoas no lar, no trabalho e na sociedade? Somado a tudo isso há ainda o apaixonante interesse pelo sobrenatural e pelas coisas futuras. São temas que nem a filosofia no passado deu conta e nem mesmo a ciência moderna possui a resposta para tudo isso. Muitos procuram respostas nas práticas ocultistas, qu hoje são um atrativo para pessoas dos mais diversos seguimentos sociais. Todavia, o Evangelho é a solução.
Esequias Soares é líder da AD em Jundiaí(SP), presidente da Comissão Apologética da CGADB, articulista, escritor de vários livros e comentárista das Lições Bíblicas deste Trimestre (3°/2010) para Jovens e Adultos, que traz o tema O Ministério Profético na Bíblia.
Fonte:Revista Ensinador Cristão, Ano 11-N° 43, pp.14,15,16,17.
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