JESUS,O CABECA DA IGREJA

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

 

Jesus, o cabeça da Igreja

O mundo inteiro acompanha, surpreso, a renúncia de Bento XVI, como líder maior do Catolicismo Romano. O alemão Joseph Ratzinger é o 265º papa e um dos maiores expoentes teólogos da Igreja Romana. Homem culto, que domina seis idiomas, entre eles o Português. É autor de vários livros, pianista e membro de várias academias científicas. É reconhecidamente conservador. Combateu firmemente a teologia da libertação. Como chefe de Estado e líder de um dos maiores segmentos religiosos do mundo, é uma das pessoas mais respeitadas de nosso tempo. Porém, o momento é oportuno para fazermos algumas reflexões sobre a posição que o papa ocupa. É o papa o cabeça da igreja, a pedra fundamental sobre a qual a igreja está edificada, o supremo mediador e o substituto do Filho de Deus, como preceitua a dogmática romana? Vejamos o que a Palavra de Deus ensina:
Em primeiro lugar, Jesus é o cabeça da igreja. Essa verdade está meridianamente clara em Efésios 5.23. Nenhum homem, por mais culto ou piedoso, poderia ser o comandante da igreja universal. Somente Jesus tem essa honra. Jesus é o dono da igreja, o Senhor da igreja, o cabeça que governa a igreja, o bispo universal da igreja.
Em segundo lugar, Jesus é a pedra sobre a qual a igreja está edificada. O papado está alicerçado na interpretação de que Pedro é a pedra sobre a qual a igreja está edificada e que todo papa é sucessor de Pedro. A grande questão é se essa interpretação tem amparo bíblico. O contexto de Mateus 16.18 está todo voltado para a Pessoa de Cristo. O próprio Pedro deixou claro que Jesus e não ele é a pedra sobre a qual a igreja está edificada. No começo do seu ministério Pedro disse que Jesus é a pedra (Atos 4.11) e no final do seu ministério, quando escreveu sua primeira carta, tornou a enfatizar esse mesmo fato (1 Pedro 2.4-8).
Em terceiro lugar, Jesus é o único mediador entre Deus e os homens. O título concedido aos papas, "Sumo Pontífice", significa supremo mediador. Essa expressão não cabe em nenhum líder religioso, pois a Bíblia é categórica em afirmar que só existe um Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo (1 Timóteo 2.5). O próprio Jesus disse: "Eu sou o Caminho, e a Verdade, e a Vida e ninguém vem ao Pai senão por mim" (João 14.6).
Em quarto lugar, Jesus enviou o Espírito Santo como seu substituto. O título atribuído aos papas "Vicarius Fili Dei", ou seja, substituto do Filho de Deus, também, não pode ser concedido a nenhum homem. O substituto do Filho de Deus não é o papa, nem qualquer outro líder religioso, mas o Espírito Santo (João 14.16). O Espírito Santo, sendo Deus, está para sempre com a igreja e na igreja. O Espírito Santo veio para exaltar a Cristo e nos conduzir à verdade.
Em quinto lugar, Jesus é o dono da igreja. Foi o próprio Jesus quem disse a Pedro que ele mesmo edificaria a sua igreja (Mateus 16.18). A igreja é Deus, pois foi comprada com o sangue de Jesus (Atos 20.28). Jesus nunca passou-nos uma procuração, dando-nos a liberdade para sermos os donos de sua igreja.
Em sexto lugar, Jesus é o edificador da igreja. Nós somos os cooperadores de Deus, mas é Deus mesmo quem edifica a sua igreja. Um planta, outro rega, mas o crescimento vem de Deus (1Coríntios 3.9). Jesus disse: "Eu edificarei a minha igreja" (Mateus 16.18). Não conseguiríamos acrescentar nem um membro ao corpo de Cristo, mesmo que usássemos todos os recursos da terra.
Em sétimo lugar, Jesus é o protetor da igreja. A igreja não caminha vitoriosamente à parte da assistência e proteção de Cristo. Ele disse: "… e as portas do inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus 16.18). Os inimigos da igreja são muitos e perigosos, mas Jesus é o nosso escudo e protetor. Ele é o general desse glorioso exército que caminha triunfantemente rumo à glória. Bendito seja seu santo nome!

Rev. Hernandes Dias Lopes

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Sua Igreja Possui Políticas e Práticas de Proteção Contra Falhas Pastorais? | Blog Fiel

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Sua Igreja Possui Políticas e Práticas de Proteção Contra Falhas Pastorais? | Blog Fiel 

Sua Igreja Possui Políticas e Práticas de Proteção Contra Falhas Pastorais?

Todos nós já ouvimos falar de pastores que caíram em adultério, escândalo, etc. Contudo sempre achamos que isso jamais irá acontecer em nossa igreja. Mas acontece. No texto abaixo, Thabiti Anyabwile nos leva a refletir sobre o assunto. Sua igreja possui políticas e práticas de proteção contra falhas pastorais?

Enquanto trabalhava em um capítulo de um livro a ser lançado, tive a bênção de pesquisar as falhas morais de diversos pastores proeminentes. Eu digo “bênção” porque foi esclarecedor observar algumas dinâmicas comuns e falhas nos escândalos. Na maioria dos casos, homens que deveriam ter sido desqualificados estavam de volta a seus púlpitos ou estabelecendo novos ministérios em poucos meses. Na maioria dos casos, igrejas foram seriamente feridas pelas transgressões e machucadas depois pelos inadequados esforços de reparação. Em todos os casos, o pastor ofensor recebeu mais atenção e suporte do que as vítimas de seu abuso ou enganação. Foi um exercício chorável.

Os efeitos são devastadores. Dois pesquisadores da Universidade Baylor resumiram os efeitos sociais e psicológicos da má conduta sexual clerical nas congregações. Os estudos:

sugerem que os resultados nos ofendidos incluem culpa; vergonha; perda de comunhão e amigos se forçado a mudar-se seja para escapar do julgamento da comunidade ou de um ofensor furioso que foi descoberto ou reportado; crise espiritual e perda de fé; crise familiar e divórcio; angústia psicológica, incluindo depressão e transtorno pós-traumático; enfermidade psicológica; e tentativas de suicídio com ou sem sucesso. [1]

Toda essa carnificina começa com um processo que os pesquisadores chamam de “aliciamento”.

Aliciamento inclui expressões de admiração e preocupação, gestos de afeição e toques, falar sobre um projeto em comum, e compartilhar informações pessoais (Carnes, 1997; veja também Garland, 2006). O aliciamento pode ser gradual e sutil, dessensibilizando o membro para um comportamento cada vez mais inapropriado, enquanto a recompensa pela tolerância a tal comportamento. Os ofensores podem usar linguagem religiosa para estruturar o relacionamento, como “Você é resposta às minhas orações; Eu pedi a Deus por alguém com quem eu pudesse compartilhar meus mais profundos pensamentos, orações e necessidades, e ele me enviou você” (Liberty, 2001, p. 85). O aliciamento é essencialmente a sedução em um relacionamento no qual um líder religioso possui poder espiritual sobre o membro. [2]

O estudo de Garland e Argueta concentrou-se primariamente em identificar as condições que permitem a má conduta sexual clerical. A partir de suas entrevistas a vítimas adultas do abuso clerical, eles encontraram cinco fatores que contribuem para o comportamento. Em seus próprios rótulos e descrições de início de parágrafo:

1. Falta de Reação Pessoal ou Comunitária a Situações que “Normalmente” Exigem Ação

A maioria (n=23) dos ofendidos disseram que se sentiram incertos do que estava acontecendo em seus relacionamentos com seus líderes religiosos. Cônjuges, amigos e outros líderes congregacionais também estavam incertos sobre o significado do que observaram, então não fizeram nada. Sua confiança em seu líder era maior do que a confiança em suas próprias percepções da situação. De fato, ela alterou a maneira pela qual eles interpretaram o que estavam experimentando.

2. Cultura da Gentileza

A cultura americana espera que as pessoas sejam “gentis” com os outros, mais particularmente com quem nós temos relacionamentos de cuidado. Por “gentis”, queremos dizer omitir ou ignorar o comportamento de outros que sabemos ser socialmente inapropriado ao invés de apontar o comportamento e arriscar envergonhá-los, irritá-los ou magoá-los. Os ofendidos que entrevistamos estavam vivendo através desta norma cultural, mesmo em face do comportamento flagrantemente inapropriado dos ofensores. Em outras palavras, eles não estavam simplesmente normalizando o comportamento dos ofensores e questionando suas próprias percepções; eles reconheceram que o comportamento era sexual e, portanto, inapropriado, e ainda assim não objetaram.

3. Falta de Responsabilidade

Nosso mundo aumentou cada vez mais a comunicação e a consequente habilidade de evitar a omissão ou a responsabilidade de outros. Ao invés de cartas em uma caixa de correios familiar, onde qualquer um na família pode ver que um membro recebeu uma comunicação e de quem recebeu, as cartas chegam a contas de e-mail particulares, fora da vista de todos aqueles que não sabem a senha. Ao invés de telefones sendo localizados em espaço público, como a parede da cozinha, eles agora estão em uma bolsa, ou um cinto, e podem ser usados em qualquer lugar. Tal comunicação permite uma forma de ligação e aprofundamento de relacionamento, removido da observação dos outros. Muitos dos entrevistados falaram de longas e frequentes conversas por telefone ou e-mail com os ofensores.

4. Sobreposição ou Múltiplos Papeis

Dos 46 membros ofendidos que entrevistamos, mais da metade (n=24) estavam em um relacionamento de aconselhamento formal com o líder religioso. Mais 16 reportaram que estavam se encontrando sozinhos regularmente com seu líder religioso para “direção espiritual”. Descreveram direção espiritual como uma reunião particular entre o líder e o membro na qual o membro compartilhava lutas e preocupações pessoais e o líder fornecia orientação sobre o uso das práticas espirituais como oração e meditação para lidar com tais lutas e preocupações. A característica comum desses dois grupos, juntos representando 87% da amostragem, é que o líder os estava encontrando sozinho regularmente para fornecer serviços pessoais. Em alguns casos, as interações diferiam do relacionamento de aconselhamento profissional de outros profissionais de assistência, no qual a direção do convite era reversa. Ao invés do membro pedir por ajuda, o líder religioso se voluntariava para fornecer aconselhamento ao membro.

5. Confiança no Santuário

Espera-se que a congregação e seus líderes sejam seguros, um “santuário”, onde as vulnerabilidades serão protegidas. Os membros esperam serem capazes de confessar pensamentos e lutas pessoais a seus líderes religiosos sem medo de que tais confissões possam ser usadas para manipulá-los. Líderes deveriam ser fontes seguras de orientação e perdão. Entrevistados recordaram que uma das maneiras pelas quais o ofensor ganhou a proximidade que levou à atividade sexual era usar o conhecimento adquirido a partir de suas confissões como uma maneira de violar o que seria a habilidade deles de se protegerem. Uma expectativa de proximidade emocional é assumida após compartilhar questões profundamente pessoais. A proximidade é aprofundada quando o outro sabe de aspectos da vida de alguém que poucos sabem — um segredo compartilhado. Tal proximidade emocional deu ao ofensor poder adicional como o guardador dos segredos do ofendido.

Membros confiam que seus líderes protegerão suas famílias; esses líderes são aqueles que realizam casamentos e espera-se que estejam presentes e sejam apoiadores das famílias da congregação em tempos de crise. Ao invés disso, tais ofensores frequentemente denegriam os cônjuges das mulheres, colocando um contra o outro através de coisas que eles sabiam ser vulneráveis no casamento. Após a morte de seu filho, por definição uma crise conjugal, o pastor de Paula disse a ela que seu marido nunca seria capaz de satisfazer suas necessidades. Delores lembra a tensão entre seu marido, que tinha um papel de liderança na igreja, e o pastor, quando o pastor começou um relacionamento com ela.

A experiência, as histórias da mídia, e as pesquisas, todas advertem do dano que causa a má conduta clerical. Contudo, a maioria das congregações continuam sem políticas e práticas para protegerem a si mesmas da queda de seus líderes. É claro, nenhuma igreja pode estar completamente protegida, e não queremos produzir uma atmosfera de suspeita e falta de confiança imerecidas. Mas um pouco de premeditação e planejamento poderia ser a gota de prevenção que previne a necessidade de um litro de cura. As descobertas de Garland e Argueta sugerem algumas medidas de proteção que podem servir ao pastor e ao povo.

Em sua conclusão, o artigo de Eric Reed de 2006, “Restaurando Pastores Caídos”*, fornece pelo menos algumas questões preliminares para incentivar as congregações. Se as equipes de liderança pensam através destas questões, elas pelo menos desenvolveriam os esqueleto de uma reação para as falhas morais dos líderes.

  1. Quais ofensas exigem afastamento do ministério?
  2. A exposição à pornografia é uma ofensa tão séria quanto um caso extraconjugal de fato?
  3. Quanto tempo o pastor deve ficar fora do ministério?
  4. Quais são as exigências para o aconselhamento e quem o supervisionará?
  5. Haverá qualquer suporte financeiro para o pastor e a família?
  6. A esposa do pastor será incluída no aconselhamento e nas reuniões com os oficiais da denominação ou oficiais de restauração?
  7. Após o processo de restauração, como o pastor encontrará uma nova posição, se considerado qualificado?
  8. E o que será dito à nova congregação sobre sua indiscrição e o período de remoção do ministério?

Seu pessoal, sua equipe de liderança, seus presbíteros e sua congregação possuem um conjunto de práticas e políticas que ajudam a se resguardar contra a falha moral de líderes e de abordá-la quando acontece? Após peneirar um bom número recentes artigos e escândalos, estou convencido de que preciso levar os líderes de minha igreja a discussões e propostas sobre esta questão. Os custos são altos demais para se negligenciar.

Oremos por proteção, sabedoria e santificação tanto dos líderes das igrejas quanto seus membros. Intercedamos contra os artifícios do maligno. E estejamos preparados para reagir em casos de escândalo com amor e justiça como definido pela escritura. Novamente: muito está em jogo.

Por Thabiti Anyabwile, Copyright © 2012. Copyright © 2013 The Gospel Coalition, Inc. Original: Does Your Church Have Policies and Practices to Protect Against Pastoral Failures?

Tradução: Alan Cristie. Editora Fiel © Todos os direitos reservados. Original: Sua Igreja Possui Políticas e Práticas de Proteção Contra Falhas Pastorais?

Sua Igreja Possui Políticas e Práticas de Proteção Contra Falhas Pastorais? | Blog Fiel

Teologia Brasileira - Artigo: A quem honra, honra: honremos nossos pais

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

 

A quem honra, honra: honremos nossos pais

Teologia Brasileira - Artigo: A quem honra, honra: honremos nossos pais

A quem honra, honra: honremos nossos pais Introdução: O tesouro paterno
“Não devem os filhos entesourar1 para os pais, mas os pais, para os filhos” (2Co 12.14). Paulo entendia que como pai na fé dos crentes coríntios (1Co 4.14-15; 2Co 6.13/1Co 3.6,10; 9.1)2 deveria alimentá-los e fortalecê-los em sua fé. Esta analogia fala-nos, portanto, da responsabilidade do pastor em buscar o suprimento necessário, por intermédio da Palavra, para o progresso espiritual de seu rebanho. Por isso é que “a infidelidade ou negligência de um pastor é fatal à Igreja”.3
Curiosamente a nossa palavra patrimônio (patrimonium) está associada etimologicamente à palavra pai. Recebemos nosso patrimônio de nossos pais. De fato, de modo especial na infância, com raríssimas exceções, dificilmente podemos contribuir para o aumento dos bens de nossos pais; nós apenas os recebemos. No futuro, possivelmente nossos filhos receberão os nossos bens, muito ou pouco; contudo, certamente entesourados por nós e pelos nossos pais. Salomão, inspirado por Deus, escrevera: “A casa e os bens vêm como herança dos pais....” (Pv 19.14a).
1. Com os nossos Pais
O designativo “Pais” foi aplicado aos bispos da Igreja no segundo século. A obra anônima, O Martírio de Policarpo, escrita por uma testemunha ocular do ocorrido, por volta do ano 155 AD, relata que “a turba pagã e judia desejando matar Policarpo, por ser cristão, vociferou: ‘Eis o doutor da Ásia, o pai dos cristãos, o destruidor dos deuses, que com seu ensino, afasta os homens dos sacrifícios e da adoração’.”.4 (Destaque meu). Isto indica que na época era comum referir-se aos bispos cristãos como “Pais” (no sentido acima descrito, ti-nha uma conotação pejorativa, como “pai de uma heresia” ou “pai dos hereges”). O emprego dessa expressão disseminou-se de tal forma que, no quarto século, todos os pastores e mestres que haviam participado do Concílio de Nicéia (325) eram chamados de “Pais da Igreja”.5
Entre os cristãos, a expressão aplicada aos bispos assume uma conotação carinhosa, indicando também a sua responsabilidade: “O conceito de ‘Padre da Igreja’ evidencia um aspecto da rica figura paterna: o bispo como autêntico transmissor e garante (sic) da verdadeira fé, aquele que vela pela sucessão ininterrupta da fé desde os apóstolos bem como pela continuidade e unidade da fé na comunhão com a igreja. Ele é o fiel mestre da fé, ao qual se pode recorrer nas dúvidas da fé. Essa autoridade na verdade não torna o Padre da Igreja individualmente inerrante em todos os pormenores – ele deve se ater à Sagrada Escritura e à regula fidei da igreja universal – mas, em sintonia com elas, ele é testemunha autêntica da fé e da doutrina da Igreja”.6
Etienne Gilson (1884-1978), seguindo uma compreensão clássica, diz que um “Pai” deveria apresentar quatro características: “ortodoxia doutrinal, santidade de vida, aprovação da Igreja, relativa Antiguidade (até fins do século III aproximadamente)”.7
Curiosamente, na única carta escrita por Calvino a Lutero (25/01/1545), a qual este, ao que parece, jamais recebeu, Calvino se dirige a Lutero como “meu respeitadíssimo pai”, “respeitadíssimo pai no Senhor” e “meu pai sempre honorável”.8
2. Nós e os nossos Pais
Os documentos da Igreja que recebemos não são infalíveis (nem mesmo naquilo que é consensual), nem ja-mais pretenderam isso; contudo, são os tesouros históricos e teológicos que nos foram legados. A sua auto-ridade é relativa.9 No entanto, a Igreja não pode sobreviver sem a consciência de seu passado, de suas lutas, dificuldades, fracassos e, certamente, por graça, de suas vitórias. Esta consciência deve gerar em nós um es-pírito de gratidão, humildade e desafio diante da magnitude da Revelação de Deus.
Muitas vezes em nossas lutas presentes somos terrivelmente dominados pela sensação delas serem únicas ou as mais violentas. A história de nossos pais pode ser fonte de grande estímulo e consolo para nós. Por meio da história de sua vida e testemunho podemos descobrir – às vezes para vergonha nossa –, o quanto nossos irmãos do passado lutaram bravamente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos e da qual so-mos herdeiros. O nosso presente tende a assumir dentro de alguns contextos o caráter de onipresença, como se fosse um presente contínuo,10 assim, pensamos estar sozinhos em nossa empreitada, nos esquecendo da ação abençoadora e preservadora de Deus ao longo da história que hoje, cabe ser escrita por nós. Crer no Deus Triúno é uma declaração de que não estamos sozinhos; o Pai, o Filho e o Espírito Santo estão conosco; Deus veio a nós criando a nossa fé.11 E mais: todos estamos irmanados pela mesma fé ao longo da história. O Deus em quem cremos é o meu Deus e o Deus de muitíssimos irmãos que ao longo da história têm viven-ciado e testemunhado a mesma fé.
Veith escreve com propriedade:

Os cristãos modernos são os herdeiros de uma grande tradição intelectual cristã. Essa tradição de pensamento ativo e solução prática de problemas é uma aliada vital dos cristãos que lutam contra as tendências intelectuais do mundo contemporâneo. O uso das perspectivas do passado pode fornecer uma perspectiva valiosa sobre as questões atuais. Podemos, assim, livrar-nos da tirania do presente, a suposição de que a maneira que as pessoas pensam hoje é o único modo possível de pensar.12
Na Reforma Protestante do século XVI, o uso de Catecismos e Confissões, foi de grande valia para a educa-ção dos crentes, partindo sempre do princípio da necessidade da fé explícita, de que todos os cristãos devem conhecer a sua fé, sabendo no que creem e porque creem. No Brasil, quando o presbiterianismo foi iniciado (1859), o ensino dos símbolos de Westminster teve papel decisivo na consolidação de sua identidade como Igreja Reformada. Hoje, em nome de um suposto “pluralismo” pretensamente acadêmico, o que podemos perceber, é um enfraquecimento desta ênfase, mesmo nos Seminários ditos Reformados, acarretando um desfiguramento doutrinário por parte de muitos de seus pastores e consequentemente, dos membros da igre-ja. Por trás de todo pluralismo há o mito da neutralidade acadêmica,13 como se fosse possível alguém ensinar sem seus pressupostos que conduzem a sua perspectiva da realidade. A nossa percepção e ação fundamen-tam-se em nossos pressupostos14 os quais são reforçados, transformados, lapidados ou abandonados em prol de outros, conforme a nossa percepção dos “fatos”. Os pressupostos se constituem na janela (quadro de refe-rência) por meio da qual vejo a realidade; o difícil é identificar a nossa janela, ainda que sem ela nada en-xerguemos.15 Assim, falar sobre a nossa cosmovisão, além de ser difícil verbalizá-la, é paradoxalmente des-necessário. Parece que há um pacto involuntário de silêncio o qual aponta para um suposto conhecimento comum: todos sabemos a nossa cosmovisão. Deste modo, só falamos, se falamos e quando falamos de nossa cosmovisão, é para os outros, os estranhos, não iniciados em nossa forma de pensar.16
Tenho observado que se você sustentar uma posição teológica “histórica”, independentemente de sua tradi-ção e de sua argumentação, ela tenderá a ser considerada radical e limitada. Contudo, se você simplesmente se limitar a fazer críticas às tradições teológicas, valendo-se de clichês repetidos e mesmo já abandonados, sem propor nenhuma alternativa bíblica e historicamente viáveis, você será considerado um intelectual pro-fundo, com grande argúcia e capacidade crítica. Talvez até ouça a seu respeito: “aquele cara é meio liberal, mas, é uma capacidade; ele nos faz pensar...”. Esta é uma das falácias do chamado “academicismo” moder-no.
A epistemologia antecede à lógica e esta, por mais coerente que seja, se partir de uma premissa equivocada nos conduzirá a conclusões erradas e, portanto, a uma ética com fundamentos duvidosos e inconsistentes. Portanto, a questão epistemológica antecede à práxis e em grande parte a determina.
Contudo, como nos aprofundar no campo intelectual se abandonamos as questões epistemológicas? As pala-vras de Machen (1881-1937) no início do século XX não se tornam ainda mais eloquentes nos dias de hoje?: “A igreja está hoje perecendo por falta de pensamento, não por excesso do mesmo”.17
No início do século XIX, ouvia-se o clamor de determinados grupos independentes nos Estados Unidos, que diziam o seguinte: “Nenhum credo senão a Bíblia”.18 Atitude similar ainda hoje é observada em grupos ou pessoas, dentro de denominações chamadas históricas, que manifestam de forma clara o seu desprezo para com os Credos da Igreja ou, de modo velado, não se interessando por eles, como se os Credos fossem apenas uma série de pronunciamentos antiquados, sem nenhuma relevância para a igreja contemporânea ou como se eles pretendessem se constituir numa declaração de fé que rivalizasse com as Escrituras Sagradas, devendo, portanto, ser rejeitados por não estarem de acordo com o espírito da Reforma que, corretamente, enfatizou “Sola Scriptura”.
Quando tratamos deste tema, as questões que logo vêm à baila são: estariam tais grupos ou pessoas errados? Por outro lado, as denominações que têm as suas Confissões de Fé estariam incorrendo em erros? Neste caso, os Credos e as Confissões não estariam sendo colocados no mesmo nível das Escrituras, contrariando, assim, um dos princípios da Reforma, que diz: “Sola Scriptura”?
Consideramos oportuno realçar preliminarmente, que “Lutero e os reformadores não queriam dizer por Sola Scriptura que a Bíblia é a única autoridade da igreja. Pelo contrário, queriam dizer que a Bíblia é a única au-toridade infalível dentro da Igreja”.19 A autoridade dos Credos era indiscutivelmente considerada pelos re-formadores – tendo inclusive Lutero e Calvino elaborado Catecismos para a Igreja –; contudo, somente as Escrituras são incondicionalmente autoritativas. Um juízo adequado envolve a justa medida; portanto, nem subestimar, nem superestimar. Por isso, os documentos da Igreja devem ser lidos com reverência e proveito dentro dos limites de sua riqueza e falibilidade.20
Considerações Finais
“Deus permitiu aos heréticos fustigarem sua Igreja exatamente para despertar a mente pelo conflito e para levá-la a buscar a Palavra de Deus”, afirmou Abraham Kuyper.21
Ao refletir sobre este assunto, ainda que introdutoriamente, devemos ter um espírito de gratidão, tendo como desafio nos apropriar das contribuições de nossos pais (tradição) e, em submissão ao mesmo Espírito, par-tindo das Escrituras, única autoridade infalível, e deste patrimônio riquíssimo buscar respostas para as inda-gações e questionamentos contemporâneos.
“Ouvimos, ó Deus, com os nossos próprios ouvidos: Nossos pais nos têm contado....” (Sl 44.1). Como bons filhos devemos atender ao Mandamento de Deus honrando os nossos Pais.

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1 Mt 6.19,20; Lc 12.21; Rm 2.5; 1Co 16.2; 2Co 12.14; Tg 5.3; 2Pe 3.7.
2 Irineu (c. 120-202) usa a mesma expressão, dizendo: “Quem foi instruído por outro por meio da palavra é chamado filho de quem o instruiu e este pai daquele” (Irineu, Irineu de Lião, São Paulo: Paulus, 1995, IV.41.2. p. 513). Do mesmo modo Agostinho (Veja-se: Agostinho, Comentário aos Salmos, São Paulo: Paulus, 1997, Vol. 1, (Sl 44), p. 768).
3 João Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (1Tm 4.16), p. 126.
4 O Martírio de Policarpo, XII.2. In: H. Bettenson, Documentos da Igreja Cristã, São Paulo: ASTE., 1967, p. 39. Para um estudo crítico deste documento, inclusive no que se refere à data do martírio, veja-se: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 2ª ed. Peabody Massachusetts: Hendrickson Publishers. © 1989, Vol. I, p. 646-722. Para uma visão abreviada desta discussão, ver: J.B. Lightfoot, The Apostolic Fathers, 10ª ed. Grand Rapids, Michigan: Baker, 1978, p. 103-106.
5 Agostinho (354-430) parece ter sido o primeiro a ampliar o conceito, incluindo São Jerônimo, um presbítero, entre os Pais (Cf. B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, 2ª ed. São Paulo: Paulinas, 1988, p. 19). Seguindo o exemplo de Agostinho, Vicente de Lérins em 434, aplicou o termo Pai a diversos escritores eclesiásticos sem nenhuma distinção hierárquica. (Ver: Vicente de Lérins, Commonitorium, 31 e 33. In: Philip Schaff; Henry Wace, eds. Nicene and Post-Nicene Fathers of Christian Church, Grand Rapids, Michigan: Eerdmans, (reprinted). (Second Series), 1978, Vol. XI, p. 155 e 156. 
6 Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, Petrópolis, RJ: Vozes, 2003, p. 11-12.
7 E. Gilson, A Filosofia na Idade Média, São Paulo: Martins Fontes, 1995, “Introdução”, p. XXI. Do mesmo modo: Hubertus R. Drobner, Manual de Patrologia, p. 12; B. Altaner; A. Stuiber, Patrologia, p. 20.
8 João Calvino, Cartas de João Calvino, São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 53 e 54.
9 Vejam-se: Confissão Gaulesa, Cap. V; François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, Vol. 1, p. 228-234 (com valiosos documentos); Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 13.
10 Dentro de outro contexto e abordagem, o historiador britânico contemporâneo, Eric Hobsbawn (1917-), num de seus livros, analisando a nossa presente era, diz que “quase todos os jovens de hoje crescem numa espécie de presente contínuo, sem qualquer relação orgânica com o passado público da época em que vivem” (A Era dos Extremos, São Paulo: Companhia das Letras, 1995, p. 13).
11 Veja-se: Karl Barth, Esboço de uma Dogmática, São Paulo: Fonte Editorial, 2006, p. 16-17.
12 Gene Edward Veith, Jr., De Todo o Teu Entendimento, São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 97.
13 A “neutralidade” é impossível tal qual a “objetividade” completa, no entanto, deve ser buscada. Gilberto Freyre expressou bem isto, ao dizer: "A perfeição objetiva nas Ciências do homem ou nos Estudos Sociais talvez não exista. Mas o afã de objetividade pode existir. É a marca do historiador intelectualmente honesto. E sua ausência, o sinal do intelectualismo desonesto" (Gilberto Freyre, na Apresentação da obra de Davi Gueiros Vieira, O Protestantismo, A Maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil, Brasília, Editora Universidade de Brasília, 1980, p. 9).
14 “As pressuposições ainda determinam nossos destinos, mesmo a despeito de alguma inconsistência no caminho” (R.K. McGregor Wright, A Soberania Banida: Redenção para a cultura pós-moderna, São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 15).
15 “Seria atenuar os fatos dizer que a cosmovisão ou visão de mundo é um tópico importante. Diria que compreender como são formadas as cosmovisões e como guiam ou limitam o pensamento é o passo essencial para entender tudo o mais. Compreender isso é algo como tentar ver o cristalino do próprio olho. Em geral, não vemos nossa própria cosmovisão, mas vemos tudo olhando por ela. Em outras palavras, é a janela pela qual percebemos o mundo e determinamos, quase sempre subconscientemente, o que é real e importante, ou irreal e sem importância” (Phillip E. Johnson no Prefácio à obra de Nancy Pearcey, A Verdade Absoluta: Libertando o Cristianismo de Seu Cativeiro Cultural, Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, 2006, p. 11).
16 Veja-se: James W. Sire, O Universo ao Lado, São Paulo: Hagnos, 2004, p. 21-22.
17 J.G. Machen, Cristianismo y Cultura, Barcelona: Asociación Cultural de Estudios de la Literatura Reformada, 1974, p. 19.
18 Cf. M.A. Noll, Confissões de Fé: In: Walter A. Elwell, ed. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, São Paulo: Vida Nova, 1988-1990, Vol. I, p. 340. Este tipo de declaração também tornou-se comum pelo menos, no início do século XX, quando alguns fundamentalistas além de repetirem a afirmação supra, também bradavam: “Nenhum ‘CREDO', senão Cristo” (Vejam-se:. R.B. Kuiper, El Cuerpo Glorioso de Cristo: La Santa Iglesia, Grand Rapids, Michigan: SLC., 1985, p. 100; L. Berkhof, Introduccion a la Teologia Sistematica, Grand Rapids, Michigan: T.E.L.L., c. 1973, p. 22; Gordon H. Clark, Em Defesa da Teologia, Brasília, DF.: Monergismo, 2010, p. 41). Entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, Lloyd-Jones disse com tristeza: “No presente século há marcante aversão por credos, confissões e por definições precisas. O cristianismo tornou-se um vago e indefinido espírito de boa vontade e filantropia” (David M. Lloyd-Jones, A Unidade Cristã, São Paulo: PES, 1994, p. 213).
19 R. C. Sproul, Sola Scriptura: Crucial ao Evangelicalismo: In: J.M. Boice, ed. O Alicerce da Autoridade Bíblica, São Paulo: Vida Nova, 1982, p. 122.
20 Veja-se: François Turretini, Compêndio de Teologia Apologética, São Paulo: Cultura Cristã, 2011, Vol. 1, p. 234.
21 Abraham Kuyper, A Obra do Espírito Santo, São Paulo: Cultura Cristã, 2010, p. 57.

Teologia Brasileira - Artigo: A quem honra, honra: honremos nossos pais

A ORIGEM DA BÍBLIA

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

 

A ORIGEM DA BÍBLIA

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A origem da BíbliaA Bíblia é a revelação de Deus aos homens: o Todo-Poderoso revelou-se à humanidade plenamente através de seu Filho Jesus Cristo – palavra viva; tornou-se homem para dar ao gênero humano uma idéia concreta, definida e palpável do que seja a pessoa que devemos ter em mente quando pensamos em Deus – Deus é tal qual Jesus.

Toda a Bíblia se desenvolve ao redor da bela história de Cristo e de sua promessa de vida eterna. Seu aparecimento na terra, indubitavelmente, é o acontecimento central de toda a história. Cristo é o Verbo Divino, a Palavra de Deus em ação, tema unificador: o assunto central da Bíblia.

O Antigo Testamento forneceu o cenário para o surgimento do Messias. O Novo, descreve-o com perfeição. Assim, Cristo se esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo.

Os crentes anteriores a Cristo olhavam adiante com grande expectativa, ao passo que os crentes de nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de Deus: o perfeito e harmonioso cumprimento da Bíblia.

Quem é o autor da Bíblia? Quem é seu real interprete?

Deus é o autor da Bíblia por excelência, e o Espírito Santo, seu real intérprete. Embora Deus seja o genuíno autor da Bíblia, inspirou cerca de 40 homens para escrevê-la. Esses homens tinham diferentes atividades, viviam distantes uns dos outros, tinham estilos e características distintas e eram provenientes de três continentes. O trabalho de todos levou pelo menos uns 1.500 anos – de Moisés ao apóstolo João.

Independente dessas circunstâncias, na Bíblia há um só plano, que de fato mostra que há um só autor divino, guiando os humanos. Isto é o que garante a unidade da revelação bíblica.

A formação do cânon sagrado

Você conhece a origem da Bíblia? Sabe como, em quanto tempo e, em quais condições ela foi formada? Sabe o que ela representa e sempre representará para a humanidade? A palavra “cânon”, expressão latina, deriva-se do termo grego kanõn, que significa literalmente “vara reta de medir” ou “régua de carpinteiro”. Em outras palavras, este termo denota um padrão de medida excelente e rigoroso. Aplicado às Escrituras o Cânon significa aquilo que serve de norma, regra de fé e prática. Deste modo, o Cânon Sagrado é uma coleção de livros que foram aceitos por sua autenticidade e autoridade divinas. Isto significa que os livros que hoje formam a Bíblia satisfizeram o padrão, ou seja, foram dignos de serem aceitos e incluídos. Os livros da Bíblia são denominados canônicos para não serem confundidos com os apócrifos, escritos não inspirados e não autorizados por Deus. O emprego do termo “cânon” foi primeiramente aplicado aos livros da Bíblia por Orígenes (185-254 d.C).

Como se formou, e em quanto tempo se completou o Cânon do Antigo Testamento?

O Cânon do Antigo Testamento foi formado num período aproximado de 1.046 anos – de Moisés a Esdras. Moisés começou a escrever o Pentateuco cerca de 1491 a.C., Esdras surge por volta de 445 a.C. Esdras, segundo a literatura judaica, na qualidade de escriba e sacerdote, presidiu um conselho formado por 120 membros chamado Grande Sinagoga. A Grande Sinagoga selecionou e preservou os rolos sagrados, determinando naquele tempo o cânon das Escrituras do Antigo Testamento (Ed 7.10,14). Foi essa mesma entidade que reorganizou a vida religiosa nacional dos repatriados e, mais tarde, deu origem ao supremo tribunal judaico denominado sinédrio.

A formação do Cânon se deu gradualmente

Antes mesmo de Deus ter ordenado a Moisés que escrevesse, pela primeira vez, um memorial a respeito da vitória de seu povo sobre os amalequitas, a Palavra de Deus já circulava entre os homens sob o método da transmissão oral: “Escuta-me, mostrar-te-ei; e o que tenho visto te contarei; o que os sábios anunciaram, ouvindo-o de seus pais, e o não ocultaram…” (Jó 15.17,18). Agora observe as evidências da formação do cânon na própria narrativa bíblica.

Moisés

Moisés começou a escrever o Pentateuco cerca de 1491 a.C., concluindo-o por volta de 1451 a.C. Não há evidência de que o homem tivesse a palavra de Deus escrita antes do dia em que Jeová disse a Moisés: “Escreve isto para memória num livro, e relata-o aos ouvidos de Josué…” (Êx 17.14). A memória de Amaleque seria riscada para sempre. Esse foi o juramento que fez o Senhor. O Todo-Poderoso queria que aquela vitória fosse registrada num livro para que Israel jamais se esquecesse daquele livramento, provisão e justiça divinos. Mais tarde, Deus haveria de configurar o Livro santo e reafirmar seus propósitos a Moisés: “Escreve estas palavras; porque conforme o teor destas palavras tenho feito aliança contigo e com Israel” (Êx 34.27). [grifo nosso]

Josué e Samuel

Josué (1443 a.C), sucessor de Moisés, escreveu uma obra que colocou “perante o Senhor” (Js 24.26). Samuel (1095 a.C), último juiz e profeta, também escreveu, pondo seus escritos “perante o Senhor” (1 Sm 10.25). Afinal de contas, o que significa escrever e colocar “perante o Senhor”? Sobre isto, Deus já havia instruído a Moisés: “E porás o propiciatório em cima da arca, depois que houver posto na arca o testemunho que te darei” (Êx 25.21). Tudo nos leva a crer que, naquele tempo, os livros sagrados eram depositados na Arca do Concerto à medida que iam sendo escritos. Deste modo, quem intentaria pelo menos tocar na santíssima Arca, onde o Altíssimo fulgurava sua glória? Deus havia arrumado uma forma bem original de preservar as Sagradas Escrituras.

Isaías

Isaías (770 a.C), profeta e conselheiro de confiança do rei Ezequias, afirma que suas inspiradas profecias se cumpririam cabalmente e estariam registradas por escrito no “Livro de Jeová”. Trata-se de explícita referência às Escrituras na sua formação: “Buscai no livro do Senhor, e lede…” (Is 34.16).

Salmos

Em 726 a.C. os Salmos já eram cantados: “Então o rei Ezequias e os príncipes disseram aos levitas que louvassem ao Senhor com as palavras de Davi, e de Asafe. E o louvaram com alegria e se inclinaram e adoraram” (2 Cr 29.30).

Jeremias

O Senhor ordenou a Jeremias (626 a.C) que registrasse sua promessa de trazer seu povo do cativeiro: “A palavra que do Senhor veio a Jeremias dizendo: assim diz o Senhor Deus de Israel: Escreve num livro todas as palavras que te tenho falado” (Jr 30.1,2).

Josias

No tempo do rei Josias (621 a.C), época em que o templo estava sendo reparado, o sacerdote Hilquias achou o “Livro da Lei” (2 Rs 22.8-10). Quando o Livro santo foi lido perante o rei, o grande monarca percebeu quanto o povo estava fora da vontade de Deus e renovou a aliança com o Senhor.

Este episódio é uma evidência da formação do cânon naquela época, porém, também patenteia-nos uma grande lição para os nossos dias. Quando a Palavra de Deus é relegada, o povo se corrompe.

Daniel

Daniel (553 a.C) refere-se aos “livros” (Dn 9.2). Eram os rolos sagrados das Escrituras de então.

Zacarias

Zacarias (520 a.C) declara que os profetas que o precederam falaram da parte do Espírito Santo (7.12). Não há aqui referências direta a escritos, mas há inferências. Zacarias foi o penúltimo profeta do Antigo Testamento, isto é, profeta literário.

Neemias

Neemias nos seus dias (445 a.C), achou o livro das genealogias dos judeus que já haviam regressado do exílio (7.5). Certamente havia outros livros.

Ester

Nos dias de Ester, o Livro Sagrado estava sendo escrito. Ester e Mardoqueu foram usados por Deus para livrar Israel do extermínio, intentado pelo maléfico Hamã. Para que esse feito fosse lembrado perpetuamente, instituíram e registraram “no livro” a festa de Purim: “… e escreveu-se no livro” (Et 9.32).

Nos dias de Jesus

Na época de Jesus, os 39 livros do Antigo Testamento já eram plenamente aceitos pelo judaísmo como divinamente inspirados. O Senhor referiu-se repetidas vezes ao Antigo Testamento, reconhecendo-o como a Palavra de Deus (Mt 19.4 e 22.29). Para se conferir a confiança que os escritores do Novo Testamento tinham do Antigo, basta conferir as centenas de citações da Lei, dos profetas e dos escritos feitos por eles.

Concluímos que, começando por Moisés, à proporção que os livros iam sendo escritos, eram postos no tabernáculo, junto ao grupo de livros sagrados. Esdras, como já dissemos, após a volta do cativeiro, reuniu os diversos livros e os colocou em ordem, como coleção completa. Destes originais eram feitas cópias para as sinagogas largamente disseminadas.

O Cânon do Antigo Testamento só foi realmente reconhecido e fixado no Concílio de Jâmnia em 90 d.C. Houve muitos debates acerca da aprovação de certos livros, porém, o trabalho desse Concílio foi apenas ratificar aquilo que já era aceito por todos os judeus através dos séculos.

Os livros apócrifos do Antigo Testamento

A palavra “apócrifo” significa, literalmente “escondido”, “oculto”, isto em referência a livros que tratem de coisas secretas, misteriosas, ocultas. No sentido religioso, o termo significa não genuíno, espúrio, suposto, ilegítimo. Os livros apócrifos foram escritos entre Malaquias e Mateus, ou seja, entre o Antigo e o Novo Testamento, numa época em que cessara por completo a revelação divina. Nunca foram reconhecidos pelos judeus como parte do cânon hebraico. Jamais foram citados por Jesus nem foram reconhecidos pela igreja primitiva. Apareceram pela primeira vez na Septuaginta, a tradução do Antigo Testamento feita do hebraico para o grego. Quando Jerônimo traduziu a famosa Vulgata, no início do século V, incluiu os apócrifos oriundos da septuaginta. São 11 os escritos apócrifos: sete livros e quatro acréscimos a livros. Os sete livros apócrifos constantes das Bíblias de edição católico-romana são: Tobias, Judite, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, 1 Macabeus, 2 Macabeus. Os quatro acréscimos ou apêndices são: Ester (a Ester 10.4–16.24); Cânticos dos três santos filhos (a Daniel 3.24-90); História de Suzana (a Daniel cap.13); Bel e o Dragão (a Daniel cap.14). Em 1546, no concílio de Trento, a Igreja Romana aprovou os apócrifos (escritos que apoiavam seus falsos ensinos) para combater o movimento da Reforma Protestante.

O Cânon do Novo Testamento

Como no Antigo Testamento, homens inspirados por Deus escreveram aos poucos os livros que compõem o cânon do Novo Testamento. Sua formação levou apenas duas gerações: quase 100 anos. Em 100 d.C. todos os livros do Novo Testamento estavam escritos. O que demorou foi o reconhecimento canônico, isto motivado pelo cuidado e escrúpulo das igrejas de então, que exigiam provas concludentes da inspiração divina de cada um desses livros. Outra coisa que motivou a demora na canonização foi o surgimento de escritos heréticos e espúrios com pretensão de autoridade apostólica. Trata-se dos livros apócrifos do Novo Testamento.

Por que formar um cânon para o Novo Testamento?

Jesus foi o redentor de quem o Antigo Testamento deu testemunho. Suas palavras, segundo eles, não podiam ter menos autoridade do que a Lei e os Profetas. Convencidos disto, os cristãos as repetiam sempre e as colocaram na forma escrita que se tornou o núcleo do cânon.

O tempo estava passando. Enquanto a regra tradicional da “doutrina apostólica baseada nos ensinos de Cristo e na interpretação do seu trabalho” foi mantida, não houve necessidade de escrevê-la. Mas, com a morte dos apóstolos, um a um, a tradição oral tornou-se insuficiente. As dissensões nas igrejas também tornaram o apelo à palavra escrita tanto natural quanto necessário.

Nenhum livro podia ser declarado Escritura, se não contivesse as ênfases que o tornasse como tal. Prevalecia uma unanimidade surpreendente entre as igrejas quanto aos escritos que falavam convincentemente de Deus.

O cânon do Novo Testamento aumentou sob a orientação de um instinto espiritual, em lugar da imposição de uma autoridade externa. Os escritos aceitos eram de autoria daqueles honrados pela Igreja – Mateus, João, Paulo, Pedro – assim como de pessoas menos conhecidas, apoiadas por uma autoridade apostólica – Pedro por trás de Marcos, Paulo por trás de Lucas. Alguns livros levaram mais tempo para alcançar a canonicidade. O Cânon do Novo Testamento se fixou de forma quase universal no século IV d.C., com Atanásio de Alexandria (325 d.C.). No ano de 367 d.C. Atanásio enviou uma carta estabelecendo a lista dos livros sagrados que deviam ser lidos nas igrejas. Essa lista era exatamente a mesma que contém os atuais vinte e sete livros do Novo Testamento. Porém, o cânon neotestamentário só foi definitivamente reconhecido e fixado, quando uma lista idêntica a de Atanásio foi aprovada no concílio de Cartago em 397 d.C.

A Bíblia é fruto da mente de Deus

Concluímos que a Bíblia é como a construção de um grande prédio, em que há muitos operários empregados. Cada um sabe bem o seu ofício, porém todos dependem do plano do arquiteto. Ela é perfeita e harmoniosa. Embora tivesse havido tantos autores humanos, a unidade, simplicidade e singularidade da Bíblia indicam que houve uma só mente por trás de todas, a mente de Deus. Os autores humanos fornecem variedade de estilo e matéria. O autor divino garante unidade de revelação e ensino. Teólogos liberais, através da danosa Alta Crítica, fazem de tudo para colocar a Bíblia em descrédito. Chegam a sustentar que ela é uma espécie de história secular do esforço do homem por encontrar a Deus. Rejeitamos essa idéia com repugnância! A Bíblia é a Palavra viva de Deus que narra o esforço do Todo-Poderoso por revelar-se e salvar o homem perdido.

Marcos Tuler é pedagogo, bacharel em teologia, pós-graduado em docência superior, conferencista, articulista, professor e orientador pedagógico do Seminário Evangélico Boa Esperança no Rio de Janeiro. É chefe do setor de Educação Cristã da CPAD e autor dos livros Manual do Professor da Escola Dominical e Recursos Didáticos para a Escola Dominical. (escoladominical@cpad.com.br)

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Paulo, um Modelo de Líder-Servidor

 

Paulo, um Modelo de Líder-Servidor

O líder-servidor não age egoisticamente, antes serve ao povo de Deus com espírito voluntário e solícito.

Líder-servidor: Indivíduo que, na moderna administração, é visto como o modelo ideal de liderança, pois, em vez de chefiar friamente, serve aos liderados de modo que constrange-os a trabalhar em prol do bem coletivo.

Você é um cooperador de Cristo? Atualmente muitos querem exercer liderança, mas poucos querem servir ao Mestre e a Sua Igreja. Jesus, enquanto homem perfeito, é o nosso exemplo de líder-servidor. Certa vez, Ele declarou que não veio a esse mundo para ser servido, mas para servir (Mt 20.26-28). Paulo foi um homem que seguiu as pisadas do Mestre. Ele procurou servir a Jesus em todo o tempo. Mesmo sofrendo retaliação e rejeição de alguns, Paulo amou, liderou e serviu a igreja.

No capítulo seis de 2 coríntios, Paulo em sua defesa, dando provas e descrevendo seu ministério de reconciliação, no qual ele atuava como embaixador de Cristo, representando os interesses do Reino de Deus na terra nos deixa uma lição para hoje, vejamos.

Sua liderança é demonstrada em serviço, e ele até se identifica em algumas de suas cartas como servo (Rm 1.1; 2 Co 4.5; Tt 1.1). Seu modelo de líder-servidor era o próprio Jesus, que nos deixou um grande exemplo (Jo 13.1-17; Fp 2.5-8). Por isso, Paulo exortou aos coríntios que o imitassem assim como ele imitava ao Senhor (1 Co 11.1).

PAULO SE IDENTIFICA COMO SERVIDOR DE CRISTO (2 Co 6.1,2)

1. Paulo se descreve como cooperador de Deus no ministério da reconciliação (v.1). A organização dos capítulos da Bíblia (não somente das epístolas paulinas) muitas vezes não obedece à estrutura lógica dos versículos. Os dois primeiros versículos do capítulo 6 são um complemento do capítulo cinco. Quando Paulo usa o plural e “nós, cooperando também com ele”, refere-se ao Senhor Jesus que realizou a obra expiatória, pois o Pai o fez pecado por nós (5.21), a fim de pagar a dívida da humanidade, reconciliando-nos com o Criador.

Ao tornar conhecida a obra da redenção, Paulo afirma que estamos cooperando com Jesus Cristo. Deus não depende de ninguém para fazer o que precisa ser feito, mas Ele deseja uma relação de comunhão e serviço em conjunto com o homem, para que este tenha o privilégio de participar do ministério da reconciliação.

2. Paulo, um modelo de líder-servidor. Paulo aprendeu com Jesus que o serviço é a postura ideal para quem deseja liderar, pois o Mestre mesmo disse que não tinha vindo ao mundo para ser servido, mas para servir (Mt 20.26-28). O apóstolo dedicou, pois, sua vida e personificou sua liderança como um líder-servidor. Ele procurou imitar o Mestre em tudo, servindo apenas aos interesses da Igreja de Cristo (2 Co 12.15; Fp 2.17; 1 Ts 2.8).

3. Paulo desperta os coríntios para a chegada do tempo aceitável (v.2). O versículo dois é uma citação de Isaías 49.8. Neste vaticínio do profeta messiânico, surge o Servo do Senhor (que é o Cristo profetizado), com a promessa de ajuda no dia em que a salvação for manifestada aos gentios. Paulo usa a profecia para anunciar que o tempo aceitável (favorável) é agora, o dia da salvação é hoje, e a proclamação do Evangelho que pregava está no presente. O tempo aceitável por Deus e pelos homens é agora, e todos podem participar livremente da reconciliação oferecida em Cristo. A parte final do versículo dois evidencia a preocupação paulina com os coríntios em relação à graça de Deus. A graça salvadora é para “agora”, porque este é o momento oportuno de sua aceitação.

Paulo aprendeu com Jesus que o serviço é a postura ideal para quem deseja liderar na vida eclesiástica, pois o Mestre mesmo disse que não tinha vindo ao mundo para ser servido, mas para servir.

A ABNEGAÇÃO DE UM LÍDER-SERVIDOR (6.3-10)

1. O cuidado de um líder-servidor. Paulo volta a descrever as agruras do seu ministério apostólico, a fim de fortalecer o fato de que o líder na Igreja de Cristo precisa estar pronto para enfrentar as dificuldades inerentes ao ministério. O apóstolo afirma essa verdade, com as seguintes palavras: “não dando nós escândalo em coisa alguma” (v.3). Em outras palavras, ele estava dizendo que evitava dar qualquer “mau testemunho”, para que o seu ministério em particular e o de seus companheiros não fossem desacreditados.

2. Experiências de um líder-servidor (vv.4-6). Nos versículos 4 a 6, Paulo descreve seu ministério apostólico apresentando uma série de seis tribulações e aflições experimentadas por ele. Didaticamente, ele separa esses acontecimentos em três conjuntos, contendo três “experiências” cada. Nos versículos 4 e 5, ele menciona: “aflições, necessidades e angústias” e “açoites, prisões e tumultos”. O primeiro e segundo conjuntos descrevem as várias situações de sofrimento, que causaram danos físicos e materiais ao apóstolo Paulo. Ainda no versículo cinco, ele menciona “trabalhos, vigílias e jejuns”, referindo-se às dificuldades enfrentadas em seu ministério. Porém, apesar de tudo isso, Paulo não se envergonha do Evangelho de Cristo nem desiste de continuar seu trabalho.

3. Os elementos da graça que o sustentaram nestas experiências (vv.7-10). Em contraposição às seis dificuldades mencionadas acima, no versículo seis, Paulo apresenta outros seis “elementos” que lhe deram força interior, resultantes da graça, e que o sustentaram, bem como a seus companheiros, naquelas tribulações: “pureza, ciência (conhecimento), longanimidade, benignidade, a presença do Espírito Santo e o amor não fingido (verdadeiro)”.

A “pureza”, que é o primeiro elemento, tem a ver com a atitude de um coração íntegro e mãos limpas para realizar a obra de Deus. Ao citar “ciência”, Paulo referia-se ao conhecimento da Palavra de Deus. “Longanimidade” fala da capacidade de suportar injúrias e desprezos, sem nutrir ressentimentos. A “benignidade”, traduzida às vezes por bondade, possibilita o líder cristão a não agir com revanche ou desforra. Fazer algo no Espírito Santo significa reconhecer a sua direção em todas as decisões da nossa vida. Por último, Paulo fala do “amor”, que deve este ser a nossa maior motivação para o exercício ministerial. Todos esses elementos positivos têm sua fonte no Espírito Santo (v.6), o qual produz o amor não fingido.

AS ARMAS DE ATAQUE E DEFESA DE UM LÍDER-SERVIDOR

1. As armas da justiça numa guerra espiritual (v.7). Quando usa a metáfora de “armas”, a mente de Paulo parece transferir-se para um campo de batalha. Como embaixador de Cristo, sente-se também como “um soldado” preparado para a luta. Suas armas não são materiais ou exteriores; são espirituais (Ef 6.11-17; 1 Ts 5.8). Sua força interior é o “poder de Deus” que o capacita a enfrentar as adversidades sem se render ou transigir em sua integridade moral e espiritual.

2. Os contrastes da vida cristã na experiência de um líder-servidor (vv.8-10). Nos versículos 8 a 10, o texto mostra alguns paradoxos da experiência de Paulo como servo do Senhor. O Comentário Bíblico Pentecostal da CPAD afirma que Paulo “experimentou louvor e vergonha; foi elogiado e caluniado, visto como um genuíno servo de Deus e como uma fraude enganosa; foi tratado como uma celebridade e também ignorado” (p.1099). Ora, em todas essas ocasiões, Paulo superou as dificuldades e circunstâncias sem perder de vista a perspectiva divina. Essas experiências deram-lhe condições de ter alegria frente à tristeza e, pela pobreza material, ter a certeza da inefável riqueza celestial.

3. Paulo dá uma resposta aos adeptos da Teologia da Prosperidade (v.10). “Como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo e possuindo tudo”. Paulo fala literalmente de pobreza material. Não há nada metafórico nessa frase. Ele fortalece o conceito de que a possessão material não é símbolo de riqueza espiritual. Por isso, a riqueza que Paulo podia oferecer era proveniente do Evangelho de Cristo. Dessa forma, o apóstolo demonstra que a pobreza terrena não significa nada, e que ninguém precisa tornar-se pobre para obter riquezas espirituais. A questão aqui é: Qual a nossa prioridade - Deus ou o dinheiro? Pois ninguém pode servir a dois senhores (Mt 6.24).

Paulo superou as dificuldades e circunstâncias sem perder de vista a perspectiva divina. Estas experiências lhe deram condições de ter alegria frente à tristeza e, pela pobreza material, ter a certeza da riqueza celestial.

CONCLUINDO

Se quisermos servir ao Senhor com inteireza de coração, precisamos seguir os passos de Jesus que foi, é e sempre será o modelo perfeito de líder-servidor. Ele viveu para fazer a vontade do Pai e servir a todos (Mc 10.45).

“Agora é o Dia da Salvação 6.1,2. Como cooperadores de Deus, que pertencem a Ele, como também trabalham para Ele, e como embaixadores de Cristo (2 Co 5.20), Paulo e sua equipe exortavam os coríntios a não receber a graça de Deus sem resultado algum. Os coríntios tinham recebido a graça de Deus, inclusive a salvação por Cristo, mas eles não deviam supor que a salvação é mantida automaticamente. É possível ‘deixá-la ir por nada’ (2 Co 6.1, NEB). Isto aconteceria se eles voltassem à antiga maneira de viver ou se dessem ouvidos aos críticos ‘superespirituais’ ou aos falsos apóstolos que estavam ensinando um evangelho diferente (cf. 2 Co 11.4; Gl 2.21). Precisamos viver de acordo com a nova vida que nos foi dada (cf. Jo 15.2; Deus tira os ramos que não dão frutos). A seguir, Paulo cita Isaías 49.8 e o aplica aos coríntios. Eles estavam vivendo nos dias em que a profecia estava sendo cumprida. É o dia de Deus, o tempo de Deus. Paulo não diminui a importância da era futura ou as últimas coisas. Mas eles têm de reconhecer que esta é a era final antes da era milenar. Agora é o dia em que Deus torna possível a reconciliação a Ele por Cristo. Hoje é o dia da salvação (cf. Hb 3.12-15). À medida que nos aproximamos do fim dos tempos também temos de aplicar as observações de Paulo à nossa época, de forma que não recebamos a graça de Deus ‘em vão’ [...]. Nada seria mais triste que ter recebido a graça de Deus e, no fim, se perder”.

(HORTON, S. M. I & II Coríntios: Os Problemas da Igreja e Suas Soluções. 1.ed. RJ, CPAD, 2003, pp.213-14.)

Bibliografia Elienai Cabral

Paulo, um Modelo de Líder-Servidor

A alegria do crente é ultra-CIRCUNSTANCIAL

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

 

A alegria do crente é ultra-circunstancial

Tiago, líder da igreja de Jerusalém, escreve para as doze tribos da dispersão, gente que estava vivendo no vale do sofrimento, perdendo seus bens e sua liberdade. Para esses crentes fuzilados pelos ventos da perseguição, Tiago traz uma palavra de encorajamento. Destacaremos, aqui, alguns pontos importantes:
Em primeiro lugar, as provações na vida do crente são necessárias. Tiago escreveu: "Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações (Tg 1.2). Passar pelo vale da prova não significa ausência do amor de Deus. Ser provado não é falta de fé nem expressão de imaturidade espiritual. A prova é diferente da tentação. O inimigo nos tenta para nos enfraquecer; Deus nos prova para nos fortalecer. O inimigo nos tenta para nos derrubar; Deus nos prova para nos transformar. Um atleta só tem um desempenho notório quando se submete à disciplina das provas. Através das provas, Deus vai esculpindo em nós o caráter de Cristo. Por meio do sofrimento, Deus vai nos burilando e nos tornando semelhantes a Cristo, que aprendeu pelas coisas que sofreu.
Em segundo lugar, as provações na vida do crente são variadas. Tiago diz que os crentes passam não por poucas, mas por várias provações. Essa palavra significa "de diversas cores". Há provas amenas e provas severas. Há provas leves e provas pesadas. Há diversas tonalidades de provas. Para cada prova, entretanto, há uma graça especial de Deus que nos capacita a enfrentá-la. Deus não nos prova além de nossas forças. Com a prova, Deus provê também o livramento. As provas não são produto do acaso, mas têm sua gênese na soberana providência divina. Mesmo quando o diabo e suas hostes lançam seus dardos inflamados contra nós, Deus transforma essas situações em bênção para nós. Podemos afirmar, com uma convicção inabalável: "Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito" (Rm 8.28).
Em terceiro lugar, as provações na vida do crente são passageiras. As provas vêm e vão, mas nós prosseguimos em nossa jornada rumo ao céu. Cruzamos desertos tórridos, descemos a vales escuros, escalamos montanhas íngremes e atravessamos pântanos perigosos, mas mesmo sangrando nossos pés nesse caminho estreito, marchamos resolutamente rumo à bem-aventurança eterna. Nós nos alegramos não por ficarmos nas provas, mas por passarmos por elas.
Em quarto lugar, as provações na vida do crente são propositais. O projeto de Deus é nossa maturidade espiritual. A provação produz perseverança e a perseverança tem como objetivo sermos perfeitos e íntegros, em nada deficientes (Tg 1.3,4). Não há maturidade espiritual sem prova. Não há fortalecimento das musculaturas da nossa alma sem exercício. Somos provados para sermos aprovados. A fornalha das provações queimam apenas nossas amarras. Deus nos predestinou para sermos conformes à imagem do seu Filho e Deus está trabalhando em nós, transformando-nos de glória em glória, na imagem de Cristo. O cinzel de Deus é a prova. As provações tem como propósito nos desmamar das glórias deste mundo e colocar nossos olhos na recompensa eterna.
Em quinto lugar, as provações na vida do crente são enfrentadas com toda alegria. Não somos como os estoicos que acreditam num destino cego. Não vivemos debaixo do rolo compressor das circunstâncias irremediáveis. Nossa vida é governada pelas mãos daquele que está assentado na sala de comando do universo e governa o mundo. Alegramo-nos não no sofrimento da prova, mas na convicção de que Deus está no controle de toda e qualquer situação e utilizará até mesmo a nossa dor para o nosso bem final. Afirmamos, portanto, com entusiasmo, que a alegria do crente é ultra-circunstancial.

Rev. Hernandes Dias Lopes

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A SALVAÇÃO NA PERSPECTIVA DO TEMPO

terça-feira, 6 de novembro de 2012

 

A salvação na perspectiva do tempo

A salvação é obra de Deus e não do homem. É salvação do pecado e não no pecado. É salvação pela graça divina e não pelo mérito humano. É recebida pela fé e não pelas obras. A salvação foi planejada na eternidade, é executada na história e será consumada no segunda vinda de Cristo. A salvação pode ser analisada na perspectiva do tempo. Quanto ao passado já fomos salvos, quanto ao presente estamos sendo salvos e quanto ao futuro seremos salvos. Quanto ao passado, já fomos salvos da condenação do pecado; quanto ao presente, estamos sendo salvos do poder do pecado; e quanto ao futuro, seremos salvos da presença do pecado. Vejamos esses três tempos da salvação:
Em primeiro lugar, quanto à justificação já fomos salvos. A justificação é um ato e não um processo. É feita fora de nós e não em nós. Acontece no tribunal de Deus e não em nosso coração. Pela justificação, Deus nos declara justos em vez de nos tornar justos. A justificação é completa e não possui graus. Todos os salvos estão justificados de igual forma. A justificação é um ato legal e forense. Com base na justiça de Jesus, o Justo, Deus justifica o injusto sem deixar de ser justo. Seria injusto Deus justificar o injusto. Porém, Deus, é justo e o justificador do que crê. Isso, porque Deus satisfez sua justiça quando entregou seu Filho, o Advogado Justo, para sofrer as penalidades que nós deveríamos sofrer. Deus fez cair sobre ele a iniquidade de todos nós. Agradou a Deus moê-lo. Jesus foi traspassado pelos nossos pecados. Ele foi feito pecado por nós. Ele bebeu, sozinho, todo o cálice cheio da ira de Deus contra nós, pois éramos filhos da ira. Pela morte de Cristo a lei foi cumprida e a justiça foi satisfeita, de tal maneira que, agora, Deus pode ser justo e justificador. Deus considerou satisfatório o sacrifício substitutivo do seu Filho e nos declarou quites com sua justiça. Já não pesa mais nenhuma condenação sobre aqueles que estão em Cristo Jesus, pois o próprio Jesus é a nossa justiça.
Em segundo lugar, quanto à santificação estamos sendo salvos. A salvação já está consumada pelo sacrifício perfeito e irrepetível de Cristo. Diante do tribunal de Deus já estamos salvos. Nossos pecados passados, presentes e futuros já foram tratados na cruz de Cristo. Porém, quanto ao processo da santificação, estamos sendo transformados de glória em glória na imagem de Cristo. Agora, Deus está trabalhando em nós, formando em nós o caráter de seu Filho. Se a justificação é um ato, a santificação é um processo que começa na regeneração e só terminará na glorificação. Se a justificação não tem graus, a santificação tem. Nem todos os salvos estão na mesma escala de crescimento rumo à maturidade. Precisamos, dia a dia, negarmo-nos a nós mesmos. Precisamos de alimento sólido e de exercício contínuo, a fim de fortalecermos as musculaturas da nossa alma. Se Cristo é o nosso substituto na justificação, ele é o nosso modelo na santificação.
Em terceiro lugar, quanto à glorificação seremos salvos. A salvação é um fato pretérito, uma realidade presente e uma garantia futura. Todos aqueles que foram conhecidos por Deus de antemão, foram também predestinados, chamados, justificados e glorificados. Muito embora a glorificação seja um fato consumado nos decretos de Deus, há de historificar-se apenas na segunda vinda de Cristo. Nós, que já fomos salvos da condenação do pecado e estamos sendo salvos do poder do pecado, seremos, então, salvos da presença do pecado. Receberemos um corpo imortal, incorruptível, poderoso, glorioso e celestial, semelhante ao corpo da glória de Cristo. Quando Cristo voltar, em sua majestade e glória, os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro e os que estiverem vivos, serão transformados e arrebatados para encontrarem o Senhor Jesus nos ares, e assim estaremos para sempre com o Senhor. Essa expectativa bendita não é apenas uma vaga esperança, mas uma certeza inabalável. Nós que fomos escolhidos na eternidade e chamados eficazmente no tempo, seremos recebidos na glória!

Rev. Hernandes Dias Lopes

Hernandes Dias Lopes