quinta-feira, 23 de junho de 2011
Apelo em favor da oração Ef 6:18-20
A seção que iniciamos neste momento, apesar de curta, é uma das melhores do N.T. acerca da oração. Abaixo damos as notas expositivas gerais sobre o tema. Nesta seção tem prosseguimento o simbolismo do soldado armado para a batalha. Os soldados dos antigos exércitos gregos e romanos, após terem posto a armadura e terem feito juntos uma refeição, reuniam-se para rogar aos deuses que fizessem da batalha um sucesso para suas armas. Por semelhante modo o soldado cristão, agora totalmente armado, estando pronto para atirar-se à batalha, faz uma pausa para buscar ao seu Deus. Na realidade, durante toda a luta persevera em oração, posto que assim se mantém em contato com o seu Comandante, mediante o Espirito de Deus, e posto que o êxito espiritual em sua vida depende disso. Por isso é que aqui se lê que a oração deve ser feita «...no Espirito...com toda a perseverança e súplica...» Sim, ás palavras deste versículo não nos dão a entender um combate fácil, uma vitória fácil, como também deixa entendido que a vitória seria impossível sem essa linha de suprimento que é a oração.
Necessidade da ajuda mútua entre os crentes. Embora o crente esteja armado dos pés à cabeça, ainda assim precisa manter comunhão diária com o seu Comandante. É mister que vigie, pois um soldado jamais deve ser surpreendido fora de guarda, despreparado. Também é necessário que o crente persevere, pois um soldado não pôde dormir quando estiver em seu posto de vigia, e a vida é uma vigilância continua. Não estamos empenhados em um único combate que, ao ter terminado com sucesso, nos ofereça descanso. Antes, nossa luta se compõe de uma fileira de muitas batalhas; e somente uma grande perseverança, por meio da oração, nos poderá levar seguramente ao fim da luta. Por igual modo, não nos podemos preocupar apenas conosco mesmos; antes, convém que façamos intercessão e lutemos em favor de colegas de armas, pois a batalha não pode ser ganha por algum soldado isolado, e nem mesmo por um grupo pequeno de soldados; pelo contrário, deve ser conquistada a vitória pelo exército inteiro de Cristo. Deve haver a vitória comunitária, pois de outro modo a vitória de qualquer soldado individual é entravada e diminuída. (Esse conceito pode ser comparado com o trecho de Ef 4:16). Sim, o desenvolvimento cristão não é apenas do crente individual; mas é coletivo, do corpo místico inteiro, o qual se compõe de muitos membros.
Assim sendo, o corpo inteiro de Cristo precisa ser edificado, coletivamente. A igreja cristã precisa crescer espiritualmente em sua inteireza, porque a glorificação do corpo de Cristo não poderá ser obtida de outra forma. Este versículo, portanto, diz a mesma coisa, embora com a utilização de uma metáfora diferente, aquela salientada neste décimo oitavo versículo, a da ajuda mútua entre os soldados cristãos. Nisso se comprova a veracidade daquele dito popular: «Ninguém é uma ilha».
6:18 com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espirito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a perseverança e súplica, por todos os santos,
ORAÇÃO: Neste ponto apresentamos a nota expositiva geral sobre a «oração». Sete pontos chamam a nossa atenção, nesse particular: 1. Oração como submissão, como entrega às mãos de Deus. 2. Oração como ato de adoração. 3. Oração como ato criador. 4. Oração nas páginas do A.T. 5. Ensinamentos de Jesus sobre a oração. 6. Ensinamentos de Paulo sobre a oração. 7. Outros conceitos neotestamentários sobre a oração. (Essas notas são expostas em forma de esboço, que o leitor, com a ajuda de um pouco de imaginação, poderá desenvolver à vontade para adaptar a sua classe na lição 12).
1. Oração como submissão: O soldado cristão está empenhado em uma luta que lhe defende a própria vida. Nada há de insignificante acerca da vida que o crente leva. Os perigos são graves e muitos. Mas seu grande Comandante lhe oferece a sua ajuda. Essa ajuda pode ser solicitada por intermédio da oração, mas só é possível recebê-la quando a alma crente se encontra em estado de submissão a Cristo. E tal ajuda vem da parte de Deus. A fé consiste na «entrega de alma» (ver sobre Hb 11:1). Portanto, toda a oração deve estar alicerçada sobre a fé. Por isso é que devemos pedir «crendo», já que essa atitude, por isso só, é um ato de submissão a Cristo, na certeza que ele é capaz de fazer aquilo que lhe solicitamos. (Ver Mt 21:22). A oração é um ato da alma, mediante o qual nos pomos sob os cuidados de Deus, pois reconhecemos, em qualquer ocasião em que orarmos, que dependemos de Deus e que temos limitações que só podem ser contrabalançadas por ele. A oração consiste em «pedir e receber»; mas consiste ainda em muito mais do que isso. Pois basicamente consiste na entrega da alma a Deus, a expectação do favor divino, e suas muitas solicitações são apenas resultados disso. A oração ocasionalmente é respondida com um «Não» porque, nesse estado de submissão, a alma quer mais que se faça a vontade de Deus que o cumprimento de seus próprios desejos. Portanto, a oração é um campo de provas, onde podemos aprender sobre Deus, não servindo meramente de instrumento pelo qual obtemos as coisas que queremos, embora nos seja assegurado que assim é, e que as vantagens recebidas serão importantes.
2. Oração como ato de adoração: A oração faz parte da liturgia, a qual faz parte da adoração coletiva. Mas a oração também faz parte da adoração individual. No trecho de Ef 6:18, lemos que a oração do crente deve ser feita «no Espirito», e é nessa expressão que vemos tanto a atitude de adoração como a submissão ao Senhor. A oração incorpora em si as atitudes essenciais da adoração, como a confiança em Deus, a submissão à sua vontade, a adoração à sua pessoa, o louvor devido às obras divinas entre os homens. Quando a oração transcende ao mero ato de pedir, torna-se um ato de adoração, em sua própria essência. Sendo esse um ato de adoração, a oração é um estado no qual muito aprendemos de Deus; e assim a sua vontade pode cumprir-se em nós, transformando-se conforme a imagem de Cristo.
3. Oração como ato criador: A oração vale-se do poder criador de Deus, pelo que também se diz: «A oração modifica as coisas». Essa modificação não vem da parte do homem, pois depende da ajuda dada pelo Criador. Na oração, pois, entregamos nas mãos de Deus na ordem presente de coisas, para que elas sejam «modificadas». Essa modificação talvez exija, antes de tudo, a nossa própria transformação moral. Mas uma vez que nos tornemos seres transformados, podemos ser, nós mesmos, instrumentos modificadores. Todavia, a oração também pode criar novas situações nas circunstâncias externas, ou diferenças de atitude em outras pessoas, as quais pessoas podem modificar os acontecimentos. Quando a oração é um genuíno exercício da alma, isso nos põe sob o controle do poder criador de Deus. Isso também nos torna mais sensíveis para com a vontade de Deus, para com as necessidades alheias e para com as nossas próprias necessidades, diminuindo nossos desejos por coisas meramente físicas. Por conseguinte, em seu poder criador, a oração eleva o inteiro tom espiritual de nossas vidas. Quando a oração é devidamente usada, ela se torna uma maneira de adorar ao Senhor, se o servirmos com nossas vidas. A oração cria grande receptividade entre as pessoas, e é dessa maneira que, com grande frequência, nossas orações são respondidas, sem a necessidade de qualquer milagre.
4. Oração nas páginas do A.T.:
a. A oração reconhece a personalidade e o poder de Deus, bem como o seu interesse pelos homens (teísmo, em contraste com o deísmo). O teísmo ensina que Deus continua interessado pelos homens, fazendo intervenção na história humana, recompensando e punindo. Já o deísmo afiança que Deus não tem interesse pelos homens ou pelo mundo, mas estabeleceu leis impessoais que governam tudo. Segundo essa segunda posição, Deus não dá atenção aos homens e nem faz intervenção em sua história, não querendo puni-los ou recompensá-los. Mas a Bíblia inteira mostra-se altamente teísta, e não deísta, e a ênfase posta sobre a oração demonstra isso.
b. A oração é um meio de comunhão entre Deus e o homem; e isso pode ser pessoal, conforme temos nas narrativas dos patriarcas e suas intercessões.
c. A oração é uma intercessão em benefício próprio e em benefício de outros, em que o crente busca melhoria espiritual e material. Abraão intercedeu por Sodoma (ver o décimo oitavo capítulo de Gênesis); Moisés intercedeu por Israel (ver Êx 32:10-12); Jó, pelos seus amigos (Jó 42:8-10). Petições individuais são comuns nos salmos. (Ver Sl 31,86, 123 e 142).
d. A oração é um meio de louvarmos ao Senhor, como é muito evidente nos Salmos. (Ver Sl 113-118). Há orações pedindo perdão (ver Sl 51), solicitando comunhão (ver Sl 63), pedindo proteção (ver Sl 57), pedindo cura (ver Sl 6), pedindo reivindicação (ver Sl 119), louvando ao Senhor (ver Sl 103).
e. As orações fazem parte da liturgia. Isso transparece nos Salmos Halel, na forma de oração e louvor, que vieram a ser incorporados à liturgia (ver Sl 113-118), e formas específicas foram estabelecidas para efetuar as orações diárias. (Ver At 3:1),
f. A oração é um ato de devoção. (Ver Ed 7:27; 8:22 e ss.; Ne 2:4; 4:4,9 e Dn 9:4-19).
5. Ensinamentos de Jesus sobre a oração:
a. Jesus enfatizou a paternidade de Deus, o qual é retratado como generoso para com os seus filhos. (Ver Mt 7:7-11).
b. O individual se reveste de grande valor perante Deus, pelo que também pode esperar a resposta para as suas orações (ver Mt 10:30; 6:25 e ss. e 7:7-11).
c. A verdadeira oração é espiritual, e não formal (ver Mt 6:5-8).
d. Há grande poder na oração, pelo que também deve ser usada perseverantemente. (Ver Mc 11:23 e Mt 7:20).
e. A oração deve ser feita com fé (ver Mt 17:20).
f. A oração deve ser perseverante (ver Lc 18:1-8).
g. A oração precisa ser governada com uma disposição amorosa e perdoadora (ver Mt 18:21-35).
h. A oração pode envolver coisas práticas e terrenas (ver Mt 7:7-11 e 6:11).
i. A oração visa também elevadas realidades espirituais (ver o décimo sétimo capítulo do evangelho de João),
j. A oração pode solicitar força espiritual (ver Mt 6:13).
l. A oração tem por escopo o avanço na direção do reino de Deus sobre a terra e sua eventual inauguração (ver Mt 6:10,13).
m. O próprio Jesus nos deixou o exemplo mais elevado de uma vida de oração. (Ver Lc 5:15; 6:12; Jo 12:20-28 e 17:6-19).
6. Ensinamentos de Paulo sobre a oração:
a. Tal como Jesus, Paulo nos deixou grande exemplo de orações práticas (ver Cl 1:3; 4:12; Fp 1:4; I Ts 1:2; Rm 1:9 e Fm 4).
b. A oração consiste de adoração (ver Ef 5:19; Cl 3:16),particular e coletiva,
c. Faz intercessão em prol de todos os homens (ver I Tm 2:1), como também é intercessão do Espírito Santo em favor dos homens (ver Rm 8:26) e de Cristo em favor dos homens (ver Rm 8:34). Portanto, envolve toda a trindade, porquanto o Filho e o Espírito de Deus intercedem juntamente com Deus Pai.
d. A oração é exigente, pois requer perseverança. (Ver Rm 15:30; Cl 4:12; Ef 6:18 e I Ts 5:17).
e. A oração é uma expressão de ação de graças (ver Rm 1:8 e ss.).
f. A oração aprofunda nossa comunhão com Deus (ver II Co 12:7 e ss).
g. A oração visa ao benefício e ao crescimento espiritual de outros crentes (Ef 1:18 e ss.; e 3:13 e ss.).
h. A oração solicita a salvação dos perdidos (ver I Tm 2:4).
i. A oração é feita «no Espírito», como exercício espiritual, que se vale do poder divino (ver Ef 6:18).
j. A oração chega mesmo a ser um dom do Espírito Santo (ver I Co 14:14-16).
7. Outros conceitos neotestamentários sobre a oração:
a. O livro de Atos frisa a natureza coletiva da oração, como também o faz o trecho de Tg 5:13-18. Paulo enfatiza a mesma verdade em Ef 6:18. A igreja cristã nasceu dentro da atmosfera da oração (ver At 1:4), pois em resposta à oração é que o Espírito Santo veio sobre a comunidade da igreja (ver At 1:4 e 2:4). Em períodos de crise, a igreja apelou para a oração (ver At 4:21 e ss.).
b. A igreja cristã, mediante os seus líderes, sempre se dedicou à oração (ver At 9:40; 10:9; 16:25 e 28:8). A oração deve ser praticada em benefício à comunidade cristã (ver At 20:28,36 e 21:5).
c. A oração é possível por causa do nosso grande Sumo Sacerdote, divino-humano, o qual garante o cumprimento do desejo sincero de corações crentes (ver Hb 4:14-16. Ver também Hb 5:7-10, que ilustra a necessidade de oração, dentro da vida de oração do Senhor Jesus, porquanto nos ensina a necessidade de submissão e obediência),
d. A oração é um meio de entrarmos em nossos privilégios espirituais em Cristo (ver Hb 10:19 e ss.), pois procura apelar para o poder de Deus, a fim de termos forças na vida. A oração penetra para além do véu, chegando ao próprio Santo dos Santos, até à presença de Deus (ver Hb 6:19).
e. A oração nos confere sabedoria espiritual (ver Tg 1:5-8).
f. A oração deve ser oferecida com base nas motivações certas, pois não pode servir ao egoísmo e ao pecado (ver Tg 4:1-3).
g. A oração pode curar o corpo, e deve ser usada com essa finalidade (Tg 5:13-18).
h. A oração deve ser ousada, e assim será eficaz (ver I Jo 3:21 e ss.).
i. A oração sempre deve estar sujeita à vontade de Deus, sendo limitada por ela (ver I Jo 5:14-16).
«...com toda oração...» Expressão enfática que indica uma vida de oração plena, intensa, perseverante, ampla. Em meio à batalha um soldado tem muitas necessidades, porquanto tem de enfrentar muitos perigos; e seus colegas de armas passam por idêntica situação, necessitando também da sua intervenção. «Toda a forma» de oração é necessária para que o soldado cristão obtenha a vitória no combate. O vocábulo grego que é traduzido por «...oração...», neste passo bíblico, é «proseuche», cuja forma verbal quer dizer «votar», «implorar», «anelar por». Aplicava-se a Deus e aos homens no linguajar comum, mas nas páginas do N.T. usualmente focaliza Deus. Trata-se do desejo sincero da alma por alguma coisa, em que o crente fica dependendo de Deus, entregando-lhe a alma, sabendo que o Senhor se interessa pelos homens e é quem modifica as circunstâncias com o seu poder criador.
Satanás treme quando vê
O mais fraco santo de joelhos,
e isso porque a oração apela para o poder divino, que transcende a todo o poder humano.
«...súplica...» No grego original temos «deesis», que significa «rogo», e que podia ser usada como palavra sinônima da anterior. Esses dois termos podem ser usados simplesmente para efeito de ênfase, mediante certa variedade de termos, mas sem que isso tencione estabelecer qualquer distinção de sentido. Alguns estudiosos pensam que «oração» indica pedidos gerais, ao passo que «súplica» seria algo mais específico, isto é, atinente a pedidos específicos, dirigidos na direção de necessidades específicas. Mas a distinção feita por alguns eruditos que «oração visa somente Deus, mas súplica visa Deus ou o homem», não resiste sob o exame a um bom dicionário.
«De que nos serviria a espada de Miguel, se a mão que a segura for frouxa e sem forças? de que nos valeria a panóplia de Deus, se por detrás dela bate um coração acovardado! Tão-somente se parece com um soldado aquele que usa armas sem a coragem de usá-las. A vida que deveria animar aquela figura armada, que deveria pulsar com grande resolução por debaixo da cota de malhas, para fortalecer o braço ao levantar o forte escudo e aplicar a afiada espada, para pôr em movimento pés velozes em suas missões evangelizadoras, a fim da igreja manter-se unida, formando um único exército do Deus vivo, procede da inspiração do Espírito divino, recebida em resposta à oração confiante. Por isso é que o apóstolo (Paulo) acrescentou: '...com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito...'» (Findlay, in loc).
«...em todo tempo...», em qualquer ocasião, em todas as oportunidades, e não «sempre», com o sentido de incessante. A ideia de oração incessante, entretanto, se encontra em I Ts 5:17. A mente do crente deve estar sempre pronta a orar ao Senhor. (Comparar com Cl 4:2).
«...no Espírito...» Em outras palavras, «mediante comunhão mística com ele», de tal modo que a oração seja expressão da natureza espiritual, e não apenas um desejo da mente. A comunhão com Deus é necessária para que haja orações corretas e poderosas; e a oração é o desejo sincero da alma, e não meramente um capricho mental. O Espírito do Senhor também intercede por nós, por causa de sua comunhão conosco (ver Rm 8:26). No texto presente, o Espírito Santo é visto como o inspirador das verdadeiras orações. A oração não é um exercício meramente humano, pois, quando bem desenvolvido, deve ser um exercício da alma, inspirado pelo Espírito de Deus. Isso garante sua natureza e eficácia espirituais.
«...vigiando com toda perseverança...» Tal como um soldado, em batalha, precisa manter-se vigilante para que não seja apanhado de surpresa, o que o levaria a ser súbita e inesperadamente atingido, não estando ele preparado para algum ataque, assim também o crente deve exercer os cuidados espirituais correspondentes. O soldado espiritual vigia, aguardando toda oportunidade de empregar seu poder de oração, brandindo suas armas em favor do bem. Deveria conservar um espírito alerta e vigilante. (Ver Mt 26:41 quanto ao fato que a «vigilância» também faz parte da atitude de oração. O paralelo do presente versículo, Cl 4:2, contém esse pensamento, como igualmente o faz Mc 13:33,35).
«...perseverança...» Neste ponto encontramos o termo grego «proskarteresis», que significa «constância», «paciência», e que tem aqui sua única menção em forma de substantivo. A forma verbal dessa palavra significa «aderir», «persistir», «ocupar-se em», «passar muito tempo em». Temos aqui um apelo em prol da oração coerente e persistente. A parábola do juiz injusto e da viúva, em Lc 18:1-8, ilustra esse princípio fundamental. (Ver igualmente I Ts 5:17). A batalha é contínua, uma série interminável de conflitos, porquanto nenhuma vitória final ou término da guerra são esperados enquanto o crente não for libertado do corpo, mediante a morte. Por conseguinte, a perseverança é indispensável tanto para a oração como para todos os demais aspectos da vida e do desenvolvimento espirituais.
«...por todos os santos...» Ninguém se encontra isolado, na batalha espiritual. Cumpre-se assim o ditado popular que diz: «Ninguém é uma ilha». A batalha é ganha pelo corpo inteiro de Cristo, coletivamente considerado. Nenhum crente poderá obter a vitória total sem compartilhar da mesma com outros, participando igualmente das vitórias dos demais. A plena glorificação, tanto do Cabeça como do corpo, ocorre coletivamente (ver Ef 1:23 e 2:6). O desenvolvimento espiritual envolve todo o corpo místico de Cristo, considerados juntamente os seus muitos membros, e não algum membro isoladamente (ver Ef 4:16). Portanto, a oração deve envolver o corpo inteiro de Cristo, e não apenas o próprio crente individual; e isso é útil, tanto para os outros crentes como para cada crente que assim ora.
Paulo recomenda a intercessão mútua entre os crentes. Quando dois ou três fizerem algum pedido coletivo, isso lhes será outorgado. (Ver Mt 18:19). Além disso, nenhum santo de Deus é tão perfeito ou tão forte que não necessite da ajuda de outros. No dizer de Wedel (in loc): «Assim como um soldado, na linha de batalha, se desanimaria se não tivesse o conhecimento que seus camaradas lutam ao seu lado, assim também o crente individual vive com base na fé e na confiança inspiradas pelo Espírito de Deus acerca da fraternidade de Cristo. Quão desesperadamente, na qualidade de soldados cristãos, precisamos da comunhão do Espírito Santo, conforme nossa era conturbada o demonstra!»
Que é Orar?
A oração é o desejo sincero da alma, Que fica mudo ou é expresso, É o movimento de uma chama oculta Que tremula no peito:
A oração é o enunciado de um suspiro,
O cair de uma lágrima,
O volver os olhos úmidos para cima,
Quando ninguém, senão Deus, está perto.
A oração é a linguagem mais simples
Que lábios infantis podem experimentar;
A oração é o clamor mais sublime que atinge
A Majestade nas alturas:
A oração é o hábito vital do crente, É a sua atmosfera nativa, É o seu lema às portas da morte, Pois ele entra no céu pela oração. A oração é a voz contrita do pecador, Que retoma de seus maus caminhos, Quando anjos se regozijam em cânticos, É dizem: Eis que ele ora! Os santos, na oração, aparecem como um só, Na palavra, nos feitos, na mente, Quando, com o Pai e o Filho, Encontram seu companheirismo. Nenhuma oração é feita só no mundo: Pois o Espirito Santo intercede; E Jesus, no trono eterno, Intercede pelos pecadores. O Tu, por meio de quem chegamos a Deus! Vida, Verdade e Caminho, Tu mesmo palmilhaste o caminho da oração, Senhor, ensina-nos como orar! (Montgomery).
6:19 e por mim, para que me seja dada a palavra, no abrir da minha boca, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho,
Nem mesmo o grande apóstolo dos gentios prescindia das orações de outros crentes; e isso nos serve de grande lição no tocante à oração comunitária, ordenada no versículo anterior. Ninguém se encontra tão avançado na batalha, tão vitorioso, tão inteiramente desenvolvido, espiritualmente falando, que não precise da ajuda da comunidade cristã, tanto na forma de orações como de outras maneiras.
«...abrir a minha boca...» (Comparar com o paralelo de Cl 4:3). Paulo orava pedindo o «perfume da elocução», a oportunidade de anunciar o evangelho de maneira especial e poderosa. Foi isso que o apóstolo pediu, que orassem pelo sucesso de sua missão, não sendo isso um pedido egoísta. Pois, afinal de contas, o que há de mais importante para o crente é que ele possa cumprir bem o que Deus lhe ordenou fazer, nesta esfera terrena. Portanto, Paulo queria um exercício pleno e bem-sucedido de seu ofício e comissão apostólicos. E quão preocupados estamos nós acerca do cumprimento de nossas respectivas missões? Até que ponto a oração participa dessa preocupação? Paulo nos deixou o exemplo, não apenas cumprindo de forma admirável o que lhe foi dado para fazer, mas também ele nos mostrou o caminho, ou, pelo menos, um dos métodos pelos quais deveríamos cumprir nossa missão.
A menção da palavra «...boca...», na opinião de alguns estudiosos, seria supérflua, como se quisesse dizer apenas «quando abro minha boca». Mas outros eruditos pensam que se trata da abertura da boca por Deus, o que está de acordo com o que nos diz o trecho de Sl 51:15: «Abre, Senhor, os meus lábios, e a minha boca manifestará os teus louvores». O fato que Deus é quem profere a mensagem favorece a ideia que Paulo encarava a questão segundo ela transparece no livro de Salmos. Deus dará plena expressão da mensagem neotestamentária; e, ao assim fazer, preparará os seus instrumentos, a fim de que se tornem aptos e prontos para anunciarem essa mensagem.
«...a palavra...», isto é, a «declaração», apropriada da Palavra de Deus segundo a definição do décimo sétimo versículo deste capítulo, a saber, a mensagem acerca de Cristo, mostrando o que ele é e significa aos homens, e o que ele requer dos homens. (Comparar isso com I Co 1:5, que diz: «... porque em tudo fostes enriquecidos nele, em toda palavra e em todo o conhecimento...»; e como que se lê em II Co 8:7: «...em tudo manifestais superabundância, tanto na fé e na palavra...»). E nesta última passagem, o termo traduzido por «palavra» é «logos». Agradou a Deus salvar aos que creem, mediante a loucura da «pregação» (ver I Co 1:21). O apóstolo Paulo queria mostrar-se eloquente e vigoroso na proclamação da mensagem de Cristo, apresentando bem as riquezas que se encontram no Senhor Jesus, para que exercesse, de maneira suprema, o dom do evangelismo (ver Ef 4:11).
«...com intrepidez...» No grego temos o vocábulo «parresia», que significa «franqueza», «coragem», «ousadia», «destemor», «confiança». No dizer de Wedeí (in loc.): «Tentações peculiares ao silêncio, entretanto, acompanham o testemunho do evangelho, Como é que um mero homem expressará as palavras de Deus? As palavras mais penetrantes do Senhor são ouvidas exclusivamente na câmara secreta da consciência... Mas Paulo, neste versículo, solicita a força de poder testificar verbalmente. Paulo orou para que a sua boca fosse aberta. Poucos dentre nós tem a coragem suficiente para fazer essa oração. “Até mesmo o pregador, no púlpito, sente ser mais fácil proferir homilias morais ou sermões sobre tópicos acerca de nossa época do que proferir o profundo e perturbador ‘mistério do evangelho’».
A ideia de ousadia pode estar vinculada ao que se segue, isto é, tornar conhecido o mistério com ousadia; mas, seja como for, isso em nada altera o sentido da frase, pois Paulo se refere à mensagem falada como o instrumento que produz esse resultado.
O apóstolo dos gentios queria anunciar a mensagem com tal poder que nenhuma força pudesse resistir à mesma.
Paulo desejava poder a fim de que sua palavra, proferida perante Nero ou um escravo, pudesse ser igualmente eficaz. «O fato que ele era então um embaixador em cadeias era razão maior ainda pela qual seus leitores deveriam orar intensamente, a fim de que ele tivesse ousadia». (Alford, in loc).
«Paulo ficava habitualmente mudo, ou o temor o restringia, impedindo-o de fazer aberta profissão do evangelho? De modo nenhum; mas havia razão de temer que seu esplêndido começo não fosse continuado em seu progresso futuro. Outrossim, o seu zelo na proclamação do evangelho era tão ardente que ele nunca se satisfez com os seus próprios esforços nesse sentido. De fato, se considerarmos o peso e a importância do tema, teremos de reconhecer que estamos bem aquém de sermos capazes de manusear tal assunto de forma apropriada». (Calvino, in loc).
«A rota mais curta, a qualquer coração, é passando pelo céu». (Faucett, in loc). Portanto, a maneira mais rápida de conquistar homens a Cristo é solicitando-o a Deus.
Variante Textual: As palavras «.. .do evangelho...» aparecem nos mss Aleph, ADEKLP e na maioria dos manuscritos posteriores e versões. Porém, os mss P(46) (vid), BG e os escritos de Tertuliano e Ambrosiastro, pais da igreja, omitem essas palavras. E é bem provável que a omissão seja correta, pois «do evangelho» é apenas um ornamento explicativo. Não há maneira de explicar por que tais palavras teriam sido omitidas, se porventura fossem genuínas. Portanto, Paulo escreveu «...para com intrepidez fazer conhecido o mistério...».
O «...mistério...» é aquele mesmo referido em Ef 1:10, a saber, a restauração de tudo em Cristo, Cristo como cabeça de todos, quando houver união em Cristo e o reconhecimento do fato que ele é o Salvador e Senhor; mas, particularmente, de conformidade com a definição de Ef 3:3, ou seja, o que Deus está fazendo no seio da igreja, na salvação dos remidos, levando-os a se unirem em torno de Cristo, conferindo-lhes sua própria natureza, tornando-os filhos de Deus, tal como ele é o Filho de Deus; conferindo-lhes a natureza moral e metafísica de Cristo, como também sua herança e glorificação. É de grande interesse e vantagem do mundo ouvir o que Deus está fazendo no seio da igreja, porquanto nisso consiste a salvação pessoal para eles. Outrossim, na igreja, Deus mostra o que ele fará em todo o universo, ao unir todas as coisas em torno de Cristo, restaurando nele todas as coisas—e isso é para nós uma extraordinária esperança.
6:20 pelo qual sou embaixador em cadeias, para que nele eu tenha coragem para falar como devo falar.
Conforme sabemos, a epístola aos Efésios foi uma de suas epístolas escritas na prisão. Não há certeza sobre o período de aprisionamento em que isso sucedeu, se em Éfeso, se em Cesaréia ou se em Roma.
«...em cadeias...» No grego temos a forma singular, «alusis», que provavelmente se refere à corrente de ferro que ligava Paulo ao soldado que o guardava. É interessante que a combinação das ideias de embaixada e de cadeias também aparece em Fm 9. Ver as notas expositivas em Ef 4:1, onde Paulo igualmente menciona o seu aprisionamento, fazendo disso uma lição moral. O apóstolo queria que os seus leitores conhecessem suas tribulações pessoais, embora não as tivesse mencionado com o fito de desencorajá-los (ver Ef 3:13). Em várias culturas, incluindo as antigas, os embaixadores têm desfrutado de imunidades diplomáticas, e não podiam ser encarcerados. Mas aqui temos Paulo, o maior embaixador do grande Rei, lançado na prisão. «O escritor sagrado tem em mente não apenas o pensamento geral de estar em cadeias, mas a imagem visual de um embaixador que se levanta para defender a causa de seu soberano, mas que exibe cadeias, como uma espécie de adorno, é a mais estranha das contradições». (Hort, Prolegomena to St. PauVs Epistles to Romans and Ephesians, pág. 156).
«Cadeias: Os romanos costumavam ligar cada prisioneiro a um soldado, através de uma 'única corrente', em uma espécie de custódia meio-livre. (Ver At 28:16,20). 'Cadeias' (no plural) era palavra usada quando as mãos e os pés do prisioneiro eram tolhidos juntamente (ver At 26:29). Uma exatidão não-estudada, uma verdade marcante». (Faucett, in loc). Paulo estava aprisionado dentro da categoria da custodia militaris. (Ver At 27:16,20; ver também II Tm 1:16. Ver o trecho de At 23:17 quanto aos «tipos de encarceramento». Ver At 16:24 acerca de uma descrição das prisões antigas. Finalmente, ver At 23:18 sobre o tema, «Paulo, prisioneiro de Jesus Cristo»).
«...seja ousado...» Uma vez mais é usado o vocábulo (em forma verbal), que figura no décimo nono versículo. Sim, Paulo precisava de ousadia. Ele se encontrava na situação estranha de ser um embaixador encarcerado, embora a sua missão fosse exatamente de viajar ao redor e de anunciar a mensagem salvadora do seu Soberano e Senhor. Dessa maneira, era gravemente impedido de cumprir o seu trabalho. Por essa razão é que apelou aos irmãos, a fim de que rogassem aos céus, para que fosse libertado, embora também houvesse desejado que ali onde se encontrava pudesse cumprir sua missão o tanto quanto estava ao seu alcance. Seu próprio encarceramento lhe servia de tentação para conservar-se calado, visto que se achava na prisão exatamente por ter-se mostrado muito zeloso na proclamação da mensagem divina. Mas, por assim dizer, Paulo «não aprendera ainda a sua lição», e não queria conservar-se calado. Antes, desejava que lhe fosse outorgada ainda maior ousadia, a fim de que pudesse mais completamente desincumbir-se de tudo quanto o Senhor Jesus lhe dera para fazer.
«Contrariamente aos direitos reconhecidos em todas as nações, aquele embaixador do Rei dos céus se encontrava acorrentado! No entanto, tevê a oportunidade de defender-se e de vindicar a honra do seu Senhor». (Adam Clarke, in loc).
«...para falar como me cumpre fazê-lo...» Quanto a essas palavras, precisamos desdobrar e considerar os pontos seguintes:
1. Paulo desejava falar de acordo com a dignidade de sua posição de embaixador, não negando essa comissão por deixar de pregar, ainda que isso se tornasse a condição de sua soltura.
2. Paulo desejava falar em cumprimento da incumbência e da comissão que o seu Rei lhe dera.
3. Paulo desejava falar de tal modo que os homens percebessem plenamente qual a natureza do «mistério» (ver o décimo nono versículo).
4. Paulo desejava falar ousadamente, sem timidez, não procurando agradar aos homens e suavizar suas próprias tribulações e perseguições. Dessa maneira, e com essas coisas em mente, Paulo «deveria falar». O termo grego aqui empregado é «dei», conforme transpareceria na seguinte tradução «me é necessário falar». Pois Paulo sentia que «tinha de fazer» algo, o que denota certa forma de compulsão; e, no caso de Paulo, era uma compulsão moral e espiritual.
«...para que em Cristo...» Nessas palavras não encontramos exatamente uma tradução, e, sim, uma interpretação, visto que a palavra «...Cristo...» não figura no original. Alguns estudiosos fazem o dativo tornar-se objeto, dando o resultado «...para que eu possa declará-lo' ousadamente...», onde o 'lo' é o «mistério», o evangelho contido e compreendido nesse mistério. Evidentemente essa interpretação segue os mss P(46) e B, que trazem a palavra grega «auto» (acusativo neutro, singular), ao invés de «auto» (com a letra final ômega, que mostra o dativo). Mas isso, bem provavelmente, reflete uma alteração da forma mais difícil para a mais simples. Por conseguinte, devemos entender que é como se Paulo houvesse escrito,
«...para que eu possa falar ousadamente acerca desse mistério...», ou seja, para que pudesse exercer ousadia quando estivesse pregando sobre o mistério do evangelho. Mui provavelmente, reflete uma alteração da forma mais difícil para a mais simples. Por conseguinte, devemos entender que é como se Paulo houvesse escrito, «...para que eu possa falar ousadamente acerca desse mistério...», ou seja, para que pudesse exercer ousadia quando estivesse pregando sobre o mistério do evangelho. Mui provavelmente a referência é ao «mistério» e seu anúncio. Por isso é que Meyer comentou (in loc): «A fim de que, ocupado com esse mistério, isto é, com a sua 'proclamação', eu possa falar ousadamente».
Bibliografia R. N. Champlin
FONTE:EBD AREIA BRANCA
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