sábado, 25 de junho de 2011
A FONTE DA IMPUREZA Mc 7.14-23
Jesus insiste em penetrar até o âmago dos pensamentos e práticas. Ele deixa muito claro que a palavra de Deus é a fonte da autoridade religiosa, não a tradição humana (7.1-13). Agora, ele focaliza na fonte da impureza. Chamando a todos para o ouvirem atentamente, Jesus conta uma parábola que vai até o centro do debate sobre a purificação. Após afirmar um princípio geral sobre impureza (v. 15), ele oferece maiores explicações aos discípulos em particular (vv. 17-23).
Estes ensinamentos preparam para os próximos encontros (7.24ss), onde Jesus demonstra o que ele havia ensinado ministrando aos gentios, tidos por alguns advogados da lei ritual de purificação como a personificação da impureza.
7.14-16 - Os falsos conceitos dos líderes religiosos agitam também as mentes das pessoas comuns. Por isso, Jesus chama a multidão e exorta a todos: "Ouvi-me todos e entendei". Jesus não se esquece da questão básica por detrás da acusação dos líderes (7.1-5), ou seja, "Como pode alguém ser santo?" (Em outras palavras: "Como pode alguém estar puro diante de Deus?").
Ao censurar os líderes religiosos por abandonarem os mandamentos de Deus (v. 8), ele oferece a todos uma palavra de Deus, apresentando uma verdade incomum que libertaria o cristianismo da escravidão do legalismo.
Enquanto que as tradições humanas afirmam que as influências externas são a causa da "impureza", Jesus afirma o oposto: uma pessoa se torna impura por causa daquilo que está dentro de seu coração. Essas palavras marcam uma diferença fundamental entre o reino de Deus e o judaísmo farisaico. Jesus destacou o princípio de que o que é meramente externo não pode purificar. Agora, ele enfatiza o oposto: aquilo que é meramente externo não torna impura a natureza espiritual do homem. A natureza moral humana é a fonte da impureza moral. O que contamina as pessoas não é o que entra nelas, e sim o que vem de dentro delas mesmas.
7.17-19 - Tendo ouvido este princípio em forma de parábola, os discípulos perguntam a Jesus o que isso significa. A resposta dura de Jesus, "Assim vós também não entendeis?" (v. 18a), não veio sem razão, pois os discípulos são responsáveis por sua própria falta de entendimento. Dado o longo tempo que estavam com Jesus, eles deveriam saber mais.
Os discípulos observam Jesus e participam ativamente no ministério. No entanto, isso não é o suficiente. Jesus está ensinando e treinando seus seguidores com o desejo de que eles compreendam os princípios básicos por detrás do que ele ensina. Entretanto, essas questões revelam que ainda há lacunas no seu entendimento da mensagem de Jesus.
Os ensinamentos de Jesus são tão contrários aos conceitos populares que ele repete aos discípulos (vv. 18-20) as verdades que ensinara à multidão (v. 15b). Para ter certeza de que nenhum leitor perca esse ensinamento importante, Marcos também enfatiza seu significado: "E assim considerou ele puros todos os alimentos" (v. 19).
7.20-23 - Jesus indica algumas das coisas que vêm do coração humano e que contaminam o indivíduo; ele menciona doze pecados. Os primeiros seis substantivos são plurais, referentes a "sucessivos atos pecaminosos, à medida em que emergem da fonte interior da corrupção humana; as tendências mais sutis para o mal que se seguem estão no singular (v.22)". A lista não pretende ser completa. Jesus enumera esses pecados a fim de que seus seguidores evitem cometê-los, pois eles criariam barreiras entre os discípulos e quebrariam a unidade na família de Deus (3.35).
Os maus pensamentos (dialogismoi, "imaginações más") são significativamente indicados primeiro, pois além de serem pecaminosos em si, eles não permanecem sozinhos. Eles concebem e dão vida a outros pecados (cf. Tg 1.14-15), alguns dos quais são mencionados na lista seguinte de ações e vícios degradantes.
Dois dos seis substantivos no plural, indicando más ações, nomeiam explicitamente pecados sexuais. Imoralidade sexual (porneiai, geralmente traduzida por "fornicação") é um termo genérico que inclui todo tipo de imoralidade sexual. Adultério (moicheia) é um termo mais restrito, denotando relacionamento sexual que envolve Infidelidade conjugal. Mais tarde (10.2-12) Jesus enfatizará a fidelidade vitalícia à esposa como sendo o propósito de Deus desde a criação. Imoralidade sexual tira a pureza moral da pessoa, enquanto que o adultério rouba o que pertence ao casamento. Dois outros tipos de roubo se seguem: roubar propriedade alheia (klopaí), e assassinato (phonoi) que é roubar a vida de alguém.
Cobiça (pleonexiai) é o desejo de se ter. Dentre suas muitas facetas, a cobiça deseja ardentemente o que pertence a outros; ela almeja poder. A ganância é como uma peneira que nunca fica cheia. E encontrada no coração daquele que busca a felicidade nas coisas e não em Deus.
Malícia (poneriai) descreve a pessoa que persegue ativamente o mal com o desejo de prejudicar. Como Satanás (o "maligno", poneros), tal pessoa busca corromper outros também.
Os seis substantivos seguintes referem-se a vícios em si mesmos, começando com o engano (dolos, "dolo"); ilustrado mais tarde com os sacerdotes e mestres da lei (14.1). A lascívia (aselgia, "indecência, devassidão") significa ressentimento contra todas as restrições morais e sociais. A pessoa lasciva cinicamente desafia fazer, aberta e explicitamente, qualquer coisa que seus desejos devassos e insolentes pretendam.
Inveja é um vício que começa com pensamentos enciumados quando alguém olha com malícia sobre a propriedade de outra pessoa. É também uma raiz de amargura que cresce, sempre produzido mesquinhez para a pessoa e também causando problemas para os outros. (cf. Hb 12.15). Enquanto que ophtalmos poneros significa, literalmente, "um olhar maldoso". O significado aqui é muito "longe" da mágica pagã por meio da qual alguém, "lança maldição" sobre outra pessoa a fim de vingar-se.
Difamação (blasphemia) aqui pode ser uma fala difamatória, abusiva contra outra pessoa, embora no Antigo Testamento era sempre descrita como "uma afronta à majestade de Deus". Arrogância (hyperephania) pode não ser mostrada ostensivamente, mas o desprezo pelos outros inflama o coração da pessoa com orgulho a ponto do indivíduo colocar-se contra Deus. E como acontece com os outros vícios "Deus resiste aos soberbos"(Tg 4.6).
O último termo, "loucura"(aphrosyne) não se refere a debilidade mental mas ao "homem que é moralmente e espiritualmente insensível, ele não conhece e não deseja conhecer Deus".
Precisamos reconhecer que essa lista retrata fielmente o mal que há no coração humano. Vemos os resultados desses vícios nas páginas dos jornais. Admitimos que se escondem no mais íntimo de nosso ser, ameaçando manifestar-se quando estivermos suficientemente perturbados. Esses males não podem ser corrigidos por meio de um ritual ou de uma dieta; não podem ser controlados pelas leis (civis ou religiosas) por que são parte de nossa natureza decaída. Eles vem "de dentro do coração do homem" (v. 20).
O único remédio é um novo coração. É mais difícil ter um coração limpo do que mãos limpas. De fato, é impossível ter uma vida aceitável a Deus, com nossos corações contaminados longe de sua graça purificadora. Jesus diz a cada um de nós para enfrentarmos a realidade de nosso pecado por meio do arrependimento (1.15) e crer na misericórdia de Deus demonstrada na morte de seu filho (10.45).
Nesses versículos, Marcos publica o quadro da liberdade cristã (Rm 5.8) e alerta os crentes quanto à sua tendência de criar regras extra bíblicas para si mesmos e para os outros.
Tanto pensamentos como conduta são importantes para Deus. Mas nenhum dos rituais religiosos do mundo pode mudar o coração de uma pessoa. O evangelho trabalha de dentro para fora, provendo a motivação interna necessária para adquirir caráter justo e para livrar-se "de toda impureza e acúmulo de maldade"(Tg 1.21). Aquele que experimenta o governo de Deus é capaz de viver num plano de vida diferente, pois "o homem bom tira boas coisas de seu bom tesouro"(Lc 6.45).
Bibliografia Dewey M. Mulholland
FONTE: EBD AREIA BRANCA
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