FARISEUS

domingo, 5 de junho de 2011

 

 

FARISEUS

Esboço:

I. O Nome e Descrições

II. História e Caracterização Geral

III. Doutrinas Distintivas

IV. Denúncias da Parte de Jesus e Pontos Positivos

I. O Nome e Descrições

Os Fariseus: essa palavra se deriva do vocábulo hebraico que significa «separados», embora alguns estudiosos considerem o termo como de significação incerta. Apareceram, pela primeira vez, como um grupo distinto, pouco depois da revolta encabeçada pelos Macabeus (que libertou os judeus do governo sírio opressivo), em cerca de 140 A.C. Os fariseus usualmente vinham dentre a massa de povo comum, e nisso faziam contraste com os saduceus, que geralmente eram provenientes da aristocracia. O movimento desse nome, no princípio, envolvia uma espécie de grupo reformador, que tencionava purifi­car e defender a crença ortodoxa. Eram os porta-vozes das opiniões da maioria das massas populares. Após alguns anos se intrometeu nas fileiras do farisaísmo uma grande quantidade de atitudes legalistas e ritualistas, e isso serviu apenas para obscurecer os propósitos originais do grupo. Embora continuassem ortodoxos em suas palavras, gradualmente foram perdendo a presença e a aprovação de Deus, e se tornaram representantes inadequados da porção melhor do judaísmo.

Sob a orientação de João Hircano (134-104 A.C.) exerceram grande influência e gozaram do apoio geral da população judaica. (Ver Josefo, Antiq. XIII. 10.5-7). Porém, quando romperam com ele, João Hircano se voltou para os saduceus. Em face disso, os dois grupos se tornaram adversários daí por diante, especialmente no tocante às questões do poder político, mas também no que diz respeito às questões religiosas. Os fariseus fizeram oposição a Alexandre Janeu (103-78 A.C), e chegaram ao extremo de apelar para a ajuda do rei selêucida, Demétrio III. Por causa disso é que, quando Janeu triunfou, vingou-se deles, crucificando cerca de oitocentos dos líderes dos fariseus. (Ver Josefo, Antiq. XIII. 14.2). No leito de morte, entretanto, aconselhou à sua esposa que permitisse a reinstaurarão do grupo no poder político; e então, a partir dessa data começaram a dominar o sinédrio, o principal tribunal religioso e civil da época, entre os judeus, o que continuou até à destruição de Jerusalém, no ano 70 D.C.

Apesar de exercerem notável autoridade, na realidade os fariseus eram um grupo de minoria.

II. História e Caracterização Geral

Os fariseus, pelo menos em certo sentido, representavam a continuação dos ideais de Esdras, visto que eles eram mestres (com frequência, escribas) que tentavam levar avante o ministério de ensino, fazendo-o com grande meticulosidade. No começo do século II A.C, eles eram chamados hasidim, «santos de Deus». O termo hebraico perushim (fariseus) é de origem incerta, embora seja claro que um grupo com essa denominação surgiu após a revolta dirigida pelos Macabeus. Esse nome ocorre pela primeira vez nos textos que tratam sobre os reis sacerdotes hasmoneanos. Grande parte da história do farisaísmo trata a respeito da oposição que eles exerciam contra aquilo que consideravam forças transigentes, e destrutivas do judaísmo, o partido dos saduceus. Os saduceus representavam a abastada classe sacerdotal, ao passo que os fariseus eram os conservadores bíblicos, até mesmo fanáticos. Em certo sentido, o farisaísmo foi uma força democratizante dentro do judaísmo, que tentava salvar o sistema do controle rígido da classe sacerdotal dos saduceus. Os fariseus eram os porta-vozes das massas oprimidas, visto que, essencialmen­te, pertenciam a essa classe. Portanto, entre eles apareceram figuras radicais, que se opunham ao governo estrangeiro, ao passo que os saduceus, felizes e satisfeitos com o poder e a prosperidade material de que dispunham, preferiam conservar o status quo.

Como um todo, o farisaísmo pode ser recomendado por seu senso de justiça e de elevados valores éticos. O Novo Testamento, contudo, alude a eles como hipócritas e descendentes de víboras, embora devamos relembrar que isso era aplicado a alguns poucos líderes moralmente pervertidos entre eles.

Muitos dos primeiros líderes da Igreja se converteram dentre os fariseus (Atos 15:5). O nobre Gamaliel, que fora um dos mestres de Paulo, era fariseu. Naturalmente, o próprio Paulo pertencia a esse grupo e, em Atos 23:6, em sua defesa, ele declarou: «Eu sou fariseu, filho de fariseus...»

Os fariseus sempre foram um grupo minoritário. Nos dias de Herodes eles eram um pouco mais de seis mil indivíduos (Josefo, Anti. 17:2,4). O grupo não era totalmente homogêneo. Shammai foi uma figura severa que interpretava tudo de acordo com o rigor da letra. Era de uma família rica e aristocrática. Hilel, em contraste, era homem do povo, e interpretava as questões com brandura, favorecendo as debilidades do povo. A maioria dos escribas pertencia ao partido dos fariseus, e deles foram surgindo aqueles ensinos exagerados que circunda­vam a lei e as observâncias legalistas. Eles determinaram que a lei contém seiscentos e treze mandamentos, dos quais duzentos e quarenta e oito positivos e trezentos e sessenta e cinco negativos. Além disso, cercaram essas leis com um complexo e, com frequência, exagerado sistema de interpretação, que fazia pesar considera­velmente sobre os homens as suas responsabilidades morais e religiosas. Para exemplificar, eles determina­ram trinta e nove tipos de ação que, supostamente, eram proibidos para o dia do sábado. Além dessas elaborações, eles também aumentavam a importância da lei, criando analogias, de tal modo que coisas que muitas pessoas sérias nem levariam em conta, eles transformavam em questões importantes. Em sua ignorância, após tantos acréscimos feitos por eles, ainda afirmavam que sua doutrina era antiga, procedente de Moisés, como preceitos dados no monte Sinai. Ver Marcos 7:3. O Novo Testamento serve de testemunho sobre alguns desses exageros dos fariseus, mas a história também nos revela que havia pontos bons entre eles. A nossa avaliação sobre qualquer grupo jamais deveria deixar de ver os dois lados, sempre que possível.

III. Doutrinas Distintivas

As diferenças quanto às crenças doutrinárias, entre os fariseus e os saduceus, conforme é frisado pelo historiador Josefo, eram as seguintes (ver Guerras dos Judeus, II.8.14): Os fariseus criam na imortalidade da alma, que haveria de reencarnar-se. Isso poderia envolver uma série de reencarnações (doutrina essa muito comum naquela época, que evidentemente também era defendida pelos essênios, mas também incluía a ideia de que a alma haveria de animar o corpo ressurreto. Criam fortemente na sorte ou determinis­mo, no universo, bem como na existência dos espíritos. Os fariseus aceitavam como canônico o conjunto completo do V.T., ao passo que, com frequência, os saduceus aceitavam como canônicos apenas os primeiros cinco livros ou Pentateuco, ainda que, provavelmente, houvessem divergências pessoais, entre os saduceus, acerca desse particular. Os saduceus enfatizavam a adoração no templo, o que os fariseus também faziam. Mas estes últimos punham mais ênfase no desenvolvimento individual e ético do que o faziam os saduceus. Os fariseus criam que os exílios haviam sido causados pela desobediência às leis de Deus, e eles se puseram a interpretar essa lei, desenvolvendo assim os comentários que foram incorporados no Talmude. Esse zelo pelo ensino e pela interpretação chegou aos exageros tão familiares a qualquer leitor do N.T. E a sede dos fariseus pelo poder político, além de sua resistência natural a qualquer coisa que ameaçasse interromper o seu domínio religioso e a sua influência sobre o povo comum, fizeram deles inimigos naturais de Jesus. Juntamente com os saduceus, os fariseus constituíam o sinédrio, o mais elevado tribunal civil e religioso da nação judaica.

Embora Josefo não nos diga tal coisa, sabemos que os fariseus aceitavam a comum e complexa angelologia do judaísmo helenista. Isso reflete-se, por exemplo, em Atos 23:8. Sem dúvida, isso incluía uma elaborada demonologia, visto que ambas as ideias são comuns na literatura apocalíptica e pseudoepígrafa, do período que fica entre o Antigo e o Novo Testamentos. Eles eram democratas que defendiam os direitos do povo. Opunham-se aos aristocratas dentre os sadu­ceus; e alguns historiadores acreditam que isso nos leva a entender a essência mesma do farisaísmo.

IV. Denuncias da Parte de Jesus e Pontos Positivos

As denúncias de Jesus contra os exageros dos fariseus encontram-se em Mateus 23:13-30 e Marcos 7:9 (comparar com Mt 15:3). O próprio Talmude também denunciava a hipocrisia deles (Sotah, 22b), onde a similaridade com as denúncias feitas por Jesus é evidente. Naturalmente, o Novo Testamento também elogia a vários fariseus, como Nicodemos (Jo 3:1 ss), que falou com retidão em defesa de Jesus (Jo 7:50), mesmo depois que os próprios discípulos de Jesus haviam fugido (Jo 19:50). José de Arimatéia também fora fariseu (Mt 15:43), sendo altamente elogiado no Novo Testamento. Gamaliel era homem nobre, que argumentou em prol da tolerância para com os cristãos primitivos (At 5:34 ss). Outros avisaram ao Senhor Jesus de que queriam tirar-lhe a vida (Lc 13:31), e alguns fariseus mostraram-se hospitaleiros para com ele (Lc 7:36 e ss; 11:37; 14:1). — Paulo havia sido fariseu, antes de sua conversão (Fp 3:5), não se tendo envergonhado de poder repetir: «Eu sou fariseu, filho de fariseus...» (At 23:6).

 

Bibliografia J. M. Bentes

 

Fonte: EBD AREIA BRANCA

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