A LUTA CONTRA TODAS AS SORTES DE VÍCIOS

sábado, 25 de junho de 2011

 

 capa2T2011 Lição 13

26 de Junho de 2011

A luta contra todas as sortes de vícios

Texto Áureo

"Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se algu­ma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento". Fp 4.8

Verdade Aplicada

Há práticas que são legais e não se caracterizam como contravenções penais, mas nem sempre a lei está de acordo com os princípios bíblicos.

Objetivos da Lição

► Deixar claro que os vícios prejudicam e escravizam o homem.

► Conscientizar de que o corpo do salvo é habitação do Espírito Santo.

► Orientar que existe saída para as pessoas viciadas que confiarem em Jesus.

Textos de Referência

Dn 6.4 Então os presidentes e os sátrapas procuravam ocasião para acusar a Daniel a respeito do reino; mas não puderam achá-la, nem culpa alguma; porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum erro nem culpa.

2 Co 5.17 E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas.

Ef 4.22 No sentido de que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano.

Ef 4.24 E vos revistais do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade.

Ajuda Versículos

Ajuda 1

Ajuda 2

Ajuda 3

Vícios

Um Estudo Sobre as Manifestações do Pecado

(Imperdível, leia até o final)

Esboço

I. Listas de Vícios

II. As Características do Pagão

III. Empregando o Método da Pêntada

IV. A Maior Lista de Vícios dos Evangelhos Sinópticos

V. Os Vícios Como Obras da Carne

VI. Os Vícios de II Tm 3:2-4: as Características dos Homens dos Últimos Dias

VII. O Vício do Ódio

VIII. O Vício da Idolatria

IX. O Mundanismo

I. Listas de Vícios

O estoicismo romano utilizava listas de vícios e virtudes para ensinar seus princípios éticos. Estas listas foram, às vezes, construídas sem qualquer desígnio especial, mas, outras vezes, em pêntadas alternativas de vícios e virtudes. Outros métodos foram empregados, talvez por razões de estilo literário ou para facilitar a decoração das listas, como, em tempos modernos, crianças na Escola Dominical decoram os Dez Mandamentos. A ética é o estudo da conduta ideal, e é impossível alcançar este ideal sem saber o que fazer e o que evitar. Ensinos sobre vícios e virtudes nos ajudam a determinar os elementos desejáveis e indesejáveis de ação moral. O Apóstolo Paulo emprestou este método de ensino do estoicismo romano, obviamente achando que tinha algum valor para o homem espiritual. Demonstrou, com estas listas, a seriedade do pecado, e ilustrou a profundidade do estado pecaminoso do homem. Longe de Cristo, o homem é, verdadeiramente, cheio de vícios.

Estudando o pecado. Alistando e examinando os muitos vícios dos homens, aprendemos muitas coisas sobre a própria natureza e manifestações dos pecados.

II. As Características do Pagão: Rm 1:23 ss

Por haverem desprezado o conhecimento de Deus. Paulo continua, neste ponto, a sua descrição acerca da mentalidade pagã, que rejeitava o conhecimento inerente do verdadeiro Deus, substituindo esse conhecimento pela idolatria, o que resulta nas degradações morais que o apóstolo ventila. A palavra grega, nesse caso, significa pleno conhecimento, no dizer de Vincent, in loc: «Não pensam esses homens que vale a pena conhecer a Deus. Pode-se comparar isso com I Ts 2:4... Não permitem eles que a revelação rudimentar, dada pela natureza, se desenvolva até o pleno conhecimento».

Disposição mental reprovável. Literalmente tradu­zida do grego, essa expressão significaria «não passam no teste». Trata-se de uma espécie de atitude mental que não pode ser aprovada por Deus, ficando subentendida uma atitude pervertida, à qual falta razão e bom senso. É uma atitude que rejeita o conhecimento inerente e que prefere criar absurdos. No original grego há um jogo de palavras, posto que o vocábulo que descreve como os homens desprezam o conhecimento de Deus também é usado em outra forma (a mesma raiz vocálica é empregada) para descrever a atitude mental a que Deus os en­tregou. É por esse motivo que Alford (in loc.) traduz: «Posto que reprovaram o conhecimento de Deus, Deus os entregou a uma mente reprovada». Também poderíamos traduzir essa sentença por: «Visto que eles desprezaram o conhecimento de Deus, Deus os entregou a uma mente desprezível»; ou ainda: «Visto que não aprovaram o conhecimento de Deus, Deus os entregou a uma atitude mental reprovável». E isso serve de demonstração da lei da colheita segundo a semeadura. Os homens recebem exatamente aquilo que semeiam.

Os Vícios dos Pagãos

Rm 1:29: estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicí­dio, contenda, dolo, malignidade;

Os adjetivos aqui utilizados, isto é, cheios e possuídos, demonstram claramente que o caso é maligno, característico do paganismo, agravado e contínuo, e não algo cometido ocasionalmente. Observemos que «toda» sorte de injustiça é que os caracteriza.

1. Injustiça. Essa palavra mui provavelmente é usada como termo geral para descrever o cabeçalho da lista. Sumaria a disposição mental característica que leva os homens a perpetrarem muitos tipos de maldades contra os seus semelhantes, maldades essas descritas a seguir.

«É o egoísmo, entronizado contra todo o direito alheio». (Newell, in loc).

«Trata-se de todo o vício contrário à justiça e à retidão». (Adam Clarke, in loc).

2. Malícia. Temos aqui a atitude mental de quem se deleita com a ruína, com o desconforto, com o infortúnio alheio; é uma atitude odiosa, que se deleita na perversidade. É o desejo de prejudicar, a malignidade de espírito que produz uma vida cancerosa. É a opressão do homem contra o homem.

3. Avareza. Representa o «eu» entronizado, o egoísmo total, — a mais completa desconsideração para com os direitos dos outros, que deseja todos os benefícios apenas para si mesmo. Está em pauta o amor intenso ao lucro, a qualquer preço, o gênio de uma alma perenemente insatisfeita com o que já possui, numa atitude extremamente materialista, que expulsa todos os motivos mais elevados. Esse pecado é invariavelmente classificado entre os piores vícios, porquanto é a própria antítese da piedade. Consiste em fazer do próprio «eu» um deus, conferindo a si mesmo o que pertence somente a Deus e aos nossos semelhantes (ver Jr 22:17; Hb 2:19; Mc 7:22; Ef 5:3; Cl 3:5 e II Pe 2:3, que são versículos bíblicos que abordam esse pecado). A passagem de Cl 3:5 define esse erro como «idolatria», porquanto se trata de um desejo pervertido de obter coisas, de desejar anelantemente as possessões materiais, como se a posse das mesmas pudesse satisfazer à alma, ficando assim criado um «deus» das riquezas. Sócrates comparava o homem avarento a um vaso todo esburacado. Sem importar o quanto fosse derramado em tal vaso, ele sempre desejava mais, jamais ficando cheio ou satisfeito. As almas dos ignorantes, no dizer de Platão, são esburacadas. (Ver Górgias, 493).

4. Maldade. Temos aqui a má vontade, numa atitude radical e essencialmente perniciosa. É bem possível que essa palavra seja aqui usada em sentido passivo, indicando um vício íntimo, que é a motivação por detrás das ações malignas mais francas. Trata-se daquela malícia que abriga o desejo de prejudicar os outros.

5. Possuídos de inveja. Trata-se de um sentimento de ódio contra alguém que nos é superior, quer em posição social, quer em qualidade de caráter, quer em possessão material, que desejamos mas não podemos obter. Assim é que lemos sobre Pilatos: «Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho haviam entregue» (Mc 14:10). O Senhor Jesus era santo e bom, sem qualquer mácula em seu caráter; mas o hipócrita não podia tolerar tal coisa. A inveja consiste na tristeza de alguém em face do sucesso de outrem, bem como na alegria quando outro incorre em erro ou é derrotado (ver I Co 13:6).

«(A inveja) é a dor sentida e a malignidade concebida em face da excelência ou da felicidade de outrem». (Adam Clarke, in loc.).

«É a atitude errônea em face do conhecimento e da erudição superiores, em face das riquezas ou prosperidade, em face da felicidade e da prosperidade exterior de outros». (John Gill, in loc).

Os pagãos não somente tinham tal vício, mas eram também possuídos, pelo mesmo, o que nos mostra que os vícios os controlavam e não eles os vícios.

6. Homicídio. Esta palavra, no grego, tem um som similar à palavra anterior, e sem dúvida aparece na lista, nesta altura, simplesmente por esse motivo; e isso nos mostra, conforme afirmam alguns intérpre­tes, que essa lista não pode ser dividida em categorias bem claras e definidas. É simplesmente uma tentativa do apóstolo de fazer uma lista de um bom número dos pecados que caracterizavam o paganismo, sem qualquer ordem especial ou sem qualquer inter-relação entre esses pecados. Todos esses vícios caracteri­zam ações antissociais, conforme vemos nos versículos vigésimo quarto a vigésimo sétimo, que apresentam uma lista de pecados pessoais, morais. Só podemos fazer essa divisão sobre os vícios humanos, mas qualquer coisa mais detalhada do que isso tende para a artificialidade.

O homicídio é um ato da mais pura violência, que se deriva de uma perversão íntima, inspirada por qualquer dos vícios anteriores. A inveja pode causá-lo; a avareza também pode produzi-lo; a má vontade íntima, que abriga o desejo de prejudicar a outros também pode ser sua fonte; e a malícia, que se deleita na ruína do próximo, pode ser a sua base fundamental. O trecho de Mt 5:21-26 nos mostra que o ato de homicídio é mais do que um ato desenfreado; pode ser também uma atitude interna, um sentimento de ódio cultivado contra outrem. Muitos daqueles que não ousariam matar a outro, mediante essa atitude íntima criticam e prejudicam seus semelhantes com suas palavras, cometendo autênticos assassinatos de caráter. Essa atitude é tão comum na igreja cristã que se tornou proverbial; pois o que é mais comum do que se falar sobre as «maledicências» das senhoras de uma igreja, quando elas se reúnem em grupo? E muita gente boa é vitimada por esses homicidas morais.

Esse pecado se tem tornado tão generalizado que se tornou motivo de piadas e palavras impensadas, em vez de ser severamente censurado. O ódio íntimo contra outra pessoa é uma forma de assassinato; e quem não se tem tornado culpado disso, numa ou noutra ocasião? E existem almas mais egoístas que são continuamente culpadas desse pecado? (Que o leitor consulte o trecho de Mt 5:21-26)

7. Contenda. Literalmente traduzida do grego, essa palavra significa o espancamento produzido quando de alguma desavença. «Verdadeiramente, quão repleta de contendas é esta raça humana!» Newell. No entanto, a mitologia grega criou desse vício uma deusa!

8. Dolo. Encontramos nesta palavra o espírito e a prática da mentira, da falsidade, da prevaricação, da desonestidade. Essa palavra portuguesa se deriva do verbo grego delo, que significa «apanhar com uma isca», ou seja, enganar mediante falsificação. O Senhor Jesus designou Natanael como «Eis um verdadeiro israelita em quem não há dolo!» (Jo 1:47). Homens como Natanael são extremamente raros. A sociedade humana virtualmente sobrevive em meio ao ludibrio, especialmente no que diz respeito ao mundo dos negócios. Usa-se de engano nas escolas, no comércio e nas relações pessoais que se baseiam na confiança mútua; os homens preferem usar do ludibrio à honestidade; são mentirosos no coração e são mentirosos com a língua.

9. Malignidade. Diz Adam Clarke (in loc), a respeito disso: «Essa atitude consiste em aceitar tudo no pior sentido... o que leva o seu possuidor a dar a interpretação mais negativa a toda a ação. Aos melhores atos, se dá o pior motivo». Trata-se de um sentimento especialmente pernicioso, sendo uma perversão do espírito que se deleita na maldade e que a vê em tudo, mesmo onde ela não existe. É indicação de uma disposição totalmente maliciosa.

Rm 1:30: sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais;

10. Difamadores. O vocábulo grego produz um som sibilante, que provavelmente era produzido em imitação àqueles que habitualmente se mostram caluniadores. O som sibilante sugere o sibilo da serpente, porquanto a língua ferina com grande frequência tem sido assemelhada aos ataques furtivos e repentinos das serpentes venenosas. O pecado aqui referido é aquele cometido pelos «caluniadores em secreto», e o versículo trinta começa a falar sobre os «caluniadores». O fato é que os «caluniadores» não são melhores do que os difamadores. São igualmente peçonhentos e destruidores em seus ataques. O termo usado neste vigésimo nono versículo se refere àqueles que secretamente se dirigem a alguém, transmitindo-lhe alguma informação que supostamente é só para esse alguém. Mas, ao assim fazerem, atacam difamadoramente o caráter de outro, em sua reputação, lançando dúvidas sobre a sua honestidade ou outra virtude, procurando armar um escândalo qualquer.

11. Caluniadores. Essa palavra designa aqueles que fazem, aberta e publicamente, aquilo que os «difamadores» fazem em segredo, na surdina. O termo usado no presente versículo significa «falar contra», subentendendo, normalmente, os acusadores falsos ou caluniadores. O leitor pode examinar o trecho de I Pe 2:12, onde se comenta sobre o uso dessa palavra.

12. Aborrecidos de Deus, indica aqueles que desafiam abertamente a toda autoridade, não temendo nem a Deus e nem aos homens. E embora supostamente cônscios do desprazer divino, não se deixam refrear por tal conhecimento. Odeiam a todos os objetos sagrados, e ridicularizam daqueles que creem em Deus e na alma. São totalmente profanos, e ainda se ufanam disso. Demonstram seu ódio pelas coisas sagradas porque, no íntimo, odeiam a Deus. Essa rebelião contra Deus, que caracteriza a todos os corações não convertidos, domina tais pessoas completamente. Servem tais indivíduos de suprema ilustração da verdade que «o pendor da carne é inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo pode estar» (Rm 8:7). São pessoas que não mostram apenas uma irreligiosidade passiva, mas são antes ativas e declaradamente profanas. No dizer de Adam Clarke (in loc): «Parece ser esse o toque de acabamento de um caráter diabólico».

13. Insolentes. Essa palavra descreve os homens que têm prazer em insultar e injuriar seus semelhantes. — Em sua forma verbal, signi­fica «tratar com injuriosa insolência». São os indivíduos tempestuosos, turbulentos e abusivos de caráter. Conforme comentou John Knox (in loc.): «...uma atitude desavergonhada que não se deixa vergar à atitude de reverência, nem se humilha ante a própria conduta errada, nem restringe a sua própria conduta, sem importar a consciência que porventura tenham da presença de Deus. Naturalmente, daí se segue que se mostram altivos em suas relações com seus semelhantes, porquanto são insolentes em sua atitude para com Deus, motivo também porque não mostram qualquer senso de restrição em sua autoglorificação e nos louvores com que favorecem a si próprios».

14. Soberbos, isto é, tomados de orgulho altivo. É o vício de caráter daqueles que louvam a si mesmos, demonstrando uma atitude exatamente oposta à do Senhor Jesus, que disse: «Vinde a mim todos... porque sou manso e humilde de coração...» (Mt 11:28-30). Em contraste com o Senhor Jesus, tais indivíduos estão tão repletos de si mesmos que não têm espaço algum de sobra para a consideração sobre as coisas relativas a Deus ou aos seus semelhantes. Gloriam-se em seus supostos poderes e realizações, desprezando aos outros. Essa palavra se deriva de uma combinação de palavras que tem o sentido de «brilhar acima». Querem que os outros recebam suas palavras, como se fossem oráculos. Magnificam o espírito de Satanás, e pregam na atitude de Nietzsche e de Trasímico, que viveu muito antes deles, os quais diziam que «a força é o direito».

Não nos podemos equivocar quanto ao fato inegável de que uma geração selvagem e descontrolada está entesourando para si a punição, talvez mesmo de uma forma nacional e catastrófica, como uma guerra atômica, acompanhada da fome, da miséria, das revoluções sociais e do destroçamento econômico, que terá lugar nos últimos tempos. As tribulações pelas quais o mundo passará, no inicio do presente século XXI, pelo menos em parte se deverão à natureza descontrolada e desvairada da atual geração jovem, que não considera coisa alguma sagrada. A lei da colheita segundo a semeadura é inflexível, porquanto tudo quanto um homem semear, isso também ceifará.

15. Presunçosos. Essa palavra se deriva, no original grego, do verbo que significa «supor», «tomar», «arrebatar», «agarrar», indicando uma atitude de vangloria, de egoísmo e de arrogância.

16. Inventores de males. «São os inventores de instrumentos destruidores, a exemplo de Alexandre o Grande. São os inventores de novas modalidades de vícios morais, a exemplo de Nero, —que exibiu em espetáculo a tortura dos cristãos, em seus jardins, tendo chegado ao extremo de convidar seus hóspedes a contemplarem tal espetáculo. São aqueles que têm inventado costumes, ritos, modas, etc, de caráter destruidor. Entre esses podemos citar aqueles que criaram certas cerimônias religiosas diferentes entre os gregos e os romanos, como as orgias de Baco, os mistérios de Ceres, as lupercálias, as festas da Bona Dea...Multidões de cujas maldades, na forma de cerimônias destruidoras e abomináveis, se encontram sempre, por toda a adoração pagã» (Adam Clarke, in loc).

17. Desobedientes aos pais. Temos aqui um pecado tão moderno e comum em nossos dias, que nem choca mais os nossos ouvidos. No entanto, tal pecado era extremamente chocante para os antigos judeus, com seu código moral mui estrito em certos particulares, o que fazia com que esse pecado fosse considerado por eles como uma falta gravíssima. Literalmente traduzida, essa palavra grega significa «incapazes de serem persuadidos pelos pais». A passagem de II Tm 3:1,2 revela-nos que essa péssima característica humana seria própria dos últimos dias. Esse pecado é uma maldição para o desenvolvimento harmonioso da família, estendendo-se à comunidade inteira dos homens, servindo de verdadeira praga da sociedade. Um dos poucos mandamentos vinculados a uma promessa é aquele que nos ordena respeitarmos e honrarmos nossos genitores: «Honra a teu pai e a tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor teu Deus te dá» (Êx 20:12). E com isso podemos comparar o que diz o trecho de Pv 30:17: «Os olhos que zombam do pai, ou desprezam a obediência da mãe, corvos do ribeiro arrancá-los-ão, e os pintãos da águia os comerão».

Com frequência o castigo é adaptado à natureza do pecado cometido; ocasionalmente, entretanto, o castigo não tem conexão alguma aparente com o delito. Uma coisa é certa: nenhum pecado deixa de receber a sua justa retribuição.

Rm 1:31: néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia;

«Esta passagem bíblica se aproxima de seu final inexorável. A bancarrota completa do homem sem Deus fica demonstrada pelo seu fracasso intelectual, na falta de lealdade às suas obrigações, no terreno da vontade e das ações, bem como na ausência dos apegos emocionais mais simples e naturais. Neste ponto, uma vez mais, a vida de sua própria geração ilustrava amplamente os males aos quais Paulo se referiu apenas de passagem. Visto que «a afeição natural» se ausentara, tanto o divórcio como o infanticídio se tinham tornado extremamente comuns. Quando o vínculo verdadeiro que deve unir homem e mulher se afrouxa, nenhum outro laço é suficiente para mantê-los juntos; quando aqueles que são responsáveis pela procriação dos filhos não se sentem obrigados a aceitar nem mesmo a mais simples responsabilidade por eles, uma nova vida não tem qualquer segurança, porque também não tem valor. Dois outros comentários completam o delineamento oferecido por Paulo sobre a vida humana, quando os homens tentam se separar de Deus. A amargura e o ressentimento se cristalizam na forma de um endurecimento invencível, e as fontes mais naturais da misericórdia se ressecam». (Gerald R. Cragg, in loc).

18. Insensatos. Alguns intérpretes pensam que essa palavra envolve alguma forma de insensibilidade moral, traduzindo-a por «sem entendimento moral». (Pode-se comparar isso com Mt 13:14,15; 19:23, 51). Na forma de adjetivo, pois, esse vocábulo pode significar exatamente isso, a falta de entendimento sobre as realidades divinas, a ausência de discerni­mento moral apropriado. E posto que essa palavra foi usada aqui em um contexto teísta, e posto não ser provável que o apóstolo Paulo quisesse dizer que tais pessoas não tivessem compreensão sobre as realidades materiais, como as ciências, etc, é bem provável que devamos compreendê-la em sentido religioso, ainda que, literalmente, tal vocábulo queira dizer, mera­mente, «desconhecedores». Essa mesma palavra é usada no versículo vigésimo primeiro, para indicar uma descrição sobre o «coração», isto é, um «coração insensato», desconhecedor das realidades divinas».

19. Pérfidos, ou seja, sem «boa fé», «infiéis», no sentido de que tais indivíduos não sentem obrigação alguma a contratos ou acordos, pois as suas promessas são sem valor. Essa palavra indica uma espécie de mentalidade de quem não tem a intenção de cumprir promessas, votos ou pactos.

«Contratos comerciais rompidos, tratados nacionais violados, confianças pessoais facilmente traídas, tudo isso tem raiz nessa odiosa condição da alma» (Newell, in loc).

«Assim como todo o pacto ou acordo é feito como que na presença de Deus, assim também aquele que se opõe ao ser e à doutrina de Deus é incapaz de sentir-se obrigado ante qualquer aliança; não pode comprometer-se a uma determinada conduta» (Adam Clarke, in loc).

20. Sem afeição natural. Essa falta de afeição pode ser vista no caso das criancinhas abandonadas, em que os genitores não se importam com o seu bem-estar; mas tal atitude cruel também pode ser percebida na atitude de tantos filhos desumanos para com seus pais. Entretanto, essa palavra envolve relações mais amplas contra a outra, já que os homens, simples­mente porque são seres humanos, normalmente sentem interesse e cuidados pelos seus semelhantes. Por motivo desses cuidados naturais é que se desenvolveram instituições como a educação, os hospitais, os centros sociais e os governos justos, para nada dizermos a respeito das instituições espirituais, como as escolas religiosas e as igrejas. Alguns indivíduos, entretanto, são tão imperfeitamente desenvolvidos espiritualmente que não se importam em prejudicar, física ou espiritualmente a outros homens, ou mesmo a assassiná-los. É entristecedor e lamentável o fato de que os maiores heróis da história humana também têm sido os seus mais fabulosos homicidas, e não aqueles que têm realmente ajudado aos seus semelhantes a progredirem de alguma forma. A história política pouco mais é do que a crônica sobre as atrocidades que os homens têm cometido contra os outros homens. Todas essas coisas lamentáveis servem de provas supremas da avaliação paulina sobre a raça humana, quando vive longe de seu Deus.

«Deus 'deleita-se na misericórdia'; mas a 'desumanidade do homem contra o homem faz milhões chorarem'. Considerai: um Deus misericordioso! criaturas destituídas de misericórdia!» (Newell, in loc).

«Os pagãos, de modo geral, não sentem escrúpulos por exporem às intempéries (a fim de que morram), as crianças que julgam não serem dignas de sobreviver, e nem sentem escrúpulos por deixarem seus pais morrerem, quando se tornam idosos e não podem mais trabalhar». (Adam Clarke, in loc).

O vocábulo grego aqui utilizado significa, estrita­mente, «amor aos parentes de raça», com a partícula negativa. Porém, provavelmente estamos corretos ao compreendê-lo no sentido mais profundo do amor para com qualquer ser humano, porque todos os homens, em certo sentido, o sentido físico, são nossos irmãos e, em outro sentido, o espiritual, são nossos semelhantes.

21. Sem misericórdia. O original grego significa exatamente isso: o negativo é prefixado à palavra «misericórdia». Diz-se que Nero se divertia torturando insetos, arrancando-lhes as asas, as pernas, etc, quando era criança. Na sua idade adulta entretinha seus convidados, nos jardins de seu palácio, em Roma, com a tortura e o assassínio de incontáveis cristãos. Foi ele o iniciador das primeiras perseguições oficiais ferozes do império romano contra os cristãos. Não existem muitos homens sem entranhas como Nero, mas até mesmo os indivíduos mais excelentes podem descobrir, em si mesmos, especial­mente em explosões de ira, o ódio e a sanha destruidora, em lugar da gentileza e da misericórdia. Até mesmo os chamados bons cristãos, às vezes, mostram-se tão amargos em suas palavras que ferem aos seus semelhantes, incluindo nesses ataques, não raramente, até mesmo as pessoas melhores e mais santas. A miséria que o mundo sofre, por motivo da falta de compaixão é surpreendente, tendo criado aquilo que os filósofos denominam de «problema do mal moral», isto é, como se pode explicar a existência de tantos males à face da terra, inspirados pela vontade humana?

Variante Textual. A palavra implacáveis aparece também nesta lista, em alguns manuscritos posterio­res, como Aleph(3), CD(3), KLP, no que são seguidos pelas traduções AC,F,KJ e M. Todas as demais traduções, usadas para efeito de comparação nesta enciclopédia, omitem tal palavra, seguindo a evidência textual superior, isto é, os manuscritos P(40), Aleph(l), ABD(l), EG. Algum escriba deve ter aumentado levemente a lista de vícios já por si devastadora, como uma característica humana per­versa, de acordo com a realidade dos fatos, pois a ideia da implacabilidade envolve um espírito maldo­so, tão vil e violento, que não aceita conciliação, mas sempre prefere a vindita, a violência e a injúria. Essa atitude é própria daqueles que proposital e maliciosa­mente rejeitam a «paz». Ninguém pode pacificar tal indivíduo, porquanto suas fibras íntimas foram entretecidas com a própria fibra da vingança e da destruição. Tais pessoas não se interessam nem pela reconciliação com Deus, e nem com os seus semelhantes.

Um missionário que trabalhou há muitos anos atrás, R. H. Graves, que passou muitos anos na China, narrou que um chinês, ao ler esse capítulo, declarou que o mesmo não poderia ter sido escrito pelo apóstolo Paulo, mas somente por um missionário evangélico moderno que tenha estado na China poderia fazê-lo. Contudo, o que alguém chegue a dizer sobre a China pode ser aplicado ao mundo inteiro, porquanto Paulo descrevia a natureza aviltada da raça humana inteira, quando se encontra afastada de Deus. Mais adiante o apóstolo dos gentios haveria de mostrar como os homens podem ser redimidos, até mesmo de um estado tão moralmente aviltado como esse. Isso significa que há esperança para todos, porque se Deus pode corrigir tais males, nada existe que ele não possa fazer.

Resultados

Rm 1:32: os quais, conhecendo bem o decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam.

O Decreto de Deus

1. Deus determinou a ira para a incredulidade e a rebelião (ver Rm 1:18).

2. Os homens reconhecem intuitivamente esse decreto, da mesma maneira que reconhecem a Deus. Certo homem dizia: «Temo que a Bíblia diz a verdade!». O que ele queria dizer é: «Continuo em meu caminho de rebeldia; a Bíblia diz: Haverás de colher o fruto de tuas ações. Espero, pois, que a Bíblia esteja equivocada!» Ora, mesmo sem a Bíblia, os homens sabem que isso expressa a verdade.

3. A opção é entre o julgamento e o caos, pois se o bem não será galardoado e se o mal não será punido, então este mundo se transforma em caos, porquanto opera sem razão e sem alvo.

4. O homem, em sua apostasia e em seus múltiplos vícios, desafia a Deus para que faça algo a respeito. Mas, em seu coração, ele sabe que Deus o fará, em algum tempo, em algum lugar. Sua alma talvez chegue mesmo a desejar essa providência divina, inconscientemente, pois os juízos divinos armam o palco para o exercício de sua misericórdia (ver Rm 8:32), sendo eles corretivos, e não meramente retributivos (conforme aprendemos em I Pe 4:6).

5. O homem pode continuar a usar seu livre arbítrio para o mal, mas algum dia, Deus porá ponto final em tudo isso. O julgamento divino é a única coisa capaz de retificar novamente as tortuosidades tão laboriosamente criadas pelo homem. Assim sendo, que venha o julgamento divino!

Aprovação social ao pecado: os homens aprovam os pecados alheios. O pecado é mutuamente aprovado.

1. Um homem pode querer fazer muitas coisas — encorajado pela turbamulta, as quais não realizaria doutro modo. Isso se aplica ao caráter geral de sua vida. Um homem, aplaudido pela multidão, é capaz de pôr em prática um vício qualquer. Os homens apreciam praticar juntos os seus vícios e, com frequência, os mais horrendos pecados se tornam formas de entretenimento.

2. Este versículo ensina-nos como os homens «aprovam» os pecados de seus semelhantes. Por certo isso os encoraja a prosseguirem. Essa «aprovação» (quase sempre mútua) serve de uma espécie de desculpa psicológica para o erro. Eu faço isto ou aquilo; aquele outro também o faz; portanto, deve ser algo que para nós está certo! Mas então a consciência irrompe com o grito de Mentiroso!

3. Uma das mais solenes declarações de Jesus é aquela que nos adverte de que aquele que encoraja a outrem ao pecado, será mínimo no reino dos céus (ver Mt 5:19). É uma insensatez alguém pecar sozinho, de modo proposital. É loucura encorajar outros a fazê-lo.

4. Quais são os verdadeiramente grandes? São aqueles que obtêm a aprovação de outros no tocante ao que fazem? Não. São aqueles que observam os mandamentos de Deus.

5. Podemos observar que, em nossa época, até mesmo o terrorismo, os homicídios e a violência em massa, são erros aprovados por certas organizações, e esses erros são mesmo considerados ali como «causas santas». A ira de Deus fará reverter todos esses juízos humanos pervertidos. Alguns homens caminham de cabeça para baixo no teto, mas chamam-no de soalho.

«Que tremenda descrição sobre este mundo de pecadores, desta raça de alienados da vida de Deus, que estão em inimizade contra Deus e que vivem a contender uns com os outros! Mas todos estão em uma unidade infernal da maldade!» (Newell, in loc).

III. Empregando o Método da Pêntada: Cl 3:5 ss

«Paulo, em Cl 3:5 ss, adota uma forma literária que não se acha em qualquer outra porção de suas epístolas. Em vez de apresentar um catálogo geral de vícios pagãos, conforme se vê em Rm 1:26-31 e Gl 5:19,21, ele usa aqui o esquema artificial das pêntadas — duas de vícios e uma de virtudes. Dificilmente isso teria sido de sua invenção, não tem conexão necessária com qualquer coisa em seu próprio pensamento. É possível que seus adversários, em Colossos, tivessem traçado esquemas similares, com base na correspondência com os cinco sentidos, que constituiriam os apetites do homem natural. Entretanto, visto que a mesma forma é usada na primeira epístola de Pedro (notemos a pêntada de vícios em I Pe 2:1, e a pêntada de virtudes em I Pe 3:8), provavelmente temos aqui uma convenção dos moralistas helenistas». (Beare, in loc). (Quanto a essas pêntadas (grupos de cinco) ver o quinto versículo (a primeira) e o oitavo versículo (a segunda). Notemos também o décimo segundo versículo, onde há uma pêntada de virtudes, perfazendo um total de três pêntadas).

O homem, seu próprio maior inimigo Há uma antiga lenda escocesa que conta acerca de um fazendeiro que se viu a braços com um horrível monstro destruidor. O monstro derrubou seus celeiros, matou e espalhou seu gado, arruinou suas plantações e, finalmente, matou seu próprio filho primogênito. Entristecido e irado, o que venceu momentaneamente o seu terror, resolveu caçar o monstro e matá-lo. Assim, em uma noite fria, se pôs de tocaia em uma ravina. A memória do que o monstro fizera, conservava-lhe a coragem. Repentina­mente, ele ouviu suas passadas pesadas, que se aproximavam. Enfurecido, lançou-se para a frente, soltando um grito de guerra. Seu impulso lhe deu uma vantagem temporária, e o monstro foi derrubado. Mas o monstro era mais forte que o homem havia antecipado, e não demorou a revidar com golpes e maldições. O fazendeiro começou a ser dominado, mas, em desespero de causa, reiniciou a luta heroicamente, de tal modo que enfraqueceu o monstro. Finalmente, o monstro foi subjugado. O fazendeiro puxou da espada e se preparou para desfechar o golpe mortal. Nesse momento, um raio de luar incidiu sobre o rosto do monstro. Horrorizado, o fazendeiro retrocedeu — o rosto do monstro era o seu próprio rosto!

Pêntada de Cl 3:5

1. Prostituição. No grego é porneia. A melhor tradução aqui seria «imoralidade», porque tal pecado não é apenas o tráfico comercial do sexo, conforme a palavra «prostituição» significa para nós. A tradução «fornicação», que algumas versões usam, também não é boa, pois essa palavra tem o sentido, hoje em dia, de pecados sexuais praticados antes do casamento. A palavra é usada mui geralmente a fim de indicar todas as formas de pecado sexual, a despeito do fato de que se deriva do vocábulo grego porne, «prostituta». Trata-se do agir como uma prostituta, com sua mentalidade e seu estilo de vida. Esse vício também figura em Ef 5:3,

2. Impureza. No grego é akatharsia, isto é, qualquer forma de «impureza moral»; mas também está em foco qualquer impureza espiritual ou física. No presente contexto, porém, mui provavelmente estão em foco as impurezas sexuais, que corrompem o indivíduo, espiritual e fisicamente. Esse mesmo vício também aparece em segundo lugar na lista de Ef 5:3, onde figura a palavra «toda», isto é, toda a forma de «impurezas». Os pagãos se caracterizavam por muitos vícios sexuais, que eram chocantes para a mentalidade judaica, pelo que também em todas as listas de vícios, os pecados sexuais são os mais atacados, e isso sob boa variedade de termos.

3. Paixão lasciva. No grego é pathos. Não se encontra na lista de vícios da epístola aos Efésios. Tal vocábulo pode indicar anelos bons ou maus, dependendo do modo como é empregado. Pode indicar uma emoção passiva ou ativa; mas, usualmen­te, é usado para indicar paixões violentas e prejudiciais, que irrompem na forma de cólera, de ira descontrolada. Também é usada essa palavra em Rm 1:26, onde tem sentido sexual, isto é, «paixões infames», como o homossexualismo ou a concupiscência desordenada. É bem provável que o apóstolo dê aqui prosseguimento aos sentidos «sexuais» deste versículo, o que aponta para paixões ilegítimas e descontroladas. Em Herm. 4,1,6, essa palavra é usada para indicar uma mulher adúltera.

4. Desejo maligno. No grego é peithumia, acompanhada essa palavra do adjetivo kaken, «maligno», palavra que também não faz parte da lista de vícios da epístola aos Efésios. Indica todos os «anelos» malignos e «desejos desviados». Tal palavra era usada positiva ou negativamente; aqui temos o último caso, com o acréscimo da palavra «maligno». Trata-se do desejo pelo que é proibido e pervertido, os desejos insensatos (ver I Tm 6:9); as paixões da mocidade (ver II Tm 2:22); os desejos dominadores, que levam a práticas pecaminosas (ver I Pe 1:14); as paixões contaminadoras (ver II Pe 2:10), os desejos enganadores (ver Ef 4:22); os desejos da carne (ver Ef 2:3; I Jo 2:16 e II Pe 2:11). Esses são outros exemplos do uso dessa palavra no N.T.

5. Avareza. Trata-se do desejo de possuir coisas pertencentes a outros, a cobiça pela fama, pelo lucro ou pelas vantagens terrenas. Esse vício se encontra na lista de Ef 5:3,5, no contexto semelhante. Entretanto, ali é ensinado que, entre os outros vícios, nem deveríamos nomear tal coisa como característica de um «santo». O quinto versículo, tal como o presente, identifica-o com a «idolatria». O trecho de Ef 4:19 também envolve essa palavra, onde se lê que é uma coisa que não deveria caracterizar os que «aprenderam de Cristo». O indivíduo adora àquilo que ama, seja o dinheiro, as vantagens sociais ou os prazeres. E isso se torna o seu «deus», o seu ídolo, o que significa que suplanta o lugar de Deus em sua vida. Os moralistas estoicos viam esse pecado como a fonte originária de todos os males. O trecho de I Tm 6:16 expressa ideia similar, embora ali o «dinheiro» seja o ofensor, isto é, apenas uma das várias coisas que tornam um homem um idolatra. A equiparação da cobiça com a idolatria é correta, e mostra que apesar de hoje em dia poucos adorarem ídolos de madeira e pedra, contudo, quase todos os homens continuam sendo idolatras.

Cobiça.

1. Vem do coração (ver Mc 7:22,23).

2. Embota o coração (ver Ez 3:31 e II Pe 2:14).

3. É idolatria (ver Ef 5:5 e Cl 3:5).

4. É uma raiz de todos os males (ver I Tm 6:10).

5. Nunca se satisfaz (ver Ec 5:10 e Hb 2:5).

6. É vaidade (ver Sl 39:6).

7. Não convém aos santos, pois lhes é elemento deletério (ver Ef 5:3 e Hb 13:5).

8. É especialmente errada nos ministros da palavra (ver I Tm 3:3).

O que é idolatria. Consideramos as ideias abaixo.

Referências e ideias.

A idolatria:

1. A idolatria é proibida (ver Êx 20:2,3 e Dt 5:7).

2. A idolatria consiste em se prostrarem os homens perante imagens de escultura (ver Êx 20:5 e Dt 5:9).

3. Consiste em sacrificar perante imagens de escultura (ver Sl 106:38 e At 7:41).

4. Consiste em adorar a outros deuses (ver Dt 3:17 e Sl 81:9).

5. Consiste em ir após outros deuses (ver Dt 8:19).

6. Consiste em adorar ao verdadeiro Deus por meio de alguma imagem de escultura, etc. (ver Êx 32:4-6 com Sl 106:19,20).

7. A idolatria é descrita como uma abominação a Deus (ver Dt 7:25).

8. É odiosa para Deus (ver Dt 16:22 e Jr 44:4).

9. É desprezível (ver I Pe 4:3).

Pêntada de Cl 3:8

1. Ira. (Ver Ef 4:26). — Esta passagem é paralela a Ef 4:26, e a maioria dos vícios também são referidos dentro da metáfora do «despir» do mal e do «vestir» a nova natureza. O grego diz aqui «orge». Esse vocábulo também figura em Ef 4:31. Significa «ira», «indignação», sendo uma emoção alicerçada sobre uma disposição dura e amarga. É uma das obras da carne, tal como o são todos os outros vícios mencionados, tanto no quinto versículo como aqui (ver Gl 5:19,20).

«Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito do que o que toma uma cidade» (Pv 16:32).

A ira consiste na impaciência com o próximo, em que são usadas palavras de despeito, maculados pelo egoísmo contra o próximo, — de mistura com sentimentos de superioridade e de ódio.

«Há quatro tipos de disposição. Em primeiro lugar, há aqueles que facilmente se iram mas facilmente são pacificados; esses ganham por um lado e perdem por outro. Em segundo lugar, há aqueles que não se iram facilmente, mas só com dificuldade são pacificados; esses perdem por um lado e ganham por outro. Em terceiro lugar, aqueles que dificilmente se iram e facilmente se deixam pacificar; esses são os bons. Em quarto lugar, há aqueles que facilmente se iram, e só com dificuldade se deixam pacificar; e esses são os ímpios». (Midrash hannalam, cap. v.ll).

«A ira começa com a insensatez e termina com o arrependimento». (John Dryden).

«Temperamente: qualidade que, nos momentos críticos, produz o aço da melhor qualidade e o que é pior nas pessoas». (Oscar Hammling).

«A melhor resposta para a ira é o silêncio». (Provérbio alemão).

«A resposta branda desvia o Furor, mas a palavra dura suscita a ira» (Pv 15:1).

Referências e ideias.

A ira:

A ira é proibida (ver Ec 5:22 e Rm 12:19).

2. É uma das obras da carne (ver Gl 5:20).

3. Caracteriza aos insensatos (ver Pv 12:16).

4. É companheira da crueldade (ver Gn 49:7).

5. Acompanha a desavença e a contenda (ver Pv 21:19 e 29:22).

2. Indignação. No grego é thumos, alistado em Gl 5:20 como uma das obras da carne. Em Ef 4:31 também está vinculada à palavra anterior, embora figure antes dela. Significa «paixão», «ira apaixona­da», «cólera», «explosão de ira». Talvez a primeira forma, «orge», fale de uma disposição fixa, ao passo que esta última alude a manifestações súbitas, explosivas, embora os dois vocábulos, com frequência, sejam meros sinônimos.

3. Maldade. No grego é kakia, palavra de mui lata aplicação, como «depravação», «impiedade», «vício», «malícia», «má vontade», «malignidade». Por ter um significado tão amplo, ao usá-lo. Paulo ataca grande variedade de maldades. Inclui até mesmo a ideia de «prejudicar ao próximo» (Suidas), mas envolve até mesmo mais do que isso. É termo empregado também em I Co 5:8; 14:20; Ef 4:31; Tt 3:3 e I Pe 2:1. Aparece num total de onze vezes, nas páginas do N.T.

4. Maledicência. No grego é blasphema, a fala abusiva contra Deus ou contra os homens. A linguagem abusiva contra Cristo também é assim chamada (ver Mt 27:39 e Mc 15:29). (No tocante a tal abuso contra o nome de Deus, ver Rm 2:24; II Clemente 13:2; I Tm 6:1 e Ap 1:36). Trata-se da difamação, da injúria contra a reputação alheia, contra a calúnia, conforme se vê em I Co 4:13 e At 13:44 e 18:6, onde é usada acerca dos homens.

5. Linguagem obscena do vosso falar. No grego temos uma única palavra, aischrologia, que significa «linguagem obscena» ou «linguagem abusi­va». Provavelmente se deve compreender aqui por «linguagem abusiva», devido à sua conjunção com a «ira» e a «indignação». O termo grego aischros significa «feio», «vergonhoso», «vil», «aviltante». Esta é a sua única menção em todo o N.T. Algumas traduções preferem traduzi-la por «abuso de boca suja», que retém tanto a ideia de profanação como a ideia de obscenidade, juntamente com a ideia de abuso.

É da abundância do coração que a boca fala. Um homem, em uma explosão de ira, revelará a condição de seu coração, o que pode ser aquilatado pelo tipo de linguagem que emprega. A carnalidade se expressa mediante linguagem imunda, abusiva e iracunda, conforme se pode verificar todos os dias, na sociedade humana.

Notemos a importante adição do trecho de Ef 4:29, após as palavras «palavra torpe», a saber: «...unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e assim transmita graça aos que ouvem». Essa adição mostra o uso que os crentes devem fazer da faculdade da fala, em contraste com a linguagem dos incrédulos.

«Falar é fácil'. 'Palavras, palavras, nada senão palavras'. 'Ele é apenas um falador'. Essas afirmati­vas ilustram a depreciação comum da importância da fala. Porém, haverá coisas no mundo mais poderosas em favor do bem ou do mal, do que as palavras? A fala é a faculdade que distingue o homem dos animais. É o sinal da personalidade. O autoconsciente se manifesta somente pela fala. O pensamento é impossível sem palavras, que enfeixam ideias. As ações são antecedidas pelo pensamento. Conforme diz Heine: 'O pensamento antecede à ação, como o relâmpago antecede ao trovão'. Mas o pensamento é impelido pela sugestão verbal. Toda a cooperação entre os seres humanos depende, para seu sucesso, da comunicação verbal... A solidariedade cultural de um grupo se alicerça sobre uma linguagem comum. O caráter é revelado pela própria maneira de falar, '...porque a boca fala do que está cheio o coração' (Lc 6:45). Assim sendo, Tiago (no terceiro capítulo de sua epístola) não está grandemente equivocado quando dá tanta ênfase à língua». (Easton, referindo-se ao trecho de Tg 3:2).

IV. A Maior lista de Vícios dos Evangelhos Sinópticos

Comparando-se a lista de pecados, em Mt 15:19-20 com aquela exposta por Marcos, nota-se que Marcos (7:21,22) apresenta uma lista mais completa. Mateus se refere a «falsos testemunhos», que Marcos nem menciona; porém, Marcos declara os seguintes pecados: «...avareza, malícia, dolo, lascívia, inveja, soberba e loucura», os quais não foram registrados por Mateus. Portanto, teremos de acompanhar aqui palavra por palavra das que foram empregadas por Marcos, dando-lhes as explicações correspondentes:

1. Maus desígnios. —Os atos perversos se originam dos pensamentos. Alguns relacionam esses «maus desígnios» aos pensamentos pervertidos dos homens que criaram as «tradições» religiosas que suplantaram as leis morais de Deus. Essa ideia talvez esteja incluída, mas a intenção foi de sentido geral, isto é, designa toda a esfera de pensamentos pervertidos que criam, em última análise, os atos pecaminosos. John Gill (in loc.) diz: «Todas as imaginações iníquas, os raciocínios carnais, os desejos pecaminosos e as invenções maliciosas estão incluídos aqui».

2. Prostituição ou fornicação. Pecados sexuais dos solteiros. Essa palavra pode ser sinônimo de «adultério», e também pode significar pecados sexuais em geral; mas, pelo fato de também haver «adultério» na lista, provavelmente o autor sagrado falava do pecado dos solteiros ou da impureza de modo geral, sem qualquer relação ao estado civil das pessoas em questão.

3. Furtos. Apropriação indébita de objetos alheios. Essa ação pode ser praticada de modo violento, por ludibrio ou por desonestidade.

4. Homicídios. Arrebatamento da vida humana intencionalmente, pela própria mão ou por mão alheia. Talvez Jesus quisesse incluir aqui os atos que não vão além da intenção, mas que têm a mesma natureza daqueles que são realizados, conforme se aprende em Mt 5:21,22.

5. Adultério. Esta palavra sempre significa os pecados sexuais dos casados. Novamente é possível que Jesus quisesse incluir aqui a ideia não somente do ato em si, conforme vemos em Mt 5:27,28.

6. Avareza. Amor ao dinheiro; desejo maior pelas coisas materiais do que pelas espirituais, o que resulta em uma vida dirigida por princípios materiais, ou pelo materialismo. Ver o manifesto de Jesus contra o materialismo, em Mt 6:25-34.

7. Malícias. Ódio, atos violentos, maldade.

8. Dolo. Engano ou ludibrio mediante artifícios; desonestidade por palavra ou ação. O caçador procura uma vítima por meio de uma isca.

9. Lascívia. Palavra de derivação incerta no original. Frequentemente tinha o sentido que lhe damos atualmente; mas, no grego clássico, indicava um tratamento violento para com os outros, falta de respeito. No N.T. é usada com a ideia de satisfação sexual sem restrições. A palavra pode incluir a ideia de desvios sexuais.

10. Inveja. Literalmente, «mau olhado» e, portanto, «inveja» (segundo as traduções AA, AC e IB) é a interpretação correta dessa palavra. Trata-se de uma atividade maliciosa, que procura causar malefício ao próximo, especialmente por motivo de inveja de suas riquezas ou bens, e com a intenção de roubar-lhe os mesmos. O trecho de Mt 20:15 se utiliza dessa palavra: «Porventura não me é lícito fazer o que quero do que é meu? Ou são maus os teus olhos porque eu sou bom?» Por conseguinte, o sentido da palavra «inveja», neste caso, é a sua forma mais virulenta.

11. Blasfêmia. Linguagem injuriosa, usada contra Deus ou contra os homens (ver Mt 12:31).

12. Orgulho próprio. A ideia inerente ao vocábulo grego, é a de alguém que ergue a cabeça acima da dos demais. Está em vista um coração altivo contra Deus e contra os homens. Essa é uma palavra rara no N.T. O adjetivo cognato aparece em Rm 1:30 e II Tm 3:2.

13. Loucura. Literalmente, «falta de bom senso»; mas é usada com frequência no sentido de insensatez. Prática de atos ilógicos, desarrazoados. Pode ser realizada por palavras ou por atos. Esse vocábulo também é raro no N.T., porquanto figura somente em II Co 11:1,17,21 e neste trecho do evangelho de Marcos. Em Pv 14:18 e 15:21 é interpretado como um tipo de loucura que se constitui da ausência de temor a Deus, a louca paixão da impiedade.

14. Falsos testemunhos. O evangelho de Mateus acrescenta este pecado à lista apresentada por Marcos. Consiste em dar falso testemunho aos outros ou a respeito de outros, em conversa pessoal ou em tribunal de justiça; mentiras particulares e públicas.

Treze vícios aparecem na lista de Mc 7:21,22, ao passo que Mateus contém apenas sete pecados. A adição de «falsos testemunhos», pelo autor deste evangelho, foi tomada de empréstimo dos dez mandamentos. Outras listas de vícios e virtudes são dadas em Rm 1:29-31 e Gl 5:19-23. Tais listas são mais características da filosofia popular greco-romana do que das ideias religiosas dos judeus.

As Coisas que Contaminam o Homem: Mt 15:20

São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos, isso não o contamina.

«São estas as cousas que contaminam o homem». Jesus repete o seu argumento de forma abreviada e enfática. O Senhor demonstrou diversas coisas que quebram os mandamentos de Deus, como:

1. Maus desígnios, que de algum modo quebram a qualquer dos mandamentos.

2. Homicídios, que quebram o sexto mandamento.

3. Prostituição e adultério, que quebram o sétimo mandamento.

4. Furtos, que quebram o oitavo mandamento.

5. Falsos testemu­nhos, que quebram o nono mandamento.

6. Blasfêmias, que quebram o terceiro mandamento.

Todas essas coisas contaminam o indivíduo, tornando-o indigno de participar da adoração a Deus, pessoal ou publicamente. E essa contaminação é autêntica, porquanto procede do coração, que indica o homem real, interior, que é sede de seu caráter, mas que não tem qualquer vinculação com as coisas externas, como a lavagem ou não das mãos. Jesus fez a antítese entre «mãos» e «coração». As coisas das «mãos» (que são físicas) não contaminam o homem; mas as coisas do «coração» (que são espirituais) é que, sendo moralmente erradas, certamente contaminam o homem. Esse tipo de moralidade é para nós um conceito comum, o qual aceitamos sem fazer qualquer objeção. Porém, para os judeus daquele tempo era uma ideia revolucionária, pois eles viviam sob a influência de indivíduos que enfatizavam, ato o extremo da tolice, as exigências inerentes às leis cerimoniais.

V. Os Vícios como Obras da Carne: Gl 5:18-21

Esses vícios mui naturalmente se dividem em quatro categorias:

1. Pecados sensuais, vs. 19.

2. Pecados de superstição ou religião falsa, vs. 20.

3. Pecados de mau temperamento, vss 20,21.

4. Pecados de várias formas de excessos, vs. 21.

1. Prostituição. A tradução imoralidade ficaria muito melhor aqui, como tradução do termo grego porneia, visto que o termo «prostituição» dá a entender o tráfico comercial do sexo. O sentido original desse vocábulo podia realmente ser traduzido por «prostituição», visto que ela se deriva da raiz grega «porne», que significa «prostituta». No entanto, o substantivo «prostituição» gradualmente foi assumin­do um significado mais lato. O termo básico, no grego, é paralelo a «permeni», que significava «vender», o que alude ao comércio que as mulheres faziam e fazem do sexo. Porém, a tradução imoralidade indica todas as formas de pecado de natureza sexual.

Algumas versões dizem aqui fornicação; mas essa tradução também é inadequada, porquanto atribuí­mos a esse termo a ideia de pecados sexuais anteriores ao casamento. Todavia, a fornicação e a prostituição são tipos de imoralidade. Na realidade, a palavra grega aqui usada pode indicar até mesmo o «adultério», isto é, o pecado sexual entre pessoas casadas com outras. Os chamados «cultos de fertilidade», que havia nos dias de Paulo, glorificavam todas as modalidades de imoralidade, transforman­do-as em atos de devoção religiosa. O dinheiro que as prostitutas religiosas profissionais recebiam de suas nefandas atividades nos templos pagãos, era empre­gado para o sustento e a expansão de formas de adoração idolatra; por isso mesmo era natural que os judeus sempre tivessem associado a idolatria e pecados sexuais de muitas variedades. A idolatria, pois, era encarada como a raiz da imoralidade sexual. Somente na cidade de Corinto, mais de mil prostitutas religiosas infestavam os seus vários templos pagãos. (Ver o trecho de Rm 1:18-27, onde Paulo denuncia abertamente os pagãos, por sua imoralidade). Entre as muitíssimas razões pelas quais não deveríamos participar de tal forma de pecado, destacamos aquela que aparece em I Co 6:13-20 e 10:1-13, a saber, tais pecados são uma violação de nossa relação e de nossa comunhão com Cristo.

2. Impureza. No original grego, é akatharsia, que significa, literalmente, «impureza», «imundícia», refugo, ainda que, figuradamente, indicasse imora­lidade, vício, «impureza nas questões sexuais». Tal vocábulo era empregado para indicar uma ferida suja, na carne, ou a depravação moral do espírito, a iniquidade, embora não necessariamente de ordem sexual. Porém, neste contexto, certamente Paulo tinha em mente as impurezas sexuais praticadas com tantas variedades indefinidas. Os vícios sexuais estão em foco, como a homossexualidade, o abuso das funções sexuais que corrompem o indivíduo a ponto de torná-lo espiritualmente imundo. Essa mesma palavra era utilizada para indicar a «impureza cerimonial», na versão da Septuaginta, do A.T., adquirida mediante o toque em um cadáver, em um leproso, em um animal proibido, etc. As impurezas sexuais nos tornam imundos; e isso é o que Paulo enfatiza aqui, sem especificar nenhuma forma particular de vício.

3. Lascívia. No grego, aselgeia, que significa «licenciosidade», sensualidade exagerada. Está em pauta a conduta assinalada por indulgência sexual irrestrita, por violência e voluntariedade pervertida. No grego clássico tal palavra não tinha, necessaria­mente, uma conotação sexual; porém, visto que ela é agrupada com outros vocábulos que têm tal sentido, e por ter tal sentido comum, nos escritos de outros autores, é altamente provável que Paulo tenha continuado a frisar pecados sexuais, embora agora o faça sob a luz daqueles que são exageradamente sensuais, violentos, que abusam da moralidade pública e privada. No texto de Ef 4:19, vemos que aqueles que destroem completamente a consciência, tendo-a «cauterizada», entregando-se ao «deboche», aos pecados sexuais exagerados (a mesma palavra é usada naquele texto), entregavam-se à «lascívia».

4. Idolatria, vs. 20. Os judeus consideravam esse pecado como o motivo básico da corrupção do homem, aquele que aliena o homem de Deus, servindo, dessa forma, de alicerce para todos os demais pecados (ver Rm 1:18-32).

«Típica da guerra incansável do judaísmo contra a idolatria destaca-se a epístola de Jeremias, que descreve os ídolos como poeira, como ninhos corroídos de morcegos, de aves e de gatos; não sendo deuses sob hipótese alguma, mas antes, obras das mãos dos homens, impotentes e inúteis como um espantalho em um pepinal. A história de Bel e o Dragão amontoa derrisão e ridículo contra Esculápio, o deus pagão da cura, onde Daniel aparece como alguém que abateu sua serpente ao dar-lhe a fórmula prescrita de piche, gordura e cabelos! Os gentios inteligentes admitiam que os ídolos não são os próprios deuses, mas insistiam que os representavam. Os cristãos primitivos replicavam que esses supostos deuses e senhores não são senão demônios (ver I Co 8:4-6 e 10:19-21). A idolatria, portanto, era uma 'obra da carne'. Mediante a idolatria a natureza humana não regenerada cria suas divindades segundo a imagem humana e conforme os desejos humanos, edificando uma teologia capaz de racionalizar a maneira como os pagãos viviam e como tencionavam continuar vivendo. Por todo o decurso da história da humanidade a sua forma mais sutil e perigosa tem sido sempre o estado da adoração ao próprio 'eu'». (Stamm, in loc).

5. Feitiçarias, é tradução do termo grego pharmakeia, alusão ao uso de drogas de qualquer espécie, benéficas ou venenosas. Visto que as feiticeiras e bruxas usavam drogas em seus ritos, essa palavra veio a designar a prática da feitiçaria, da mágica, das bruxarias e de todas as formas de encantamento. A lei de Moisés mostrava-se extremamente severa nesse particular, exigindo a pena de morte para aqueles que praticassem ou participassem de tais coisas. As Escrituras do A.T. e os comentários sobre as mesmas denunciam os egípcios, os babilônios e os cananeus pela prática de todas essas atividades. — (Ver At 13:6; 19:15,19 sobre a «mágica»).

A experiência mostra-nos que tais práticas, embora em muitos casos sejam fraudulentas, não deixam de ter certo poder; e não há que duvidar que espíritos malignos, de vários níveis do mundo espiritual, algumas vezes se envolvem nessas manifestações, outorgando aos homens os seus desejos, mas furtando-lhes o controle sobre o mal, sobre as poluções morais e reduzindo-os a estados mais profundos ainda de inimizade contra Deus. Nos tempos de Paulo essa prática era evidentemente comum na Ásia Menor. É desnecessário é dizer que, sob as mais variegadas formas, a bruxaria continua bem viva no nosso mundo moderno.

6. Inimizades. No grego, echthrai, ou seja, «ódios», «inimizades», uma palavra usada no plural, indicando muitas modalidades de ódios, contra Deus e contra os homens. Essa emoção é o oposto exato do amor, pois, em vez de buscar o benefício e o bem-estar do próximo, busca prejudicá-lo, almejando a sua destruição; e assim fica exibido um caráter profano, visto que Deus é amor. As inimizades geram as hostilidades de todas as formas.

7. Porfias. É a tradução do vocábulo grego «eris», «desavença», «contenda». Trata-se da atitude mental hostil, que cria problemas os mais inesperados entre as pessoas, resultando em dissensões e divisões. É a mesma coisa que a «discórdia», a «querela», a «briga». É caracterizada essa atitude pela ambição, desatenção, enfeiamento e derrisão.

Mais corretamente, facções. Derivado de erithos, «servo alugado». Erithia era, primariamente, «tra­balho por contrato» (ver Tobias 2:11).

8. Ciúmes. No grego, «zelos», variegadamente traduzida por «emulações», «invejas». Mas o termo também tinha um sentido positivo, como «zelo», «ardor». Porém, é óbvio que, neste caso, está em foco um desejo intenso pela vantagem pessoal, com a degradação das realizações e qualidades dos outros. Naturalmente, a inveja é uma forma maligna de egoísmo, de par com uma avaliação inferior sobre o valor alheio, que deseja o mal ao próximo, e não o seu bem. Nos escritos clássicos podia significar uma paixão nobre, uma emulação que impulsionava à obtenção de coisas melhores, um sentimento ardoroso para com outrem, em contraste com o vocábulo «phthonos», isto é, «inveja». Porém, até mesmo nesses escritos clássicos por muitas vezes esses dois termos gregos são meros sinônimos.

9. Iras. No grego, thumoi, «iras», «raivas», uma palavra usada no plural. Esse termo indica a «alma», o «espírito», o «coração», e daí se derivaram as ideias de «coragem», de «mau temperamento», de «ira». É bem provável que Paulo quisesse destacar aquelas explosões de ira, que criam sentimentos de hostilida­des contra nossos semelhantes. Também podia indicar «ardor» ou «paixão», mas a simples ira é o significado natural aqui. Tal vocábulo era usado tanto para Deus como para os homens (ver Ap 14:10,19; 15:1, etc). Indicava tanto a indignação divina como a fúria de Satanás (ver Ap 12:12). Apontava para a ira dos homens (ver Lc 4:28; At 19:28; II Co 12:20 e Cl 3:8). Essa emoção é causa de muitos conflitos pessoais, domésticos e religiosos. É o contrário da ação benigna do Espírito Santo. Tal emoção solapa e destrói o espírito de amor cristão. Transforma em adversários aqueles que deveriam amar-se mutuamente.

10. Discórdias, no grego eritheiai, que quer dizer «facções», «espírito partidário». Trata-se de uma das formas pela qual se manifesta o egoísmo, o que causa divisões e partidarismos (ver Rm 16:17). Originalmente, esse vocábulo indicava a ideia de «trabalhar em troca de salário»; mas posteriormente degenerou em seu sentido, passando a indicar a feitura de algo com propósitos egoístas, com espírito de facção. Na passagem de Fp 2:3 aparece como aquilo que faz oposição direta à mente de Cristo. É a «explosão egoísta», que provoca contendas e divisões.

11. Dissensões. No grego original é dichostasiai, ou seja, «sedições», «levantes». Podiam ser de natureza política, social ou particular. Paulo quis indicar aqui as várias querelas entre irmãos, que ameaçavam a unidade do corpo de Cristo. (Comparar com o trecho de Rm 16:17, onde Paulo nos adverte contra as dissensões, que são provocadas por aqueles que servem a si mesmos, e não a Cristo Jesus).

12. Facções, no grego, aireseis, cuja tradução mais literal seria «heresias», mas que, neste trecho bíblico, bem provavelmente indica «espírito faccioso», por­quanto sua aplicação a doutrinas «não ortodoxas» é de desenvolvimento posterior, que não se encontra nas páginas do N.T. A raiz do termo grego indica a ideia de «escolher», pelo que também airesis é uma «escolha», uma «preferência». Na linguagem filosófi­ca, denotava a tendência demonstrada por uma escola de pensamento qualquer. As diferenças de opinião podem ser úteis ou destrutivas, dependendo de sua natureza tão somente. Porém, as ideias e as ambições rivais tendem para a formação de partidos ou divisões no seio do cristianismo. Essa é a atitude que Paulo condena neste ponto. Paulo condena aquela rivalida­de baseada no egoísmo, o que produz tais divisões. Ver o trecho de At 24:14, onde esse vocábulo denota um «grupo» ou «seita». Na passagem de At 24:5, essa palavra indica a «seita dos nazarenos». Já em Mart. Pol. Epil. 1, esse vocábulo é empregado para designar uma «heresia», tal e qual o termo é usado hoje em dia. Porém, isso já depois do período apostólico, depois da escrita do N.T. (ver I Co 9:19 e II Pe 2:1, quanto a outras passagens neotestamentárias que têm essa palavra).

13. Invejas, (v. 21). A palavra grega é phthonoi. Deve-se notar o plural que denota várias modalidades de desejos invejosos. Tal vocábulo também podia significar «malícia» e «má vontade». Todos os homens estão familiarizados com as ações malignas provoca­das pelos homens, quando se deixam arrastar por tais paixões. Os trechos de Mt 27:18 e Mc 15:10 dizem que por inveja é que os adversários do Senhor Jesus o entregaram a Pilatos.

«É a dor sentida e a malignidade concebida, à vista da excelência ou da felicidade. É a paixão mais vil e a menos passível de cura, dentre todas quantas desgraçam ou degradam a alma decaída (ver sobre Rm 13:13)». (Adam Clarke, in loc).

«Uma aflição inquieta tortura a mente, entristecida ante o bem alheio, porque alguém se encontra em igual ou melhor situação». (John Gill, in loc).

14. Bebedices. No grego, é methai, que significa «bebida alcoólica» e «alcoolismo», causado pelo uso excessivo de bebidas. — A forma plural bem provavelmente indica aquilo que realmente se verifica, a saber, a «repetição» do estado de bebedeira. A bebedeira é um excesso extremamente prejudicial ao corpo, o que seria suficiente para levar essa condição a ocupar lugar entre as obras da carne. Porém, conforme é fato bem conhecido, o alcoolismo também leva o indivíduo a diversos outros vícios, porquanto remove as inibições naturais, deixando-o livre para praticar coisas degradantes. Essa circuns­tância faz da bebedeira algo ainda mais culposo, como uma das manifestações carnais. As obras da carne, mencionadas no décimo nono versículo deste capítulo (vários excessos de ordem sexual), são encorajadas pelo alcoolismo, conforme é o caso das «farras», o último vício aludido nesta impressionante lista.

15. Glutonarias. Originalmente, essa palavra indica­va, no grego, um cortejo festivo, em honra ao deus pagão do vinho, Dionísio. Era uma refeição e um banquete festivos; mas com frequência seus partici­pantes perdiam o domínio próprio e tudo se transformava em ocasião de glutonaria e bebedeiras, de orgia das piores. Assim essa palavra veio a indicar «glutonaria» e «orgia», sendo possível que a lista de vícios, preparada por Paulo, quisesse nos levar a compreender ambos esses sentidos da palavra. As traduções modernas escolhem um ou outro desse significado.

Dioniso (Baco) era adorado com os excessos sexuais próprios desse culto, com a bebedeira, com a glutonaria, com os excessos; e os que tais coisas praticavam racionalizavam, tal como se verifica hoje em dia, que nada se fazia de errado com tais atos, apelando para uma ou para outra desculpa. A «adoração ao deus» era boa, segundo pensavam, a despeito das maldades que daí resultavam. O conceito de «liberdade» era identificado com o «direito» de participar de tais festividades, acompanhado da imunidade da censura pública. E hoje em dia, por semelhante modo, muitas pessoas identificam a «liberdade» com o direito de praticar excessos, e ainda exigem os seus «direitos» de fazerem o que bem lhes pareça. Essa atitude tem invadido até mesmo a igreja cristã (ver I Co 11:21), mas Paulo via uma cura para tais excessos com a intervenção decisiva do Espírito de Cristo, em substituição ao espírito do deus Dionísio.

Lista Representativa

«cousas semelhantes a estas». Paulo não afirma ter apresentado uma lista completa de vícios que condenam a alma. Antes, expõe-nos uma lista representativa, uma indicação dos tipos de coisas que destroem a vida espiritual.

Consequências da Prática dos Vícios

Não herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam. E usado aqui o particípio presente (no original grego) do verbo «praticar», mui provavelmen­te a fim de indicar uma ação contínua. Assim sendo, a ideia de «prática» destaca o sentido almejado. Vinculado ao artigo definido como está, o particípio presente indica «aqueles que se entregam à prática». Se um ato ocasional qualquer de tais vícios, impedisse de ser alguém membro do reino celeste, virtualmente ninguém estaria qualificado para fazer parte do mesmo. Por outro lado, o sistema da graça divina, longe de encorajar a prática do pecado, ou de desculpá-lo, depois de haver sido praticado, assevera claramente que o poder do Espírito Santo deve ser tão real que a atitude do vício seja substituída pela atitude própria de Cristo. A totalidade da mensagem distintiva do cristianismo depende da realidade da presença do Espírito de Deus no íntimo do crente, do que resultam a conversão genuína e a transformação moral. Ora, se essa transformação for real, então não haverá a prática de tais vícios. O crente desfrutará de vitória sobre toda a forma de vício. Em caso contrário, será um crente somente de profissão doutrinária, e não como uma realidade espiritual. Essa é a crua e dura verdade que o apóstolo dos gentios ensina aqui.

Reino de Deus. Neste ponto, essa expressão é equivalente a vida eterna conforme também se dá com frequência no evangelho de João. Não está em foco algum reino político a ser estabelecido quando da «parousia» (segundo advento de Cristo). Mas essa «vida eterna», sem dúvida alguma, é vista como algo que será inaugurado pela «parousia».

VI. Vícios de II Tm 3:2-4. As Características dos Homens dos Últimos Dias

1. Egoístas. No grego é philautos, que literalmente poderia ser traduzido como «amantes de si mesmos». Aristóteles (de Repub.), refere-se a esse defeito de caráter mui corretamente, ao dizer: «Não se trata tanto do amor próprio, mas de amar indevidamente, tal como o amor às possessões materiais». Portanto, trata-se de um mal, de um vício. O fato de que devemos «amar ao próximo como a nós mesmos» mostra-nos que o amor próprio é natural, algo perfeitamente esperado. Mas é quando amarmos a nós mesmos, com exclusão do próximo, que teremos cometido o mal aqui condenado. Essa palavra se encontra somente aqui, em todo o N.T., sendo uma das cento e setenta e cinco palavras peculiares às «epístolas pastorais».

2. Avarentos. No grego é philarguros, que literalmente significa «amantes da prata», isto é, «amantes do dinheiro». Esse vocábulo é usado somente aqui e em Lc 16:14, em todo o N.T. O «amor ao dinheiro» é uma forma de «avareza», que, por sua vez, é uma forma de idolatria (ver I Tm 6:10 quanto ao «dinheiro» como uma das raízes de todos os males).

Os pequenos deuses. Até mesmo os homens que não fazem e nem servem a ídolos de madeira, de pedra ou de metal, têm os seus deuses, que são eles mesmos ou certas coisas. O indivíduo egoísta, faz do seu próprio «eu» um deus. E o cobiçoso tem como seu deus o dinheiro, as possessões materiais. Há também aqueles cujo deus são os prazeres carnais (ver os versículos quarto a sexto de II Tm 3 e também Ef 5:3). O amor ao próprio «eu» e o amor ao dinheiro servem de substituições ao amor a Deus, fazendo do próprio «eu» o centro do universo; e isso é idolatria.

3. Jactanciosos. No grego é alazon, que significa «presunçoso», «arrogante». Sua raiz é «ale», que quer dizer «perambulação». Era palavra usada para indicar a atitude mental enlouquecida ou distraída. Os «vagabundos» geralmente eram indivíduos de vil caráter, fingidos, impostores; e assim a forma verbal dessa palavra veio a indicar os «fingidos», os enganadores; e, em sua forma nominal, veio a indicar os «jactanciosos», que proferiam coisas altissonantes sobre eles mesmos, mas que era apenas pre­tensão (ver o trecho de Rm 1:30 quanto a essa palavra que aparece na lista de vícios ali existente). Em todo o N.T. aparece somente em Rm 1:30 e nesta passagem.

4. Arrogantes. No grego temos o termo uperephanos, que significa «altivo», «orgulhoso». Na literatura bíblica tal palavra é usada somente em mau sentido, ainda que nos escritos clássicos algumas vezes figurasse com o sentido de «magnificente», «nobre». Sua forma verbal significa «brilhar mais que algo», «mostrar-se conspícuo». Aqueles homens, pois, se fariam conspícuos através do louvor próprio, desconsiderando a outros que, supostamente, seriam menos importantes do que eles mesmos. Esse vocábulo aparece por cinco vezes nas páginas do N.T., a saber, aqui e em Lc 1:51; Rm 1:30; Tg 4:6 e I Pe 5:5.

5. Blasfemadores. No grego é empregado o termo blasphemos, aquele que profere palavras abusivas e degradantes. Sua forma verbal pode significar «falar com profanação», como quem degrada algum objeto sagrado. No presente contexto, não há que duvidar que devemos pensar nessa significação. Os gnósticos diminuíam a pessoa de Cristo e a doutrina cristã, a fim de exporem suas doutrinas; por conseguinte, eram indivíduos blasfemos, mesmo que assim não tencionassem ser. Essa palavra também figura por cinco vezes no N.T., aqui e em At 6:11,13; I Tm 1:13; II Pe 2:11.

6. Desobedientes aos pais. (Ver o trecho de Rm 1:30 que também tem esta expressão numa longa lista de vícios. A falta de amor aos pais, além de total desconsideração para com sua autoridade, é própria do «paganismo»; mas igualmente caracteriza aqueles que repelem a autoridade de Deus, na «apostasia». (Comparar com I Tm 1:19 onde se fala sobre os «parricidas e matricidas»). Na passagem de Tt 1:6 é exigido dos «pastores» que eles criem seus filhos sob sujeição.

7. Ingratos. No grego é acharistos, «sem gratidão», forma privativa de charidzomai, «ser grato», «ser agradecido». Esse pecado também é atribuído aos pagãos, em Rm 1:21. A apostasia, portanto, será o levantamento do espírito pagão mais depravado, que não terá respeito por qualquer objeto sagrado, e que se mostrará totalmente deletério em seus intuitos e em sua atuação. Nas páginas do N.T., essa palavra só se encontra aqui e em Lc 6:35.

8. Irreverentes. No grego é anosios, que quer dizer «sem santidade», ou seja, «iníquo», sem restrição na maldade praticada. Temos aqui a forma privativa de «osios» que significa «sancionado», «aprovado pelas leis da natureza», e que fazia contraste com ieros, que significava «santo».

9. Desafeiçoados. No grego é astorgos, isto é, «sem afeição natural», palavra usada somente aqui e em Rm 1:31, onde o apóstolo descreve os pagãos apóstatas (ver Rm 1:31). Trata-se da forma privativa de «stergo», verbo que indica «amor mútuo» entre pais e filhos, entre reis e seus súditos. A apostasia, que é a rebeldia descontrolada contra Deus, arruína até mesmo os sentimentos humanos naturais, transformando as pessoas em subseres humanos. Tal vocábulo se encontra somente aqui e em Rm 1:31.

10. Implacáveis. No grego é aspondos, que também aparece na lista de vícios de Rm 1:31, mas em nenhuma outra porção do N.T. Essa palavra significa «irreconciliável». Trata-se da forma privativa de «sponde», «libação», algo oferecido aos deuses. E visto que tal palavra geralmente estava vinculada à feitura de tratados, naturalmente, veio a envolver a ideia de reconciliação, em que duas partes interessadas mostram o desejo de viver em paz, expressando tal desejo por meio de um voto. Mas algumas pessoas, invadidas por grande amargor de espírito, e sem respeito por seus semelhantes, não se sentem nunca aplacadas.

11. Caluniadores. No grego é usado o termo diabolos, um dos títulos dados a Satanás, que destaca seu caráter de «caluniador» (ver II Tm 2:26). Estão aqui em foco as pessoas que procuram prejudicar a seus semelhantes com palavras cortantes, que normalmente envolvem o exagero nas informações, distorcendo a verdade até o ponto da mentira desavergonhada. Tais pessoas não somente entram em choque com os seus semelhantes, mas também gostam de propagar as dissensões, lançando uns con­tra os outros. Promovem querelas devido à sua malignidade. Essa palavra figura por 38 vezes no N.T.

12. Sem domínio de si. No grego temos akrates, que significa «sem autocontrole», inclinados para a «autoindulgência». Essa palavra é a forma privativa de kratos, isto é, «poder». Portanto, estão em pauta os que «não têm o poder de controlar a si próprios». A perversão moral leva o indivíduo a esse extremo, porquanto essa perversão leva o homem a formar hábitos tão arraigados que sua fibra moral é destruída. O resultado final é um «escravo» das paixões e concupiscências, um homem «viciado» em muitas práticas daninhas. Essa palavra grega é usada exclusivamente aqui, em todo o N.T.

13. Cruéis. No grego é anemeros, ou seja, «selvagem», «brutal». Indica alguém privado de emeros, que significa «manso», «domesticável» (no caso de animais irracionais). Este é o único lugar, em todo o N.T., onde essa palavra é empregada, pelo que se trata de uma das cento e setenta e cinco palavras dessa categoria, nas «epístolas pastorais».

14. Inimigos do bem. No grego temos uma única palavra, aphilagathos, forma composta da forma privativa de «amar» e da palavra «bom». Portanto, são indicados aqueles que não têm amor natural pelo que é bom. Todavia, isso é deixado indefinido neste ponto, talvez indicando o «bem de todas as espécies», — que tem origem em Deus, que é o «summum bonum». Tais indivíduos farão oposição a Deus e a todas as suas manifestações. Essa palavra se encontra somente aqui, em todo o N.T, embora sua forma positiva, isto é, «amantes do bem», se encontre em Tt 1:8, como sua única outra ocorrência. Ambas as formas aparecem entre os cento e setenta e cinco termos peculiares das «epístolas pastorais».

15. Traidores. No grego é prodotes, que figura por três vezes nas páginas do N.T., isto é, aqui e em Lc 6:16 e At 7:52. Significa exatamente isso, «traidor», «traiçoeiro». Em Lc 6:16 tal termo alude a Judas Iscariotes, o principal apóstata do N.T.

16. Atrevidos. No grego temos propetes, usado somente aqui e em Atos 19:36, e que se refere a uma pessoa «ousada». Deriva-se de uma raiz que significa «cair para diante», «inclinar-se para a frente». Sua forma verbal, propipto, significa «cair para a frente» ou «lançar-se para a frente». Esse atrevimento pode ser nas palavras ou nas ações. São pessoas ousadas quando se entregam à maldade, visto que estão debaixo da influência de paixões descontroladas (ver os trechos de Pv 10:14; 13:3 e Siraque 9:18).

17. Enfatuados. No grego é tetuphomenos, forma participial perfeita de tuphoo, «orgulhar-se», «mos­trar-se arrogante». Essa palavra é usada somente aqui e em I Tm 6:4, ou seja, é um dos cento e setenta e cinco vocábulos que figuram somente nas «epístolas pastorais». «Tuphos» significa «fumaça», «nuvem», «neblina». Tais indivíduos, pois, andam «nebulosos de orgulho». Seu bom senso está obscurecido pelo orgulho, por seu senso de elevada importância pessoal.

18. Amigos dos prazeres, mais do que amigos de Deus. No grego é philedonos, forma composta encontrada exclusivamente aqui, em todo o N.T. O autor sagrado das «epístolas pastorais», muito aprecia as formas compostas. Está aqui em foco o «hedonismo», que indica aquela filosofia que exalta os «prazeres» como o sumo bem e o alvo de toda a existência. Alguns indivíduos religiosos, infelizmente para eles, se deixam dominar por essa filosofia; e mesmo que não o façam em seu credo, fazem-no como prática da vida diária. Vejamos os contrastes: no segundo versículo, «amantes de si mesmos» e «amantes do dinheiro»; no terceiro versículo, «inimi­gos do bem»; e agora, «amigos dos prazeres», mas «inimigos de Deus». (Ver igualmente II Tm 2:3, onde se lê «Participa dos meus sofrimentos...»; I Tm 6:18, «...pratiquem o bem...»). Quanto àqueles indivíduos, cujas atitudes são previstas, os «prazeres» se tornarão o seu deus. No mundo de hoje em dia não há deus mais servido do que esse, pois seus adoradores são bilhões. Ver a passagem de I Tm 5:6 quanto ao fato de que a pessoa que vive «nos prazeres» embora viva, está morta. Ali a alusão é aos pecados sexuais.

Não há que duvidar que o aspecto sexual desses «prazeres» faz parte do pensamento do presente versículo, ainda que sua referência seja mais ampla do que isso. O sexto versículo deste capítulo mostra-nos que vários dos mestres falsos eram sedutores que também se deixavam seduzir, eram prostitutos amadores, evidentemente se prostituindo com ele­mentos femininos das igrejas locais. Mui provavel­mente eram os libertinos gnósticos. É interessante que, normalmente, a ética do gnosticismo se inclinava para pontos extremos, ou para o lado da libertina­gem, ou para o lado do ascetismo severo. Os trechos de I Tm 4:3 e Gl 2:16,17,20 e ss se referem ao tipo de gnosticismo ascético. Os seus defensores criam que o corpo é a sede do pecador, porquanto participa da matéria, que seria totalmente incapaz de redenção. Razões Apresentadas Como Desculpas pela Imoralidade

1. Aqueles que preferem levar vidas imorais, sempre podem encontrar razões para assim agirem. Os mestres gnósticos procuravam justificar suas vidas pútridas, declarando que o corpo físico por si mesmo é um mal. Segundo diziam, o corpo participa da matéria, que é má em si mesma; e, assim sendo, não importaria o que um homem faz através de seu corpo. Na verdade, segundo diziam eles, é conveniente que o homem abuse de seu corpo, porquanto esse abuso contribui para a destruição do corpo; e essa destruição é um bem, pois assim o espírito se liberta.

2. Hoje em dia, como sempre sucedeu, é comum ouvir-se a corrupção ser definida em nome da liberdade. Alguns indivíduos se consideram livres, quando praticam qualquer ato maligno que desejam fazer. São esses os que andam ao contrário, dependurados de cabeça para baixo no teto. Jactam-se daquilo que praticam de vergonhoso; sua liberdade é a pior espécie de escravidão.

Os indivíduos viciados como que buscam derrubar a Deus de seu trono, preferem fazer de coisas temporais, e até mesmo pecaminosas, o grande objetivo de sua vida. Esquecem-se os tais que Deus é o summum bonum, a fonte originária de toda a vida, como também o seu alvo colimado (ver I Co 8:6).

VII. O Vício do Ódio: II Jo 2:9

Aquele que diz estar na luz, e odeia a seu irmão, até agora está nas trevas.

O veneno do ódio. «A pessoa que não ama não sabe que não é amorosa; imputa a outros as falhas de si mesma. Também não sabe o desastre inevitável a que sua maneira de andar a leva. Em certo sentido, anda nas trevas, porque as trevas a cegaram; em outro sentido, ela está cega, porque tem andado nas trevas. Aquele que se recusa a ver, finalmente não pode mais ver. O ódio constante destrói progressivamente a capacidade para o bem. Finalmente (segundo fica implícito no décimo versículo), faz outros tropeçarem. O ódio enerva outros e os faz revidarem; a vindita com frequência prejudica aos inocentes; a vingança envenena os motivos que se veem nos outros; a hipocrisia do crente que diz que anda na luz, mas odeia a seu irmão, é um opróbrio para a igreja, repelindo ao inquiridor sincero e edificando aos cínicos. O ódio pode prejudicar os tecidos do corpo e induzir enfermidades. Um médico diz que meia dúzia de palavras amargas fazem a própria pepsina do estômago perder seu efeito. O ódio desequilibra e inflama a mente. Subverte o pensamento, transfor­mando-o em paixão e mina o julgamento inteligente. Um comentador fez a seguinte paráfrase: 'ele... anda nas trevas; não pode pensar direito'» (C.H. Dodd, in loc).

Assim como o verdadeiro amor consiste no altru­ísmo verdadeiro, assim também o ódio consiste no egoísmo agudo. Quase todos os problemas humanos podem ser traçados até alguma forma de egoísmo. O amor produz harmonia; o ódio tem na discórdia a sua própria natureza. A ciência médica sabe bem que nossas emoções afetam a saúde. Aquele que odeia estará, naturalmente, sujeito a várias doenças, porquanto seu sistema físico entrará em mal funcionamento. Até mesmo as enfermidades, como câncer, podem ter causas psíquicas.

VIII. O vício da Idolatria

1. Todos os homens são idolatras! Alguns adoram ídolos, imagens, figuras de madeira ou metal, etc. Mas todos os homens, praticamente, adoram o dinheiro ou a si mesmos.

2. A idolatria, com frequência, está vinculada ao adultério, e isso é uma excelente colocação, pois a idolatria é o adultério espiritual, por causa do que os votos mais sagrados são quebrados e desprezados.

3. A idolatria é a alteração proposital da imagem de Deus, na imagem de alguma coisa, material ou mental, para em seguida haver a adoração dessa nova imagem. É bem possível que certas imagens representem forças satânicas e que, através dessas imagens, essas forças estejam recebendo honra­das que pertencem — exclusivamente — a Deus. Também podemos levantar ídolos no próprio coração (ver Ez 14:3,4), mesmo que não os guardemos em nichos, em nossos lares.

4. A idolatria é uma abominação (ver I Pe 4:3), e não traz qualquer proveito (ver I Juí. 10:14).

5. Deus aborrece a idolatria (ver Jr 44:4), sendo uma das grandes características daqueles que se olvidam de Deus (ver Jr 18:15), e, por conseguinte, que se desviam dele (ver Ez 44:10).

6. Por causa da idolatria, muitos se esquecem de Deus totalmente (ver Jr 16:11).

7. Pecadores obstinados são entregues por Deus à idolatria (ver Dt 4:28).

8. A idolatria exclui o indivíduo da glória celeste (ver I Co 6:9,10).

IX. O Mundanismo: I Jo 2:15

Não ameis o mundo, nem o que há no mundo. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele.

O amor, é a força mais poderosa do mundo. Todos os homens amam alguma coisa. Até o egoísmo é um tipo de amor, isto é, o amor excessivo do próprio ser, que existe sem ser contrabalançado pelo amor a outros. A grande maioria dos homens ama o mundo bem mais do que o bem, a justiça, e a espiritualidade.

O amor intenso. A verdadeira espiritualidade exige um intenso amor às coisas espirituais. Mas, o homem comum, só ama intensamente o mundo físico e material. Os objetos deste amor são três:

1. Coisas que pertencem as sensações físicas, a concupiscência da carne. O sexo é o rei de quase qualquer lugar.

2. Os desejos dos olhos. Os homens procuram as vantagens do mundo, as coisas materiais, possessões, riquezas, confortos, abundância física. Os homens têm uma cobiça gloriosa, para a qual, gastam tudo que têm.

3. A soberba da vida: posições na sociedade (ou na igreja!), fama, glória, vantagem social, poder político, exaltação.

A Natureza dos Vícios Mundanos

1. Transgridem contra a lei de Deus (ver I Jo 3:4).

2. Possuem conexões metafísicas, a saber, a criação e estimulação de Satanás e suas forças perniciosas (ver I Jo 3:8). O pecado jamais é meramente o ato de um indivíduo isolado.

3. Não fazer o que devemos, constitui um vício (ver Tg 4:17).

4. A falta de fé inspira os vícios (ver Rm 14:23).

5. Os vícios se originam no coração do homem (ver Mt 15:19).

6. Conduzem à morte espiritual (ver Rm 6:23).

 

Bibliografia: I IB HA LAN NTI

 

FONTE: EBD AREIA BRANCA

 

 

Lição 13

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