Justiça

domingo, 5 de junho de 2011

 

 

Justiça

Esboço:

I. Definições

II. Na Filosofia e na Ética

III. Na Bíblia

IV. A Justiça Divina

V. A Justiça de Deus

I. Definições

A palavra portuguesa «justiça» vem do latim, jus, «direito», «lei». A justiça consiste na preocupação exata e escrupulosa pelos direitos alheios e pelo relacionamento do indivíduo com o Juiz Supremo, Deus. A justiça requer atos de retidão, e não meras palavras ou aceitação de certos ideais. O homem justo age corretamente, de forma altruísta. De acordo com a teologia cristã, ninguém pode ser justo por si mesmo. A justiça é um dos atributos comunicáveis de Deus, sendo investida no homem através de Cristo, por meio da conversão, da santificação e do contínuo ministério do Espírito Santo. É assim que o homem vai absorvendo a forma de justiça e da santidade divinas, não sendo mera produção humana, imitação daquela justiça e santidade. A justiça também consiste em conformidade com uma reta conduta. Mas a reta conduta é definida, em última análise, segundo padrões divinos de conduta e de ideais. Envolve qualidades de caráter, como a retidão, a equidade, a santidade, a correção, a razoabilidade. A justiça é uma excelência moral, cujo modelo ou padrão é Deus, e cujo agente é o Logos, o Filho de Deus. Quanto aos vocábulos bíblicos envolvidos, e seus respectivos significados, ver a seção III. 13.

II. Na Filosofia e na Ética

1. Os sofistas definiam a justiça como mera convenção social. Mudando os costumes sociais, muda também a justiça, porque esta seria dependente das condições prevalentes. Trasímaco, membro dessa escola, pensava que «poder é direito». Em outras palavras, quem tem autoridade, determina as normas da sociedade. Isso seria uma forma de voluntarismo, mas no nível humano.

2. Platão objetava à visão relativista e voluntarista dos sofistas, afirmando que há o universal da justiça. Em outras palavras, a justiça é uma realidade dos mundos imateriais, invisíveis; e a justiça que se vê em nosso mundo é apenas uma pobre imitação da verdadeira justiça, que é a divina. Em seu diálogo sobre as Leis, Platão singularizava os universais em Deus, pelo que, para ele, a justiça é um dos atributos de Deus. Deus, pois, é o supremo padrão da conduta correta, e somente em Deus reside a verdadeira justiça. Em sentido secundário, para Platão, a justiça é aquele estado que ocorre quando cada um ocupa a sua devida função, fazendo assim a sua contribuição para o todo, da melhor maneira possível.

3. Sócrates entendia as questões éticas em termos de conceitos da Mente Universal. Esse armazém mental e divino de ideias envolve o conceito da verdadeira justiça. Os homens imitam esse modelo, e aproximam-se do mesmo através da razão, mediante o uso de diálogos. O homem teria, em si mesmo, os conceitos da Mente Universal, podendo descobrir aquilo que já sabe, mediante a disciplina mental apropriada. A filosofia, por sua vez, seria a ciência que sonda a verdadeira teoria ética, procurando conhecê-la e pô-la em prática.

4. Aristóteles opinava que a justiça é o meio termo entre a injustiça que consiste em interferir com aquilo que pertence a outrem, e o sofrer a interferência alheia naquilo que nos pertence. Ele se referia a duas manifestações da justiça: para que se faça justiça, o indivíduo precisa compartilhar dos recursos da coletividade, ou Estado. Em outras palavras, deve ser-lhe conferida uma partilha equitativa. Além disso, as ofensas precisam ser devidamente punidas. Aos homens não deveria ser permitido que fossem injustos e prejudiciais, sem pagarem à altura por causa disso.

5. Tomás de Aquino e Locke concordavam que para poder haver justiça, é necessário que haja uma ordem de coisas natural e racional, e que a razão pode conduzir-nos a essa situação, de uma maneira adequada. Naturalmente, Tomás de Aquino mostra­va-se sensível para com a realidade da justiça divina, como o verdadeiro padrão por detrás da ordem que os homens conseguem estabelecer em sociedade. Locke preferia apelar para a abordagem empírica. Para ele, descobre-se a justiça mediante a experimentação, guiada pela razão.

6. O pragmatismo assevera que aquilo que funciona bem é justo e bom, e que podemos chegar a esse estado mediante a experimentação. Visto que as sociedades diferem umas das outras, por isso mesmo a justiça, como todos os princípios éticos, é algo relativo. Para os pragmáticos, não existe tal coisa como valores éticos fixos, e nem verdade absoluta. A praticalidade ou função é a única prova de que algo é justo e bom, na opinião deles.

7. O positivismo lógico supõe, juntamente com o pragmatismo, que não existem valores fixos; mas enfatiza mais o papel da ciência no estabelecimento de valores relativos e funcionais. Não se apela, ali, para qualquer coisa divina, pertencente ao mundo espiritual. Para os positivistas lógicos, a justiça é algo meramente humano, determinado dentro de um contexto humano.

8. A ética situacional afirma que a justiça, ou seja, aquilo que é bom para ti e para mim, depende das vicissitudes das circunstâncias e das exigências que essas circunstâncias nos impõem. Mudando as circunstâncias, mudam os padrões. Outrossim, o que é bom para mim, neste momento, não é necessaria­mente bom para ti e o que é justo para uma sociedade (dentro do contexto de suas experiências) não é necessariamente bom para outra sociedade (dentro do contexto de experiências diferentes). E até mesmo aquilo que para mim é bom, neste momento, mais tarde poderá não ser bom para mim. Tudo é relativo, dependendo do fluxo permanente das coisas e das circunstâncias.

9. A ética absoluta ou rigorosa supõe que existem padrões éticos absolutos. Os homens não desenvolve­riam o que é certo por meio da experimentação. Antes, eles sempre descobrem o que é direito. Uma forma de ética absoluta é o imperativo categórico de Kant: «Faça somente aquilo que gostaria que se tornasse uma lei universal». As religiões, de modo geral, visto que apelam para uma justiça e uma bondade divinas, dão apoio à ideia da justiça absolutista, embora, usualmente, valham-se das revelações e livros sagrados como padrões autori­tários. O cristianismo ortodoxo representa um sistema ético rigoroso e o Novo Testamento é sua autoridade.

III. Na Bíblia

1. A base do conceito da justiça vem através da revelação. A revelação foi preservada, em forma escrita, nas Sagradas Escrituras. Elas nos foram dadas para nossa instrução, para ensinar-nos quais devem ser os padrões de nossa conduta, conforme se aprende em II Tm 3:16,17: «Toda Escritura é inspirada por Deus e é útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra». Isso permite que o homem espiritual seja equipado para poder pôr em prática todas as boas obras, com a mente esclarecida.

2. O teísmo é um importante e constante conceito ensinado na Bíblia. Há um Deus que se faz conhecido dos homens, que determina o que é certo e o torna conhecido, e que impõe a conduta própria, por meio da promessa de galardões ou da ameaça de julgamento.

3. A justiça é um produto das operações do Espírito Santo, que cultiva em nós os vários aspectos de seu fruto (Gl 5:22,23). Dessa forma, os atributos da justiça, que pertencem a Deus, são reproduzidos nos crentes. Ver a quinta seção do presente artigo, que aborda essa questão com detalhes.

4. A justiça, bem como os demais valores éticos, são entravados ou mesmo anulados pela rebeldia e carnalidade dos homens (Gl 5:19-21). Assim como o Espírito de Deus transmite sua bondade aos homens, assim também o espírito do mal, que se deriva de seres infernais, opera nos homens sem Deus (Ef 6:11 ss). Nenhum ser humano peca sozinho; nenhum ser humano é injusto sozinho. Ele age prestando lealdade ao reino espiritual ao qual pertence e sob a influência do qual se encontra, seja o reino da luz, seja o reino das trevas. Ver Gl 1:12,13.

5. Os crentes são derrotados espiritualmente pela carnalidade, podendo tornar-se instrumentos ou agentes da injustiça (I Co 3:1 e Rm 8:5-8).

6. Jesus Cristo é o agente da justiça, porquanto em sua imagem é que estamos sendo gradativamente transformados (Rm 8:29; II Co 3:18), de modo a virmos compartilhar de seus atributos morais e espirituais, porquanto nos estamos tornando partíci­pes de sua natureza metafísica (Cl 2:9,10; II Pe 1:4). É segundo se lê em I Co 1:30: «...Cristo Jesus, que se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção». Outrossim, ele é o justificador dos crentes: «...para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus» (Rm 3:26).

7. Atitudes e Ações Especificas de Justiça:

a. Devemos honrar, reverenciar e respeitar aos nossos superiores, governantes, etc. Essa conduta é justa. Ver Rm 13:1 ss; Ef 6:1,3; I Pe 2:17; I Tm 5:17.

b. Mostrar bondade para com o próximo é um ato de justiça (Pv 17:17).

c. A prática da lei do amor é a base de toda a justiça humana (Gl 4:15; 5:22; I Jo 4:7 ss).

d. No tocante às questões práticas, deveríamos pagar o que é direito ao próximo, tanto na questão do dinheiro (como os impostos), quanto na questão do respeito e da honra. O amor é a maior de todas as obrigações. Ver Rm 13:7,8. Ver também Dt 24:14.

e. Deveríamos ajudar ao próximo em momentos de necessidade (Tg cap. 2).

f. Não basta sermos justos, no sentido de exatos, mas também devemos ser bondosos, isto é, generosos, em nosso trato com o próximo (Rm 5:7).

g. Os caminhos de Deus são verdadeiros e justos, e os homens devem imitá-Lo, como o maior e mais elevado padrão de conduta (Ap 15:3. Ver também Jó 9:2; 37:23; Sf 3:5; Sl 84:14; 36:6). Esses versículos descrevem atos de Deus que estabelecem padrões para a conduta humana.

h. O voluntarismo é um ensino refletido no nono capítulo da epístola aos Romanos. Uma coisa é boa porque assim o determinou a vontade de Deus, sem importar o que pensemos a respeito. Porém, outros trechos bíblicos contrabalançam esse ensino, afirmando que o Juiz de todas as coisas faz somente aquilo que é direito (como Gn 18:25). E podemos pressupor que nossa intuição e nossa razão diz-nos o que realmente é direito, visto que ambas essas funções dependem da comunhão com a presença divina e são sensíveis a ela.

8. A justiça de Deus requer a retribuição. Mas o próprio juízo divino também tem um aspecto remedial. Os dois polos da justiça divina são declarados em Rm 1:32, em comparação com I Pe 4:6.

9. Há atos de vindicação, que contrabalançam a injustiça. Esses são atos de justiça (Jz 5:11; II Sm 15:4; Sl 82:3; Is 58:2,3; Ec 7:15 e 8:14).

10. A justiça, embora vindicativa e retributiva, também deve manifestar-se temperada pela miseri­córdia. Não há tal coisa como justiça divina crua, ou seja, retribuição não condicionada pelo amor. O primeiro capítulo de Romanos mostra-nos que Deus não estaria errado se aplicasse uma justiça nua, constituída somente por vingança e retribuição. Porém, a partir do terceiro capítulo de Romanos, Paulo mostra-nos que, de fato, a justiça divina não opera dessa maneira inflexível. A intervenção do evangelho serve de prova desse fato. Àqueles a quem Deus tem de julgar, também procurou salvar, através da elaborada missão de Cristo, uma missão com um aspecto terreno, outro no hades, e outro no céu (I Pe 3:18-4:6).

11. Deus confere a justiça a quem nada merece; mas, então, espera que eles correspondam, buscando a justiça e a bondade (Is 1:17).

12. O justo viverá pela fé (Hc 2:4; Rm 1:17; Gl 3:11). Essa fé, por sua vez, é produto da atuação do Espírito. Ao viverem pela fé, os homens são reputados justos, em todo o seu relacionamento uns com os outros. A fé produz a justificação; e a vida da fé obrigatoriamente envolve a santificação.

13. Palavras Bíblicas para Indicar a Justiça:

Os termos bíblicos, no hebraico, tsedeq e tsadaqah, como também o vocábulo grego dikaiosune, são traduzidos em português por «justiça» ou «retidão». Essas palavras são usadas no tocante a Deus e aos homens. A justiça aponta para uma conduta reta, um governo justo, o pagamento de dívidas a quem tem direito, a retribuição, a retidão nos atos, a regra da lei e o respeito à lei. Deus é justo quando julga, porque a sua retidão moral não pode permitir que a injustiça permaneça sem a devida resposta. Mas os atos de Deus nunca consistem apenas em retribuição, visto que a ideia inteira dos julgamentos divinos é a de restaurar aos ofensores (I Pe 4:6). Além dessas palavras, temos o vocábulo hebraico yoser, que indica a probidade ou retidão moral (Dt 9:5). No contexto físico, essa palavra significa «reto». Tsedaqah também pode envolver a ideia de «conformidade». A conduta do homem precisa amoldar-se a retos padrões (Gn 30:33). A forma adjetivada do termo grego dikaioo é usada em Cl 4:1 (ou seja, dikaios), onde a referência é sobre como os proprietários de escravos deveriam tratar equanimemente os seus escravos. Deus é justo (no hebraico, tsadiq) e Salvador (ver Is 45:21). Essas duas qualidades divinas nunca se manifestam isoladas uma da outra, pois, do contrário, não haveria justiça, segundo o conceito escriturístico.

O termo grego dikaiosune pode indicar a «probida­de de Caráter», conforme se esperaria, por exemplo, da parte de um juiz (ver I Clemente 13:1; Ap 19:11; Rm 9:28; Is 10:22; na LXX), ou, então, «retidão» da parte de Deus ou dos homens (ver Mt 3:15; 5:6; At 10:35; Fp 1:11; Hb 12:11; Is. 56:1, na LXX; II Clemente 19:2). A retidão outorgada por Deus é um outro uso dessa mesma palavra. Ver a quinta seção deste artigo, onde há uma ampla descrição a respeito; ver também Rm 5:17. Visto que essa palavra constitui uma virtude específica dos regenerados, torna-se um sinônimo virtual do cristianismo (Mt 5.10; I Pe 3.14).

IV. A Justiça Divina

Com «justiça divina» indicamos o fato de que a justiça de Deus deve julgar ao pecado e aos pecadores. Isso deve ser contrastado com a seção V, A Justiça de Deus, que fala sobre como a justiça de Deus é conferida ao indivíduo regenerado. Em outras palavras, o atributo divino da justiça é transmitido aos homens, a fim de que se tornem justos, na qualidade de «filhos de Deus», compartilhando das qualidades morais de Deus. Os remidos chegam a compartilhar das qualidades morais de Deus porque também compartilham de sua natureza metafísica, posto que em um sentido secundário, apesar de perfeitamente real. Temos provido um artigo separa­do, intitulado Julgamento de Deus dos Homens Perdidos, que procura mostrar que os juízos de Deus tanto são retributivos (pois corrigem as injustiças e causam sofrimentos onde esses são merecidos) quanto são remediais. Os próprios sofrimentos têm por finalidade restaurar (ver I Pe 4:6). Deus não faria qualquer injustiça se meramente aplicasse a parte retributiva do juízo, sem qualquer misericórdia, de forma final e sem qualquer esperança. O primeiro capítulo de Romanos mostra-nos isso. Mas, a começar pelo terceiro capítulo de Romanos, o apóstolo mostra-nos que a justiça de Deus nunca é aplicada cruamente, e, sim, sempre revestida de misericórdia e amor. O evangelho tempera o julgamento de Deus com a sua misericórdia e o seu amor. De fato, o julgamento divino é apenas um dedo da sua mão amorosa. A justiça e o julgamento são lados diferentes do mesmo amor. É que Deus pode fazer certas coisas melhor, através do juízo, do que através de qualquer outro meio. A cruz do Calvário foi um julgamento, mas também foi uma medida restauradora.

V. A Justiça de Deus

Rm 1:17: Porque no evangelho é revelada, de fé em fé, a justiça de Deus, como está escrito: Mas o justo viverá da fé.

1. Essa justiça designaria a natureza intrinsecamente santa de Deus, o seu próprio caráter justo (ver Rm 3:5).

2. Talvez seja usada no sentido de que Deus vindica a sua justiça, ou seja, torna conhecida qual seja essa justiça.

3. Todavia, essa justiça não é meramente a descrição de um atributo divino, mas também subentende uma espécie de natureza que ele injeta nos remidos. Os homens, uma vez transformados segundo a imagem de Cristo, em sentido bem real e literal participam da santidade de Deus (ver Mt 5:48). A passagem de Is 46:13 também contribui para esclarecer esse aspecto, onde lemos: «Faço chegar a minha justiça, e não está longe; a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião o livramento e em Israel a minha glória». Isso indica a doação das perfeições morais aos remidos. E é a agência do evangelho que produz essa natureza moral nova nos homens.

A santidade de Deus se desenvolve nos homens por meio da atuação do Espírito Santo, e essa atuação tem prosseguimento até que os remidos atinjam a perfeição absoluta, quando então os crentes serão santos como é santo o seu Pai celestial. Isso pode envolver a eternidade inteira, mas o processo tem inicio quando do primeiro exercício da fé em Cristo e em seu evangelho, continuando nas experiências da conversão, da santificação, da regeneração e da glorificação. Essa modificação moral produz a modificação metafísica.

4. Essa justiça de Deus se manifesta por intermédio da fé, porquanto tem início através do princípio da fé, como também tem continuação e é sustentada pela fé, tudo o que é obra do Espírito Santo, que leva a alma humana a depender de Cristo. Por conseguinte, a justiça de Deus não se torna realidade por meio de alguma disciplina mental, e nem através de qualquer resolução intelectual, e nem mesmo por qualquer cerimônia religiosa. Mas depende exclusivamente da operação do Espírito de Deus. E, quando a alma de um indivíduo é sintonizada com essa operação, passa a exercer fé. Assim, pois, a fé consiste na sintonização da alma com Deus e seu Cristo, uma total entrega da personalidade inteira a Jesus Cristo, a fim de que possa ser operada na alma a elevada obra divina, descrita no presente versículo.

5. A justiça de Deus no homem, pois, não é apenas uma declaração legal, que afirma que um homem está perfeito em Cristo; antes, é a produção real dessa retidão no indivíduo, Pois estar perfeito em Cristo é a mesma coisa de ter sido transformado por ele. É a esse aspecto de nossa salvação que denominamos de «santificação».

6. O adjetivo grego «dikaios» (reto, justo), vem da mesma raiz que deu a palavra «justiça», que aparece no presente versículo; e isso ilustra o sentido dessa palavra.

a. Esse adjetivo é usado com relação a Deus e a Jesus Cristo. Com relação a Deus: I Jo 1:9; Jo 17:25; Ap 16:5 e Rm 3:26. Com relação a Cristo: I Jo 2:1; 3:7; At 3:14; 7:52 e 22:14. No presente versículo esse vocábulo indica a norma eterna da santidade divina.

b. Esse adjetivo, «justo», também é usado com referência aos homens, não meramente para denotar um caráter reto, mas também dando a entender alguma forma de atribuição ou participação na própria santidade essencial de Deus. O termo justiça é utilizado como algo possível para a personalidade humana, na passagem de Rm 6:13,16,18,20. Nesse trecho, o contexto mostra-nos que essa justiça decorre de nossa união espiritual com Cristo, na forma de um batismo espiritual, que é a identificação dos crentes com a morte e a ressurreição de Jesus Cristo, em condições místicas. Em outras palavras, os benefícios da morte de Cristo — morte para o pecado, desvencilhamento completo do poder e efeito do reino das trevas — e os benefícios de sua ressurreição, são produzidos por uma forma de contato real com o Espírito Santo.

7. Portanto, por justiça devemos compreender o que é feito tanto na justificação como na santificação, —os resultados dessas medidas divinas, operados na alma do crente. A forma verbal de «justificar», no grego, é «dikaioo», o que, nas páginas do N.T., pode algumas vezes significar alguma forma de pronun­ciamento judicial acerca dos direitos que um homem tem de ficar diante de Deus, em Cristo Jesus. Todavia, perderemos inteiramente de vista a ideia da justificação se ignorarmos o fato de que isso também significa fazer justo, não se resumindo a uma mera declaração sobre aquela retidão que decorre da posição correta do crente, diante de Deus, em Cristo.

Por meio da justificação, o indivíduo recebe o «dom da justiça». E é a pessoa que recebe esse dom que reina em Cristo, conforme aprendemos em Rm 5:17. Assim sendo, a justificação não consiste em uma simples declaração estéril que reconhece a legitima posição de alguém em Cristo, mas antes, requer que ,tal indivíduo se torne verdadeiramente justo. Essa verdade não tem sido vista com muita clareza pela igreja cristã moderna, ainda que, felizmente, aquilo que aqui é comentado sobre a justificação, é transferido para a doutrina da santificação, segundo a maioria dos sistemas teológicos.

«A retidão absoluta, tal como a graça e a verdade absolutas, revelou-se pela primeira vez no cristianis­mo. Trata-se daquela justiça que não somente instaura a lei da letra, e requer a retidão da parte dos homens e que, em seu caráter de juiz, profere a sentença e mata; mas é igualmente aquilo que finalmente se manifesta na união com o amor, ou seja, a graça divina em forma de retidão, produzindo essa retidão no homem... ou ainda, em suma:

«A justiça de Deus é a auto comunicação da retidão que procede da parte de Deus, que se torna justiça na pessoa de Cristo, o qual, em seus sofrimentos, como nossa propiciação, satisfez a justiça da lei (em consonância com as exigências da consciência) e que, mediante o ato da justificação, aplica ao crente, para santificação de sua vida, os méritos da expiação de Cristo». (Lange em Rm 1:17).

 

Bibliografia. B DAVI I IB ND NTI QS

 

Fonte: EBD AREIA BRANCA

 

 

 

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