A espiritualidade do vale

quinta-feira, 23 de junho de 2011

 

A espiritualidade do vale

Discussão sem poder

Os nove discípulos de Jesus estavam no vale, mas viviam o drama de um grande fracasso. Estavam cara a cara com o diabo, mas não tinham poder para confrontá-lo e vencê-lo. Cercados por uma multidão aflita, estavam des­providos de recursos para atender às suas urgentes necessidades.

1. No vale há gente sofrendo o cativeiro do di­abo sem encontrar na igreja solução para o seu drama

Aqui está um pai desesperado (Lucas 9.37-40: Mateus 17.15, 16). O diabo invadiu a sua casa e está arrebentando com a sua família. Está destruindo o seu único filho.

Aquele jovem estava possuído por uma casta de demônios. Um terrível poder maligno assumira o controle da sua personalidade. Aquele moço era um capacho nas mãos do diabo. Na­quela casa não havia mais paz. O inferno estava lá, com sua horda de demônios provocando grandes estragos. Onde os demônios entram, impera a destruição. Onde eles dominam, reina a escravidão.

Todos os recursos que aquele pai buscou para a libertação do seu filho fracassaram. Em todas as portas que ele bateu, não encontrou solução para o seu grave problema. A situação se agravara. A morte rondava a sua casa. Seu filho estava sendo castigado pelos demônios com rigor excessivo.

No auge da sua angústia, aquele pai, de­sesperado, correu para os discípulos de Jesus em busca de ajuda e socorro, mas eles não tinham poder. Já haviam conquistado grandes vitórias sobre os demônios, mas agora estavam fracos e impotentes. O coração deles estava vazio e seco. As vitórias de ontem não servem para hoje. Precisamos encher-nos do Espírito a cada dia. Pre­cisamos revestir-nos com poder diariamente. Assim como o maná que caía do céu precisava ser recolhido a cada manhã e não servia para o outro dia, da mesma forma a unção de ontem não serve para hoje.

Em 1991 visitei a Missão Kwa Sizabantu, na África do Sul. O rev. Erlo Estegen estava tra­balhando com os zulus, uma tribo fortemente comprometida com a feitiçaria. Certo dia, ao proferir sua mensagem, ele proclamou que Je­sus Cristo é o Deus Todo-poderoso, para quem não há impossíveis, pois ele perdoa, liberta, cura e salva. Nesse momento, aproximou-se dele uma mulher com o rosto sulcado de dor e os olhos marejados de lágrimas. De pronto ela o interro­gou: "O senhor está dizendo que o seu Deus pode todas as coisas?". O pastor respondeu: "Sim, é isto mesmo o que estou afirmando". Di­ante da resposta convicta, ela completou: "En­tão, eu preciso do seu Deus. Eu tenho uma filha possessa, amarrada como bicho no tronco de minha casa. Nenhum dos deuses que conheço pôde libertá-la. Se o seu Deus tem todo o poder, vamos comigo à minha casa e peça ao seu Deus para libertá-la".

Nesse momento, o pastor Erlo sentiu um calafrio na espinha e pensou: "E se eu fracassar? Como vai ficar a minha reputação? Com que autoridade continuarei pregando para esse povo?". Ele se dirigiu à casa da mulher e depa­rou com um quadro assustador: A jovem estava sangrando, amarrada com arame no tronco, como uma fera ferida, um bicho enfurecido. Os olhos afogueados pareciam saltar de seu rosto desfigurado. O pastor em vão tentou expulsar da jovem aquelas terríveis entidades malignas. Levaram-na, então, amarrada, a uma fazenda, e um grupo de pastores e missionários orou por ela e tentou libertá-la dos demônios opressores, mas a moça, indomável, destruiu a casa da fazenda e voltou em estado ainda mais deplorá­vel. O pastor Erlo ficou arrasado, envergonha­do. Pensou até mesmo em abandonar a missão e parar de pregar. Sentia-se sem autoridade para falar da onipotência de Jesus Cristo. Mas, antes de desistir, compreendeu que o problema não era o Evangelho, mas a sua vida sem unção. Não era a Palavra de Deus, mas a sua falta de poder. Começou, então, a orar por avivamento. Iniciou na igreja o estudo ao livro de Atos dos Apóstolos. Os corações foram sendo quebrantados. Três vezes por dia, eles ora­vam e choravam copiosamente diante de Deus, buscando uma vida de santidade e poder. Não tardou para vir sobre eles um profuso derrama­mento do Espírito. Os feiticeiros mais endure­cidos, tomados de profunda convicção de peca­do, corriam para a Missão, clamando pela mi­sericórdia de Deus, arrependendo-se de seus pe­cados. Aos borbotões, pessoas chegavam de toda a parte, entregando-se ao Senhor Jesus. A pri­meira coisa que o pastor Erlo fez a seguir foi visitar a casa daquela jovem possessa. Agora, no poder do Espírito, na autoridade do nome de Jesus, ele ordenou que os demônios saíssem da jovem, e ela foi imediatamente libertada. To­dos, então, compreenderam que não basta falar no nome de Jesus, é preciso ser revestido com o poder do Espírito.

Hoje, quando as multidões aflitas procu­ram a igreja, encontram nela um lugar de salva­ção, de cura e libertação? Há poder em nossa vida? Possuímos autoridade sobre as hostes do inferno? Temos confrontado o poder do mal? Conhecimento apenas não basta, é preciso re­vestimento de poder. O Reino de Deus não con­siste em palavras, mas em poder. O Espírito que habita em nós é Espírito de poder. Há muitas pessoas que são doutas no manuseio das Escri­turas. Conhecem com profundidade as verda­des exaradas na Bíblia, têm um acervo teológi­co colossal, mas estão áridas como um deserto. Conhecem a Palavra, mas não o poder de Deus. Conhecem a respeito de Deus, mas não conhe­cem a Deus. Têm a cabeça cheia de luz, mas o coração está vazio de fogo. Têm conhecimento, mas lhes falta a unção.

2. No vale há gente desesperada precisando de ajuda, mas os discípulos estão perdendo tem­po, envolvidos numa discussão infrutífera

Muitas vezes tentamos disfarçar nossa fra­queza espiritual com acaloradas e profundas dis­cussões teológicas. Envolvemo-nos em intermi­náveis e apaixonados debates que dão em nada. São debates infrutíferos, discussões inócuas, palavras vazias. Os discípulos perdiam tempo discutindo com os opositores da obra de Deus, em vez de remir o tempo fazendo a obra (Mar­cos 9.14-18).

Em Atos 1.6-8 Jesus evidencia que, quan­do somos revestidos de poder, saímos do campo da especulação teológica para o campo da ação missionária. Os discípulos estavam pen­sando em escatologia, Jesus em missões. Rece­bemos poder para trabalhar, para agir, para fa­zer. Não que a discussão teológica seja despro­vida de valor. A igreja precisa ter uma posição teológica clara, segura e bíblica. Ela não pode ser solidária com a heresia. A igreja não pode ser plural em sua posição doutrinária: pelo con­trário, deve rechaçar vigorosamente qualquer en­sino que não tenha amparo nas Escrituras. Mas há momentos em que precisamos deixar de lado o discurso e partir para a ação. Há crentes que passam a vida inteira frequentando a igreja, dis­cutindo empolgantes temas na Escola Domini­cal, frequentando congressos e fazendo seminá­rios de treinamento, mas nunca atuam. Estão com a cabeça cheia de informações e as mãos vazias de trabalho. Sofrem de hidrocefalia espiritual, enquanto o corpo permanece mirrado. Sabem muito e fazem pouco. Estão sempre preparando-se, mas não trabalham. Têm cursos e mais cursos, diplomas e mais diplomas, mas não colocam em prática o que sabem. Estamos no vale, cercados por uma multidão aflita, mas não temos resposta para ela. Ficamos discutindo os nossos temas, enquanto o diabo destrói vidas e famílias ao nosso redor.

Discutimos muito e agimos pouco. Fala­mos muito e trabalhamos pouco. Sabemos mui­to e realizamos pouco. Aqueles que não sabem é que fazem, pois os que sabem gastam todo o seu tempo discutindo. E discutindo com quem? Muitas vezes com aqueles que sempre estiveram filiados na oposição cerrada a Jesus (Marcos 9.14). Discussão sem ação é paralisia espiritual. Quan­do gastamos o tempo todo discutindo, sem agir, estamos fazendo o jogo do diabo. Ele aplaude as discussões acaloradas daqueles que deveriam es­tar na trincheira da luta. O inferno vibra quando a igreja se fecha dentro de quatro paredes, em torno dos seus empolgantes assuntos. O mundo perece enquanto a igreja está discutindo. O dia­bo arruína vidas enquanto o povo de Deus, despercebido, está guerreando apenas no campo nas ideias. Há muito discurso, mas pouco poder. Muita verborragia, mas pouca unção. Multidões sedentas, mas pouca ação da igreja.

3. No vale, enquanto os discípulos discutem, há um poder demoníaco em ação sem ser con­frontado

Quando se trata de discutir a ação do diabo e suas hostes, há dois perigos extremos que precisamos evitar: Primeiro, o de subestimar a ação do diabo. Os liberais, céticos e incrédulos, negam a existência e a ação dos demônios. Ex­plicam tudo racionalmente. Para eles, o diabo é uma figura lendária, um ser mitológico. Alguns até acreditam que o diabo é uma energia negati­va no universo, ou o princípio do mal que está dentro de cada pessoa. Certamente, esse não é o ensino das Escrituras. Negar a existência e a ação de Satanás é cair nas malhas do mais ardiloso satanismo.

O segundo perigo é o de superestimar a ação do diabo. Há muitas religiões chamadas cris­tãs nos tempos hodiernos que falam mais no diabo do que em Jesus. Pregam mais sobre li­bertação do que sobre arrependimento. Atribu­em todo o mal que acontece no mundo ã ação de Satanás. O homem deixou de ser pecador culpado, para tornar-se apenas uma vítima. As­sim, ele não precisa arrepender-se, mas apenas ser libertado. Muitas igrejas hoje têm feito do exorcismo a principal plataforma de sua mis­são. São igrejas que vivem caçando demônios. São igrejas tão ocupadas com o diabo que es­quecem de deleitar-se em Deus. Como era o poder demoníaco que estava agindo no vale?

Primeiro, o poder maligno que estava em ação na vida daquele menino era assombrosamente des­truidor. Assim expressou o seu pai: "Um espíri­to se apodera dele, e, de repente, o menino gri­ta, e o espírito o atira por terra, convulsiona-o até espumar: e dificilmente o deixa, depois de o ter quebrantado" (Lucas 9.39). O evangelista Marcos acrescenta outros detalhes a respeito desse poder maligno que conspirava contra a vida do menino: "... rilha os dentes e vai definhando... e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água, para o matar... " (Marcos 9.18, 22). O diabo é assassino e ladrão. E um estelionatário. Ele promete vida e dá a morte. Sua ira não ces­sa. Ele tem destruído vidas. Tem arruinado fa­mílias. Tem empurrado pessoas para o abismo da promiscuidade sexual. Tem lançado jovens no poço profundo e pestilento das drogas. Tem levado muitos casais ao divórcio. Tem provoca­do guerras encarniçadas e sangrentas. Tem jo­gado nação contra nação. Tenho visto muitas vidas feridas pelo diabo. Tenho acompanhado e aconselhado muitos infelizes que foram tortu­rados por esse insolente poder maligno. Não podemos fechar os olhos e tapar os ouvidos aos gritos dos infelizes que estão agonizando, ator­mentados pelos demônios. Há muitos que ain­da hoje vivem oprimidos pelo diabo. Outros estão possessos de espíritos imundos. Essas pes­soas precisam encontrar uma igreja libertadora. Não podemos ficar acomodados, deleitando-nos em profundas e polêmicas discussões, enquan­to à nossa volta pessoas perecem nas mãos do maligno.

Certa feita, quando eu pregava em um culto familiar, algo me marcou profundamen­te. Enquanto falava, uma mulher chorava convulsivamente. Após o culto, eu a procurei com o objetivo de oferecer-lhe ajuda. Ela, en­tão, me disse que o diabo havia destruído a sua família. Falou-me que era casada e tinha dois filhos pequenos. Morava em um bom aparta­mento e tinha uma vida financeira estável. Entretanto, não havia paz em sua casa. Certa noi­te, ela acordou com o grito desesperado de seus filhos. Ao levantar-se da cama, percebeu que o marido não estava do seu lado. Correu em direção ao quarto dos meninos, mas a porta estava trancada. Bateu à porta, e ninguém atendeu. Então, com toda a força, ela arrebentou a porta e deparou com um quadro dramático. O marido estava apunhalando os próprios filhos. Quando ela entrou no quarto, o marido apunhalou o seu próprio peito, caindo morto sobre os corpos sem vida das crianças. Com profunda tristeza, aquela mulher confessou: “Pastor, eu levei toda a minha família para o cemitério. O diabo destruiu a minha família.” Quantas tragédias, quantas desgraças têm acontecido pela ação do diabo na vida das pessoas!

Segundo, o poder maligno em ação no vale atingia inclusive e sobretudo as crianças. "Pergun­tou Jesus ao pai do menino: Há quanto tempo isto lhe sucede? Desde a infância, respondeu: e muitas vezes o tem lançado no fogo e na água para o matar" (Marcos 9.21, 22). Aquele menino estava sob o poder do mal. Estava no cativeiro do diabo desde a sua mais tenra idade, desde a sua infância. A palavra bréfos descreve a fase infantil desde a vida intrauterina. O espírito mudo e destruidor entrou naquele menino desde a sua meninice. O diabo não poupa as crianças. Elas não estão isentas nem incólumes a esse terrível ataque demoníaco. Aquele menino estava sendo assolado por uma casta de demônios, que cons­piravam contra ele, jogando-o no fogo, na água e atirando-o por terra para matá-lo. Era o início do meu ministério na Primeira Igreja Presbiteriana em Vitória, no Espírito San­to. Uma mulher recém convertida passou a frequentar a igreja. Seu marido era espírita. Ela tinha um filho, de dois anos. Certo dia, voltando para a casa, começou a cantar um hino cuja le­tra falava que Jesus tem poder. Nesse momento, para seu espanto, o filho de dois anos, que esta­va no seu colo, com o rosto desfigurado, come­çou a blasfemar com voz grave, dizendo que Je­sus não tinha poder. Atordoada, a mulher pro­curou vários médicos e psiquiatras para tratar do filho. Aquele fenômeno voltou a acontecer outras vezes. Um dia ela marcou um aconselhamento e chegou a meu gabinete com o filho no colo. Enquanto a mulher conversava comigo, a criança me fuzilava com um olhar penetrante e perturbador. Ouvi toda a história. Quando comecei a falar do poder de Jesus, o menino foi tomado por um poder maligno e começou a proferir impropérios. Repreendi em nome de Jesus aquelas entidades malignas, e a criança começou a serpentear no chão do gabinete como um réptil. Depois de intensa luta, aquele menino foi libertado pelo poder do nome de Jesus. A mãe contou-me, então, que, ao nascer, seu filho tinha sido levado pelo pai a um terreiro de Umbanda, sendo ali consagrado aos espíritos demoníacos.

Há uma verdadeira orquestração do in­ferno para atingir as crianças. Os espíritos ma­lignos atingem as crianças através de pactos de­moníacos feitos por seus pais, através de vídeos e jogos ocultistas e outros aparatos proposita­damente preparados para alcançar a mente das crianças. Hoje há um exército de crianças so­frendo grandes estragos mentais e emocionais. Há um batalhão de crianças deprimidas, sofrendo pesadelo. Há uma safra de crianças rebeldes aos pais, sendo educadas por uma mídia per­versa. Vivemos em uma cultura demonizada, na qual as crianças são inspiradas a cometer assassinatos, como aconteceu no início do ano 2000 em São Paulo, quando uma criança, depois de assistir ao filme "Brinquedos Assassinos", assas­sinou o seu colega.

O diabo tem investido pesado nas crian­ças. Os programas infantis hoje são uma evi­dência dessa amarga realidade. Os satanismo, o ocultismo, a violência e a depravação sexual são os temas explorados para atacar a mente infan­til. Como o faraó propôs a Moisés (Êxodo 10.10, 11), o diabo também quer reter em suas mãos as crianças. Se perdermos esta geração, teremos amanhã uma geração apóstata que não conhecerá ao Senhor e estará pronta para ado­rar o anticristo.

Terceiro, o poder maligno em curso age com requintes de crueldade. O evangelista Lucas re­gistra um detalhe importante: aquele menino era filho único (Lucas 9.38). Tocar na vida da­quele menino era roubar os sonhos daquela fa­mília, era cobrir o futuro daquele lar com um manto de crepe. O filho era tudo o que aquele pai possuía. O filho único era o seu prazer, a sua esperança, o alvo dos seus sonhos, o seu futuro, a sua vida. O diabo age não somente com per­versidade, mas também com requintes de cru­eldade. Onde ele põe a mão, há marcas de sofri­mento. Onde os demônios agem, há sinais de desespero. Onde a ação do maligno não é neu­tralizada, a morte mostra a sua carranca. Onde os demônios não são confrontados, a invasão do mal desconhece limites.

4. No vale, os discípulos estão sem poder para confrontar os poderes das trevas

Aquele pai aflito expõe seu drama para Jesus: "Roguei aos teus discípulos que o expelis­sem, mas eles não puderam" (Lucas 9.40). Mateus também registra que os discípulos não puderam curá-lo (Mateus 17.16).

Por que os discípulos estão sem poder? A Bíblia nos dá quatro razões para essa impotên­cia e fraqueza dos discípulos:

Primeiro, porque há demônios e demônios. Os discípulos perguntaram para Jesus a razão do fracasso na tentativa de expulsar o espírito maligno do menino. Jesus respondeu que aque­la casta não se expelia senão por meio de oração e jejum (Mateus 17.19, 21). Há demônios mais resistentes que outros. Eles já tinham logrado êxito em outras empreitadas, mas agora fracas­saram. Eles já haviam expulsado demônios, mas agora não obtiveram sucesso. Na verdade, há hierarquia no reino das trevas. O apóstolo Pau­lo fala de principados, potestades, dominadores deste mundo tenebroso e forças espirituais do mal. Há uma estratificação de poder no mundo invisível. Há demônios com mais força que ou­tros. Por isso, os discípulos não conseguiram ex­pelir a casta de demônios daquele menino.

Em 1993 fui eleito presidente da Comis­são Nacional de Evangelização da Igreja Presbiteriana do Brasil, no segundo Congresso Nacional de avivamento e evangelização em Vitória, Espírito Santo. Estávamos reunidos no templo da Igreja Assembleia de Deus do Aribiri, município de Vila Velha. O pregador do culto de abertura seria o rev. Jeremias Pereira da Silva. Antes da mensagem, no meio da igreja lotada com mais de três mil pessoas, um homem pos­sesso soltou um grito pavoroso. As pessoas que estavam próximas levaram-no a uma sala do templo e oraram por ele. No dia seguinte, o pastor Jeremias começou uma série de palestras sobre Batalha Espiritual. No fim da tarde, o dito homem convidou o pastor Jeremias para ir à sua casa visitar a sua esposa. Fomos em quatro pastores. No trajeto, perguntei àquele homem sobre o ocorrido na noite anterior. Ele me fa­lou, então, do seu envolvimento com o satanismo. Contou que tinha feito um pacto com várias entidades do candomblé, mostran­do as marcas no seu corpo. Quando chegamos à sua casa, após apresentar-nos a sua esposa, ele deu um salto para dentro da sua varanda e já caiu do outro lado, possesso e muito furioso, dizendo: "Agora, vocês estão no meu terreno. Eu quero ver se vocês têm poder mesmo. Agora vou matar todos vocês". O semblante do homem desfigurou-se. Seus olhos nos fuzilavam com ódio mortal. Ele rangia os dentes, tomado por um acesso de fúria. Partiu para cima de nós, determinado a nos destruir; contudo, Deus colocou ao nosso redor um muro de fogo. O pas­tor Jeremias travou uma batalha espiritual com esse homem possesso durante cerca de uma hora. Era dado momento, ele trouxe para a sala sete garrafas vazias de cerveja e fez um ponto cruza­do, buscando reforço dos demônios. Depois, cheio de fúria, avançou em nossa direção, arremessando as garrafas contra nós, com a inten­ção de nos matar. A sala ficou coalhada de cacos de vidro. Depois de uma luta titânica, aquele homem foi liberto. Ele estava tão exausto que nem mesmo conseguia ficar de pé. No quintal de sua casa havia um templo satânico, com vá­rios apetrechos de feitiçaria. A casta que estava naquele homem era uma horda de demônios extremamente resistentes. Nem todo caso de possessão é tão complicado, contudo.

Segundo, os discípulos estavam sem poder porque não oraram. Jesus disse que aquela casta só saía com oração e jejum (Mateus 17.21). Não há poder espiritual sem oração. O poder não vem de dentro do homem, mas do alto, do tro­no de Deus. Sem oração ficamos vazios, secos e fracos. Púlpito sem oração é púlpito sem poder. Igreja sem oração é igreja sem poder. A fonte do poder não vem dos livros, mas do trono de Deus. C. H. Spurgeon dizia que toda a sua biblioteca nada era diante da sua sala de oração. Quando a igreja se coloca de joelhos, torna-se invencível. O inferno treme ao ver um santo de joelhos. Quando a igreja ora, o céu se move, o inferno treme e coisas maravilhosas acontecem na ter­ra. Sem oração, agimos na força da carne. Ora­ção e poder sempre caminham juntos. Não há poder sem oração. Sempre que a igreja dobrou os joelhos para orar, ela foi revestida com po­der. Sempre que ela é capacitada com poder, tem autoridade para viver, pregar e confrontar vito­riosamente os demônios.

Terceiro, os discípulos estavam sem poder porque eles não jejuaram. Jesus disse que aquela casta só seria expelida com oração e jejum (Mateus 27.21). O jejum é um tremendo exer­cício espiritual que nos capacita a enfrentar os grandes embates da vida. Somos capacitados e equipados para realizar a obra de Deus através do jejum. Ele não é meritório. Não tem o propósito de mudar Deus. E um instrumento de auto humilhação e quebrantamento. Quando jejuamos, estamos dizendo que dependemos totalmente dos recursos de Deus. Quem jejua tem pressa para estabelecer comunhão com Deus. Quem jejua tem mais fome do pão do céu que do pão da terra. Quem jejua busca o revestimento de poder do Espírito e não confia em sua própria força. Quando a igreja para de jejuar, começa a enfraquecer. Quando ela passa a confiar em si mesma, deixa de usar os recursos de Deus. E sem o poder de Deus agindo em nós e através de nós, colhemos amargas e humilhan­tes derrotas espirituais como os discípulos na­quele vale.

Quarto, os discípulos estavam impotentes por causa da pequenez de sua fé. Depois que Jesus libertou o menino do poder dos demônios, os discípulos aproximaram-se dele e perguntaram em particular: "Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo? E ele lhes respondeu: Por causa da pequenez da vossa fé" (Mateus 17.19, 20). Os discípulos tinham uma fé debilitada e ra­quítica. Como não tinham intimidade com Deus e não o conheciam de forma profunda, eram fracos e impotentes para confrontar as forças do mal. A fé não é algo místico e subjetivo. É resultado do nosso conhecimento da verda­de. A fé vem pelo ouvir a Palavra. O povo que conhece a Deus é forte. Não podemos confiar em quem não conhecemos profundamente. Muitos conhecem a respeito de Deus, mas não conhecem a Deus. Fé não é apenas um assenti­mento intelectual da verdade. Esse tipo de fé, até os demônios têm (Tiago 2.19). A fé é um conhecimento pessoal, íntimo, relacional, fru­to da comunhão com Deus. Os discípulos fra­cassaram no confronto com o poder das trevas, porque não estavam vivendo aos pés do Senhor. A pequenez da fé é consequência de uma rela­ção fria e distante com Deus. Ninguém pode ter uma grande fé sem estar vivendo na intimi­dade e na dependência do grande Deus. O pro­blema não é a presença do diabo, mas a ausên­cia de Deus.

Os olhos da fé não miram a adversidade das circunstâncias. A fé não se abala ao ser en­curralada por impossibilidades e ao ser confron­tada pelas improbabilidades. A fé não se con­centra na fúria da tempestade. Ela só olha para o Deus dos impossíveis. Não se intimida diante da ameaça dos gigantes: ela olha por sobre os ombros dos gigantes e contempla a vitória que vem do Senhor. O poder para confrontar o maligno e suas hostes não está em nós, mas no poderoso nome de Jesus. Não é, porém, apenas uma questão de proferir o seu nome. Precisa­mos conhecer a Jesus e confiar em seu nome sem duvidar. Contra o diabo e seus anjos, não podemos usar armas carnais. Precisamos mane­jar as armas espirituais, que são poderosas em Deus (2 Coríntios 10.3-5). Contra o inimigo precisamos arvorar a bandeira do Senhor na cer­teza de que ele é vencedor invicto em todas as batalhas. Ele é a nossa inexpugnável armadura.

5. A nossa incredulidade e falta de oração e je­jum provocam sofrimento a Jesus

Quando aquele pai aflito confessou que trouxe seu filho endemoninhado aos discípu­los, e eles não puderam libertá-lo, Jesus excla­mou: "O geração incrédula e perversa! Até quan­do estarei convosco? Até quando vos sofrerei?" (Mateus 17.17). A inoperância e fraqueza da igreja entristecem a Jesus. A igreja foi criada para ser instrumento de libertação e sinal de vida no meio de uma geração cativa e marcada pelo espectro da morte. A igreja deve ser o braço de Deus em ação na história. Ela não pode ser um exército tímido, impotente e covarde, que re­cua diante das forças do mal. Ela precisa inva­dir as portas do inferno. Ela é agente de Deus na história para pregar, curar e libertar. A igreja deve brilhar como luzeiro no meio de uma ge­ração imersa nas densas trevas. Se a igreja fa­lhar, o mundo perecerá. Se a igreja não tiver poder, as trevas prevalecerão. Se a igreja estiver fraca, o diabo fará grandes estragos.

Precisamos questionar-nos: Temos produ­zido alegria ou sofrimento no coração de Jesus? Como ele nos vê? Temos usado os recursos e as ferramentas que ele colocou em nossas mãos? Temos prevalecido e triunfado em seu nome? Temos abalado as portas do inferno? Temos desestabilizado as tramas do diabo? Temos afu­gentado os aleivosos demônios que oprimem aqueles que nos buscam cheios de aflição? Temos visto o nome do Senhor ser glorificado em nossa vida?

Jesus olhou para a igreja de Laodicéia , que possuía um elevado conceito de si mesma, e disse: "Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca" (Apocalipse 3.15, 16). Deus olhou do céu e viu o seu povo mergulhado em profunda devassi­dão e disse: "As vossas solenidades, a minha alma as aborrece: já me são pesadas: estou cansado de as sofrer" (Isaías 1.14). O que Deus pensa de você? Você tem sido motivo de alegria ou triste­za para o coração do Senhor?

Há alguns anos preguei no culto de for­matura do Seminário Presbiteriano de Recife. Após o culto, um formando compartilhou comigo sua dramática experiência vivida meses antes da formatura. Ele foi convidado para pre­gar em uma grande igreja de uma bela capital nordestina. Empacotou seus melhores sermões, fez sua mala e viajou na expectativa de uma bem-sucedida série de conferências. Ao chegar, po­rém, à casa do pastor para o grande desafio evangelístico, foi surpreendido por um fato novo. Uma mulher se dirigiu à casa do pastor tomada de grande desespero, pedindo socorro. Sua vizinha estava possessa, furiosa, indomável, e não havia quem pudesse libertá-la do poder dos demônios. O pastor disse calmamente à mulher: "Fique tranquila: acaba de chegar de Recife um santo homem de Deus preparado para esta tarefa". O seminarista, atordoado, com as mãos geladas e trêmulas, os joelhos vacilantes e o coração cheio de pânico, disse ao pastor: "Eu apenas vim avisar ao senhor que já estou partindo". Na verdade, ele não conseguiu dizer nada. Estava em estado de choque. Jamais vivera situ­ação semelhante. O pastor levou-o ao local onde estava a mulher possessa. De longe, eles come­çaram a ouvir os gritos alucinados da vítima dos demônios. O seminarista não conseguia cami­nhar sem sentir os joelhos batendo um no ou­tro.

Quando chegaram em frente à casa, havia ao redor uma multidão apavorada, sem saber o que fazer. O pastor olhou para o seminarista e disse: "Seminarista, o caso é todo seu, pode en­trar na casa". Tremendo e assustado, ele entrou e deparou-se com um quadro aterrador: A mulher estava furiosa, com o rosto desfigurado, os olhos vermelhos e flamejantes, o cabelo desali­nhado, bufando como uma fera ferida. Quan­do ele abriu a boca para repreender o espírito maligno, a mulher possessa lhe deu uma bofe­tada no rosto e o jogou no chão, e no chão ele ficou por mais de uma hora. O seminarista sentiu-se humilhado, envergonhado, nocauteado pelo inimigo. Em sua mente, como um filme, passavam ao vivo e em cores seus fracassos, sua incredulidade, sua aridez espiritual, seus peca­dos. Enquanto ele vivia esse momento doloro­so de vergonha e derrota, a mulher possessa vo­ciferava ao seu redor. Quando se sentiu no fun­do do poço, impotente e quebrado, o jovem voltou os seus olhos para Deus e clamou: "Ó Deus, tem misericórdia de mim. Eu sou teu ser­vo. Restaura a minha vida. Restitui-me as for­ças. Dá-me poder para confrontar esses demô­nios".

Enquanto orava, como fez Sansão agarra­do às colunas do templo, a mulher possessa caiu. E quando ela caiu, o jovem se levantou, porque diante de Deus demonstrara humildade, mas diante do diabo isso significava autoridade. No poder que há no nome de Jesus, ele repreendeu os demônios que estavam tomando aquela mu­lher, e ela foi libertada.

Esse jovem formando, abraçado comigo, deixando pingar lágrimas na lapela do seu pale­tó, confessou: "Agora compreendo que não basta ser crente, não basta ser líder, não basta ser pas­tor, não basta falar do poder de Deus: é preciso experimentar esse poder". Não podemos confrontar o poder das trevas estribados em nossas próprias forças. Precisamos ser revestidos com o poder de Deus, pois só assim traremos alegria ao coração de Jesus!

 

 

Bibliografia Hernandes Dias Lopes

FONTE: EBD AREIA BRANCA

 

A espiritualidade do vale

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